Brasil é o terceiro em trabalho doméstico infantil
Estudo divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), mostra que o Brasil é o terceiro país com mais trabalhadores domésticos infantis, com 559 mil crianças e adolescentes. O país só fica atrás da África do Sul, com dois milhões, e Indonésia, com 700 mil. No mundo, diz a OIT, são cerca de dez milhões de crianças, em sua maioria meninas, forçadas a trabalhar em condições similares à escravidão como empregados domésticos em casas particulares e submetidas às mais diversas formas de exploração que põem em risco sua saúde. Apesar disso, de acordo com a entidade, o problema é ignorado em muitos países. — Infelizmente, muito países não vêem o trabalho doméstico de crianças como um problema — disse a autora do estudo, June Kane. O primeiro relatório dedicado exclusivamente ao trabalho doméstico infantil foi divulgado ontem em Genebra, na Suíça, por conta do Dia Mundial contra o Trabalho Infantil, que será amanhã. As crianças empregadas domésticas fazem parte de um contingente de 200 milhões de menores que trabalham no mundo. De acordo com o levantamento, em países como o Brasil, Guatemala e Costa Rica, mais de 90% dos trabalhadores infantis são do sexo feminino. Elas sofrem nas mãos de seus patrões que as mantêm como empregadas para demonstrar status social. Muitas crianças disseram sofrer abusos sexuais As crianças raramente são pagas, trabalham em longas jornadas, muitas sofrem abusos sexuais, não têm acesso à educação e até esquecem seus próprios nomes depois de anos sendo chamadas de “garota” ou “garoto”, revela a pesquisa. Em El Salvador, 66,4% das meninas disseram sofrer abusos físicos, psicológicos e sexuais. — As crianças trabalhadoras acordam antes de seus patrões levantarem, cozinham, limpam e levam outras crianças para a escola — disse June Kane Quando são consideradas velhas, muitas são expulsas por seus patrões e acabam morando nas ruas porque não têm idéia de como ou onde encontrar suas famílias. Segundo o estudo da OIT, entre os riscos a que estão expostos os menores estão os maus tratos físicos e psicológicos, uma alimentação com produtos inferiores ao do restante da família e um meio insalubre quando são obrigados a fazer limpeza com produtos químicos. No Haiti, 10% dos empregados têm até 10 anos O levantamento afirma ainda que cerca de 302 mil crianças e adolescentes trabalham como empregadas domésticas nas Filipinas, 300 mil, em Bangladesh, 264 mil no Paquistão, 250 mil, no Haiti, 200 mil, no Quênia, 150 mil, no Peru e 104 mil, em El Salvador. No Haiti, 10% destes menores têm menos de 10 anos e, no Marrocos, 70% têm menos de 12 anos, aponta o relatório.
Jornal O GLOBO, 11/06/2004
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