10.29.2004

Clima de disputa enlouquece estudantes dos EUA

The New York Times

Cresce o número de universitários com problemas de saúde mental

Mary Duenwald
Em Nova York

Algumas semanas atrás, os pais de um estudante de Harvard confiaram ao médico Richard Kadison, o chefe do serviço de saúde mental desta universidade, a sua suspeita de que a sua filha estivesse enfrentando um problema sério com drogas. "A estudante em questão rebateu que, embora ela estivesse precisando de alguma ajuda, o seu problema não era com o abuso de qualquer substância", contou Kadison. "No meu entendimento, o problema não era de saber quem está certo e quem está errado, ou qual é o diagnóstico exato, e sim se ela está obtendo a ajuda da qual ela precisa". O campus da universidade pode ser um lugar muito estressante. Pesquisas mostram que o número de estudantes universitários com problemas de saúde mental de todo tipo está aumentando de modo constante neste ambiente. Além disso, alguns estudantes encontram-se emocionalmente em apuros, lutando com problemas que vão desde a saudade do lar e da família e as rupturas de relacionamento até o uso excessivo de drogas ou de álcool, passando por depressões graves ou até mesmo, pensamentos suicidas. Especialistas indicam que, dada a prevalência das dificuldades emocionais no campus, vale a pena verificar, antes de escolher uma universidade, quais serviços de saúde mental ela oferece. "Uma vez que cada estudante tem grosso modo 50% de chances de apresentar alguns sintomas de depressão ou outros problemas, me parece que esta questão deve ser levada em consideração quando da escolha de uma universidade", avalia Kadison, que é também autor de um livro intitulado "Universidade dos Arrasados: A Crise de Saúde Mental no Campus e o Que Fazer a Respeito". A maioria das universidades oferece serviços de orientação e de atendimento psiquiátrico, mas este atendimento pode variar consideravelmente em termos de nível e de qualidade. Alguns tratamentos de saúde mental podem estar cobertos pelo contrato que vincula o estudante ao estabelecimento, no qual uma taxa referente a esses custos pode estar embutida nas mensalidades, ou ainda por um seguro de saúde.
Já, outros tratamentos tais como consultas com psicólogos especializados ou com especialistas em medicação existentes na comunidade, por exemplo --podem não contar com nenhum tipo de reembolso. Uma boa estratégia, explicam os especialistas, é procurar verificar qual é a importância da estrutura e da equipe de profissionais da saúde mental que o centro de saúde do campus mantém em operação, quais tipos de serviços são oferecidos e qual é a política da escola quando surgem casos graves, quando um estudante passa a necessitar de um tratamento de longo prazo ou de uma hospitalização.
Os estudantes que estiverem ingressando na universidade e que já estiverem sendo tratados em função de um histórico de depressão ou de alguma outra enfermidade mental podem querer estabelecer acordos com antecedência, de modo a continuarem aquele tratamento uma vez instalados no campus.
Em determinados momentos, cerca da metade de todos os estudantes acabam se sentindo tão deprimidos que eles têm dificuldades em dar conta das suas atividades, enquanto 15% apresentam sintomas que correspondem aos critérios da depressão clínica, segundo informa uma pesquisa realizada em 2004 pela Associação de Saúde da Universidade Americana.
Entre os estudantes que freqüentam os centros de orientação no campus, o número dos que tomam medicações psiquiátricas cresceu para 24,5% em 2003-04, enquanto essa proporção era de 17% em 2000 e de 9% apenas em 1994, segundo estatísticas da Pesquisa Nacional junto às Diretorias dos Centros de Orientação, que vem sendo conduzida anualmente pelo médico Dr. Robert P. Gallagher, da Universidade de Pittsburgh. As pesquisas mostram que a maioria dos orientadores para questões de saúde mental também constatou um forte crescimento do número de estudantes que apresentam problemas mentais graves, tais como profundas crises de depressão, de desordem bipolar, ou ainda desequilíbrios no plano da alimentação e problemas com drogas e álcool graves o bastante para exigirem uma hospitalização. Os sete suicídios aparentes que foram cometidos no ano passado por estudantes da Universidade de Nova York ilustraram a gravidade da ameaça que os distúrbios psicológicos de certos estudantes podem representar. "Existe a ilusão segundo a qual a universidade é uma área segura num meio-ambiente estável", diz o médico Dennis Heitzmann, que é diretor dos serviços psicológicos da Universidade do Estado de Pensilvânia. "Mas, para muitos estudantes, este ambiente não é nem um pouco favorável".Embora os critérios de admissão na universidade estejam mais rígidos do que nunca, e embora a carga de atividades nunca tivesse sido tão pesada, os especialistas afirmam que o crescimento dos casos de problemas de saúde mental exigindo tratamento entre os estudantes da universidade se deve a muitas causas.
