8.27.2004

Sob Bush, mais 1,3 milhão fica pobre

Número de pobres cresce pelo terceiro ano seguido, chega a 35,9 milhões e vira munição de campanha para Kerry
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Cerca de 1,3 milhão de americanos passaram a viver abaixo da linha de pobreza em 2003, o que elevou para 35,9 milhões o total de pessoas consideradas pobres nos EUA. Segundo dados do Censo divulgados ontem, há cerca de três vezes mais negros e hispânicos pobres do que "brancos não-hispânicos" vivendo no país.Previsto para setembro, o relatório do Censo com a má notícia foi antecipado -antes da fase mais quente do período eleitoral e no meio da principal temporada de férias dos norte-americanos.
O candidato democrata John Kerry, no entanto, aproveitou a ocasião para reforçar suas críticas à política econômica de seu adversário em 2 de novembro, o republicano George W. Bush.
Apesar da recuperação econômica em curso, o percentual médio da população vivendo abaixo da linha de pobreza subiu pelo terceiro ano consecutivo, para 12,5% (o maior índice desde 1998), ante os 12,1% de 2002. É considerado pobre nos EUA o indivíduo que tem uma renda anual de U$ 9.573 (R$ 28.700) ou menos. Para famílias de quatro pessoas, sendo duas crianças, a cifra é U$ 18,660 (R$ 55.900). Segundo o Censo, uma família gasta por ano cerca de um terço desse valor apenas em alimentação.
No Brasil, segundo o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, está na miséria quem tem renda igual ou inferior ao equivalente a US$ 325 por ano, e está na pobreza quem tem renda igual ou inferior a US$ 488 anuais.
O Censo revelou que um terço dos que vivem na pobreza nos EUA são crianças e que a renda do país ficou praticamente estagnada nos dois últimos anos. Houve também um aumento de 1,4 milhão, para um total de 45 milhões, no número de pessoas sem seguro de saúde no país.
"Esse dados só confirmam o fracasso das políticas do presidente Bush", afirmou Kerry.O democrata vem criticando há meses a política de corte de impostos de Bush, imposta a partir de 2001 e que beneficiou principalmente as famílias mais ricas.
O secretário de Comércio do governo, Don Evans, disse que os EUA estão em uma fase de recuperação. "A primeira coisa que deve ser lembrada é que historicamente o número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza tem acompanhado o emprego", disse Evans. "Em junho de 2003, a taxa de desemprego era de 6,3%. Agora, está em 5,5%."Desde que Bush assumiu, em 2000, os EUA perderam cerca de 1,1 milhão de empregos e vêm tentando se recuperar de um período recessivo registrado em 2001. A taxa de pobreza no país em 2000 era de 11,3%, ante os 12,5% atuais. O índice de crianças pobres subiu de 16,7% em 2002 para 17,6% em 2003 -totalizando 12,9 milhões.
FSP, 27/08/2004

Desemprego cai pelo 3º mês consecutivo

Criação de vagas em julho supera aumento no total de pessoas aptas a trabalhar; total de desocupados diminui

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DO RIO
A taxa de desemprego de julho voltou ao patamar do primeiro mês do governo Lula -11,2%, uma queda de -0,5 ponto percentual em relação a junho e de -1,6 ponto percentual em relação a julho de 2003. De acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é a terceira queda consecutiva da taxa.Se o patamar do desemprego é igual a janeiro de 2003, o cenário econômico é bem diferente. Além de se referirem a meses diferentes -janeiro é um mês cujo desemprego tende a aumentar devido às demissões de trabalhadores temporários contratados na época de Natal-, a taxa no início do governo estava num ritmo crescente, chegando a ultrapassar a barreira dos 13% em junho de 2003.
Agora, além do desemprego em queda, a população desocupada também diminuiu pelo terceiro mês consecutivo. Houve ainda a criação de novas vagas. Enquanto a População em Idade Ativa (PIA), ou seja, apta a trabalhar, aumentou 2,1% em julho em comparação com o mesmo mês do ano passado, o crescimento do número de pessoas ocupadas foi ainda maior -4,3%.
"Voltamos a uma situação que prevalecia no final do governo FHC, antes de a crise econômica ter sido deflagrada com mais intensidade", disse Lauro Ramos, coordenador de Estudos de Mercado de Trabalho do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do Ministério do Planejamento.
"A taxa de desemprego, de dois dígitos, ainda está num nível muito alto, mas, pelo menos, estamos numa situação mais parecida com 2002, e não mais com 2003." Ressaltando que ainda se trata de uma hipótese, Ramos não descarta a possibilidade de a taxa de desemprego terminar o ano "beirando um dígito".
Em julho, havia 2,41 milhões de pessoas desocupadas nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE. Houve queda de 4,1% em relação a junho.Apesar de não fazer projeções, o gerente da pesquisa do IBGE, Cimar Azeredo Pereira, também considera o clima econômico positivo. Para ele, ao contrário do ano passado, quando a taxa de desemprego começou a desacelerar somente em novembro, o mercado de trabalho está reagindo mais cedo. "Houve antecipação das contratações típicas do meio do segundo semestre, quando aumentam os pedidos de encomendas na indústria para o fim do ano", declara.
Segundo o IBGE, 25,6% dos desempregados são chefes de família, e 42,6% estão procurando emprego de 31 dias a seis meses.
FSP, 27/08/2004

La pobreza en Estados Unidos crece por tercer año consecutivo

Brian Knowlton

La tasa de pobreza de Estados Unidos y el número de norteamericanos sin seguro médico aumentaron el año pasado, cada uno por tercer año consecutivo, según informó la Oficina de Censo el jueves. Los números, que la administración publicó un mes más temprano de lo usual, se transformó rápidamente en el foco de un debate entre los partidos.

