3.25.2005

Desemprego e renda têm alta em fevereiro

Taxa cresce pelo segundo mês seguido e vai a 10,6%, aponta IBGE; rendimento médio dos trabalhadores aumenta 1%

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DO RIO

A taxa de desemprego calculada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) subiu pelo segundo mês seguido, atingindo 10,6% em fevereiro, contra 10,2% em janeiro e 9,6% em dezembro. Em compensação, houve uma melhora na qualidade do mercado de trabalho, com aumento no número de empregados com carteira assinada e no rendimento médio dos trabalhadores.
Segundo o gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, Cimar Pereira, a alta na desocupação teve um protagonista -a região metropolitana do Rio de Janeiro, cuja taxa passou de 7,4% em janeiro para 8,4% em fevereiro. Nesse período, a população desempregada registrou um aumento de 109 mil pessoas nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo instituto. Destas, 59 mil (54% do total) estavam no Rio.
Cimar, no entanto, não enxerga uma crise de emprego no Estado. Para ele, o que houve foi um atraso nas demissões dos trabalhadores temporários que são normalmente contratados em dezembro devido a um maior movimento do comércio na época de Natal.
Nas demais regiões metropolitanas, esses trabalhadores foram, na sua maioria, dispensados em janeiro, como ocorre todos os anos. No Rio, por causa do turismo de verão e do Carnaval, que caiu no início de fevereiro, as demissões se concentraram no mês passado. "Esse efeito retardado no Rio é que praticamente provocou esse aumento de 10,2% para 10,6% na taxa de desocupação em fevereiro", disse Cimar.
Esse foi um dos motivos de o aumento da taxa de desemprego não ter gerado preocupação entre os especialistas ouvidos pela Folha. "O crescimento da taxa de desemprego em fevereiro é um fenômeno sazonal, não tem mistério", afirmou o economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Marcelo de Ávila. "O importante é que a taxa está bem menor do que em fevereiro de 2004, quando atingiu 12%. Isso mostra um dinamismo maior da economia."
"Com certeza é um efeito sazonal", avaliou o economista Fábio Romão, da consultoria LCA. Para ambos, assim como para o IBGE, o destaque da pesquisa é mesmo a melhora da estrutura do mercado de trabalho.
"Houve um crescimento de 5,9% no número de pessoas empregadas com carteira assinada em fevereiro de 2005 na comparação com fevereiro de 2004", disse Ávila, destacando ser este o maior índice desde o início da pesquisa do IBGE, em março de 2002.
"Entre os sem-carteira, o crescimento foi de 5,7%. Essa diferença positiva para os trabalhadores com carteira assinada só aconteceu uma outra vez na série do IBGE, em novembro de 2004. Em dezembro de 2003, o emprego sem carteira estava crescendo 17,3%, ou seja, o grau de informalidade estava aumentando abruptamente. Agora, com esse movimento que se mostra cada vez mais forte, está havendo um aumento do grau de formalidade. Isso é muito bom", completou o economista do Ipea.
Na comparação com janeiro, foi registrado um aumento de 1,5% nos empregados com carteira de trabalho assinada. Já o rendimento médio real (descontada a inflação) dos empregados apresentou uma alta de 1% em relação a janeiro deste ano. Na comparação com fevereiro de 2004 a alta foi de 2,6% - a maior da série do IBGE.
Apesar da alta, o rendimento médio real do trabalhador ainda está abaixo do registrado há dois anos. Ficou em R$ 932,90 em fevereiro deste ano, contra R$ 963,54 em fevereiro de 2003.
Fábio Romão, da LCA, destaca ainda que o cruzamento dos dados do IBGE com os do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho, mostra que as regiões metropolitanas voltaram a ter destaque no emprego formal. O IBGE concentra sua pesquisa nas seis regiões metropolitanas do país. O Caged, em todo o país.
FOLHA DE SAO PAULO

Um país tão precário

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Jorge Marirrodriga, correspondente do jornal espanhol "El País" para o Cone Sul, andou investigando a suposta "onda de esquerda" na América Latina, caracterizada pelos eleições de Luiz Inácio Lula da Silva, Néstor Kirchner e, agora, do uruguaio Tabaré Vázquez.
Ouviu, entre outros, Rodrigo Vega, do Centro Latinoamericano para as Relações com a Europa (Chile), que, em uma frase, desmonta a onda. A eleição de governantes de esquerda, bem como os movimentos de protesto em países como Peru e Bolívia, nada mais são do que reação decorrente da frustração com os fracassos econômicos (e sociais, eu acrescentaria) dos governos anteriores.
É basicamente uma fuga para a frente. Elege-se um governante com origem, digamos, no centro-esquerda (como Fernando Henrique Cardoso). Não dá conta das misérias sociais e o eleitorado corre para a frente, em busca do seguinte na fila, que, no caso, era Lula. Se fosse de direita, também teria sido eleito, como Fernando Collor o foi em 1989, em reação ao governo José Sarney.
Vale o mesmo para a Argentina, a Bolívia, o Peru etc. A "onda de esquerda" não passa disso, até porque, a rigor, nem há mais uma esquerda que de fato mereça esse nome, para o bem ou para o mal.
Essa fuga para a frente tende a se repetir até a exaustão, porque o problema central nunca é encarado de frente. O problema central não é o déficit público nem é a microeconomia, por importantes que sejam. O Brasil, como os demais vizinhos, é um país precário de ponta a ponta, por ter pobres e miseráveis em excesso e uma desigualdade obscena.
Para ficar em uma única precariedade da vez, só em países precários é possível morrer do mal de Chagas em pleno século 21 como está acontecendo com quem tomou precários caldos de cana em precárias barracas de beira de estrada em Santa Catarina.
Pode-se até eliminar o déficit público, pode-se até baixar os juros (e é bom que ambas as coisas aconteçam), mas, desgraçadamente, o país continuará sendo precário.

FOLHA DE SAO PAULO

3.24.2005

Desemprego aumenta e renda cai em São Paulo

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Após nove meses em queda, o desemprego voltou a crescer na região metropolitana de São Paulo e atingiu 17,1% da PEA (População Economicamente Ativa) em fevereiro. A taxa de janeiro foi de 16,7%.
A rendimento médio do trabalhador teve a terceira queda consecutiva e chegou ao pior resultado para um mês de janeiro desde 1985 -R$ 1.006.
Pesquisa da Fundação Seade e do Dieese mostra que o aumento do desemprego em fevereiro pode ser explicado porque houve o fechamento de vagas (94 mil) em número superior à quantidade de pessoas que deixou o mercado de trabalho (66 mil). "O desemprego no mês passado voltou ao mesmo patamar de dezembro de 2004. Se essas pessoas não tivessem saído, a taxa teria sido ainda maior", diz Clemente Ganz Lucio, diretor técnico do Dieese. A estimativa é a de que 1,687 milhão de pessoas estejam desempregadas nos 39 municípios pesquisados.
Pelo segundo mês consecutivo, o nível de ocupação voltou a cair na Grande São Paulo. Na indústria, foram eliminadas 35 mil vagas; no comércio, 40 mil e no setor de serviços, 50 mil postos de trabalho. "Tradicionalmente, de janeiro a março, as empresas dispensam trabalhadores temporários contratados no final do ano. A partir de abril há contratações", afirma Alexandre Loloian, coordenador de pesquisas do Seade.
Na comparação entre fevereiro deste ano e igual mês de 2004, houve aumento de 4,9% no nível de ocupação, com a criação de 380 mil postos.
Quanto aos rendimentos, desde outubro, a pesquisa registrou uma queda acumulada de 3,54% para os ocupados e de 5,34% para os assalariados (setores privado e público).
O achatamento ocorre devido à pressão do número de desempregados (que aceitam rendimentos menores), à tendência de precarização do trabalho, que ocorre desde a década de 90, e à alta rotatividade. "Um terço da força de trabalho é substituída a cada ano. Cortam salários maiores e contratam por menos", diz Lucio.
FOLHA DE SAO PAULO

Criação de empregos formais perde fôlego

Geração de vagas com carteira assinada teve pior fevereiro desde 99; para ministro, "situação merece olhar atento do governo"

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ritmo de expansão do emprego formal desacelerou em fevereiro, registrando o pior resultado para o mês desde 1999 -ano da desvalorização cambial. No mês passado, houve aumento de 73.285 postos de trabalho com carteira assinada, o que representa quase a metade das vagas geradas em fevereiro de 2004.
Os dados fazem parte do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que é divulgado mensalmente pelo Ministério do Trabalho. O cadastro foi criado em 1992 e traz informações sobre o mercado de trabalho formal.
"Houve crescimento do emprego formal em fevereiro, mas o número não é tão bom quanto os meses anteriores. Ficou um pouco aquém do ritmo que vinha acontecendo desde janeiro de 2004", declarou o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini.
Segundo o ministro, o principal motivo para a redução no ritmo de crescimento foi o forte movimento de demissões no Nordeste. Em fevereiro, o saldo entre contratações e demissões na região foi negativo em 35.871 vagas.
Os desligamentos ocorreram de forma mais intensa em Pernambuco, Alagoas e Paraíba por causa da antecipação do fim do ciclo (colheita) da cana-de-açúcar. "Geralmente, o ciclo se encerra em março, mas neste ano houve a antecipação para fevereiro", afirmou Berzoini. Na avaliação dele, a situação não é generalizada, visto que o Sudeste teve bons resultados -aumento de 71.041 vagas.
Na comparação com os números registrados em fevereiro de 2004, no entanto, todas as regiões tiveram redução no nível de contratação. "A situação merece um olhar atento do governo [...] Não me parece um quadro preocupante", comentou o ministro.
"Não creio que o resultado de fevereiro seja um motivo de alerta. Em qualquer país do mundo, juros altos afetam a economia e a geração de emprego. Mas estamos avisando há bastante tempo que é bom ter um olho na inflação e outro no emprego".
O ministro admite, porém, que a valorização do real ante o dólar já pode estar afetando alguns setores exportadores. No setor de calçados, por exemplo, o saldo do emprego formal em fevereiro foi negativo, com o fechamento de 1.312 vagas. O mesmo ocorreu com o seguimento madeira e mobiliário, com 2.258 postos de trabalho a menos no período.
No setor de produtos alimentícios e bebidas, o saldo negativo foi de 14.682 vagas. Para Berzoini, isso é reflexo da antecipação do fim do ciclo da cana devido à produção de açúcar e álcool.