Além disso, o surgimento de novas medicações para a depressão, a desordem bipolar e outros problemas do tipo está fazendo com que muitas pessoas que não teriam sido capazes disso no passado possam freqüentar hoje a universidade. Embora alguns estudantes resistam a se submeter a um tratamento, a conscientização geral em relação a distúrbios mentais tais como a depressão aumentou, enquanto o fato de procurar ajuda tornou-se mais aceitável. Além disso, alguns orientadores de universidade afirmam que o mundo no qual os estudantes de hoje vivem é bem maior, mais assustador e gerador de angústias do que era uma década ou duas atrás.
O médico Mark M. Harris, diretor-assistente dos serviços de orientação da Universidade do Iowa, conta que o seu serviço atendeu um número de estudantes 20% maior no mês passado do que em setembro de 2003. E os seus colegas de outras universidades estão relatando aumentos semelhantes de atendimentos. "Os levantamentos que eu tenho feito na lista nacional dos serviços deste setor sugerem que este tem sido o pior outono no que diz respeito aos casos de emergência em duas décadas", comenta o doutor Harris. "Nós estamos registrando um número muito maior de casos de distúrbios provocados pela ansiedade e de ataques de pânico. Com a guerra global contra o terrorismo e com os graus de alerta ao terror, o mundo, de maneira insidiosa, tornou-se um lugar bem mais assustador de se viver".
Outros problemas menos graves, tais como a saudade de casa ou as disputas com companheiros de quarto, também podem se revelar perturbadores o suficiente para exigirem um tratamento. De modo característico, as grandes universidades públicas e os colégios privados ricos oferecem os mais completos serviços de saúde mental. Mas os centros de orientação nos campi, qual quer seja o seu perfil, estão trabalhando no máximo de sua capacidade.O centro de saúde mental típico numa universidade dispõe de um certo número de psicólogos, de assistentes sociais e de enfermeiros diplomados do Estado, e ainda, com freqüência, de pelo menos um psiquiatra, que pode ser um consultor trabalhando em meio-período."Alguns campi são tão pequenos que o centro de orientação pode oferecer um único profissional apenas", indica Jaquie Liss Resnick, diretora de orientação da Universidade da Flórida e presidente da Associação dos Diretores de Centros de Orientação em Universidades e Colégios. Contudo, as grandes instituições não só empregam vários orientadores, como elas podem também recorrer aos serviços de residentes de pós-graduação em psiquiatria. O centro de orientação da universidade de Pensilvânia, por exemplo, um estabelecimento freqüentado por 43 mil estudantes, conta 12 funcionários experientes que trabalham em tempo integral, mais oito cargos equivalentes que são preenchidos por internos e professores-assistentes de cursos de graduação. Os estudantes que se apresentam em busca de ajuda são quase sempre encaminhados para uma consulta, de modo que os orientadores possam avaliar a gravidade dos seus problemas.Por exemplo, um estudante sofrendo de uma depressão significativa pode agendar uma série de sessões semanais de tratamento intensivo ou uma vez a cada 15 dias, e, em certos casos, antidepressivos poderão lhe ser prescritos. Já, um estudante cujo problema não for diagnosticado como tão grave pode se ver oferecer uma vaga numa terapia de grupo. "Para os grupos mais importantes, nós oferecemos atividades em oficinas ou até mesmo, acesso a salas de discussões na Internet", explica o doutor Dennis Heitzmann. A Universidade de Pensilvânia oferece sessões com um grupo de discussão online sobre a saudade de casa, por exemplo. Uma terapia nos centros de saúde universitários costuma ter uma duração bastante curta, com quatro a seis sessões apenas. Isso se deve, de um lado, ao fato de muitos estudantes terem uma capacidade de recuperação bastante grande que lhes permite reagirem de modo positivo após terem recebido alguma ajuda, e, de outro, ao fato de os estudantes raramente se apresentarem no centro de saúde antes do segundo semestre, o que faz com que eles recebam alguma orientação ou algum tratamento por um período de tempo relativamente curto, até o final do ano letivo, precisa a orientadora Jaquie Resnick. A fase crítica ocorre em meados do segundo semestre. É nesse período que os atendimentos nos serviços de orientação tendem a alcançar a sua freqüência máxima, por causa do aumento da pressão provocado pela iminência das provas de final de ano, e dos casos de depressão e de crises de ansiedade provocados pela diminuição da exposição dos indivíduos à luz do sol e a uma vida equilibrada.O resultado disso é que muitos centros de orientação nos campi acabam sendo obrigados a elaborar listas de espera para o atendimento. "Nós tentamos atendê-los o mais rápido possível para efetuar uma avaliação inicial e tomar as providências que se revelarem ser necessárias de imediato", precisa o doutor Mark Harris, de Iowa."Nós selecionamos as pessoas, e tentamos ter uma idéia a mais precisa possível de quem são os alunos que podem esperar e os que não podem".

