7.04.2004

Brasil bate marca de 8.000 doutores por ano

Previsão do governo é chegar a 10 mil em 2006, mas iniciativa privada não absorve demanda
BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
São poucos os profissionais com título de doutor atuando em empresas do país nas áreas de pesquisa e desenvolvimento.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelam que são cerca de 41 mil as pessoas ocupadas com pesquisa e desenvolvimento em empresas brasileiras. Dessas, segundo projeções de especialistas, apenas cerca de 750 têm doutorado - número equivalente à média anual de doutores contratados por empresas na Inglaterra. Enquanto isso, não pára de crescer o número de doutores formados no país. Em 2003, o Brasil formou 8.094 novos doutores, número 18,3% maior do que o alcançado em 2002. Até 2006, segundo o Ministério de Ciência e Tecnologia, o país deve passar a titular 10 mil doutores por ano.
De acordo com os especialistas, no entanto, não há excesso. "É um erro pensar que há doutores demais. O aproveitamento deles nas fábricas é que é muito baixo", diz o reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Carlos Henrique de Brito Cruz. Pesquisa da Anpei (Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras) feita com 334 firmas que investem em pesquisa e desenvolvimento indica uma média de 0,8 doutor por empresa, número considerado baixo." Em países desenvolvidos, como EUA e Alemanha, 63% dos dispêndios em inovação tecnológica são feitos pelo setor empresarial. No Brasil, só 37% dos investimentos são feitos nas empresas. Com isso, o mercado de trabalho [em pesquisa] é bem menor", aponta Ronald Martin Dauscha, presidente da Anpei e diretor de gestão corporativa de tecnologia da Siemens no Brasil.
A preocupação com o número de doutores que conseguem uma colocação na iniciativa privada tem fundamento. Em média, a contratação de cada doutor cria entre dez e 15 outros empregos para pesquisadores mestres, bacharéis ou técnicos. Além disso, a entrada desses profissionais nas empresas é estratégica para que o investimento feito pelo país na formação deles possa ser revertido em crescimento econômico.O aumento da quantidade de doutores obedece às determinações do mercado de trabalho."
A exigência de titulação é cada vez maior. A graduação é uma obrigação. Um executivo de primeira linha precisa de especialização, de MBA e, se possível, de doutorado. Mas a qualificação é sempre um diferencial, nunca uma garantia", pondera Giovanna Mott de Arruda Fabrício, consultora da Manager Assessoria em Recursos Humanos.Larga escalaLevantamento feito pela Unicamp mostra que, sozinha, a USP (Universidade de São Paulo) formou, em 2002, mais do que o dobro de doutores que a campeã norte-americana de titulações. Foram 2.070 titulados contra 799 da Universidade da Califórnia em Berkeley. A Unicamp, com 743, vem logo em seguida.De acordo com o último censo, o Brasil tem 302 mil profissionais com título de mestrado ou doutorado. Desses, segundo o MEC, 136 mil estão nas instituições de ensino superior -51 mil são doutores, dos quais 63% estão na universidade pública.