FOLHA DE SAO APULO

Cresce parcela de empregados com mais estudo

DA SUCURSAL DO RIO

A pesquisa do IBGE revela que o percentual de pessoas empregadas com 11 anos ou mais de estudo (ensino médio completo) chegou a 50,3% em fevereiro, o maior patamar desde o início do levantamento.
Em fevereiro de 2003, do total de empregados, 46,1% tinham o ensino médio completo. Um ano depois, em fevereiro do ano passado, o índice era de 48%. "O mercado está cada dia mais exigente", disse o gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, Cimar Pereira. "Por isso, pessoas mais escolarizadas acabam por entrar no mercado de trabalho".
Para Marcelo de Ávila, economista do Ipea, "como a taxa de desocupação tem permanecido alta por muito tempo, há uma maior competição pelas vagas. E as pessoas menos qualificadas estão ficando de fora por causa dessa competição".
Segundo Fábio Romão, economista da consultoria LCA, "vagas que antigamente seriam destinadas a pessoas menos qualificadas estão sendo preenchidas por pessoas com ensino médio e até superior completo".
A pesquisa mostra que também aumentou o número de desempregados com ensino médio completo. Em fevereiro deste ano, 46,2% dos desocupados tinham 11 anos ou mais de estudo, contra 42,6% em fevereiro do ano passado e 40% em fevereiro de 2003.

FOLHA DE SAO PAULO

3.23.2005

França acaba com jornada de 35 horas

Parlamento vota a favor de limite maior para horas extras; mudança é vitória para Chirac e derrota para socialistas

DA REDAÇÃO

O Parlamento francês aprovou ontem em votação final, por 350 votos a 135, mudanças na lei das 35 horas semanais de trabalho, aumentando os limites de horas extras e permitindo que trabalhadores troquem folgas por pagamentos maiores.
A Assembléia Nacional, uma das Casas do Parlamento da França, votou ontem a favor da proposta do presidente Jacques Chirac. Os defensores da nova lei dizem que ela ajudará a diminuir o desemprego, atualmente em 10,1%, a maior taxa em cinco anos, e aumentará a renda dos trabalhadores, pois os que quiserem trabalhar mais e ganhar mais poderiam fazê-lo.
A lei que limitava a jornada de trabalho a 35 horas semanais era uma bandeira do governo socialista, anterior ao de Chirac. Ela foi aprovada em 1998 e entrou em vigor em 2001.
A esquerda francesa é contrária à mudança na lei das 35 horas, dizendo que ela ajudou a criar milhares de empregos e melhorou a qualidade de vida dos franceses. A oposição diz ainda que, por causa da pressão das empresas para cortar custos, os trabalhadores acabarão trabalhando mais pelo mesmo salário que ganham hoje.
Antes das votações da lei, no dia 10 de março, houve protestos em várias cidades francesas em defesa da semana de 35 horas, interrompendo serviços como transporte e correios.
Vários sindicatos de trabalhadores com renda baixa, porém, posicionaram-se a favor das mudanças, dizendo que os funcionários queriam ganhar mais, no lugar de preservar o tempo livre.

Mudanças
A lei já havia sido alterada em 2003, quando o limite de horas extras anuais subiu de 130 para 180. Em dezembro, o limite aumentou novamente, para 220 horas.
Segundo a mudança aprovada ontem, os funcionários podem trabalhar mais de 220 horas extras por ano, até um limite de 48 horas semanais.
As empresas também poderão "comprar" as folgas que os trabalhadores não quiserem. Além disso, as taxas reduzidas de hora extra para companhias com menos de 20 funcionários poderão ser usadas por três anos.
A jornada de trabalho continua sendo de 35 horas, porém, para os funcionários públicos.


FOLHA DE SAO PAULO

3.22.2005

Kodak anuncia demissão de 130 em SP

A Kodak anunciou que vai demitir 130 dos 650 funcionários que atuam na unidade de São José dos Campos (91 km de São Paulo), e desativará duas das três linhas de produção da unidade. As alterações serão colocadas em prática até outubro. Para o Sindicato dos Químicos de São José e Região, a decisão da empresa, anunciada como medida de reestruturação, é na verdade o princípio de um processo que culminará no fechamento de uma das duas fábricas da Kodak no país -a outra fica em Manaus (AM). Mas a multinacional nega que vá fechar a unidade de São José.

Trabalho informal avança na Argentina

Mão-de-obra sem registro no país chega a 49% e se aproxima do recorde de 2003; aumento do salário mínimo gera temor de inflação

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

O ano de 2004 terminou na Argentina com quase a metade da mão-de-obra assalariada trabalhando sem registro. Pesquisa do Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos) divulgada na última sexta-feira aponta que subiu para 48,9% o índice de contratação informal no setor privado. A cifra, que era de 47,7% em meados de 2004, voltou a se aproximar do recorde de 2003 (49,5%). No Brasil, a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, em janeiro, apontava índice de informalidade de 42% da população ocupada.
O Ministério do Trabalho argentino atribui esse aumento a fatores sazonais, como a temporada de colheita e o aquecimento da atividade na construção civil. Ao lado do trabalho doméstico, a agricultura e a construção civil lideram o ranking de setores com maior número de não-registrados. Somam 2,5 milhões.
No entanto, a secretária do Trabalho, Noemi Rial, reconhece que o problema "é grave". Principalmente porque a renda média do trabalhador sem registro é de 317 pesos (R$ 295). Com inflação em alta e sujeita a terminar o ano acima do teto de 10,5% previsto pelo governo, há chances de que cresça o índice de pobreza no país.
Os indicadores de pobreza e indigência são calculados pela ponderação da renda familiar ao custo da cesta básica, em 28 cidades argentinas. Havia 40% de pobres e 10% de indigentes no país vizinho no fim do ano passado.
A pressão inflacionária com a qual a Argentina convive pode deter o aumento do salário mínimo (de 400 para 510 pesos), previsto para abril. O governo Kirchner vinha dispondo, por decreto, aumentos salariais no setor privado para recompor a perda do poder aquisitivo -de 55%, desde o colapso econômico de 2002.
Rial afirma que o aumento do salário mínimo "pode ser transferido aos preços de alguns gêneros de primeira necessidade", mas defende a medida. "A solução perfeita não existe. Sempre que há aumentos salariais, vive-se o impacto sobre preços. Mas outras variáveis econômicas vão permitir que a inflação não escape dos parâmetros razoáveis." Para reduzir o trabalho informal, "a idéia é não apenas sancionar com multa mas também oferecer ao empregador ajuda das equipes do Ministério, para que ele regularize a situação", diz a secretária.
Com a oferta de assessoria, o ministério pretende "acabar com a desculpa" dos empresários de que a burocracia dos registros exige o trabalho de um contador.

FOLHA DE SAU PAULO

3.21.2005

Indústrias paulistas contratam mais 15 mil

FABIANA FUTEMA
DA FOLHA ONLINE

A elevação do juro básico da economia ainda não atingiu o emprego na indústria paulista. Pelo menos até fevereiro. No mês passado, a indústria de transformação surpreendeu e contratou 15,01 mil pessoas, segundo pesquisa divulgada ontem pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Para o diretor do Departamento de Economia da Fiesp, Paulo Francini, o resultado de fevereiro foi "uma surpresa boa e agradável". "A indústria temia que o juro alto impactasse negativamente a geração de empregos. Mas esse efeito ainda não foi sentido no nível de emprego industrial, que registra estabilidade."
A manutenção das contratações foi sustentada pelas exportações e pelo impacto do crédito no mercado interno. "As exportações continuam vigorosas, o que vem impedindo a queda do nível de emprego. A expansão do crédito, que significa consumo, aumenta a demanda", diz Francini.
Com as contratações de fevereiro, o nível de emprego na indústria paulista subiu 0,74%. Essa foi a segunda maior variação entre janeiro e fevereiro já registrada desde 2000, perdendo apenas para o ano passado, quando o nível de emprego cresceu 0,87%.
"Essa diferença pode ser explicada pelo cenário econômico de cada período. No ano passado, estávamos no início de um ciclo de retomada econômica."
Para o economista da Unicamp Marcio Pochmann, o impacto dos juros sobre o emprego será sentido a partir do próximo trimestre. "O efeito da elevação dos juros sobre o emprego não é imediato."
Francini crê que o comportamento do emprego industrial comece a ser influenciado pelos sucessivos aumentos da taxa daqui para a frente. "De tanto aplicar um remédio para acabar com a doença, chega uma hora que [o remédio] começa a fazer efeito."
No ano, a indústria paulista acumula expansão de 1,05% no emprego industrial, com a geração de 21,27 mil vagas. Em 12 meses, o crescimento foi de 6,76%, com a abertura de 133 mil postos. Esses números não levam em conta o ajuste sazonal do período, ou seja, não eliminam os efeitos das características específicas de cada período sobre o emprego.