Seguro de saúde é imprescindível
Os estudantes que precisarem de uma terapia de maior duração podem ser encaminhados para um centro profissional de saúde mental da comunidade, prossegue Dennis Heitzmann."Na verdade, é um procedimento equivocado iniciar o tratamento de um paciente quando você sabe de antemão que será obrigado a limitar o número de sessões". Mas se os estudantes não tiverem nenhum plano de saúde, ou se a comunidade não dispuser de serviços de psiquiatria adequados, o seu encaminhamento para outros estabelecimentos pode se revelar um verdadeiro desafio.As universidades que dispõem de centros de formação em medicina podem estar mais bem equipadas para dirigir os estudantes até profissionais que atuam fora do domínio universitário. Mas, em certos casos, os pais podem ter de empreender a sua própria pesquisa para descobrir um terapeuta qualificado --e terão de pagar pelo tratamento do próprio bolso. Gregory Snodgrass, o diretor do centro de orientação da Universidade do Estado do Texas, em San Marcos, diz não ter conseguido convencer os responsáveis dos postos de atendimento médico do Estado que possuem um serviço de saúde mental a atenderem estudantes. "Eles se recusam a atender estudantes, por considerarem que este é o nosso papel", explica.
Quando os estudantes que não possuem nenhum plano de saúde precisam tomar remédios, acrescenta, os psiquiatras da universidade costumam distribuir as amostras grátis que eles recebem no seu consultório. Em Harvard, os estudantes ingressando na universidade com problemas que exigem um tratamento continuado são colocados temporariamente sob a supervisão dos médicos do campus ou da comunidade, explica o doutor Richard Kadison. Ele acrescenta que os estudantes de Harvard também são incentivados a adquirirem o seguro de saúde da universidade, que inclui uma cobertura das despesas com atendimento e remédios psiquiátricos. Em certos casos, os estudantes que já tiverem um histórico de problemas de saúde mental na escola ou mais cedo, durante a infância, poderão sofrer uma recaída na universidade. Os anos de estudos na universidade também costumam ser um período durante o qual certos distúrbios mentais sérios, tais como a esquizofrenia, podem surgir pela primeira vez. "O final da adolescência e o início da vintena constituem um período em que podem começar a aparecer diversos problemas de saúde mental", confirma Mark Harris.
"É nesta fase que costumam surgir os primeiros sintomas de esquizofrenia. E, com freqüência, isso pode se concretizar com um atendimento de emergência num hospital, uma vez que os distúrbios mentais podem tornar as pessoas vulneráveis a impulsos auto-destrutivos". Participação dos paisAlém disso, os problemas de saúde mental que podem atingir estudantes podem também suscitar perguntas, principalmente quanto à questão de saber até que ponto o envolvimento de parentes é aconselhável. Alguns estudantes que procuram auxílio médico preferem manter os seus pais alheios a esses problemas como um todo, e, em geral, os orientadores do campus atenderão normalmente ao seu pedido.
Os estudantes que já completaram 18 anos são legalmente independentes dos seus pais. Mas, a maioria dos orientadores dos centros universitários de saúde mental, se considera autorizada a informar os pais, caso um estudante for hospitalizado, a partir do momento em que este mesmo estudante ainda estiver dependente financeiramente dos seus pais, segundo apurou a pesquisa conduzida pelo doutor Robert Gallagher, da Universidade de Pittsburgh. Esta pesquisa também apurou que, em geral, quando um orientador suspeita de que determinado estudante esteja sofrendo de tendências suicidas e de que ele corre um risco potencial, ele costuma incentivá-lo a informar os seus pais de sua situação, e, na maioria dos casos, esse estudante irá acatar esta orientação.Esta questão tornou-se particularmente sensível desde o suicídio, amplamente repercutido pela mídia, de Elizabeth Shin, uma estudante do Instituto de Tecnologia do Massachusetts, em 2000.Shin havia tido uma consulta no centro de orientação desta universidade antes da sue morte. Os seus pais estão agora processando a universidade por não terem sido informados sobre o caso. Entretanto, em outros casos, os pais são colocados diante do problema oposto: Eles sabem, ou suspeitam, de que os seus filhos estão sofrendo, mas eles estão inseguros em relação ao caminho a seguir para convencê-los a recorrerem aos serviços médicos da universidade.
Mas os orientadores afirmam que, por via de regra, eles não pressionam os estudantes a seguirem algum tratamento, a pedido dos seus pais. "Um dos conceitos no qual nós nos baseamos é a convicção de que os estudantes, ao se tornarem maiores de idade, se tornam indivíduos independentes, e que eles são livres para escolher se querem se submeter a um tratamento ou não", indica Dennis Heitzmann. Mas os orientadores podem também dar conselhos aos pais em relação às maneiras de lidarem com os seus filhos --ouvindo com mais atenção o que eles têm a dizer, evitando repreendê-los de maneira sistemática e mantendo um contato permanente com eles.
Os pais que tiverem o sentimento de que o seu filho esteja com algum problema podem lhe sugerir que ele faça pelo menos uma consulta no centro de orientação da universidade.
Se o estudante acatar o seu conselho mas, posteriormente se recusar a seguir qualquer tratamento, o que acontece com freqüência, os pais podem não ter outra escolha, a não ser respeitar a sua decisão. "Uma das coisas que eu sou obrigado a aceitar como médico clínico, o que é doloroso para mim e pode ser uma fonte ainda maior de sofrimento para os pais", conclui o doutor Richard Kadison, "é que você pode conduzir um cavalo até onde está a água, mas você não pode forçá-lo a beber".

