7.12.2004

HIV atinge 26 milhões de trabalhadores

Segundo a OIT, o dado se refere aos 50 países com maior incidência da epidemia; 2 milhões deixarão de trabalhar em 2005
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 26 milhões de trabalhadores entre 15 e 49 anos estão com HIV -2 milhões deles não terão mais condições de trabalhar ao longo do próximo ano. Esse cenário assustador se refere ao conjunto dos 50 países mais afetados pela epidemia, 35 deles na África abaixo do Saara, cinco na Ásia, oito na América Latina e Caribe, além da Rússia e dos EUA.
Até 2015, contando do início da epidemia, a Aids terá tirado do mercado de trabalho cerca 74 milhões de pessoas no mundo.O levantamento foi divulgado ontem em todo o mundo pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e se transformou no principal tema de debate da abertura, neste domingo, da 15ª Conferência Mundial de Aids, em Bancoc, na Tailândia. Para realizar o estudo, a OIT se valeu de informações da Unaids, instituição das Nações Unidas para a Aids, e de organismos nacionais e internacionais dos países envolvidos.
A Unaids estima que nos 50 países estudados pela OIT existam 35,7 milhões de pessoas vivendo com HIV (aquelas nas quais a doença Aids ainda não se manifestou). Se forem considerados os menores de 15 anos e os acima de 49 anos que exercem alguma atividade, o número de pessoas vivendo com o vírus e exercendo alguma atividade produtiva subiria para mais de 33 milhões.
A OIT também não considerou os cerca de 7,1 milhões doentes de Aids (aqueles que já manifestaram a doença), muitos dos quais continuam trabalhando, observa Paulo Teixeira, que coordenou o programa de Aids da Organização Mundial da Saúde.O estudo da OIT estimou que a epidemia vem provocando no conjunto dos 50 países estudados queda de 0,2% no PIB (Produto Interno Produto) e redução de US$ 5 na renda per capita anualmente. Só em 1995, a perda no PIB (soma de bens e serviços produzidos) teria sido de US$ 25 bilhões.
O levantamento não contabiliza as "perdas sociais" já provocadas pelas mortes pela Aids, número estimado no mundo entre 17 milhões e 20 milhões.
Vários países da África estão com mais de um quinto de sua população em idade produtiva vivendo com HIV. Na Suazilândia, 38,8% das pessoas entre 15 e 49 anos estão com o vírus. Em Botsuana, são 37,3%; no Lesoto, 28,9%; no Zimbábue, 24,6%; na Namíbia, 21,3%. No Brasil, estima-se que existam 540 mil pessoas com HIV. Outras 310 mil já caíram doentes desde o início da epidemia, 160 mil delas já morreram, 140 mil estão em tratamento.
O mais preocupante, segundo os especialistas, é que os países com maior número de pessoas com o vírus são também aqueles que não têm acesso aos medicamentos contra a Aids. Vivendo em maior pobreza, eles adoecem mais facilmente. Sem os medicamentos para a Aids, acabam morrendo. Diferentemente do Brasil -lembra Teixeira-, onde mesmo os pacientes que já sofreram doenças oportunistas estão podendo retornar ao trabalho, graças aos medicamentos.
Outro reflexo nos países pobres é a queda na expectativa de vida. Segundo dados da OIT/ Unaids, enquanto no Brasil a esperança de vida ao nascer é de 68 anos e nos EUA, de 77, no Zimbábue é de 33. Na maioria dos países africanos, a expectativa de vida caiu em mais de dez anos por causa da Aids. Em oito dos 35 países estudados, a esperança de vida está abaixo dos 40 anos. Só em seis a expectativa de vida está acima dos 50.
FSP, 12/07/2004