Metodologia
A divulgação da pesquisa de emprego foi interrompida em dezembro, quando a Fiesp anunciou que a metodologia seria reformulada. A última revisão metodológica da pesquisa, realizada desde 1985, ocorreu em 1994.
A nova pesquisa leva em conta as alterações nos pesos dos setores industriais e dos portes das empresas no total de empregos da indústria paulista. Com a mudança, as variações de emprego nas pequenas e médias indústrias, que respondem por 76,5% das vagas, passaram a pesar mais no resultado mensal do que as registradas nas grandes empresas (25%).
FOLHA DE SAO PAULO

Produtividade tem a maior alta desde 96

Crescimento no ano passado chegou a 6%, aponta estudo do Iedi; previsão para este ano é um aumento de 3%

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A produtividade da indústria brasileira cresceu 6% no ano passado, o maior índice desde 1996, quando atingiu 6,3%, segundo estudo divulgado ontem pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). O instituto mede a produtividade industrial dividindo a produção física da indústria pelo número de horas de trabalho pagas.
O expressivo crescimento da produção industrial em 2004, de 8,4%, e os investimentos em novos equipamentos e em modernização, iniciados em 2003, permitiram ao país experimentar, pela primeira vez, um aumento genuíno de produtividade com expansão do emprego, segundo Julio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi. Esse processo deve ter continuidade neste ano, quando a produtividade deverá crescer 3%, segundo ele.
"O grande motor que dará sustentação aos novos ganhos de produtividade é a internacionalização das empresas: se elas continuarem exportando, conseguirão manter esse aumento genuíno de produtividade."
O atual incremento da produtividade ocorreu em bases diferentes da dos anos 90, quando a indústria atingiu ganhos recordes. Em 1993, a produtividade industrial cresceu 7,7%, mas o avanço foi obtido a ferro e fogo, numa posição defensiva da indústria. Foram os anos da abertura do mercado e que levaram a um ganho de produtividade defensivo. Para enfrentar a concorrência externa, as empresas fizeram pesados enxugamentos de estrutura e cortaram milhares de empregos.

Sustentabilidade
Outro fator que poderá dar sustentação aos ganhos de produtividade da indústria brasileira é a recuperação do consumo interno de bens não duráveis. "Se 2004 foi o ano dos setores de bens de capital e de bens duráveis, este será o ano dos não duráveis", afirma Almeida.
Nessa categoria estão as indústrias têxteis, de vestuário e calçados, por exemplo, que dependem mais do aumento da renda da população para expandir suas vendas do que do crédito. "Em 2005 a tendência é ocorrer um aumento do rendimento real da população, em decorrência do crescimento do emprego", afirma o diretor-executivo do Iedi.
Se tal prognóstico se confirmar, a indústria têxtil será uma das beneficiadas. Em 2004, a produção do setor cresceu 10,1%, puxada principalmente pelas exportações. A produtividade do setor cresceu 10,9% no ano passado, segundo o Iedi, mas sem expansão do emprego. A Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) contesta.
Pelos dados da entidade, foram criados 66.800 postos de trabalho no setor têxtil e de confecção no ano passado. Segundo a associação, há um processo de interiorização do emprego no setor, e a pesquisa do Iedi, baseada em dados do IBGE, só registra o emprego nas regiões metropolitanas.
Para a Abit, os ganhos de produtividade são conseqüência de um longo processo de modernização do setor, iniciado há cinco anos, com investimentos anuais de US$ 1 bilhão.
O setor buscou ganhar competitividade frente à invasão de produtos importados, principalmente da China. Com a expansão da produção, no ano passado, o setor colheu os frutos desses investimentos e pretende voltar a investir US$ 1 bilhão neste ano

Transporte está entre líderes de modernização

DA REPORTAGEM LOCAL

Campeões de produtividade, com um incremento de 15,5% no ano passado, os fabricantes de meios de transportes, segundo o estudo do Iedi, estão colhendo o resultado de investimentos feitos em expansão e modernização da produção nos últimos anos.
Segundo a Anfavea, o setor automotivo (montadoras e autopeças) investiu US$ 26,6 bilhões entre 1994 e 2002, mas esses investimentos ficaram adormecidos com a estagnação do mercado interno. No ano passado, o setor produziu 2,2 milhões de unidades, o melhor resultado desde 1994.
O setor de caminhões foi um dos que apresentaram crescimento explosivo: 23%. Uma das montadoras que surfou nessa onda foi a Ford, registrando uma expansão de 47,7% na produção de caminhões.
Segundo Flavio Padovan, diretor operacional de caminhões, a unidade opera com 100% da capacidade desde o ano passado. "No final de 2003 começamos a investir para aumentar de produtividade", diz.
Uma das inovações foi a instalação de um equipamento que vira 360 graus o chassis dos caminhões na linha de produção, facilitando a instalação da suspensão e de parte do motor. "Com isso economizamos 30 minutos por veículo na montagem", diz Padovan.
FOLHA DE SAO PAULO

Rotatividade elevada impede que o trabalhador ganhe experiência

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os números da rotatividade no mercado de trabalho formal brasileiro impressionam. Em períodos de crescimento econômico ou não, metade da força de trabalho com registro em carteira mudou de posição a cada ano, de acordo com informações do Ministério do Trabalho e Emprego.
Em 2004, enquanto 11,3 milhões de trabalhadores foram contratados, 9,8 milhões foram demitidos. "A maioria desses trabalhadores está na população de baixa renda, com menor qualificação e menores salários. A rotatividade é muito grande, olhando sob qualquer ponto de vista", avalia a coordenadora do Observatório do Mercado de Trabalho, Paula Montagner. O órgão faz parte do MTE.
Na avaliação da especialista, um dos principais efeitos do entra-e-sai de trabalhadores é a dificuldade de os profissionais acumularem conhecimento, já que uma parte da formação profissional deriva do nível de escolaridade e a outra, do acúmulo de experiência.
"Se o trabalhador não fica muito tempo em um emprego, como vai adquirir experiência?", questiona Montagner. Dados do Observatório mostram que o tempo médio de permanência de 50% dos trabalhadores brasileiros em um cargo é de dois anos. No Japão, a média fica entre 12 e 15 anos. Na Europa, dez anos.
Segundo a coordenadora, sem trabalhadores com acúmulo de conhecimento, a economia se ressente, pois a produtividade das empresas cai.

Sem criatividade
Entre outros fatores, o trabalhador que não se estabiliza em uma função não é capaz de desenvolver soluções criativas para problemas. As empresas também deixam de investir na formação dessa mão-de-obra instável. "E a produtividade obtida no final é espúria, porque passa pelo não-aumento dos salários", afirma ela.
A alta rotatividade também afeta a elaboração de políticas públicas de capacitação. Exemplo: um vendedor de biscoitos, que passa a trabalhar na construção civil e, em seguida, vai para atividades de suporte na área de transporte. Qual a habilidade desse trabalhador? Que tipo de capacitação ele precisa?
De acordo com Montagner, a discussão sobre a rotatividade no mercado brasileiro não é nova. Trata-se de uma característica que começou a ser discutida na década de 70, quando houve forte migração de trabalhadores do campo para áreas urbanas.
"Mas, naquele tempo, havia um entendimento de que a rotatividade fosse diminuir ao longo dos anos, pois a migração teria sido superada, o setor urbano estaria mais assentado e a indústria consolidada. Não foi o que aconteceu", relata a pesquisadora.
O ritmo da rotatividade continua crescente e começa a se espalhar por outros setores do mercado de trabalho. "Já se alastrou entre os trabalhadores com segundo grau. Especialistas dizem que já está atingindo também trabalhadores com terceiro grau completo." (JS)

FOLHA DE SÃO PAULO

3.20.2005

Emprego industrial tem maior alta desde 89

Crescimento de vagas em 2004 foi impulsionado pelos setores exportadores e de bens de capital e duráveis, diz IBGE

MARCELO SAKATE
DA SUCURSAL DO RIO

A indústria brasileira registrou no ano passado o maior crescimento no nível de emprego desde 1989, impulsionada pelos setores que estiveram à frente da retomada da produção no período: bens de capital e duráveis e voltados para a exportação.
A expansão recorde, de 1,9%, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ocorreu apesar da retração nos últimos três meses do ano, seqüência vista pelo instituto como "acomodação para baixo, e não reversão de tendência".
"O balanço do emprego industrial em 2004 foi positivo. A queda na média móvel [que considera os últimos três meses do ano] foi de apenas 0,2% de novembro para dezembro", afirmou Isabela Nunes, economista da Coordenação de Indústria do IBGE.
A renda do trabalhador seguiu o nível de emprego e teve o melhor ano desde 1993, com alta de 9%. Mas também terminou os três últimos meses do ano em queda (0,6% em dezembro).
O aumento no emprego no ano passado foi registrado em 11 das 14 áreas pesquisadas e em 12 dos 18 segmentos, dos quais tiveram maior impacto no índice final máquinas e equipamentos (14,1%) e alimentos e bebidas (3,7%). Nesse setor, de bens não-duráveis, a expansão é explicada pelas vendas ao exterior ligadas à agroindústria, de acordo com a economista.
Outra contribuição ressaltada pelo IBGE foi a de meios de transportes (mais 8% em 2004). O setor foi influenciado principalmente por caminhões e ônibus (bens de capital) e veículos (duráveis).
Mas, a exemplo do que ocorre na produção industrial, em que setores de semi e não-duráveis começam a funcionar como motores da expansão, no nível de emprego a reação já é sentida.
"Alguns ramos com desempenho negativo em 2004 já apresentaram dinamismo maior no final do ano, o que sugere que tenham contribuição um pouco maior neste ano. É o caso de calçados e couro", exemplificou Nunes.

