5.31.2004

Busca por concurso quase dobra

Dois grandes organizadores faturaram em 2003 mais de R$ 100 milhões com 3,7 milhões de candidatos

Claudio de Souza

Com o aumento do desemprego e o achatamento da renda, o trabalhador está correndo para os concursos públicos para fugir da crise. Soma-se a isso o fato de o governo Lula ter anunciado a reposição dos quadros do funcionalismo público, abandonada na gestão anterior. No ano passado, o número de candidatos nos concursos realizados pelos dois principais organizadores do país e do Estado do Rio aumentou 76,5%, para 3,7 milhões, gerando um faturamento de, pelo menos, R$ 101 milhões.
O Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília (Cespe), que realiza 95% das seleções de funcionários da administração pública e das estatais federais, realizou 72 concursos, em 2003, com 3,112 milhões de pessoas inscritas, um crescimento de 75% em relação a 2002, quando 1782 candidatos participaram de 54 processos seletivos. O faturamento da instituição atingiu R$ 83 milhões.
A diretora-geral do Cespe, Romilda Macarini, conta ainda que ano passado o órgão criou 150 mil empregos temporários na organização dos concursos, entre fiscais, trabalhadores envolvidas na logística das provas e professores. Normalmente, pelos contratos para a realização do concurso, o Cespe fica com a arrecadação das taxas de inscrição, que é suficiente para remunerar o órgão.
- O número de concursos aumentou muito. O governo está repondo os funcionários, o que há muito tempo não se fazia - avalia Romilda.
Para o coordenador do núcleo de concursos da Fundação Getúlio Vargas, Herman Jankovitz, o desemprego é ''a mola propulsora dos concursos''.
- O Município de Rio das Ostras, por exemplo, realizou um concurso para a prefeitura e apareceram 52 mil candidatos. É mais do que a população do município (36 milhões de habitantes).
O número de concursos encomendados à FGV saltou de oito, em 2002, para 15, em 2003, e, neste ano, já chega 10.
A Fundação Escola do Serviço Público, maior organizador de concursos do Estado do Rio, registrou crescimento de 87% do número de candidatos, que foi de 592 mil, em 24 concursos, no ano passado, ante 316 mil, em 13 seleções, durante 2002. A secretaria estadual de Administração, a qual o órgão está ligado, não informou a arrecadação da Fesp, mas, estimando-se um valor médio de inscrição de R$ 30, chega-se a um valor de R$ 18 milhões de faturamento no ano passado.
O setor cresce tanto que, nos dias 8 e 9 de julho, será realizada, no Rio, a 1ª Feira do Concurso Público. O organizador do evento, Ricardo Ferreira, espera que 15 mil pessoas visitem a feira.

JORNAL DO BRASIL, 31/05/2004