Tradução: Jean-Yves de Neufville

10.25.2004

Estados vitais na eleição têm desemprego alto

Cox News Service

Economia deve ser fator pró-Kerry nas eleições de 2 de novembro

Marilyn Geewax
Em Washington

As últimas estatísticas sobre o desemprego a serem reveladas antes das eleições de 2 de novembro poderão dar ao candidato presidencial John Kerry novo motivo para otimismo.Na última sexta-feira (22/10), o Departamento do Trabalho divulgou números do desemprego relativos a setembro, e estes revelaram que a situação é ruim na maioria dos Estados nos quais o resultado da corrida presidencial é tido como imprevisível.
O resultado é particularmente incerto em oito Estados: Flórida, Pensilvânia, Ohio, Wisconsin, Michigan, Minnesota, New Hampshire e Novo México.Embora vários desses Estados tenham registrado pequenos aumentos no índice de emprego no ano passado, em seis deles houve redução de empregos desde a posse de Bush. Em todos eles, a taxa de redução de empregos no setor industrial desde 2001 foi de dois dígitos. Os empregos desse setor são aqueles que geralmente proporcionam melhores salários e benefícios ao trabalhador.
O sombrio cenário empregatício, especialmente para os trabalhadores do setor industrial, poderá ter um impacto na disputa entre Bush e Kerry pelos 114 votos desses Estados no Colégio Eleitoral. Para se eleger, um candidato precisa obter pelo menos 270 votos no Colégio Eleitoral. Nos seus discursos na campanha política, Bush cita freqüentemente os empregos criados em todo o país no ano passado.
"Nós acrescentamos 1,9 milhão de novos empregos à economia nos últimos três meses", disse o presidente em um discurso de campanha na última sexta-feira em Wilkes-Barre, Pensilvânia. "Em setembro de 2004 foram criados 4.600 empregos no Estado da Pensilvânia".
Kerry, por sua vez, lembra às suas platéias que houve uma redução líquida do número de empregos durante o mandato de Bush, observando que 2,65 milhões de postos de trabalho desapareceram entre dezembro de 2000 e setembro de 2003."George Bush é o primeiro presidente em 72 anos sob cujo mandato houve redução de empregos", disse Kerry na sexta-feira passada em um comício em Madison, Wisconsin. "De fato, somente aqui, em Wisconsin, 7.000 empregos desapareceram no mês passado. E quando adicionamos esses números a outros dados, observamos que este Estado não teve o acréscimo de um único emprego nos últimos quatro anos". É fundamental saber se o que determina mais a atitude do eleitor é a perda geral de empregos ou a melhora do mercado empregatício no ano passado.
"A maioria dos trabalhadores olha primeiro para aquilo que vê à sua volta... e isso dá a eles uma indicação a respeito da situação da economia", afirma Michael Ettlinger, economista do Instituto de Política Econômica, um grupo de pesquisas de esquerda que analisa estatísticas e dados estaduais.Nathaniel Persily, um professor da Universidade da Pensilvânia que é especialista em legislação eleitoral, diz que estudos revelam que o que determina o candidato escolhido pelos eleitores não é o fato de terem perdido ou não seus empregos, mas sim os rumos seguidos pela economia. Mas Persily concorda com Ettlinger ao dizer que muita gente baseia as suas impressões a respeito da direção seguida pela economia na situação constatada em seus próprios Estados.Se uma economia debilitada significa que as pessoas votam pela mudança, então Kerry tem boas chances em Ohio, onde gigantescas usinas siderúrgicas e outras indústrias antigas estão de portas fechadas.

Radiografia dos Estados
Desde o início da campanha, a estratégia de Kerry tem sido eliminar um dos grandes Estados nos quais Bush teve êxito na sua vitória apertada de novembro de 2000 --Flórida ou Ohio-- e se agarrar àqueles nos quais o democrata Al Gore venceu.
Quando Bush venceu em Ohio, a economia do Estado ia bem, apesar dos bolsões de depressão do mercado de trabalho. Em março de 2001, pouco após Bush assumir a presidência, o índice de desemprego em Ohio era de 3,6%, o mais baixo desde 1978.
Mas, desde então, Ohio perdeu mais de 174 mil empregos no setor industrial e o índice de desemprego no Estado saltou para 6%, um número consideravelmente pior do que o índice nacional de 5,4%.
Os trabalhadores industriais da Pensilvânia também foram duramente atingidos. As indústrias do Estado eliminaram mais de 163 mil empregos desde a posse de Bush. Essas perdas estão anulando a vantagem usufruída por Bush devido ao conservadorismo predominante nesses Estados. Em Ohio, a legislatura votou recentemente pela proibição do casamento gay e pela permissão do porte de armas. Na Pensilvânia, conservadores de linha dura têm promovido uma aguerrida campanha antiimpostos, antigay e pró-religião."Com base nas idéias que defende, Bush deveria estar vencendo em Ohio sem nenhum problema, mas o desemprego está fazendo com que Kerry tenha uma chance no Estado", diz Persily.
Na região dos Grandes Lagos, que, segundo muitos especialistas, decidirá a eleição, os golpes sofridos pela base industrial foram pesados. Em Michigan, as fábricas demitiram mais de 147 mil trabalhadores durante o mandato de Bush, contribuindo para que o índice de desemprego subisse para 6,8%, um dos mais altos do país.
O Estado de Wisconsin é freqüentemente associado a vacas leiteiras e queijos. Mas as fazendas não se constituem em uma força econômica tão importante quanto as fábricas de autopeças, ferramentas e motocicletas, e o setor industrial eliminou 68 mil empregos, o que reforça o apelo de Kerry, especialmente na área de Milwaukee, que foi duramente atingida. Outras cidades, como La Crosse, Eau Claire e Madison, têm mantido o equilíbrio do mercado de trabalho com a criação de empregos no setor de serviços e de alta tecnologia. Em média, o índice de desemprego no Estado é de 5%, um número abaixo da média nacional. Minnesota também possui uma economia mista. As indústrias do Estado demitiram 44.400 trabalhadores, mas o setor de serviços profissionais e empresariais está em crescimento. O aumento de vagas nos escritórios fez com que o índice de desemprego caísse para 4,6%.New Hampshire é um Estado pequeno e de alta renda, com um invejável índice de desemprego de 3,7%. Mas as demissões no setor industrial foram severas. Desde que Bush assumiu, foram demitidos 25.400 trabalhadores nas indústrias locais --o que representa um em cada quatro trabalhadores.
Um outro Estado pequeno, o Novo México, perdeu 7.000 empregos no setor industrial. Mas, no cômputo geral, o Estado saiu ganhando. Desde janeiro de 2001, foram acrescentados ao mercado de trabalho estadual quase 42 mil empregos. É difícil avaliar a economia da Flórida no calor da batalha eleitoral. O índice de desemprego em setembro foi de apenas 4,5%, com a criação de 290 mil novos empregos. Mas, devido ao fato de quatro furacões terem atingido recentemente o Estado, em um período de apenas 44 dias, a Flórida luta para absorver um prejuízo estimado de US$ 22 bilhões em danos a residências, negócios, atrações turísticas e plantações de laranja. No curto prazo, os furacões fizerem com que disparassem as vendas de compensados, ferramentas e outros equipamentos. Os salários dos trabalhadores da construção civil e das equipes de manutenção da rede de serviços públicos aumentaram.Mas os economistas ainda não determinaram o impacto de longo prazo sobre o mercado de imóveis, a agricultura, o turismo e a indústria de simpósios e convenções.