Novo mínimo ajudará
Bráulio Borges, economista da consultoria LCA, afirma que a tendência deve se manter neste ano, impulsionada pela melhora no mercado de trabalho e, a partir de maio, pelo reajuste do salário mínimo para R$ 300.
Para o IBGE, a geração de emprego só não foi maior porque os setores que lideraram a expansão no ano passado não são intensivos em mão-de-obra, o que pode mudar se o mercado interno se mantiver aquecido.
"Se esses setores forem envolvidos, teremos um grande incentivo para a evolução do emprego, mesmo na hipótese de que a indústria geral registre, em 2005, crescimento inferior ao do ano passado", afirmou o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Em dezembro, o nível de emprego industrial caiu 0,3% em relação ao mês anterior, na comparação livre de influências sazonais (típicas de cada período).
Diferentemente do IBGE, o Iedi diz que "a trajetória recente do emprego preocupa tanto quanto a desaceleração que se verificou no curso da produção industrial nesse mesmo período".
O Iedi acredita, porém, que "a economia seja capaz de contornar os efeitos adversos das atuais políticas de juros e de câmbio".
FOLHA DE SAO PAULO

Lucro menor obrigará GM a cortar custos

DA BLOOMBERG

A General Motors Corp., a terceira maior emitente corporativa de títulos, está sendo pressionada para desativar unidades de produção e negociar contratos coletivos de trabalho com os sindicatos, num momento em que os novos modelos lançados por seu principal executivo, Rich Wagoner, não conseguiram trazer de volta os consumidores atraídos pelas montadoras asiáticas, o que reduziu os lucros e fez despencar os preços dos bônus da montadora.
Os bônus da GM caíram ontem para seus níveis mais baixos desde pelo menos 2001 em relação aos títulos do governo dos Estados Unidos depois que a empresa, a maior montadora do mundo, previu seu maior prejuízo trimestral dos últimos 13 anos. A Standard & Poor's baixou suas perspectivas de classificação do título para negativas e qualificou como "frágil" a capacidade da GM de conservar sua classificação de recomendável para investimento.
"A GM está sujeita a outra leva de severas contenções de custos na América do Norte", disse David Healy, analista da Burnham Securities Inc., com sede em Nova York. As reduções "poderão incluir o fechamento de novas unidades de montagem, a demissão de mais funcionários e talvez voltar a recorrer ao sindicato em busca de novas concessões."
A empresa, com sede em Detroit, um mito corporativo outrora sinônimo do poder industrial norte-americano, continua a perder compradores em favor de empresas como as japonesas Toyota Motor Corp. e Hyundai Motor Co., apesar de oferecer os descontos mais elevados do setor automobilístico. A Harley-Davidson Inc., a maior fabricante norte-americana de motocicletas, ultrapassou ontem a GM em capitalização de mercado.
Com as vendas norte-americanas encaminhando-se neste ano para sua menor participação de mercado dos últimos 80 anos, a GM está considerando mais difícil cobrir as despesas do programa de assistência médica que oferece a seu 1,1 milhão de funcionários, aposentados e dependentes, e arcar com os custos mais elevados do aço e de outros insumos. O dividendo trimestral da empresa, de US$ 0,50 por ação, que atualmente gera um rendimento de 6,88%, segundo cálculos da Bloomberg, terá de ser suspenso, disse o administrador de investimentos Wil Stith.
"Eles precisam pensar mais profundamente numa forma de conter a sangria", disse Stith, que ajuda administrar cerca de US$ 2 bilhões em investimentos de renda fixa na MTB Investment Advisors de Baltimore. A probabilidade de a GM ganhar dinheiro no resto do ano "caiu bem significativamente".
Os bônus da GM, que já estão sendo negociados como se tivessem tido sua classificação reduzida para níveis inferiores ao recomendável para investimento, a categoria conhecida como "junk", caíram ontem ainda mais.
FOLHA DE SAO PAULO

3.18.2005

Emprego e renda voltam a subir na indústria

Apesar do avanço em janeiro, IBGE aponta tendência de estabilidade; São Paulo e Minas puxam contratações

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de dois meses consecutivos em queda, o emprego na indústria reagiu: cresceu 0,4% na comparação com dezembro, já descontados os efeitos típicos de cada período, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O rendimento do trabalhador da indústria também se recuperou. A folha de pagamento (salários, horas extras, bônus, benefícios e outras premiações) do setor subiu 6,2% em relação a dezembro, também na taxa livre de efeitos sazonais. O indicador havia iniciado em outubro do ano passado uma série de três retrações seguidas.
Apesar do avanço de janeiro, o IBGE ressalta que, ao analisar a variação média do emprego na indústria nos três últimos meses, os índices mostram uma tendência de estabilidade, acompanhando o movimento da produção.
"Há também no caso do emprego uma tendência de acomodação, observada nos últimos meses na atividade industrial", disse André Macedo, economista da Coordenação de Indústria do IBGE. Em janeiro, a produção caiu 0,5% na comparação com dezembro.
Em relação a janeiro de 2004, o emprego na indústria cresceu 3,2%, na 11ª alta consecutiva nesse tipo de comparação.
Das 14 regiões pesquisadas pelo IBGE, 12 contrataram mais do que demitiram em janeiro. As indústrias de São Paulo (alta de 2,6% em relação dezembro) e Minas Gerais (5,3%) foram as que tiveram maior impacto positivo na geração de novos empregos.
De acordo com Macedo, a liderança de São Paulo se explica pelo fato de os setores que estão criando mais vagas terem forte presença no Estado. Em nível nacional, os ramos que mais contribuíram para o aumento do emprego foram os de máquinas e equipamentos (9,4%), alimentos e bebidas (5,9%) e meios de transporte (indústria automobilística), cuja alta foi de 13,3%. Todos esses segmentos, diz, têm forte peso na estrutura da indústria paulista.

Menos inflação, mais renda
Para Macedo, o recuo da inflação de dezembro para janeiro -de 0,86% para 0,58%, segundo o IPCA- possibilitou a recomposição da renda do trabalhador da indústria. Isso porque, em geral, o empregado do setor é formal e tem seus dissídios atrelados a um índice de preços.
A forte expansão do rendimento, porém, também foi inflada artificialmente. É que, apesar de o índice sofrer ajuste sazonal (que exclui influências características de cada período do ano), muitas pessoas tiram férias em janeiro. Com isso, recebem o abono de um terço do salário, o que eleva os rendimentos naquele mês.
Tal movimento não é excluído pelo modelo de ajustamento sazonal, diferentemente do pagamento do décimo terceiro, por exemplo.
Assim como no caso do emprego, a folha de pagamento aumentou em 12 dos 14 locais pesquisados. Mais uma vez, São Paulo teve o maior impacto positivo, com crescimento de 5,3% na comparação com janeiro de 2004.
Para o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a melhora do mercado de trabalho industrial em janeiro foi provocada pelo bom desempenho do setor em dezembro, quando a produção havia subido 1,2%.
Em janeiro, porém, a realidade é outra: a produção voltou a cair, o que coloca a recuperação do emprego em dúvida, de acordo com o Iedi.
FOLHA DE SAO PAULO

Perueiros em greve depredam ônibus e tumultuam o centro

Manifestantes entraram em confronto com policiais no viaduto do Chá, perto da prefeitura

CARLOS IAVELBERG
VICTOR RAMOS
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os perueiros de São Paulo fizeram ontem uma greve geral que não só deixou mais de 2 milhões de passageiros sem condução como resultou em ações violentas na capital paulista inteira e em novos confrontos com a PM em frente à sede da prefeitura.
Os 6.500 motoristas de lotação, responsáveis por 40% das viagens do transporte municipal, paralisaram os serviços em protesto por reajuste da remuneração. Alguns líderes divergiam, mas a maioria decidiu retornar ao trabalho hoje e colocar cartazes nos veículos com a inscrição "estado de greve".
A categoria voltou a se concentrar no viaduto do Chá, diante do gabinete do prefeito José Serra (PSDB). Durante cinco horas, a área se transformou em praça de guerra -repetindo cenas de confrontos entre perueiros e PM ocorridas no mês passado. Em todas as regiões, 53 ônibus foram atingidos -39 depredados, dez incendiados, três tiveram pneus esvaziados e um foi furtado.
Os 600 manifestantes que se deslocaram até a área central a partir das 8h levaram ao bloqueio do trânsito do viaduto do Chá e da rua Líbero Badaró por várias vezes -agravando os congestionamentos. A Polícia Militar usou bombas de efeito moral, sprays de pimenta e balas de borracha -e chegou a prender alguns.
Ao menos oito ônibus foram depredados somente no centro, a maior parte ainda com os passageiros dentro -sendo atingidos por estilhaços de vidro. As pessoas se jogavam no chão dos coletivos para se proteger. Uma delas chegou a usar um guarda-chuva para tapar a janela sem vidro.
Num dos veículos, nem a chegada da PM foi suficiente para acalmar os usuários. Mesmo com os manifestantes já afastados, a abertura da porta do ônibus fazia os passageiros saírem correndo, em fuga, muitos deles chorando.
O comércio da região permaneceu fechado nos momentos de conflitos, entre 11h e 16h. Na periferia, coletivos foram incendiados por homens encapuzados.
À noite, os líderes dos perueiros prometiam voltar ao trabalho hoje, depois de determinação do TRT (Tribunal Regional do Trabalho), que anunciou ainda uma tentativa de conciliação amanhã.
Os protestos fazem dos perueiros um dos maiores motivos de desgaste do governo tucano. Os motoristas de lotação já tinham feito uma greve de dois dias em janeiro -algo inédito desde que passaram por licitação e receberam os termos de permissão de serviço, em julho de 2003.