“Bajo la mirada de George Bush”, dijo el senador John Kerry, refiriéndose a los nuevos datos, “las familias norteamericanas están cada vez más atrás”. El informe señala que el número de norteamericanos en situación de pobreza subió del 12,1% en 2002 al 12,5% un año después, resultando un total de 35,8 millones de personas, y el número de norteamericanos que no tienen seguro médico aumentó 1,4 millones durante el mismo período, llegando a 45 millones, o el 15,6% de la población.

El ingreso medio permaneció básicamente estancado, en $43.318, ajustado por la inflación, terminando un descenso de dos años.

Los números no fueron una sorpresa, y no reflejan el crecimiento económico de los últimos meses, que ha creado centenares de miles de puestos de trabajo.

Dan Weinberg, un analista de la Oficina de Censo, dijo que los datos eran típicos de una economía post-recesión, pero que el número de personas sin seguro médico reflejaba la continua incertidumbre sobre el empleo. Los empleadores citaron los altos costos del seguro médico como una razón para no contratar más trabajadores, y para también ofrecer planes de beneficio menos generosos.

La tasa de pobreza fue la más alta desde 1998, cuando alcanzó el 12,7 por ciento. La Oficina de Censo coloca la línea de pobreza de una familia de cuatro miembros, en $18.810.

La misma oficina señaló que mientras la tasa general de pobreza estaba más alta que en 2002, se mantuvo por debajo del promedio de los ‘80 y los ‘90.

Los nuevos datos llegan en medio de la campaña electoral, cercana a la elección, en la que el debate sobre la salud y la justicia económica es algo central.

Para los consejeros de campaña de Kerry, que vienen esforzándose por alejar la atención pública de la amarga controversia sobre su trayectoria en la guerra de Vietnam, y hacer eje en los temas económicos, los nuevos números fueron un regalo bien recibido. Kerry, el candidato demócrata, no perdió tiempo en usar el informe del Censo como evidencia para reforzar sus críticas económicas y en políticas de asistencia médica de la administración.

Las nuevas cifras significan que “cinco millones de norteamericanos perdieron en cinco años su seguro médico”, dijo Kerry a un auditorio de partidarios y votantes indecisos en Anoka, Minnesota. “Cerca de 45 millones de norteamericanos se acuestan cada noche preocupados”.

Una declaración de la campaña de Kerry llamó a Bush a debatir “una vez por semana desde ahora hasta el final de la campaña, así los temas realmente importantes para los norteamericanos -como las personas sin seguro médico y las que viven en la pobreza- serán el tema central de esta elección”.

La propuesta del debate fue a menudo una herramienta de los que desafían al presidente en función, pero raramente fue aceptada por el gobierno, que se piensa generalmente que tiene más que perder en los debates. Por ahora, se espera que los candidatos tengan tres debates, el 30 de septiembre, el 8 de octubre y el 13 de ese mismo mes.

Bush, en un discurso el jueves en Las Cruces, Nuevo México, no se refirió específicamente los números del Censo.

“Tenemos que hacer más cosas para fortalecer esta economía”, dijo, mencionando, como hace a menudo, los golpes económicos de los últimos años, desde la recesión hasta los atentados terroristas y los escándalos corporativos. El presidente, como siempre hace, habló del mérito de los trabajadores y empresarios norteamericanos, así como sus “recortes de impuestos en buen momento”, para sacar al país de los peores infortunios económicos.

Pero hubo una disputa inmediata sobre el informe del Censo.

Algunos republicanos señalaron que aunque el número de norteamericanos sin seguro médico creció 1,4 millones, el número de personas aseguradas también creció, 1 millón. El secretario de salud y servicios humanos, Tommy Thompson, dijo que Bush estaba trabajando para reducir los costos del seguro médico para los empresarios.

Algunos demócratas vieron manipulación política en el hecho que la administración haya mostrado los nuevos números un mes antes de su publicación regular, a fines de septiembre. Pero Louis Kincannon, el director del Censo, nombrado por Bush, dijo que la publicación temprana se había pensado para coordinar mejor con otros informes. Se publicó, dijo, sin “influencia o presión” de la campaña de Bush.