Tradução: Danilo Fonseca

10.20.2004

Demissões da GM ampliam tensão na Alemanha

Le Monde

Corte intensifica insatisfação gerada pelas reformas de Schroeder

Adrien de Tricornot
Em Frankfurt

Em Rüsselsheim, a sede histórica da Opel, instaurou-se a amargura desde que o grupo americano General Motors, que é proprietário das marcas Opel, Saab e Vauxhall, anunciou, em 14 de outubro, um severo plano de reestruturação incluindo 12 mil supressões de empregos na Europa, dos quais 10 mil na Alemanha.Os funcionários da fábrica recusam-se em muitos casos a responder às solicitações das câmeras de televisão, embora 4 mil empregos desta unidade estejam a ponto de ser suprimidos, de um total de 20 mil cargos. Foi nesta pequena cidade dos subúrbios de Frankfurt que tiveram início, na segunda-feira (18/10), as negociações entre os representantes dos funcionários e a direção da General Motors Europa. Após dez horas de discussões, estes se despediram, no final da tarde, sem dar quaisquer declarações.
O plano de reduções de custos ao qual o grupo automobilístico americano deu início suscita uma forte emoção na Alemanha. Os assalariados da fábrica de Bochum, no vale da Ruhr, onde 4.000 dos 9.600 empregos estão ameaçados, e onde um fechamento puro e simples da unidade não está descartado no médio prazo, iniciaram já na quinta-feira passada uma greve selvagem que prosseguia nesta segunda-feira. Sem terem qualquer controle sobre este movimento, os sindicalistas da central IG Metall dizem entender os motivos desta reação, mas apelam para a negociação.
"Eu espero que as negociações possam começar o quanto antes, de maneira que as linhas de montagem possam voltar logo a operar normalmente", declarou, por sua vez, o chanceler Gerhard Schröder, nesta segunda-feira. Originário de Bochum, o ministro do trabalho, Wolfgang Clement, que havia criticado duramente o plano de reestruturação da GM, também dirigiu um apelo aos assalariados para que o seu movimento não acabe aumentando as incertezas que pesam sobre esta unidade.
Os grevistas, cujo movimento não seguiu os procedimentos legais, poderiam se tornar alvos de demissões por justa causa, que teriam efeito imediato, segundo informou o jornal "Die Welt" na sua edição de terça-feira.
O diário precisa contudo que o grupo automobilístico se comprometeu em esperar primeiro pelo desenrolar das manifestações previstas para esta terça-feira. Uma jornada de informação e de ação foi organizada pelos sindicatos do setor metalúrgico em todas as unidades da GM implantadas pela Europa afora. Espanha, Portugal, Bélgica, Reino-Unido, Suécia e Polônia são os países que também estão envolvidos nesta operação. Esta jornada de ação deve fazer com que se tenha uma idéia mais precisa das relações de força neste conflito."Modelo Karstadt" Em Bochum, cerca de 10 mil manifestantes eram esperados para dar o seu apoio aos assalariados. Reputados combativos, os assalariados de Bochum receberam o apelido, dentro do grupo General Motors, de "espanhóis", por causa do seu orgulho proverbial e do seu caráter inflexível, segundo informou a imprensa alemã.
Em Rüsselsheim, de 10 mil a 20 mil manifestantes deviam também se reunir, nesta terça-feira, na sede da Opel. Embora a situação do emprego na região esteja menos morosa do que na Ruhr, nem por isso a pequena cidade deixa de se identificar fortemente ao seu gigantesco complexo industrial de tijolos vermelhos. Apesar de seu aspecto antigo, quando vista de fora, a unidade de montagem é qualificada, no texto de apresentação publicado no site da Opel na Internet, de "a usina automobilística mais moderna do mundo". Nela foram investidos 750 milhões de euros (R$ 2.674,40 bilhões) há dois anos apenas. Em novembro, os assalariados da produção já haviam aceitado o regime conhecido pelo nome de "30 +", ou seja, uma redução do tempo de trabalho de 35 para 30 horas semanais, pagas em valores equivalentes a 32,6 horas trabalhadas, sendo esta uma medida que foi adotada com objetivo de preservar o emprego.
O negociador deste acordo, Klaus Franz, que é o presidente do conselho central de empresa da Opel, referiu-se, nos últimos dias, à adoção do "modelo Karstadt" como forma de se evitar as demissões puras e simples.
Nesse grupo de distribuição, o sindicato Ver.di acaba de aceitar 5.500 supressões de cargos, sem nenhuma demissão forçada, mas com a implantação de dispositivos envolvendo o reclassificação dos empregados, a adoção do regime de pré-aposentadoria, ou ainda a transferência para um outro emprego, em troca de um congelamento dos salários por um período de três anos para todos os 100 mil empregados, além da redução de bonificações e de vantagens sociais.
Na Opel, a central sindical IG Metall também ofereceu aumentar a flexibilidade do tempo de trabalho, de modo a preservar o maior número possível de empregos.Um aumento do tempo de trabalho "tampouco está excluído", segundo informou um porta-voz regional do sindicato. Em julho, a IG Metall havia aceitado, no quadro do grupo Siemens, um acordo de forte significado simbólico, que incluiu o retorno às 40 horas semanais --sem compensação salarial e uma redução das bonificações-- para 4 mil assalariados da Renânia, no norte da Vestfália, em troca do abandono de um projeto de deslocamento da empresa na Hungria. No mês seguinte, diversas medidas de redução de custos salariais foram avalizadas nas usinas da Mercedes de Sindelfingen (Baden-Wurttemberg). Aproveitando a deixa, a Volkswagen também vem negociando desde setembro um plano de redução de 30% de seus custos salariais daqui até 2011, na região oeste da Alemanha, alegando que os seus custos de produção são de 20% a 80% superiores àqueles registrados no exterior, e apontando para a ameaça que pesa sobre 30 mil empregos nas suas linhas de montagem na Alemanha.
Frente a esta crise lancinante do emprego e diante das estratégias brutais das empresas, os próprios sindicatos, que haviam se posicionado com violência contra as reformas sociais do governo Schröder, se encontram atualmente numa posição defensiva. No espaço de 18 meses, eles não tiveram outra alternativa, a não ser operar uma reviravolta radical. Na primavera de 2003, a IG Metall ainda dava início a uma greve para obter a implantação da semana de 35 horas no leste do país. Após o fracasso do movimento, Martina Pracht, uma delegada sindical da usina da Opel em Eisenach (Leste), havia manifestado, mostrando muita emoção, a sua decepção por ter de trabalhar três horas a mais do que os seus colegas nas outras unidades de produção da Opel, por um salário inferior. Contudo, Eisenach, hoje, parece estar menos ameaçada do que Bochum ou Rüsselsheim.