Pedras e correria
Às 9h30, os manifestantes eram 300 e ocupavam a calçada em frente à prefeitura. Às 11h, quando chegavam a 600, segundo a PM, começaram a invadir as pistas do viaduto do Chá. Depois, cinco ônibus elétricos foram apedrejados e tiveram vidros quebrados.
Pela primeira vez no dia, a polícia avançou sobre a manifestação, disparando balas de borracha e bombas de efeito moral. Os manifestantes responderam atirando pedras contra os policiais. Houve correria e as lojas fecharam. Após duas horas de trégua, houve novos confrontos. A situação só ficou calma perto das 17h, quando lideranças dos perueiros pediram que todos voltassem às garagens.
Os perueiros reivindicam reajuste da remuneração e alegam que os repasses da prefeitura aos operadores chegaram até mesmo a cair após a elevação da tarifa cobrada dos usuários, de R$ 1,70 para R$ 2,00, no começo deste mês.
Até então, havia uma regra transitória pela qual eles recebiam tudo aquilo que arrecadavam -em valores que passavam de R$ 70 milhões num mês-, mas não ganhavam pelas baldeações gratuitas do bilhete único nem pela condução de idosos, por exemplo.
A partir de 5 de janeiro, a prefeitura passou a adotar as regras dos contratos firmados em julho de 2003, pela qual eles devem ganhar entre R$ 0,63 e R$ 0,93 por passageiro, incluindo as gratuidades. Esse montante, porém, ficaria neste mês próximo de R$ 55 milhões, segundo os operadores.
A gestão Serra admite que esses valores precisam ser revistos, mas alega que a definição só se dará com a conclusão de estudos de reformulação das linhas do transporte. Enquanto isso, aceita negociar algo próximo de R$ 70 milhões -considerado insuficiente pelos perueiros, que dizem precisar de, no mínimo, R$ 98 milhões.
FOLHA DE SAO PAULO

3.17.2005

HSBC leva empregos para a Ásia

O HSBC, segundo maior banco do mundo em valor de mercado, vai duplicar sua força de trabalho em funções de apoio na Ásia nos três próximos anos e cortar empregos nos Estados Unidos e na Europa. O objetivo é economizar US$ 1 bilhão, segundo Alan Jebson, diretor de operações. O banco tem 13 mil funcionários em dez centros na Ásia. Segundo Jebson, o banco economiza US$ 20 mil por ano com cada emprego transferido para a Ásia.

FOLHA DE SAO PAULO

3.12.2005

"Reforma branca" corta salário e vaga formal

Mudanças na lei trabalhista ao longo dos últimos anos deixam livres da cobrança de impostos cerca de R$ 10,5 bi/ano

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

A área trabalhista sofreu uma "reforma branca" ao longo dos últimos anos que cortou à metade o ritmo de criação de empregos com carteira assinada, estagnou a criação de vagas mais bem remuneradas e fragilizou a maior parte das políticas públicas de requalificação de profissionais no país.
Patrocinada pelo próprio governo e amparada pela lei, a "reforma branca" também foi um tiro no pé do ponto de vista da Receita Federal. As mudanças deixaram livres da cobrança de impostos cerca de R$ 10,5 bilhões anuais ganhos por autônomos no Brasil.
No momento em que se discutem as reformas sindical e trabalhista, pesquisa inédita do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho), da Unicamp, mostra que o grau de precariedade do trabalho e da representatividade do trabalhador chegaram ao fundo do poço no país.
"O Brasil fez uma reforma trabalhista "Frankenstein" ao longo dos anos 90. Ela redundou em baixos salários, elevadas jornadas de trabalho, alta rotatividade e pouca segurança para o empregado", diz o economista Marcio Pochmann, autor do estudo.
Segundo Pochmann, a recuperação do emprego formal em 2004 ainda não foi suficiente para alterar esse quadro.

Precariedade
As mudanças na legislação visaram atender às empresas em um novo ambiente competitivo. O resultado, porém, foi aumento da distorção, já que companhias de um mesmo setor acabaram usando a desregulamentação em níveis diferenciados. Segundo o estudo, o elemento mais negativo da reforma é que ela não resultou em mais empregos, mas em mais precariedade no trabalho.
As maiores mudanças na legislação trabalhista ocorreram entre 1994 e 2000, com a criação de figuras jurídicas como cooperados (1994), terceirizados (95) e temporários (96). Além disso, foi ""flexibilizado" o poder das empresas e do setor público para demitir, contratar e corrigir salários.
Antes da reforma, a relação entre o total de ocupados e população com 10 anos ou mais era de 55%. Ao final do período de mudanças, o percentual permaneceu estático. Já o número total de desempregados (desemprego aberto) no país saltou de 1,9 milhão para 7,6 milhões.
O aumento do desemprego ressalta o longo período de crise na área do trabalho no correr dos anos 90 e no início da atual década. Mas mostra também que a forte flexibilização não foi capaz de absorver um novo contingente de pessoas que tentou ingressar no mercado de trabalho.
A maior parte dos que conseguiram entrar o fizeram precariamente. No setor de cooperativas de trabalhadores, por exemplo, a "reforma" levou a um salto de 55,7% entre 1997 e 2002, de 4.800 cooperativas para 7.500.
Segundo Lewton Verri, presidente da Abracoop, que reúne o setor no país, apesar dos avanços, o cooperativismo vive uma situação ""precária", com vários problemas que vão da sonegação de impostos e baixa qualidade dos serviços à transgressão das próprias leis que regem a área.
Paula Montagner, assessora do ministro Ricardo Berzoini (Trabalho) e coordenadora do Observatório do Mercado de Trabalho, diz que, após a reforma dos anos 90, "o grande desafio é regularizar e dar representatividade às formas de trabalho existentes".
"Os direitos dos trabalhadores foram fragilizados de tal forma que acabaram por implodir, em termos de financiamento, as políticas públicas que poderiam melhorar a capacitação do trabalhador. Isso tem significado salários menores e maiores chances de desemprego", diz Montagner.
Ela acredita que o intuito da reforma sindical em gestão é o de aumentar a representatividade.
Um dos pontos de maior pressão contra a reforma por parte dos empresários, no entanto, é impedir a criação da figura do "representante dos trabalhadores" dentro de empresas que tenham mais de 30 funcionários.

FOLHA DE SAO PAULO

Grendene demite 600 e setor culpa dólar

Segundo sindicato, fábrica em Fortaleza corta 60 funcionários por semana, em reação à queda das exportações

SÉRGIO RIPARDO
DA FOLHA ONLINE

A Grendene, uma das maiores indústrias de calçados do país, demitiu 600 funcionários desde janeiro na fábrica de Fortaleza (CE). O número supera o total de cortes do ano passado (578) e representa 18% da força de trabalho no local.
A informação é do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Calçados do Estado do Ceará, ligado à CUT (Central Única dos Trabalhadores). Procurada pela reportagem, a assessoria da Grendene evitou confirmar os cortes.
"A empresa alegou uma redução nas encomendas dos clientes. Em média, por semana, 60 funcionários perdem o emprego na fábrica da Barra do Ceará [bairro no extremo oeste de Fortaleza]", disse o representante do sindicato, Paulo Juarez Alves Gomes.
Os fabricantes de calçados culpam o dólar barato pela onda de demissões no setor. Eles dizem que o produto brasileiro ficou caro. Em fevereiro, o dólar chegou a ser negociado por R$ 2,55. Em setembro do ano passado, estava em R$ 3. Em 2002, chegou a encostar em R$ 4. Segundo a assessoria da Grendene, a empresa elevou em 2004 o número de funcionários em suas fábricas no Ceará (Fortaleza, Sobral e Crato) e no Rio Grande do Sul (Farroupilha e Carlos Barbosa). Passou de 21,5 mil empregados em 2003 para 23,2 mil no final do ano passado.
"Esclarecemos que existem períodos do ano em que ocorrem diminuições no efetivo da companhia, que volta a contratar mais adiante", citou nota da empresa, sem confirmar as demissões.
Recentemente, a Abicalçados (associação do setor calçadista) estimou que já tenha havido 4.000 demissões em pólos como Franca (SP) e Vale do Rio dos Sinos (RS), prevendo mais 15 mil cortes em março e abril devido à queda nas exportações, que já prejudica o desempenho das ações da Grendene na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). O papel da companhia começou a ser negociado, com euforia (alta de 12%) e pompa (desfile da apresentadora Xuxa), em 29 de outubro do ano passado. A ação da empresa já caiu 14% neste ano.
A Grendene é dona de marcas famosas de calçados de plástico, como Rider, Melissa, Grendha, Ipanema e Grendene Kids. A empresa responde por 18% da produção de calçados do país. É também uma gigante no marketing e na publicidade, em geral com o uso de celebridades.

