5.22.2004

Ipea vê melhora no mercado de trabalho

Instituto diz que aumento dos salários e do total de pessoas ocupadas indica recuperação; UFRJ discorda de avaliação
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O mercado de trabalho melhorou em 2004, e já a partir de abril a massa de salários voltou a crescer. A avaliação é do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, que projeta um aumento de pelo menos 2,8% no número de pessoas empregadas, caso o PIB suba 3,5% neste ano."A nossa visão é que o mercado de trabalho não está tão ruim assim como as pessoas têm pintado", disse Luiz Parreiras, economista do Ipea, responsável pelo boletim Mercado de Trabalho Conjuntura e Análise, lançado ontem pelo instituto.Os números sobre emprego do IBGE relativos a abril serão divulgados na próxima terça-feira.De acordo com Parreiras, as pessoas só se dão conta de que a taxa de desemprego aumentou, sem olhar para outros indicadores positivos. Cita a expansão do rendimento nominal (sem descontar a inflação), que cresceu 3,7% em março, e o fato de o número de pessoas empregadas ter subido 1,6% no primeiro trimestre ante igual período de 2003.Parreiras avalia que o maior rendimento nominal e o crescimento da ocupação levarão à expansão da massa de salários em abril, o que é "um importante" fator para impulsionar o consumo.O diretor do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), João Sabóia, discorda do quadro traçado pelo Ipea. Diz que o mercado de trabalho não está melhor. Afirma que a ocupação cresceu, mas por meio do aumento da informalidade e de vagas de baixa remuneração. Ele aponta outro dado negativo: o rendimento médio dos trabalhadores permanece em queda."É verdade que a ocupação cresceu, mas o cenário, pelo menos até março, não mudou", disse.Dados do próprio boletim do Ipea apontam que a proporção de trabalhadores sem carteira em relação ao total cresceu de 21,5% no primeiro trimestre de 2003 para 22% em 2003. A dos trabalhadores por conta própria subiu de 19,4% para 20,9%.RendimentoEm razão da queda da inflação, o Ipea prevê que a renda real já deve estar em recuperação -em março, registrou retração de 2,4%, mas o percentual já chegou a 16,4% em julho de 2003.Na visão de Parreiras, "o crescimento do desemprego nem sempre é um mau sinal". Isso porque mais gente costuma voltar a procurar emprego quando a situação melhora, pressionando a taxa.Sabóia, mais uma vez, discorda. Para ele, o que aconteceu é que um contingente grande de pessoas saiu do mercado em 2001 e 2002, dois anos de fraco nível de atividade econômica. Para complementar a renda familiar e acreditando no que ele chama de "efeito Lula" (otimismo gerado pela eleição do presidente), elas voltaram em 2003, puxando o desemprego.Divulgada anteontem pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), a taxa de desemprego -que inclui o desalento e o emprego precário- em São Paulo ficou em 20,7%. Foram criadas 124 mil vagas, número insuficiente para abrigar toda a procura por trabalho.Segundo o IBGE, a taxa média de desemprego das seis principais regiões metropolitanas do país, cuja metodologia é diferente e não comparável com a do Dieese, ficou em 12,2% no primeiro trimestre -maior do que os 11,6% de igual período de 2003.Para Parreiras, as empresas estão muito enxutas e qualquer aumento de produção se converterá em novas contratações. Mas ele pondera que, como o "estoque" de pessoas que estavam fora do mercado de trabalho é muito grande, a taxa de desemprego só começará a cair em 2005.

FSP, 22/05/2004