6.25.2004

Crescimento econômico francês não expande taxa de emprego

Avanço deve ser de 2,3% em 2004, contra 0,5% em 2003; desemprego ainda é elevado

Sophie Fay
Em Paris

A boa notícia: a retomada do crescimento econômico se confirma. É o que anuncia o Instituto Nacional de Estatísticas e Estudos Econômicos (Insee) na nota de conjuntura publicada nesta quinta-feira (24/06). Em 2004 o PIB deverá avançar 2,3%, bem melhor que o magro 0,5% de 2003 ou o pequeno 1,1% de 2002. Bem melhor também que a previsão do governo, por enquanto inalterada, de 1,7%. Em 2005 a economia deverá continuar progredindo em um ritmo superior a 2%, mas inferior a 3%, estima o Insee.
O crescimento se anuncia mais forte na França que na zona euro, onde seria de 1,8% em média em 2004, segundo as previsões. A Alemanha e a Itália continuam com seus índices respectivos de 1,3% e 1,1%. A Espanha mantém um ritmo mais sustentado (2,6%). Os Estados Unidos e o Reino Unido conservam sua vantagem, com previsões de crescimento respectivas de 4,6% e 3%.
"Há seis meses dizíamos que a França havia entrado na recuperação mundial. Há três meses escrevemos que o crescimento seria sem brilho. Hoje podemos retomar essas duas constatações: o crescimento é robusto, mas não se acelera", comenta Michel Devilliers, responsável pela conjuntura no Insee.
A solidez do crescimento se baseia no investimento, que após dois anos de forte queda volta a subir: 3,8% nas empresas. Mas ele não tem impulso, e o número continua abaixo dos níveis anunciados durante as retomadas anteriores (mais de 6%).
A essa boa notícia do investimento tomando o lugar do consumo como motor do crescimento, acrescenta-se a perspectiva de um declínio da alta dos preços. De 2,5% em junho, a inflação deverá voltar a menos de 2% em dezembro. O Insee estima que o acordo assinado em 17 de junho entre distribuidores e produtores, sob o patrocínio do ministro da Economia, Nicolas Sarkozy, poderá aliviar o índice de preços de 0,15 a 0,2 ponto suplementar, se for aplicado ao máximo a todos os produtos de grandes marcas.
Destruição de empregos
A má notícia vem da frente do emprego, na qual a melhora é muito lenta. O Insee prevê que o índice de desemprego aumente 0,1 ponto percentual, para 9,9% na metade do ano, voltando a 9,8% no fim do ano, contra 8,9% no início de 2002. O patamar simbólico de 10% não será ultrapassado. O Insee se mostra prudente, pois não pode avaliar o número de "recalculados" que saíram do circuito de indenização mas voltarão.
A economia francesa, que perdeu 70 mil postos de trabalho em 2003, deverá perder mais 15 mil em 2004, segundo o Insee. Mas os economistas estimam que depois de um primeiro semestre estagnado as empresas recomeçarão a contratar no segundo semestre, gerando 40 mil novos empregos.
A indústria, que perdeu 100 mil postos em 2003 (-2,4%), não conseguirá conter a destruição de empregos: deverá perder mais 70 mil em 2004, indica o instituto. Por outro lado, 30 mil (2%) seriam criados no setor da construção (14 mil em 2003) e 80 mil nos serviços e comércio.
Assim como em 2003, o emprego nos setores não-comerciais - educação, saúde, ação social, administrações públicas e associações - deverá recuar sob o efeito da diminuição dos empregos jovens ou dos Contratos Emprego-Solidariedade (CES): 47 mil empregos deverão desaparecer nessas atividades.
Novos dispositivos como o Contrato de Inserção na Vida Social (Civis) para as associações e a Renda Mínima de Atividade (RMA) demoram a ganhar força. A RMA, também aberta às empresas do setor comercial, "criaria menos empregos do que previsto na lei de finanças, devido a atrasos observados na implementação do dispositivo nas regiões", indica o Insee. A política de ajuda ao emprego no setor concorrencial deverá ter um impacto neutro em 2004.Essas perspectivas pouco animadoras vão desacelerar o consumo. Tomados de uma febre aquisitiva no primeiro semestre, os franceses estariam muito mais sóbrios no resto do ano, com suas compras progredindo ao ritmo de 0,2% a 0,4% por trimestre. Motivo: uma perda do poder de compra no primeiro semestre.
As medidas fiscais de apoio ao consumo, que deveriam ser discutidas nesta quinta-feira na Assembléia Nacional, mas que basicamente já entraram em vigor, terão pequeno impacto. "Elas nos levam no máximo a optar pelo alto da faixa de previsão de consumo, mas não a mudá-la", admite Devilliers.
A situação dos domicílios poderá melhorar até o fim do ano graças a uma inflação mais moderada no segundo semestre e a um aumento dos salários, puxado principalmente pelo reajuste do salário mínimo em 1º de julho. A melhora dos resultados das empresas também poderá ter um efeito positivo sobre os salários. O ganho no poder de compra seria de aproximadamente 1% até o fim do ano, contra 0,2% no final de 2003.
"Ação voluntária"
O ministro da Economia, Nicolas Sarkozy, estimou durante o debate de orientação orçamentária na Assembléia Nacional que "o crescimento espontâneo não será suficiente para nos levar adiante". Somente uma "ação voluntária" permitirá trazer os déficits da França abaixo do nível de 3% do PIB definido pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento europeu. "Precisamos entender que com um crescimento da ordem de 2% este ano e 2,5% no próximo, nosso déficit público continuará espontaneamente, se não agirmos, acima de 3%", ele disse. "Para voltar abaixo de 3% do PIB, sem precisar agir, seria preciso na realidade que o crescimento voltasse rapidamente a 3%", ele acrescentou.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
LE MONDE, 25/06/2004