FOLHA DE SAU PAULO

3.11.2005

Protesto contra flexibilização da jornada pára transporte na França

Segundo a polícia, 35 mil foram às ruas em Paris

DA REUTERS

Dezenas de milhares de trabalhadores franceses se manifestaram em Paris na quinta-feira e greves paralisaram os transportes públicos, causando embaraços ao governo em meio a uma visita de representantes olímpicos, que foram avaliar a candidatura da cidade a sediar os jogos de 2012.
"Nós preferíamos ter publicidade melhor para a nossa candidatura, evidentemente", disse o ministro dos Esportes, Jean-François Lamour, ao jornal "Le Figaro". Paris disputa com quatro outras cidades o direito a organizar a Olimpíada, mas é encarada como franca favorita.
Os protestos contra reformas nas leis trabalhistas se espalharam por todo o país. Os organizadores dizem que 150 mil pessoas se manifestaram em Paris e um total de 800 mil em toda a França. A polícia estima o número de manifestantes parisienses em 35 mil.
Os sindicatos expressaram apoio às ambições olímpicas da capital e enfatizaram que as greves dos trabalhadores das ferrovias, do setor de energia, dos professores e dos correios tinham por objetivo protestar contra os cortes de empregos e as medidas governamentais para flexibilizar o regime de jornada semanal de 35 horas de trabalho.
Protestos dos controladores de tráfego aéreo causaram o cancelamento de até um quarto dos vôos no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Os atrasos chegavam em média a duas horas nos dois principais aeroportos da capital.
Alguns trens do serviço Eurostar, entre Paris e Londres, e entre Bruxelas e Londres, tiveram suas viagens canceladas.
As greves se seguiram a protestos de estudantes e cientistas contra as reformas do governo, nesta semana, o que agrava as preocupações do primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin, de centro-direita, que tenta obter apoio ao referendo sobre a Constituição da União Européia, em maio.
"Nossas palavras de ordem são claras: empregos, salários, jornada semanal de 35 horas", disse Bernard Thibault, da central sindical CGT ao diário "Le Parisien", afirmando que o governo deveria retirar os planos de flexibilização das regras da jornada de trabalho.

Os protestos desta semana surgem em momento delicado para Raffarin, porque as pesquisas de opinião pública indicam que um voto favorável à Constituição da União Européia está longe de estar garantido na França.
Cerca de 60% dos eleitores disseram apoiar a Constituição, mas uma pesquisa publicada por "Le Figaro" aponta que apenas três em cada cinco deles estavam certos de que iriam às urnas.
O governo está preocupado com a possibilidade de que a insatisfação com as reformas leve os eleitores a rejeitar o tratado da União Européia -e as preocupações talvez tenham fundamento. Na quinta-feira, os manifestantes portavam faixas onde se lia "não ao texto da UE!", ao lado de outras com dizeres como "defendam as 35 horas".
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Tradução de Paulo Migliacci

FOLHA DE SAO PAULO

3.09.2005

Contra cortes, sindicato deve parar fábricas

DA REPORTAGEM LOCAL

Em reação à demissão de mais de 2.000 metalúrgicos do setor de máquinas agrícolas, CUT e Força Sindical vão parar fábricas do setor e prometem um calendário de manifestações a partir deste mês. As duas centrais devem definir um dia nacional de paralisação.
"Os cortes já representam 5% do que o setor emprega no país [44 mil]", diz Eleno José Bezerra, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. As demissões ocorreram no Rio Grande do Sul, no Paraná e em Santa Catarina, em empresas como CNH (marcas Case e New Holland), AGCO (Massey Ferguson) e John Deere. A Valtra, que produz tratores em Mogi das Cruzes, negociou banco de horas e férias para evitar dispensas.
"As empresas se beneficiaram desde 1999 de financiamentos com juros generosos subsidiados pelo BNDES. No primeiro sinal de crise, demitem? Vamos discutir ações para defender os empregos", diz Carlos Grana, presidente da CNM (confederação dos metalúrgicos) da CUT. (CR)
FOLHA DE SAO PAULO

3.08.2005

Emprego doméstico lidera a retomada

Motivada pela recuperação da renda das famílias, contratação de prestadores de serviços nas casas cresce acima da média desde agosto

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Bastou o mercado de trabalho das principais regiões metropolitanas do país melhorar um pouco e o rendimento ter uma pequena reação para mais famílias contratarem empregados domésticos.
O número de pessoas ocupadas em casas de família cresceu 10,6% (a maior taxa de todas as categorias) em janeiro na comparação com igual mês de 2004, segundo dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O emprego doméstico sobe acima da média desde agosto de 2004.
Isso não quer dizer, porém, que quem arrumou uma colocação como empregado doméstico tem muitas razões a comemorar: seu rendimento médio (R$ 317, ou 1,2 salário mínimo) corresponde a apenas 34,5% da renda média das seis maiores regiões metropolitanas do país (R$ 919,80).
Para o IBGE, a melhora do rendimento médio do trabalhador desde o final de 2004 explica a expansão do emprego doméstico, que depende do nível de renda das famílias.
Luiz Parreiras, economista especializado em mercado de trabalho do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), concorda: "O crescimento da massa de rendimentos é o motivo dessa expansão. Quando a família teve uma folguinha em seu orçamento ou o chefe da família conseguiu um emprego, ela contratou um empregado doméstico."
Desde setembro, o emprego doméstico cresce a uma taxa de dois dígitos. Com isso, ganhou espaço no número total de empregados. Seu peso subiu de 7,2% em janeiro de 2003 para 7,5% em janeiro de 2004. Em janeiro deste ano, atingiu 8% do total de pessoas que têm uma ocupação.
Foram criadas 150 mil novas vagas nas seis principais regiões metropolitanas do país em serviços domésticos, o que corresponde a 19,5% do total de novos postos de trabalhos criados de janeiro de 2004 a janeiro de 2005 (770 mil). Havia, no início do ano, 1,557 milhão de pessoas trabalhando em casas de família nessas regiões, mais gente do que na construção civil, com 1,431 milhão.

Mudança estrutural
A economista Hildete Melo, professora da UFF (Universidade Federal Fluminense) que pesquisa o trabalho doméstico, afirma que o aumento do emprego nesse contingente é uma tendência que vem da década passada. "Desde os anos 90, ele sobe mais do que as outras ocupações."
Segundo ela, o rendimento de domésticas, motoristas, babás e outros empregados domésticos aumentou proporcionalmente mais do que o das demais ocupações, embora a categoria ainda seja a que ganha menos.
Com base na Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio) de 2001, a economista da UFF estima que existam 6 milhões de trabalhadores domésticos em todo país, um número elevado se comparado com o de outros país.
A desigual distribuição de renda brasileira explica tal fenômeno. "A classe média tem rendimentos para arcar com esse custo, sobretudo porque o trabalho na sociedade brasileira é muito mal remunerado", afirma Melo.
Gradualmente, porém, o serviço doméstico tem se profissionalizado, tornando-se mais formal e com condições menos precárias. Essa é a avaliação tanto de Melo como da presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Serviços Domésticos do Rio de Janeiro, Carli Maria dos Santos.
Num passado não muito distante, poucas domésticas tinham carteira assinada e muitas dormiam na casa dos patrões, o que as tornava "verdadeiras escravas domésticas", diz Santos. Ela mesma viveu isso no começo da carreira. "Com 11 anos cheguei ao Rio para ser babá. Dos 16 aos 25, fiquei numa mesma casa fazendo todo o tipo de serviço. Acabei ficando doente. Trabalhei sempre nesse período sem carteira. É verdade que, de uns tempos para cá, as condições melhoraram, mas muita gente hoje em dia ainda quer pagar menos do que o piso [no Rio, é de R$ 326]", afirma.
Com rendimento de dez salários mínimos (cerca de R$ 2.600) e 34 anos de profissão, a babá Francisca Queiroz da Silva, 66, que tem curso de enfermagem, está no topo salarial da categoria. Ela diz que, de fato, a situação melhorou, mas que ainda há resistência de algumas famílias em arcar com custos trabalhistas.
Prestes a se aposentar, Francisca Silva diz que, quando começou, ninguém nem pensava em assinar carteira. Férias e décimo terceiro, então, nem se mencionavam. "As coisas foram mudando. Melhoraram. Mas ainda existem famílias que, mesmo ricas, não querem pagar os direitos."
Há cinco meses no seu atual emprego, ela trabalha no bairro nobre do Leblon (zona sul), mas a família para qual presta serviços não assinou sua carteira. "Vou ficar só até a próxima semana e quero ao menos décimo terceiro e férias proporcionais", disse ela, que só vai a sua casa em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, a cada 15 dias.
No outro extremo da pirâmide social das domésticas, está Vânia Maria dos Santos, 16 anos, moradora do Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo. Filha de doméstica, ela trabalha na profissão desde os 11 anos e nunca teve carteira assinada.
No último emprego, Vânia Santos ganhava R$ 130 por mês. Nunca chegou a receber um salário mínimo (R$ 260): seu maior salário foi de R$ 150. Nesta semana, topou fazer um bico por R$ 50 para trabalhar por sete dias.
"Fui trabalhar em casa de família porque meu pai e minha mãe ficaram desempregados. Nunca fiz outra coisa", conta ela.
"Os altos salários são casos pontuais. A média é realmente ainda é muito baixa", afirma Melo, da UFF. Segundo ela, os números da Pnad de 2001 mostravam que apenas um terço dos empregados domésticas tinha carteira assinada no país.
FOLHA DE SAO PAULO

3.06.2005

Vaga feminina tem custo baixo, diz OIT

DA FOLHA ONLINE

Uma pesquisa da OIT (Organização Internacional do Trabalho) derruba dois mitos relacionados à participação das mulheres no mercado de trabalho.
O primeiro deles diz respeito ao custo da trabalhadora ao empregador. Por ela ter direito a benefícios como o salário-maternidade, essa vaga seria mais cara, o que, em tese, pode ser usado para justificar as diferenças salariais entre homens e mulheres -elas recebem cerca de 30% menos.
Laís Abramo, do escritório da OIT no Brasil, explica que essa desigualdade salarial não se justifica, ao menos nos cinco países -Argentina, Brasil, Chile, México e Uruguai- em que a pesquisa foi realizada. "Não está baseada em estatísticas", diz.
Os custos relacionados ao valor gasto em um posto de trabalho ocupado por uma mulher, de acordo com a OIT, representam na média 2% da remuneração bruta mensal. No Brasil, a relação é ainda menor, de 1,2%.
Isso porque o salário-maternidade é pago pelo sistema de seguridade social nesses países -apenas no Chile ele é pago por meio de um fundo público-, e não pelo empregador.
O gasto efetivo das empresas fica por conta do auxílio-creche e do direito à amamentação.

