Trabalhador paga caro por vaga
Procura de emprego com ajuda de empresas de Recursos Humanos exige desembolso de até R$ 5 mil
Jacqueline Sobral
A procura por emprego com ajuda profissional custa caro. Um desempregado com curso superior completo e com experiência pode ter de tirar do bolso até R$ 5 mil, quase seis vezes mais que a renda média do trabalhador brasileiro. Apesar do empurrão da indústria do desemprego, a espera por uma vaga costuma durar, em média, seis meses.
O cálculo do preço médio de um projeto feito por uma consultoria de recursos humanos é de Laerte Cordeiro, especialista em RH e sócio da Laerte Cordeiro Consultores em Recursos Humanos. O gasto inclui, principalmente, uma avaliação do histórico acadêmico, profissional e das características da personalidade do candidato; a definição da área e do cargo desejado; a elaboração de currículo apropriado; o processo de seleção de ofertas de vaga e a orientação sobre o comportamento que deve ser adotado com o empregador.
- Com esse planejamento, a pessoa já estaria em condições de se lançar - explica. - O profissional precisa ter dinheiro guardado. Em um mercado de trabalho difícil como o atual, que só piorou no ano passado, se ele puder contar com uma empresa de consultoria, suas chances são bem maiores.
Se o candidato a vaga não tiver dinheiro para uma orientação completa, pode recorrer aos sites que servem de mural de currículos e de oportunidades de emprego, embora alguns especialistas afirmem que a medida, isolada, é insuficiente.
No grupo Catho, empresa de RH que faz recrutamento de profissionais com todos os níveis de qualificação, é preciso paga R$ 49 por mês para manter um currículo no site. Se for estagiário, o preço cai pela metade. Na internet, a companhia, que tem 17 escritórios espalhados pelo Brasil, oferece, atualmente, 130 mil vagas e presta serviço a 100 mil usuários por mês. De acordo com a Catho, a divulgação surte efeito. Em média, por mês, 3 mil pessoas conseguem emprego.
Em algumas companhias, é possível fazer o cadastramento gratuito, como é o caso da Gelre, cuja receita é proveniente das empresas que buscam os profissionais. O site conta com 2,5 milhões de currículos.
Com faturamento de R$ 400 milhões em 2003, a Gelre registrou 40 mil novos cadastros em abril apenas em sua matriz. O diretor-geral da empresa, Paulo Belleza, acredita que as empresas de RH vivem, atualmente, um processo de recuperação de seu movimento.
- O fim de 2003, principalmente, foi muito ruim em termos de vagas. Além disso, a busca de trabalhadores temporários para o comércio no fim do ano começou mais tarde, o que nos causou preocupação.
Cordeiro também afirma que está havendo uma retomada. Segundo o economista, em julho do ano passado a procura de trabalhadores por emprego e de empresas por funcionários havia caído muito devido às incertezas sobre a economia brasileira.
- Até março do ano passado, a situação já não era fácil. Em meados de 2003, porém, veio o período mais negro de todos os anos. Os desempregados sumiram e os empregadores pararam de contratar. As empresas não admitiam nenhum executivo, mas também não demitiam.
O presidente do grupo Catho, Thomas Case, estima que, de outubro de 2002 a março deste ano, houve uma queda de 30% na demanda de empresas por recolocação de mão-de-obra.
- O recrutamento e o setor de recolocação sofreram muito. As companhias e os trabalhadores ficaram desanimados, mas já estamos observando uma melhora há cerca de dois meses - considera.
Muitos executivos de empresas de RH apostam que o movimento vai aumentar mais ainda ao longo deste ano. Os serviços oferecidos vão desde o fornecimento de currículos às empresas contratantes até cursos de postura. A Associação Brasileira de Recursos Humanos não tem dados consolidados sobre o setor. O diretor da ABRH-RJ, Joaquim Lauria, estima, no entanto, que existam quase 2 mil empresas de RH legalizadas em todo o país.
JORNAL DO BRASIL, 01/06/2004
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