Tradução: Jean-Yves de Neufville

Mulheres precisam se gabar para atingir sucesso

The NYT News Service

Curso ensina que contar vantagem as ajuda a serem bem sucedidas

Melissa S. Monroe

San Antonio Express-News

ais de 300 mulheres profissionais gritavam, corriam em círculos e saltavam sobre as cadeiras no hotel Marriott Rivercenter em San Antonio, no Texas (EUA), um dia desses. Não, elas não estavam apavoradas. Estavam apenas se aquecendo para os exercícios de gabolice (o ato de se gabar, contar vantagem, exibir-se).Uma mulher trabalhadora nunca sabe quando vai se encontrar no elevador com o presidente da empresa. Ou subitamente terá de se promover em uma análise de trabalho, entrevista para emprego ou tentando salvar seu emprego, diz Peggy Klaus, autora de "Brag! The Art of Tooting Your Own Horn Without Blowing It" (Conte vantagem! A arte de tocar sua própria corneta sem assoprá-la")."O problema que temos com a autopromoção é este: pensamos que é necessário escolher entre continuar obscura ou parecer bizarra", Klaus escreveu no livro. "Um bom autopromotor chega sorrateiramente, chama sua atenção e o conquista."
Os exercícios exagerados de gabolice que Klaus mostrou às mulheres nesse workshop motivacional são os que pratica antes de subir ao palco. Mas ela disse que a verdadeira sessão de gabolice geralmente é mais discreta.A maioria das mulheres, disse Klaus, são ensinadas desde crianças a não contar vantagem, o que as prejudica no ambiente de trabalho. Quando menina, seu pai lhe dizia: "Não precisa tocar sua própria corneta, seu trabalho será recompensado".
Mas depois de ser recusada em muitas entrevistas de trabalho em Hollywood Klaus teve de fazer algo rapidamente para se destacar em uma cidade onde todo mundo sabe contar vantagem. Em vez de simplesmente ler seu currículo, ela se forçou a falar sobre suas capacidades. Afinal começou a fazer seminários sobre o assunto e a ser entrevistada pela mídia. Anos mais tarde, Klaus se tornou conhecida como a Senhora Exibida.
A gabolice eficaz, disse Klaus, é "usar maneiras normais de conversa e algumas informações impressionantes que são ditas com paixão, sentido de urgência e prazer".
Andrea Howard, uma gerente de operações do Chase Card Services, descobriu da maneira mais difícil como é valioso estar preparada rapidamente para contar vantagens sobre si mesma. Ela foi escolhida por Klaus para explicar o que faz diante da platéia.
Antes que o nervosismo a dominasse, Howard primeiro recebeu um pouco de treinamento da autora da Califórnia. "Eu estava muito nervosa, mas Peggy tem muita energia e me deu a percepção para contar minhas realizações", ela disse. "Na verdade tinha a ver com pôr uma história na minha cabeça. Todos nós crescemos pensando que é errado se auto-elogiar. Mas tudo tem a ver com o modo como você se apresenta."A estudante colegial Maria Sandoval disse que também cresceu pensando que é melhor falar pouco. Mas desde então aprendeu que essa filosofia não ajuda a progredir no atual ambiente competitivo.
E as mulheres têm de recuperar muito espaço, segundo o Comitê Nacional sobre Igualdade Salarial. A diferença entre o rendimento médio de trabalhadores em tempo integral aumentou em 2003. Naquele ano, os rendimentos das mulheres eram 76% do dos homens, contra 77% em 2002 nos EUA. A última vez em que a proporção de rendimentos entre homens e mulheres diminuiu foi em 1998-99.
Os rendimentos médios das mulheres negras continuam sendo menores que os dos homens em geral. Em 2003, os rendimentos das mulheres hispânicas foram apenas 55% dos rendimentos dos homens. As negras ficavam em 66% e as asiáticas em 80%.Embora as mulheres tenham subido lentamente na escada da igualdade salarial, disse Klaus, os homens também têm muito a aprender para suas técnicas de gabolice. Ela disse que os homens não sabem usar histórias e muitas vezes parecem agressivos e bizarros.Julie Herrington, que assistiu à apresentação de Klaus, disse que é difícil dizer coisas "que sejam lembradas" e acredita que é preciso pensar muito e praticar para se gabar direito.
É por isso que Klaus faz suas participantes responder a "Gabolices ou Fatos" sobre uma pessoa, variando do que elas fazem para ganhar a vida ao que elas apreciam em sua profissão. Então, disse Klaus, as dicas ajudam a pessoa a montar um breve "Gabolodiálogo".
Mas mesmo que uma pessoa não adote as dicas de Klaus --estar pronta rapidamente, ter senso de humor e manter as coisas curtas e simples--, ela diz que devem ter no mínimo uma boa história para contar.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