Traductor: Celeste Murillo, especial para PI

International Herald Tribune

8.26.2004

Conflito social ameaça Volkswagen na Alemanha

Le Monde
Montadora quer reduzir salários para compensar queda nas vendas
Stéphane Lauer
Em Paris
A montadora líder do mercado europeu, que se encontra atualmente numa fase de declínio, procura reduzir os seus custos, propondo, entre outras medidas, congelar os salários de seus empregados por um período de dois anos. O sindicato IG Metall, que reclama aumentos de 4%, rejeitou o plano.
Decididamente, os tempos mudaram na Alemanha. A Volkswagen, considerada até hoje como a vitrine social da indústria alemã, corre o risco de se tornar o centro de um conflito social de grandes proporções.
O principal fabricante de automóveis na Europa anunciou, nesta segunda-feira (23/08), uma série de medidas visando a reduzir em 30% os seus custos com funcionários daqui até 2011. Trata-se de um plano drástico que foi imediatamente considerado "irrealista" pelo sindicato IG Metall, o qual se diz pronto para dar início a uma "greve dura".
A Volkswagen, que deverá negociar em setembro um novo acordo salarial com os representantes de seus funcionários, apresentou as suas propostas nesta segunda-feira. "Nós precisamos de soluções novas e criativas", advertiu Peter Hartz, o diretor de recursos humanos do grupo.
A montadora viu o seu lucro líquido afundar em 35% no primeiro semestre. Diante disso, a direção da Volkswagen resolveu tomar medidas drásticas: ela propõe aos seus 103 mil empregados alemães um congelamento dos salários que deverá se estender ao longo dos dois próximos anos.
Além disso, a direção sugere vincular 30% da massa salarial aos resultados da empresa. Esta é uma proposta inédita, numa indústria de mão-de-obra na qual, até o momento, a parte da remuneração variável permanecia marginal.A Volkswagen pretende também modificar o cálculo das horas extras, que não seriam mais contabilizadas a partir da 35ª hora de trabalho, e sim a partir de 40 horas. As novas contratações seriam ajustadas em função dos termos do acordo da categoria no setor da metalurgia alemã, o que resultaria numa redução de 20% dos novos salários em relação aos valores que vinham sendo praticados até então pela Volkswagen. Além disso, foi anunciada outra novidade, visando a melhorar a competitividade: o grupo quer instaurar uma concorrência entre as suas diversas fábricas, principalmente na produção de novos modelos. As unidades que aceitariam trabalhar mais seriam privilegiadas. No total, a Volkswagen pretende economizar 2 bilhões de euros (R$ 7,14 bilhões) daqui até 2011.Estas propostas desencadearam imediatamente ondas de protestos, sobretudo por parte dos dirigentes do IG Metall. Para o sindicato da categoria, que vinha reclamando uma revalorização dos salários de 4% e uma garantia de emprego para os próximos dez anos, as propostas da direção da montadora tiveram o efeito de uma ducha fria.
O IG Metall diz que se recusa a pagar a conta dos erros estratégicos que teriam sido cometidos pela direção, tais como o plano de diversificação de suas atividades no segmento dos automóveis de luxo, com as compras sucessivas das marcas Bugatti, Bentley e Lamborghini, ou ainda como o lançamento do sedan de topo de linha Phaeton, um modelo luxuosíssimo que revelou ser um completo fiasco.
O sindicato, que argumenta que a Volkswagen sempre obteve lucros, não quer nem ouvir falar de uma extensão das horas trabalhadas. Trata-se de uma posição que ele já havia mantido em julho frente à direção da DaimlerChrysler, mas que ele acabou sendo obrigado a suavizar no final da rodada de negociações.
O grupo proprietário da Mercedes obteve uma extensão da duração das horas trabalhadas e uma moderação salarial. Estas medidas lhe permitirão economizar 500 milhões de euros (R$ 1.782,19 bilhão) por ano, a partir de 2007, em troca da preservação de 6 mil empregos na sua usina de Stuttgart, pelo menos até 2012.
"Nós não podemos nos isolar em relação à situação da concorrência mundial", argumentou Peter Hartz, que lembrou que o custo do trabalho para a Volkswagen é atualmente superior em 11% ao da BMW e da Mercedes.
Neste contexto, vale salientar que todas as montadoras européias estão atualmente confrontadas, de maneira mais ou menos premente, ao problema do custo do trabalho, no momento em que o setor se encontra numa situação de forte excesso de capacidade, por causa da falta de dinamismo da demanda. Mas, enquanto algumas montadoras vêm-se saindo melhor, o que é o caso das francesas PSA Peugeot-Citroën e Renault, a Volkswagen está enfrentando dificuldades que lhe são próprias. A sua situação em dois dos seus principais mercados --nos Estados Unidos e na China-- andou se degradando sensivelmente.Em relação ao modelo Golf, o seu principal cavalo de batalha, que foi renovado recentemente, os resultados de vendas não corresponderam às expectativas do grupo. Até o momento, a Volkswagen conseguia compensar os seus custos, praticando preços mais elevados que os da concorrência.
Mas esta vantagem está ficando cada vez mais reduzida.Colocada contra a parede, a Volkswagen está sendo forçada a dar início a uma reviravolta perigosa em termos de política social. Isso porque o grupo alemão faz figura de símbolo. Após ter adotado uma política de vanguarda no debate sobre a redução do tempo de trabalho durante os anos 90, a montadora alemã, graças à participação do land (Estado) de Baixa-Saxônia no seu capital, sempre esteve na ponta dos avanços sociais. A repentina mudança de tom da direção acontece numa péssima hora, bem no momento em que a Alemanha inteira está questionando o seu modelo social.
O fato de o homem que encarna este "modelo VW" ser justamente Peter Hartz, um amigo e aliado do chanceler Schröder, e o inspirador da muito impopular reforma do mercado do trabalho --a qual vem suscitando importantes manifestações em toda a Alemanha-- não deverá facilitar as negociações entre dirigentes e funcionários da Volkswagen.
Tradução: Jean-Yves de Neufville

