3.11.2005

Protesto contra flexibilização da jornada pára transporte na França

Segundo a polícia, 35 mil foram às ruas em Paris

DA REUTERS

Dezenas de milhares de trabalhadores franceses se manifestaram em Paris na quinta-feira e greves paralisaram os transportes públicos, causando embaraços ao governo em meio a uma visita de representantes olímpicos, que foram avaliar a candidatura da cidade a sediar os jogos de 2012.
"Nós preferíamos ter publicidade melhor para a nossa candidatura, evidentemente", disse o ministro dos Esportes, Jean-François Lamour, ao jornal "Le Figaro". Paris disputa com quatro outras cidades o direito a organizar a Olimpíada, mas é encarada como franca favorita.
Os protestos contra reformas nas leis trabalhistas se espalharam por todo o país. Os organizadores dizem que 150 mil pessoas se manifestaram em Paris e um total de 800 mil em toda a França. A polícia estima o número de manifestantes parisienses em 35 mil.
Os sindicatos expressaram apoio às ambições olímpicas da capital e enfatizaram que as greves dos trabalhadores das ferrovias, do setor de energia, dos professores e dos correios tinham por objetivo protestar contra os cortes de empregos e as medidas governamentais para flexibilizar o regime de jornada semanal de 35 horas de trabalho.
Protestos dos controladores de tráfego aéreo causaram o cancelamento de até um quarto dos vôos no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Os atrasos chegavam em média a duas horas nos dois principais aeroportos da capital.
Alguns trens do serviço Eurostar, entre Paris e Londres, e entre Bruxelas e Londres, tiveram suas viagens canceladas.
As greves se seguiram a protestos de estudantes e cientistas contra as reformas do governo, nesta semana, o que agrava as preocupações do primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin, de centro-direita, que tenta obter apoio ao referendo sobre a Constituição da União Européia, em maio.
"Nossas palavras de ordem são claras: empregos, salários, jornada semanal de 35 horas", disse Bernard Thibault, da central sindical CGT ao diário "Le Parisien", afirmando que o governo deveria retirar os planos de flexibilização das regras da jornada de trabalho.

Os protestos desta semana surgem em momento delicado para Raffarin, porque as pesquisas de opinião pública indicam que um voto favorável à Constituição da União Européia está longe de estar garantido na França.
Cerca de 60% dos eleitores disseram apoiar a Constituição, mas uma pesquisa publicada por "Le Figaro" aponta que apenas três em cada cinco deles estavam certos de que iriam às urnas.
O governo está preocupado com a possibilidade de que a insatisfação com as reformas leve os eleitores a rejeitar o tratado da União Européia -e as preocupações talvez tenham fundamento. Na quinta-feira, os manifestantes portavam faixas onde se lia "não ao texto da UE!", ao lado de outras com dizeres como "defendam as 35 horas".
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Tradução de Paulo Migliacci

FOLHA DE SAO PAULO