10.17.2004

Múltis usam país como base exportadora

Empresas elegem o Brasil como centro de fabricação de produtos vendidos para o mundo todo; itens vão de turbinas a sabonetes

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

As multinacionais estão transformando o Brasil em plataforma de exportação. Gigantes como as alemãs Mercedes-Benz, Continental, Voith, Siemens e Basf, a anglo-holandesa Unilever, as americanas Ford e Motorola e a dinamarquesa Novo Nordisk elegeram suas unidades locais como centros de produção de alguns itens dos seus portfólios para exportá-los para o resto do mundo.
Essas companhias embarcam nos portos e aeroportos brasileiros desde gigantescas turbinas, geradores para hidrelétricas e veículos até medicamentos, insumos químicos, celulares, centrais telefônicas e sabonetes.
Esse movimento, que vem crescendo desde 1999 com a mudança da política cambial, ajuda a robustecer a balança comercial do país e desenvolve competência e tecnologia locais. Das 40 maiores exportadoras, responsáveis por 41% das vendas externas brasileiras, 22 são transnacionais. De janeiro a agosto, despacharam para o resto do mundo mercadorias no valor de mais de US$ 12 bilhões, segundo os dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).No entanto, o país está longe do que ocorre na China e na Índia, onde os governos têm políticas para atrair investimentos em novas fábricas voltadas para exportação. "No Brasil, há um processo passivo, mais ligado à estratégia das empresas do que a políticas do governo", diz Antonio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica).
Foi na esteira de uma união estratégica -a joint venture entre a Voith e a Siemens- para fabricar turbinas e geradores para hidrelétricas que o Brasil virou centro de excelência mundial nesses produtos, em 2000. "Naquele ano foram criadas Voith Siemens Hydro em 13 países, sendo a do Brasil a maior e a mais importante", diz Julio Fenner, presidente no país."Todos os geradores vendidos pelo grupo no mundo saem do Brasil", afirma. A empresa é a maior fabricante de turbinas para hidrogeração de energia do grupo e foi uma das fornecedoras da maior hidrelétrica do mundo, a de Três Gargantas, na China.
As plataformas de exportação começaram a surgir pelo mundo afora no início dos anos 90, quando as multinacionais passaram a definir centros de competência, por grupos de produtos, com a alocação em diferentes pontos do planeta. O objetivo era atingir mercados regionais ou explorar competências locais como parte de sua estratégia global e racionalização da produção.
Mas, na época, o Brasil ficou fora desse processo devido à inflação, ao câmbio fixo e à instabilidade econômica. Foi para os países da Ásia que as múltis voltaram seus olhos, atraídas pela política cambial e principalmente pelo tamanho dos mercados potenciais.Um projeto de plataforma de exportação somente se viabiliza com produção em larga escala. E, para isso, é fundamental que o país escolhido tenha um grande mercado para dar sustentação ao investimento e reduzir o custo unitário de produção.
FOLHA DE SÃO PAULO

10.14.2004

Desemprego é menor fora de grandes centros

Levantamento mostra que taxa foi de 14,23% nas seis principais regiões metropolitanas, em 2003, e de 8,16% no resto do país

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas do Brasil cresceu mais de 2001 a 2003 do que a apurada no restante do país, onde o bom desempenho do agronegócio amorteceu o impacto da crise dos últimos anos sobre a geração de vagas.É o que mostra um estudo preparado a pedido da Folha pela LCA Consultores com base em dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geográfica e Estatística).
Os números mostram que, em 2001, a taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas -Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre- foi de 12,83%. Juntas, elas representam 26% da PEA (População Economicamente Ativa) do país.Em 2002, o percentual de pessoas sem trabalhar e à procura de emprego subiu para 13,25%. No ano passado, a taxa de desemprego saltou para 14,23%.
A trajetória da taxa no restante do país (74% da PEA), excluídas as seis maiores regiões metropolitanas, foi outra: caiu de 8,13% em 2001 para 7,7% em 2002 e chegou a 8,16% no ano passado.Ou seja, a distância entre as taxas passou de 4,7 pontos percentuais para 6,07 pontos.
A natureza da crise econômica que atingiu o país nos últimos anos, de acordo com especialistas, explica em parte os caminhos diversos observados nos principais centros e no restante do Brasil: o desaquecimento da economia afetou principalmente a indústria e o setor de serviços.
Paralelamente, houve o impulso das exportações, em boa parte ligado ao agronegócio, ou seja, ao interior do país. "A capacidade ociosa nas empresas localizadas no interior caiu, o que evitou uma alta do desemprego", aponta Fábio Romão, economista da LCA.
"A falta de confiança que atingiu o país em 2002, ano de eleição, as taxas de juros elevadas, tudo isso se reflete de forma mais instantânea na região metropolitana", diz Alexandre Jorge Loloian, economista da Fundação Seade.Influi também, afirmam especialistas, a migração de empresas dos grandes centros para outras cidades: as indústrias se mudam para municípios mais afastados a procura de custos menores, como terrenos mais baratos, IPTU menor e trabalhadores menos desgastados com longas viagens até seus locais de trabalho."
É um movimento que ocorre há mais de 15 anos e que continuou ocorrendo nos últimos anos. A diferença é que é possível ver com mais nitidez pois os casos foram se acumulando", afirma o presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Claudio Vaz.O secretário municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade, Marcio Pochmann, lembra que a taxa de desemprego fora das principais regiões metropolitanas é historicamente mais baixa. "É muito difícil ser desempregado em uma cidade pequena do interior. O que ocorre é uma espécie de expulsão do desempregado da cidade menor para a maior", afirma.
Metodologia diferencia Pnad e pesquisa mensal