8.19.2004

Reajustes são os melhores desde 96

Dieese diz que 79% dos acordos tiveram aumento igual ou acima da inflação
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os reajustes salariais negociados no primeiro semestre deste ano tiveram o melhor resultado desde 1996. Levantamento nacional do Dieese mostra que 79% dos acordos coletivos firmados de janeiro a junho deste ano tiveram reajustes iguais ou superiores à inflação calculada pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do IBGE nos 12 meses anteriores a cada data-base.
Dos 264 acordos analisados no primeiro semestre deste ano, 56 (ou 21%) não conseguiram repor a inflação. Os trabalhadores receberam reajustes acima do INPC em 124 acordos (47%). Em 84 outros acordos -ou 32%-, os reajustes foram iguais à inflação.
Para fazer o levantamento, o Dieese compara os reajustes com a inflação pelo INPC porque esse é o indicador mais usado nas negociações salariais, além de servir de referência para reajustar o salário mínimo e as aposentadorias.A instituição não divulga o número de trabalhadores incluídos no estudo, mas informa que a amostra é significativa.
No primeiro semestre de 2003, apenas em 46% dos acordos os trabalhadores haviam conseguido recuperar a inflação ou obter aumento real. De acordo com o Dieese, esse foi o pior desempenho para o período desde o Plano Real, quando o governo encerrou a política que garantia a reposição automática da inflação.
"Apesar de as amostras não serem fixas [149 acordos e convenções coletivas foram analisados de janeiro a junho de 2003, ante 264 em igual período deste ano], pode-se dizer que esse é um dos melhores resultados obtidos nas negociações salariais", afirma Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese.
Em 2000, considerado um dos melhores anos para as negociações, 68% dos reajustes firmados no primeiro semestre haviam sido iguais ou superiores à inflação.Na avaliação de técnicos do Dieese, inflação sob controle, juros menores, aumento do emprego e melhora de vários indicadores da economia -principalmente da indústria e do comércio- foram determinantes nas negociações salariais."
O cenário econômico foi mais favorável, e o mercado de trabalho já melhorou. Isso facilita as negociações entre sindicatos e empresários porque a luta pelo emprego dá lugar à luta pelos salários", diz Lúcio.Para José Silvestre de Oliveira, economista e técnico do Dieese, "é mais fácil negociar quando a inflação está entre 5% e 10% do que entre 15% e 20%, como ocorreu no ano passado".
No levantamento divulgado ontem, durante o lançamento da "Revista do Dieese" em São Paulo, a instituição informou que os reajustes no setor industrial tiveram o melhor desempenho. Segundo os especialistas, o resultado justifica-se pelo crescimento do setor -de 7,7% no primeiro semestre do ano.O estudo também aponta mudanças na forma de pagar os reajustes. No ano passado, mais de 30% foram pagos em parcelas. De janeiro a junho deste ano, esse percentual caiu para 9,5%.Publicado na FOLHA DE SÃO PAULO de 19 de agosto de 2004

8.17.2004

Vagas na indústria têm maior alta em 5 anos

Setor gera 11.756 postos de trabalho com carteira assinada em julho em SP; acumulado no ano já é o melhor desde 99
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Com uma nova expansão no nível de emprego em julho, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) revisou de 3,5% para 4% sua projeção para o crescimento da quantidade de vagas geradas na indústria de transformação paulista em 2004.
A entidade melhorou sua estimativa ontem, dia em que outros bons números foram divulgados, como a queda das falências e resultados positivos dos setores de máquinas e de eletroeletrônicos.
O mês passado registrou um aumento de 0,76% na quantidade de postos de trabalho, mantendo o ritmo de junho (alta de 0,79%), de acordo com a Fiesp. Foram 11.756 vagas com carteira de trabalho assinada criadas, a maior quantidade para um mês de julho desde 1999. No acumulado do ano, são 41.847 postos, 2,73% a mais do que janeiro a julho do ano passado e também o melhor resultado para esse período desde 1999.Para a Fiesp, as comparações dos resultados obtidos pela indústria de transformação paulista devem ser feitas a partir deste ano, já que houve uma mudança significativa no perfil da indústria depois do ajuste cambial.
Cláudio Vaz, diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas da entidade, diz que as vagas começam a aparecer também em setores que tiveram reação no mercado interno. "As exportações crescem em taxas muito maiores, mas o mercado doméstico está aparecendo", afirmou.
Como exemplos, ele citou automóveis (1,06% de alta) bebidas (4,1%), perfumaria (8,07%) e aparelhos elétricos (1,87%). Apesar de o crescimento da maioria desses setores se sustentar mais com exportações, eles começam a ver a reação do mercado interno.
O diretor da Fiesp também ressaltou que o crescimento em junho foi amparado por uma quantidade maior de setores. "A distribuição está melhor do que em meses anteriores", disse.
Dos 47 setores pesquisados pela Fiesp, apenas 10 apresentaram saldo negativo nas contratações. Em junho, foram 13 setores.Com a revisão do crescimento para 4%, o saldo de postos de trabalho deve ser de 70 mil em no ano passado.O diretor e candidato à presidência da entidade disse também considerar eventual alta até o final do ano nos juros, "uma demonstração de insanidade", diz ele.
Cautela
Apesar de o consenso ser o de que a retomada da economia está se mantendo até agora, analistas afirmam que é preciso cautela."Não há dúvidas de que o emprego industrial vai se recuperar. Mas os sinais mostram que ainda há dependência do mercado externo", diz Claudio Dedecca, professor da Unicamp. "É possível que a partir de agora o mercado interno comece a influenciar a criação de vagas, mas ainda não há nenhuma indicação de que isso vá ser determinante para o comportamento do emprego."Além disso, especialistas citam que a qualidade das vagas criadas é baixa. "Emprego e renda vêm se recuperando, mas é necessário reconhecer que o perfil das vagas é de baixo salário", afirmou o economista Marcio Pochmann, secretário de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo.
FSP, 17/08/2004