Nordeste paga menos de um mínimo

DA SUCURSAL DO RIO

Se o rendimento médio dos empregados domésticos já é baixo, a situação é pior em Recife e Salvador, onde não atinge nem sequer um salário mínimo.
O menor valor é o de Recife -RS 218,10 (ou 0,84 salário mínimo) em janeiro de 2005. A cifra corresponde a 36,22% do rendimento médio da região. Num patamar próximo aparece o de Salvador: R$ 222,10 -ou 0,85 salário mínimo. As domésticas daquela região ganham o equivalente a 32,4% do rendimento médio.
Nessas duas regiões metropolitanas, também existem relativamente mais empregados domésticos, diz o IBGE. Em Salvador, representam 9,8% do total de pessoas ocupadas. Em Recife, o percentual é de 9%. A média das seis regiões metropolitanas pesquisadas é de 8%. Porto Alegre registra o menor percentual -7,2%.
De acordo com a economista Hildete Melo, a oferta de trabalho nessas regiões de renda mais baixa é menor, o que acaba por "empurrar" principalmente as mulheres para esse tipo de ocupação.
As mulheres, segundo Melo, representam a imensa maioria dos trabalhadores domésticos. Só 7% são homens, de acordo com a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2001.
É na região metropolitana de São Paulo que os domésticos recebem mais em média (R$ 357,40), nominalmente a maior cifra entre as regiões. O valor representa 33,9% do rendimento médio de São Paulo, de R$ 1.053,70, o maior das áreas pesquisadas.
Em Porto Alegre, o valor médio pago aos empregados domésticos (R$ 336,60) corresponde ao percentual mais alto da renda média da região -37,6%.
Comparado com as demais categorias de ocupação, o salário das pessoas empregadas em casas de família é muito inferior.
"Ainda que a renda desse grupamento tenha aumentado, é uma forma de inserção no mercado de trabalho muito precária, com rendimento muito baixo", afirma Luiz Parreiras, economista do Ipea.

FOLHA DE SAO PAULO

Pobreza na Paris glamourosa

Deborah Berlinck
Correspondente PARIS

Boulevard Saint Germain, sexta-feira, 11h. No bairro chique de Paris, o termômetro marca um grau centígrado. Um frio de penetrar os ossos. Jean-Claude Patin, francês da Provença, 44 anos, está sentado sobre sua mala, na calçada, encostado à vitrine de uma loja. Vai ficar ali até não agüentar e, ao anoitecer, vai forçar a porta dos prédios para ver qual abre: é a sua chance de dormir no calor. Há quatro meses sem receber salário, o ex-operário de uma empresa de cimento acabou na rua e diz esperar uma decisão do tribunal, na sua briga com o empregador. Hoje integra a leva de novos-pobres de Paris.

— A primeira vez que estendi a mão para pedir dinheiro, chorei. Estou há três semanas na rua. Isso nunca tinha me acontecido. Em Paris, quem tem se salva, quem não tem afunda — diz ele, separado e pai de duas filhas.

Jean-Claude não atingiu o fundo do poço, como os franceses Philippe, Aisha e Manuel Pereira, este último um filho de portugueses que diz trabalhar informalmente no setor de construção. Ao anoitecer, os três se instalaram na calçada da Rue Ancienne Comédie, no mesmo bairro, onde passariam a noite. A poucos metros deles, um homem bem-vestido de meia idade caía duro no chão, aparentemente vítima de uma crise cardíaca. Manuel menosprezou em voz alta o destino do homem, atraindo olhares reprovadores dos passantes. Os três mal articulavam as palavras, de tão alcoolizados. Aisha filosofou:

— Estou desesperada com os seres humanos, com a desvalorização da sociedade... Apesar da minha miséria, jamais fui tão feliz.

Em Paris, 35% dos sem-teto trabalham

Há uma Paris muito diferente por trás da fachada glamourosa. No momento em que o ministro da Economia, Hervé Gaymard, cai do cargo atropelado por um escândalo — alugou um apartamento de 600 metros quadrados por conta do governo, por 14 mil euros por mês, quando é proprietário de cinco imóveis — estatísticas mostram uma crise sem precedentes no setor de habitação: os aluguéis na capital explodiram, os pobres estão sendo expulsos e o governo não investiu o bastante em moradias populares. Este é, segundo Michel Castellan, da organização humanitária Emmaus, um dos fatores por trás do aumento do número de pobres em Paris, junto com desemprego de 10% no país e a precariedade do trabalho.

Paris está cada vez mais burguesa. À medida que as classes média e rica ocupam quarteirões populares — levando os preços dos aluguéis a subirem (de 2000 a 2003, 35%) — aumenta o fenômeno dos trabalhadores pobres que declaram não ter domicílio. Segundo Castellan, 35% das pessoas sem-teto em Paris trabalham.

‘Aqui se morre de solidão’

Um estudo publicado em janeiro pelo Atelier Parisien d’Urbanisme (Apur) revelou que 12% dos moradores da capital (o correspondente a 210 mil pessoas) vivem com menos de 670 euros por mês, isto é, abaixo da linha da pobreza. Hoje a extrema pobreza afeta uma em cada oito casas em Paris. Um terço dos casos é de famílias desintegradas —- mães sustentando sozinhas os filhos, por exemplo. O mesmo percentual vale para famílias estrangeiras. Mas estas, ao menos, têm teto. A psicóloga Beatrice Girard dirige um centro Emmaus que aloja por um período médio de dois anos 23 famílias sem-teto e as ajuda a se reinserirem na sociedade. Ela assiste à degradação. Um estudo da Direction de L’Action Sanitaire et Social mostra que, só em Paris, há 400 mulheres grávidas por ano vivendo na rua.

— Há 10 anos as assistentes sociais nos enviavam 40 pedidos de alojamento. Hoje recebo 1.600 por ano. Mas não há lugar — lamenta Girard.

Organizações humanitárias como a Emmaus se mobilizam para ajudar os pobres em etapas: centros de urgência em pontos-chave da cidade para tirá-los da rua, com ducha, lavagem de roupa, médico, ateliês para aprendizado. Depois, alojamentos intermediários e hotéis onde prolongar a estada. Supostamente, esta seria a última etapa para a reinserção na sociedade. Mas todo o sistema está hoje bloqueado: quem sobe as etapas não consegue dinheiro bastante para se sustentar sozinho ou pagar um apartamento. E como quem está em cima não sai, os que estão em baixo não se movem e entram num círculo vicioso.

É o caso de Sebastien Lavry, 33 anos, e Malika Rakab, francesa de origem argelina, de 48 anos. Os dois vieram de outras regiões da França à procura de uma vida melhor em Paris. Hoje os dois têm ocupações — ela, cuidando de pessoas idosas ou doentes, ele fazendo todo tipo de biscate — mas não têm onde dormir.

Conseguiram agora se instalar num centro Emmaus, mas só podem ficar um mês. Depois disso, será um outro centro, ou a rua. Malika conta que chegou a conseguir um apartamento, mas não pôde alugar por causa das exigências: comprovação de salário, garantias. Irritada, ela disse à assistente social da prefeitura, que acompanhava (e dificultava) seu caso: “E então, Tenho direito a quê ? A um túmulo? Ainda assim tenho que pagar, não é?”

Do outro lado da cidade, no centro de acolhimento de urgência Agora, a francesa Isabelle Quieffin limpava o rosto de dois imigrantes pobres, para levantar o moral e melhorar a aparência. Ela, que passou um ano no interior de São Paulo em missão humanitária ao Brasil para ajudar os trabalhadores de cana-de-açúcar, não tem dúvida:

— É melhor ser pobre no Brasil. Pelo menos há a família e mais solidariedade. Aqui se morre de solidão.

Publicado em O GLOBO

3.05.2005

Cresce distância de salário entre homem e mulher

DA FOLHA ONLINE

No ano passado, cresceu a distância entre rendimentos de homens e mulheres no mercado de trabalho da Grande São Paulo, informa o Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados).
O valor recebido por hora pelas mulheres no ano passado (R$ 4,74, ou média de R$ 758 por mês, para 40 horas semanais) representou 77,9% do salário médio dos homens -em 2003, essa proporção era de 78,6%.
Isso ocorre porque, apesar da recuperação da renda para ambos os sexos, o crescimento foi maior entre os trabalhadores do sexo masculino -3,4% contra 2,5%.
Para as mulheres que trabalham no setor de serviços, que tradicionalmente recebem salários mais próximos aos dos homens, o movimento foi no sentido contrário. Em 2004, elas ganharam o equivalente a 98,3% do recebido pelos homens, ante 95,3% em 2003.
O mesmo ocorreu com as assalariadas com carteira assinada, cujo valor recebido por hora passou a corresponder a 87,9% daquele recebido pelos homens (87,4% em 2003). Para as assalariadas sem carteira de trabalho, essa proporção equivaleu a 79,5%. No setor público, os valores se aproximaram, com os rendimentos das mulheres equivalendo a 89,8% do que é pago aos homens (89,2% em 2003).
A recuperação na renda feminina se concentrou nos setores de serviços (+3,6%) e comércio (+0,9%). Para as mulheres que trabalhavam com serviços domésticos ou na indústria houve uma queda de 2,3% e 1,4%, respectivamente, nos salários.
Segundo a pesquisa, a taxa de desemprego na região caiu 6,8% entre as mulheres.
FOLHA DE SAO PAULO