A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), ao contrário das pesquisas mensais de emprego existentes hoje que medem taxa de desemprego, é realizada anualmente e não verifica só as principais regiões metropolitanas brasileiras mas também o restante do país, com exceção da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá, segundo o IBGE.Uma das diferenças da taxa de desemprego medida pela Pnad e a apurada pela PME (Pesquisa Mensal de Emprego), também do IBGE, é que o conceito de pessoa desocupada da primeira leva em conta a pessoa sem trabalho na semana de referência e que procurou emprego nesta semana.No caso da PME, o conceito da pessoa desocupada é a que procurou trabalho no período de referência de 30 dias.
Além disso, para a Pnad o conceito de trabalho inclui o trabalho não remunerado exercido por pelo menos 15 horas em uma instituição religiosa, beneficiente ou de cooperativismo, além do trabalho na construção para o próprio uso exercido pelo menos uma hora por semana. Isso não ocorre no caso da PME, que além disso exclui o trabalho na produção para o próprio consumo.O nível de emprego do Caged se baseia na declaração das empresas (repassadas uma vez por mês ao Ministério do Trabalho) sobre a movimentação dos trabalhadores com carteira assinada. A PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), do convênio Seade/Dieese, mede, além do desemprego aberto, o desemprego oculto pelo trabalho precário e o desemprego oculto pelo desalento.
FOLHA DE SÃO PAULO

10.11.2004

Diploma não garante emprego, revela estudo

Um em cada quatro brasileiros formados no ensino superior entre 1992 e 2002 não está empregado








Alexandre Campbell/Folha Imagem
Gustavo Pinho, 23, formou-se em publicidade, mas trabalha para uma
companhia aérea no Aeroporto Internacional do Rio

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Um em cada quatro brasileiros que se formaram no ensino superior de 1992 a 2002 não está empregado. No país onde ter diploma de nível superior já foi garantia de emprego fácil, um estudo da Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade do município de São Paulo mostra que passar pelo estreito funil do vestibular já não é mais a maior dificuldade do jovem.
Dados do MEC (Ministério da Educação) mostram que, na década de 90, esse funil foi alargado com a expansão do ensino superior, principalmente privado, no país. No entanto, o crescimento da economia no período não foi suficiente para gerar emprego para os milhares de recém-formados que chegaram ao mercado.Para chegar a essa conclusão, o secretário municipal do Trabalho de São Paulo, Marcio Pochmann, pesquisou, a partir da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE, a situação dos 3,3 milhões de brasileiros que se formaram no ensino superior de 1992 a 2002.
Desse total, 2,5 milhões estão empregados (74%), mas 123 mil (4%) estavam procurando emprego em 2002, e 738 mil (22%) estavam fora do mercado de trabalho (não haviam procurado emprego no período da pesquisa, mas não estavam ocupados).
Outra tabulação feita no estudo mostra que uma parcela significativa dos brasileiros com diploma trabalha em atividades abaixo de sua qualificação (8% dos ocupados com nível superior).São pessoas que, apesar do diploma, acabaram empregadas como açougueiros e empregadores na indústria alimentícia (19,1%); droguistas, floristas, galinheiros, lenheiros, peixeiros e sorveteiros (17,8%); ou atendentes (12,6%).

Fora da área

É o caso de Gustavo Pinho, 23, que se formou neste ano em publicidade e não conseguiu emprego em sua área. A solução foi aproveitar uma vaga de agente de vendas no balcão de uma companhia aérea no aeroporto internacional do Rio. "Se uma vaga interna para o setor de marketing for aberta e eu estiver dentro da empresa, talvez tenha uma vantagem maior na disputa pelo fato de as pessoas me conhecerem", diz.
Para o autor do estudo, situações como a enfrentada por Pinho revelam um paradoxo brasileiro. "Somos um país de baixa escolaridade média, mas estamos formando uma mão-de-obra qualificada que não consegue entrar no mercado de trabalho", afirma.
Para o secretário, a explicação é o baixo crescimento da economia e dos setores que tradicionalmente absorvem essa mão-de-obra. "O país tem crescido em parte graças ao setor agrícola e de extração mineral. É importante que esse crescimento continue, mas ele demanda poucos empregos."
Para o sociólogo Simon Schwartzmann, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade e ex-presidente do IBGE, a situação pode ser explicada também "pelo rápido crescimento do ensino superior, que tem uma lógica que não é a mesma do mercado de trabalho".
Para o economista e ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, a expansão do ensino não foi em vão: "Mesmo que não estejam empregados na área para qual se formaram, vão acabar executando o trabalho de uma forma melhor se tiverem um diploma de nível superior. É preciso entender a educação como um valor em si".

FOLHA DE SÃO PAULO