8.11.2004

Desemprego entre jovens atinge 88 milhões, diz OIT

da BBC, em Londres

O desemprego de jovens entre 15 e 24 anos teve um forte aumento nos últimos dez anos e atingiu 88 milhões de pessoas em 2003, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Do total de desempregados do mundo, os jovens já são 47%, mesmo sendo apenas 25% da população trabalhadora no mundo. A situação é considerada pior nos países em desenvolvimento. A chance de um jovem ser desempregado é 3,8 vezes maior do que a de um adulto a partir de 25 anos. Já nos países desenvolvidos, as chances de que um jovem esteja desempregado é 2,3 vezes maior do que a de profissionais mais velhos.
Talento
"Nós estamos jogando fora uma importante parte da energia e talento da geração com melhor nível de educação que o mundo já teve", disse o diretor-geral da OIT, Juan Somavia, no documento divulgado nesta quarta-feira. De acordo com o relatório Tendências Globais de Emprego para a Juventude 2004, o crescimento da população mundial entre os jovens foi de 10,5% entre 1993 e 2003. Mas a oferta de empregos para essa faixa de trabalhadores cresceu apenas 0,2%. Para a OIT, o mundo "lucraria muito mais" se mais jovens estivessem no mercado de trabalho. O estudo mostra que, se o número de jovens desempregados caísse pela metade (de 14,4% para 7,2%), a economia mundial poderia incorporar um valor extra de até US$ 3,5 trilhões. Isso representa hoje 7% do total do PIB (Produto Interno Bruto) de todo o mundo. A região do mundo que seria mais beneficiada, segundo o relatório, seria a África Subsaariana, com um aumento do PIB entre 12 e 19%.
Quadro-negro
Do Correio Brasiliense
A situação profissional dos jovens brasileiros não é animadora: há cada vez mais desempregados no país. Dos 7,7 milhões de desempregados no Brasil, cerca de 3,5 milhões têm entre 15 e 24 anos. A taxa de desemprego nessa faixa etária (18%) representa quase o dobro da média do país (9,4%), de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 2001. E o quadro se repete no cenário mundial. O estudo Tendências Globais de Emprego para a Juventude, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado em agosto, mostrou que o fenômeno acontece nos quatro cantos do globo. Na última década, a juventude - que representa 25% da população economicamente ativa - foi afetada sensivelmente pelo desemprego. Hoje, existem 88 milhões de pessoas jovens sem trabalho: 46% dos desempregados no mundo. Enquanto a população jovem cresceu 10,5% no período (atingindo mais de 1,1 bilhão de pessoas), as oportunidades de trabalho para ela só aumentaram 0,2%, totalizando 526 milhões de postos. Segundo a OIT, os que mais sofrem com essa realidade são habitantes dos países em desenvolvimento.
Para o secretário municipal de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade de São Paulo, Márcio Pochmann, nunca houve uma crise tão acentuada. "A economia precisa crescer para comportar os 2,2 milhões de trabalhadores que ingressam por ano no mercado de trabalho", afirma. Canudo não basta O diploma de curso superior já não garante emprego. O número de ocupados com ensino superior, entre 1992 e 2001, segundo a PNAD, cresceu 62%. Contudo, houve um crescimento de 121% no número de desempregados e de 77% no de inativos com essa escolaridade. A oferta de vagas não acompanhou o crescimento da demanda. Não existem postos de trabalho para todos os formandos (são 466.260 por ano). O déficit de vagas chega a 820 mil. A disputa por cada vaga é acirrada. Na Rhodia, 27 mil candidatos se inscreveram para pleitear 70 vagas de estágio. Edmar Pedrosa, gerente de planejamento e desenvolvimento de recursos humanos da empresa garante que são selecionados os melhores. Aquela velha idéia de que só eram contratados os egressos de instituições renomadas já caiu por terra. Nenhuma empresa está preocupada com o nome da universidade de origem do candidato a uma vaga de trabalho. Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa de Mercado (Ibrapem) mostrou que esse quesito não tem importância para os empregadores. Foram entrevistadas 16 empresas de Brasília e São Paulo. O que conta é a exigência da vaga: cursos e experiência profissional. O perfil cultural e emocional também foi apontado como fator decisivo.
Um aspecto que chama a atenção na pesquisa: uma empresa da capital afirmou que prefere contratar profissionais de fora. "A reclamação é que os estudantes de Brasília se preocupam mais em obter um diploma do que com a qualidade da graduação", afirma a representante do instituto, Solange Capozzi. Por isso, uma dica importante aos estudantes. "O aluno deve se dedicar aos estudos, independentemente da faculdade. Se ele se empenhar e aproveitar todas as oportunidades oferecidas, será um profissional diferenciado", aconselha Solange.
Escolaridade e trabalho
Total de jovens de 15 a 24 anos - 33,2 milhões
Só estudam - 24,7%
Estudam e trabalham - 18,7%
Estudam e procuram trabalho - 5,2%
Só trabalham - 32%
Só procuram trabalho - 5,9%
Não estudam, não trabalham nem procuram trabalho - 13,5%
Fonte: PNAD, 2001
O mapa do desemprego juvenil
88 milhões é o número de jovens com idade entre 15 e 24 anos desempregados no mundo
3,5 milhões é o número de jovens com idade entre 15 e 24 anos desempregados no Brasil
18% dos desempregados brasileiros são jovens 121% representa a expansão de desempregados com nível superior entre 1992 e 2001

8.05.2004

Desemprego afeta mais escolaridade média

Pesquisa mostra que, entre 1992 e 2002, aumento foi menor entre trabalhadores com ensino fundamental e superior