Aspectos das lesões por esforço repetitivo geram controvérsia

Especialistas divergem sobre tratamento

DA REPORTAGEM LOCAL

Embora conhecidas há bastante tempo, as LER/Dort (lesões por esforços repetitivos/distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho) ainda geram muitas controvérsias quanto aos sintomas, aos números de pessoas que são vítimas e ao tratamento.
A discussão ficou clara no debate promovido pela Folha na última segunda-feira.
O evento teve a participação dos médicos José Knoplich, doutor em saúde pública pela USP, Daniel Feldman, professor-adjunto de reumatologia da Unifesp, José Erivalder Guimarães, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo, André de Oliveira, profissional de educação física e coordenador de ginástica laboral, Osmar de Oliveira, ex-diretor do Centro de Reabilitação Profissional do INSS e Maria José Americano, presidente do Instituto Nacional de Prevenção às LER/Dort.
Além dos números -para Americano as LER/Dort são a segunda causa de afastamento do trabalho, já para Knoplich elas representam apenas 1% dos casos-, o tratamento e possíveis interesses de sindicatos também provocam contestações.
Knoplich defende que a pessoa seja remanejada de setor, tome antidepressivo, realize um tratamento psicológico e não faça exercícios físicos. Já para Osmar de Oliveira, os casos de pessoas que só querem a indenização trabalhista são minoria. "É essa concepção [de que o empregado quer ganhar dinheiro do INSS] que existe e nós temos de acabar com ela nesse país", disse Guimarães.

Reforma do Judiciário acaba com dissídio coletivo

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Empregados e patrões não podem mais entrar com dissídio coletivo na Justiça do Trabalho no caso de acontecer um impasse nas negociações.
A reforma do Judiciário, em vigor desde dezembro do ano passado, acabou com a possibilidade de uma das partes acionar unilateralmente os tribunais trabalhistas para resolver conflitos. Agora, o mecanismo só pode ser usado de comum acordo.
Antes da reforma, quando empregados e empregadores não conseguiam avançar nas negociações, uma das partes podia recorrer ao Poder Judiciário para que o assunto fosse resolvido.
Agora, com a reforma, o dissídio coletivo unilateral deixa de existir e passa a ser adotado somente quando houver concordância entre as partes.
Ontem, oito confederações de trabalhadores (setor de alimentação, comércio, indústria, empresas de crédito, turismo, saúde, transporte marítimo e terrestre) entraram no Supremo Tribunal Federal com uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) questionando o dispositivo.
O fim do dissídio coletivo unilateral faz parte do capítulo da reforma do Judiciário que trata da extinção do poder normativo da Justiça do Trabalho.
A medida também é abordada no projeto de reforma sindical, enviado ao Congresso anteontem. No caso da proposta de reforma sindical, até a expressão "dissídio coletivo" é substituída por "ação normativa de comum acordo".

Inconstitucional
"Imagine uma pessoa que me deve R$ 5.000. Tento resolver o problema negociando, mas a pessoa não me paga. Aí quero entrar na Justiça, mas só posso recorrer ao Judiciário se essa pessoa estiver de acordo", comparou Sid Riedel, advogado e representante das confederações.
Segundo ele, o dispositivo da reforma do Judiciário é inconstitucional, pois vai contra as cláusulas pétreas da Constituição, que asseguram o direito a qualquer pessoa de entrar na Justiça. Riedel acrescenta que o dispositivo foi incluído na reforma a pedido do Poder Executivo.
O secretário-adjunto de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho, Marco Antônio de Oliveira, afirma que o fim do dissídio coletivo tem como objetivo diminuir o poder normativo da Justiça do Trabalho. A intenção é forçar, cada vez mais, a composição dos conflitos entre trabalhadores e empregados.

Fim do dissídio
"O dissídio coletivo deixa de existir como era. Na negociação, ou as partes se entendem ou têm dois caminhos: entram em acordo para ajuizar o dissídio ou constituem, também por meio de acordo, um árbitro privado", afirmou Oliveira.
A única exceção a essa nova regra será no caso de greve em serviços essenciais. Nessa hipótese, o Ministério Público do Trabalho pode ajuizar o dissídio.
"O fim do dissídio coletivo passou despercebido na reforma. Foi um contrabando. A medida não tem o aval do Judiciário", afirmou José Carlos Schulte, representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio.
"É preciso derrubar esse dispositivo para garantir o livre acesso de todos à Justiça", acrescentou o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins, Artur Bueno.

Confederações
As confederações de trabalhadores são acusadas de fazer lobby contra a proposta de reforma sindical porque serão prejudicadas com as mudanças.
A reformulação da estrutura sindical, além de legalizar as centrais sindicais, exigirá que as entidades tenham um número mínimo de filiados para que continuem detentoras do monopólio da representação.
Hoje, embora legalmente sejam os representantes dos trabalhadores, boa parte das confederações não tem o respaldo de suas bases.
FOLHA DE SAO PAULO

3.03.2005

Metalúrgicos ampliam tarifa zero de banco

Funcionários da Volkswagen e da Ford de São Paulo, Paraná e Bahia terão isenção de taxas nas contas-salário

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os metalúrgicos do ABC (CUT) conseguiram ampliar a isenção do pagamento de tarifas bancárias para funcionários da Volkswagen e da Ford para o interior de São Paulo e mais dois Estados -Paraná e Bahia-, além de estender o benefício para trabalhadores terceirizados.
Nos cálculos do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que negocia desde agosto com empresas e bancos o fim das tarifas cobradas nas contas-salário, 58.843 trabalhadores já têm direito à chamada "tarifa zero". Do total, 36.793 são metalúrgicos do ABC paulista.
"O peso da tarifa bancária no contracheque do trabalhador é de 1% ao mês, em média. Isso significa uma economia de R$ 19 milhões por ano, considerado esse universo de 58 mil trabalhadores", diz o presidente do sindicato, José Lopez Feijóo, a partir de cálculos feitos pelo Dieese.
A campanha pela tarifa zero é a mais nova bandeira da CUT, após a conquista do empréstimo com desconto em folha de pagamento, que permitiu a concessão de crédito a trabalhadores e aposentados com taxas de juros menores.
A CUT já recomenda aos sindicatos filiados que cobrem a medida de bancos e empresas em que trabalham os funcionários representados por essas entidades.
Na Volkswagen, a proposta de acordo negociada com o Unibanco, banco que paga os salários dos empregados da montadora, deve ser avaliada hoje pelos trabalhadores do ABC. Terão direito à tarifa zero em suas contas-salário, segundo a Folha apurou, 12.600 funcionários da fábrica de São Bernardo do Campo, 4.500 da unidade de Taubaté e 3.500 empregados de Curitiba (PR).
Outros 4.000 funcionários de empresas terceirizadas que trabalham dentro da montadora -como a Gedas Informática, a GR Alimentação e a Pérola Asseio e Conservação- também serão beneficiados. De acordo com o Dieese, juntos, os 24.600 empregados diretos e indiretos da Volkswagen vão economizar por ano R$ 7,95 milhões -esse dinheiro teriam de pagar ao banco caso fossem cobradas as tarifas.
O sindicato informa que a isenção envolve uma lista de mais de 20 tarifas. Uma das mais altas é a taxa de abertura de crédito para cheque especial -R$ 20,90. Os trabalhadores não terão de pagar tarifas, por exemplo, para fazer saques em caixas da rede integrada do banco e nos terminais da fábrica, podem tirar extratos sem limite pela internet e nos caixas, além de ter direito a 40 folhas de cheques por mês.
Procurado pela Folha, o Unibanco informou que não se pronuncia sobre o acordo por considerá-lo uma negociação comercial envolvendo clientes.
A assessoria do banco informou que desde dezembro a instituição lançou o programa "Tarifa Zero", com descontos de até 100% nas tarifas dos correntistas -desde que os clientes adquiram serviços, como empréstimos, seguros, aplicações financeiras e capitalização.
Na Ford, onde os trabalhadores fecharam anteontem acordo de tarifa zero com o Bradesco e o Unibanco, os metalúrgicos do ABC querem negociar a extensão do benefício para os terceirizados. Além dos 4.000 empregados diretos de São Bernardo, terão direito à isenção de tarifas os 8.500 trabalhadores do complexo de Camaçari (BA), 250 da unidade de Tatuí e 1.300 metalúrgicos de Taubaté.
"É um movimento importante porque gera recursos para a economia. Esse dinheiro deixa de ir para os cofres dos bancos e ficar concentrado com os banqueiros", diz Feijóo. "A idéia é estender a tarifa zero a todos os trabalhadores do país, por meio do projeto de lei apresentado pelo deputado Vicente Paulo Pereira (PT-SP)".

3.01.2005

Bancário faz ato contra doenças profissionais

Categoria sofre com LER

DA REPORTAGEM LOCAL

Em protesto à alta incidência de LER (Lesões por Esforços Repetitivos) entre os bancários, o Sindicato dos Bancários de São Paulo fez protestos ontem, dia internacional de prevenção à doença, em instituições financeiras da região central da cidade para chamar a atenção para o problema.
Estudo do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília, com base na análise de benefícios de acidentes de trabalho concedidos a 1,881 milhão de trabalhadores de cinco ramos de atividade, mostra que os bancários respondem por 55,3% dos casos de tenossinotive e sinovite (inflamações nos tendões e nas partes moles das articulações). A LER afeta principalmente pessoas que fazem esforços repetitivos. (CR)

FOLHA DE SÃO PAULO