Altos executivos sofrem os efeitos da "juniorização"
Pesquisa revela que há crescentes restrições a benefícios como pagamento de aluguel e escola para os filhos
DA REPORTAGEM LOCAL
FSP, 01.08.2004
DA REPORTAGEM LOCAL
A elite do mundo corporativo já sofre achatamento de salário. Sai o executivo com rendimento maior e mais experiência e entra o profissional mais jovem, com menor salário e menos benefícios. É a chamada "juniorização" no alto escalão das empresas.A tendência foi constatada em pesquisa realizada pela Lens & Minarelli, empresa de recolocação de executivos, com 400 profissionais que ganhavam acima de R$ 10 mil mensais. São gerentes, diretores e presidentes demitidos de companhias de vários setores no segundo semestre de 2002 -período pré-eleitoral- e durante o ano de 2003 -primeiro do governo Lula. Para Mariá Giuliese, diretora-executiva da consultoria e coordenadora da pesquisa, o achatamento salarial reflete o encolhimento do mercado de trabalho, a globalização, a redução de investimentos e o aumento de fusões e de aquisições de empresas."Em vez de um executivo para cada país da América Latina, agora um só diretor cuida da região de forma global", diz Giuliese. Além do corte nos salários, benefícios como pagamento de escola para os filhos, de aluguel e de viagens estão mais restritos. "As empresas oferecem benefícios que, na verdade, são instrumentos de trabalho, como carro, laptop e assinatura de jornais. O benefício deixa de ser um atrativo e passa a ser uma necessidade.""O que constatamos é que há uma forte pressão para diminuir salários e cortar benefícios. A empresa demite um profissional sênior e coloca em seu lugar um júnior para comandar a companhia", afirma.
Para muitos, um "alívio"
Essas mudanças no mercado de trabalho do alto escalão tiveram forte impacto nos profissionais. A demissão, antes motivo de preocupação e estresse, virou "alívio".No levantamento, 34,1% dos profissionais informaram que se sentiam aliviados com a demissão. No estudo anterior, realizado em 2001 e no primeiro semestre de 2002, eram 24,4%. Ao mesmo tempo, caiu de 56,6% para 46,8% o índice de executivos que se sentiram revoltados com a demissão."As pressões e o aumento das exigências no trabalho provocaram essa inversão de valores", diz a coordenadora da pesquisa. Segundo ela, a substituição de executivos de salários mais altos por mais baixos é uma tendência que se intensificou desde 2001.Para Iêda Novais, sócia da consultoria Mariaca & Associates, o corte nos salários é uma tendência mundial "sem volta"."As empresas estão mais espartanas. Só uma nova guerra de talentos, como a que ocorreu em 2000/1 com as empresas de telecomunicações, poderia mudar essa realidade. Para ganhar muito, um executivo tem de dar muito resultado para a companhia em que trabalha", afirma Novais.De acordo com levantamento feito pelo Dieese a partir de dados do Caged (cadastro do Ministério do Trabalho) do primeiro semestre deste ano, o achatamento salarial é maior entre os trabalhadores com escolaridade mais alta.A redução de salários entre os profissionais com curso superior completo admitidos e demitidos foi de 24,6%. Exemplo: uma vaga ocupada por um executivo que ganhava R$ 10 mil foi trocada por outro com salário de R$ 7.540.Na média, o achatamento salarial é de 14%. Essa redução foi menor (de 5%) entre os empregados sem escolaridade. (CR e FF)
FSP, 01.08.2004
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