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

De 1992 a 2002, o desemprego cresceu mais entre brasileiros com escolaridade média. É o que mostram tabulações feitas pelo Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade) a partir da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE. O aumento na taxa foi verificado em todas as faixas de escolaridade, mas os brasileiros que possuem o ensino médio incompleto ou completo foram os que mais sofreram.Nesse período, a taxa de desemprego entre a população de 15 anos ou mais subiu de 6,6% para 9,2%, um aumento de 2,6 pontos. Entre os que não completaram o ensino médio (mas que têm ensino fundamental completo), o aumento na taxa foi de seis pontos percentuais, de 11,6% para 17,6%.Brasileiros com ensino médio completo também tiveram aumento acima da média: 3,5 pontos, de 7,4% para 10,9%.Nos dois extremos da escolaridade, a taxa de desemprego é menor e o crescimento no período foi menos acentuado. A taxa de desemprego em 2002 entre os que não completaram nem o ensino fundamental é de 7,8%, um aumento de 1,7 ponto percentual em comparação com 1992. No outro extremo, o de pessoas que ao menos ingressaram no ensino superior, a taxa é a menor de todas: 5,4%, o que também representa aumento de 1,7 ponto.
Quem estuda espera mais
Para André Urani, diretor-executivo do Iets, isso não significa que quem estudou mais esteja em pior situação no mercado."A pessoa que estudou mais e investiu seu tempo em formação tem mais condições de esperar mais tempo para conseguir um emprego compatível com a sua formação. O trabalhador de baixa escolaridade sabe que tem menos chances no mercado de trabalho e aceita qualquer coisa para sobreviver", explica Urani.Os dados mostram ainda que os desempregados têm um perfil de escolaridade melhor do que os empregados. A taxa de analfabetismo entre desempregados é de 4,9%, enquanto entre os empregados é de 10,1%. A média de anos de estudo entre quem não tem emprego é de 7,6 anos, enquanto entre os ocupados é de 6,9 anos.Os dados do Iets evidenciam também a dificuldade de achar emprego quando não se tem experiência. A taxa é de 18,3% entre jovens de 15 a 24 anos, ante 6,9% entre os que têm de 25 a 49 anos de idade.
Maior entre os jovens
Desde 1992, a taxa entre os mais jovens é maior do que entre os que têm de 25 a 49 anos, mas essa distância ficou ainda maior. Se, em 1992, o desemprego entre os jovens era 7,4 pontos percentuais maior do que entre os mais velhos, em 2002 essa diferença chegou a 11,4 pontos.Para Urani, o desemprego subiu mais entre os jovens também porque houve queda, em números absolutos, dos brasileiros nessa faixa etária que procuram emprego. Ele explica que a taxa de desemprego é calculada a partir da população que diz estar procurando emprego, ou seja, um jovem que só estuda e não procurou emprego não é considerado desempregado."Como os jovens estão retardando a entrada no mercado de trabalho para estudar, o número de desempregados nessa faixa etária pode não ter crescido tanto e isso não significa que eles sejam os mais prejudicados", afirma. Mulheres e negros e pardos também tiveram mais dificuldade para achar emprego em 2002 do que em 1992. A taxa de desemprego entre mulheres é de 11,7% -subiu 3,5 pontos percentuais. A de homens é de 7,4%, tendo subido 1,8 ponto.Entre negros e pardos, a taxa de desemprego é de 10,4% (aumento de 3,1 pontos), enquanto entre brancos ela fica em 8,2% (aumento de 2,2 pontos).

FSP, 05.08.2004

8.03.2004

STJ quer salário-maternidade a todas as mães

Tribunal diz que pagamento deve ser feito até às mulheres que não trabalham ou que não contribuem; INSS recorrerá

DA REPORTAGEM LOCAL

O vice-presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, manteve ontem uma determinação do TRF (Tribunal Regional Federal) do Rio de Janeiro que assegura o pagamento do salário-maternidade a mulheres sem vínculo empregatício ou que não contribuem para o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). A decisão vale para todo o país.Antes da decisão, para a concessão do benefício, não era exigido tempo mínimo de contribuição das trabalhadoras empregadas, empregadas domésticas e trabalhadoras avulsas, desde que comprovassem filiação ao sistema previdenciário na data do afastamento (para receber o benefício) ou na data do parto.A contribuinte facultativa e a individual tinham de ter pago pelo menos dez contribuições para receber o benefício. A segurada especial recebia o salário-maternidade se comprovasse no mínimo dez meses de trabalho rural.Para o INSS, a decisão do STJ trará prejuízo às contas públicas e seria inconstitucional, pois, para a sua concessão, é preciso haver recursos para o pagamento.O STJ entendeu que a medida não prejudicará o Orçamento do governo e julgou imprecisos os argumentos da Previdência. O ministro afirmou também que as alegações do INSS "não ficaram demonstradas".
INSS vai recorrer
O Ministério da Previdência informou ontem que vai recorrer da decisão, mas ainda não havia decidido se iria ao STF (Supremo Tribunal Federal) ou se entrava com recurso no próprio STJ.Além da falta de recursos para o pagamento, o ministério disse que a decisão do TRF do Rio de Janeiro não poderia ter abrangência nacional (ele corresponde à 2ª Região e abrange os Estados do Rio e do Espírito Santo).
Validade de 120 dias
As trabalhadoras que contribuem para a Previdência têm direito ao salário-maternidade nos 120 dias em que ficam afastadas do emprego por causa do parto.O benefício foi estendido também para as mães adotivas ou que ganharem a guarda judicial para fins de adoção (o tempo de pagamento varia conforme a idade da criança adotada: 120 dias, se até um ano; 60 dias, se de um a quatro anos; e 30 dias, se de quatro a oito anos de idade).

FSP, 03.08.2004

8.01.2004

Crescem os empregos com salários baixos

Número de trabalhadores formais que ganham até dois mínimos cresceu de 68% para 72% entre 2002 e 2004

CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Cresce o número de empregos formais no país, mas é cada vez mais precária a qualidade das vagas criadas. Sete em cada dez trabalhadores que entraram no mercado de trabalho com carteira assinada ou voltaram para ele entre janeiro e junho deste ano receberam entre meio (R$ 130) e dois salários mínimos (R$ 520).
Esse é o perfil do 1,034 milhão de empregos criados (saldo entre os 5,69 milhões de admissões e os 4,66 milhões de demissões) no Brasil no primeiro semestre deste ano, segundo estudo inédito feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), com base no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho.
A qualidade do emprego tem piorado ano a ano. No primeiro semestre de 2002, último ano do governo FHC, 68% dos trabalhadores ganhavam até dois mínimos. No mesmo período de 2003, primeiro ano do governo Lula, esse percentual subiu para 71,93%. Neste ano, chegou a 72,13%.
O trabalhador demitido foi substituído por outro que ganha até 40% menos no primeiro semestre deste ano, dependendo do setor em que trabalhava. O achatamento salarial é um fenômeno que se verifica desde 1995, quando o Caged passou a divulgar dados para o período de janeiro a junho.
Na média de todos os setores, a redução salarial foi de 14% no primeiro semestre deste ano, considerados os valores nominais. Trata-se de um fenômeno exemplificado pela troca de um salário de R$ 100 por outro de R$ 85,96.
No ano passado e em 2002, o achatamento foi da mesma ordem -variou entre 14% e 15%. Mas em 2001, ano em que a economia sofreu com os efeitos do "apagão", o rebaixamento de salários foi menor: de 10,3%.
Precariedade
"O país está gerando mais emprego com carteira assinada, mas a qualidade desse emprego é precária. Isso tem impacto tanto na recuperação do poder aquisitivo do trabalhador como no crescimento da economia", diz José Silvestre, supervisor do Dieese.Pelo levantamento, a maior parte dos postos de trabalho (2,2 milhões) abertos no primeiro semestre oferece remuneração na faixa de 1,01 a 1,5 salário mínimo -o que representa 38,76% do total de vagas abertas (5,7 milhões).
Outro 1,3 milhão de trabalhadores foi contratado por 1,51 a 2 mínimos -ou 22,52%. Mais 996,7 mil estão na faixa de 2,01 a 3 salários, o que equivale a 17,49%.As contratações são significativamente menores nas faixas superiores a três salários mínimos (R$ 780). Os salários pagos na faixa de 7,01 a 10 mínimos (R$ 1.822,60 a R$ 2.600) representam apenas 0,94% das admissões.
O emprego neste ano está mais precário do que no ano passado. No primeiro semestre de 2003, dos 5,03 milhões de vagas abertas, 36,97% estavam na faixa de 1,01 a 1,5 mínimo. No mesmo período de 2002, essa faixa salarial equivalia a 36,97% do total de contratados (5,04 milhões).O achatamento de salários por meio da troca de salários maiores por menores é constatado em todos os setores da economia.
Indústria lidera
Na indústria, a rotatividade da mão-de-obra resultou em uma redução salarial de 16%. De janeiro a junho, a renda mensal média dos demitidos era de R$ 601, e a dos contratados, de R$ 505.A diminuição salarial no comércio foi, em média, de 14,5%. No setor de serviços, de 13,5%. Na construção civil, de 9%. Já na agricultura, o achatamento nos salários chegou a 8,3%.
"São sinais ruins. São indícios de que a tendência é de deterioração do padrão de remuneração do setor formal da economia", afirma Claudio Dedecca, professor da Unicamp. Para ele, apesar de haver recuperação do emprego, é preocupante a troca de empregados com achatamento de salários.
"O crescimento econômico depende de aumento de gastos públicos, de investimentos do setor privado e de recuperação da renda para o consumo. Isso não está ocorrendo", afirma Dedecca.
O Caged mostra rebaixamento na renda do trabalhador, enquanto o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e a Fundação Seade/Dieese identificam ligeira recuperação no rendimento dos ocupados. É que o Caged considera apenas o mercado de trabalho formal no setor privado.
IBGE e Seade/Dieese medem o emprego formal e informal em seis regiões metropolitanas, nos setores público e privado. A recuperação da renda, quando ocorre, de acordo com as pesquisas dessas instituições, é de forma pontual (não-contínua) e mais concentrada no mercado informal, dizem os especialistas.
"A renda no mercado informal reage mais rapidamente do que no formal porque esse setor lida com valores mais baixos", diz Silvestre. Na pesquisa divulgada pelo Seade/Dieese na semana passada, o rendimento de quem não tem carteira assinada cresceu 3,6% em maio na comparação com abril. O dos com carteira, 1,8% no mesmo período.
O Caged mostra um cenário diferente. "A massa salarial [soma de todos os salários] dos admitidos não cresce na mesma proporção do emprego", diz Álvaro Comin, diretor-científico do Cebrap (Centro Brasileiro de análise e Planejamento). Enquanto a massa salarial cresceu 13,18% de janeiro a junho de 2004 em comparação a igual período de 2003, o emprego (saldo de admitidos e desligados) subiu 84,4%.
De janeiro a junho de 2004, o trabalhador admitido colocou no bolso R$ 490 por mês, em média. Enquanto a renda média dos demitidos no mesmo período foi de R$ 570 mensais.O metalúrgico José Carlos de Alencar Dias, 26, conta que viveu "na pele" o rebaixamento de salários. "Há três anos recebia salário de R$ 800. Fiquei desempregado e consegui emprego com carteira assinada em uma autopeça da Mooca em março deste ano por R$ 450", diz. "As empresas exigem cada vez mais qualificação, escolaridade, mas não estão pagando muito mais por isso.
"Constituído com base em informações enviadas mensalmente pelas empresas, o cadastro tem servido de vitrine oficial dos avanços na expansão do emprego formal anunciados pelo governo.
FSP, 01/08/2004

Altos executivos sofrem os efeitos da "juniorização"

Pesquisa revela que há crescentes restrições a benefícios como pagamento de aluguel e escola para os filhos

DA REPORTAGEM LOCAL

A elite do mundo corporativo já sofre achatamento de salário. Sai o executivo com rendimento maior e mais experiência e entra o profissional mais jovem, com menor salário e menos benefícios. É a chamada "juniorização" no alto escalão das empresas.A tendência foi constatada em pesquisa realizada pela Lens & Minarelli, empresa de recolocação de executivos, com 400 profissionais que ganhavam acima de R$ 10 mil mensais. São gerentes, diretores e presidentes demitidos de companhias de vários setores no segundo semestre de 2002 -período pré-eleitoral- e durante o ano de 2003 -primeiro do governo Lula. Para Mariá Giuliese, diretora-executiva da consultoria e coordenadora da pesquisa, o achatamento salarial reflete o encolhimento do mercado de trabalho, a globalização, a redução de investimentos e o aumento de fusões e de aquisições de empresas."Em vez de um executivo para cada país da América Latina, agora um só diretor cuida da região de forma global", diz Giuliese. Além do corte nos salários, benefícios como pagamento de escola para os filhos, de aluguel e de viagens estão mais restritos. "As empresas oferecem benefícios que, na verdade, são instrumentos de trabalho, como carro, laptop e assinatura de jornais. O benefício deixa de ser um atrativo e passa a ser uma necessidade.""O que constatamos é que há uma forte pressão para diminuir salários e cortar benefícios. A empresa demite um profissional sênior e coloca em seu lugar um júnior para comandar a companhia", afirma.
Para muitos, um "alívio"
Essas mudanças no mercado de trabalho do alto escalão tiveram forte impacto nos profissionais. A demissão, antes motivo de preocupação e estresse, virou "alívio".No levantamento, 34,1% dos profissionais informaram que se sentiam aliviados com a demissão. No estudo anterior, realizado em 2001 e no primeiro semestre de 2002, eram 24,4%. Ao mesmo tempo, caiu de 56,6% para 46,8% o índice de executivos que se sentiram revoltados com a demissão."As pressões e o aumento das exigências no trabalho provocaram essa inversão de valores", diz a coordenadora da pesquisa. Segundo ela, a substituição de executivos de salários mais altos por mais baixos é uma tendência que se intensificou desde 2001.Para Iêda Novais, sócia da consultoria Mariaca & Associates, o corte nos salários é uma tendência mundial "sem volta"."As empresas estão mais espartanas. Só uma nova guerra de talentos, como a que ocorreu em 2000/1 com as empresas de telecomunicações, poderia mudar essa realidade. Para ganhar muito, um executivo tem de dar muito resultado para a companhia em que trabalha", afirma Novais.De acordo com levantamento feito pelo Dieese a partir de dados do Caged (cadastro do Ministério do Trabalho) do primeiro semestre deste ano, o achatamento salarial é maior entre os trabalhadores com escolaridade mais alta.A redução de salários entre os profissionais com curso superior completo admitidos e demitidos foi de 24,6%. Exemplo: uma vaga ocupada por um executivo que ganhava R$ 10 mil foi trocada por outro com salário de R$ 7.540.Na média, o achatamento salarial é de 14%. Essa redução foi menor (de 5%) entre os empregados sem escolaridade. (CR e FF)

FSP, 01.08.2004

Nos EUA, vagas pecam por falta de qualidade

INAIÊ SANCHEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de haver alguma melhora nos números de contratações no mercado norte-americano nos últimos meses, não há o que comemorar quando o assunto é a qualidade das vagas, avalia Stephen Roach, economista-chefe do Morgan Stanley. No estudo "A Armadilha da Qualidade de Emprego na América", publicado recentemente, ele avalia que tais condições são sérias o suficiente para ameaçar a recuperação sustentável da economia, já que uma mão-de-obra mal remunerada tem, obviamente, baixo poder de compra.
Ao analisar detalhadamente os números das diferentes indústrias de março a junho de 2004, Roach diz que as principais fontes de emprego foram restaurantes, agências de contratação temporária e serviços de construção. Juntos, eles responderam por 25% do crescimento das contratações no período.
Além disso, a admissão também cresceu em outras indústrias na ponta mais baixa da escala hierárquica, ou seja, em supermercados, lojas de roupas, serviços de lavanderia etc. Este último grupo de indústrias foi responsável por 19% do crescimento das vagas no período. Somando tais segmentos, os empregos de pior qualidade responderam por cerca de 44% das contratações no período de março a junho. Como comparação, as vagas de melhor qualidade foram responsáveis por 29% das admissões nos mesmos quatro meses.
FSP, 01.08.2004