Economia tem maior crescimento desde 99
PIB cresce 1,6% no 1º trimestre em relação ao final de 2003; para o IBGE, país começa a se recuperar da crise
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A economia brasileira cresceu, nos três primeiros meses deste ano, 1,6% em relação ao último trimestre do ano passado, o maior crescimento trimestral nessa forma de comparação desde o quarto trimestre de 1999 (quando o crescimento foi de 1,8%).Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 2,7%, a maior taxa nessa forma de comparação desde os 3,9% do quarto trimestre de 2002. Mas o avanço trimestral não foi suficiente para impedir que a taxa de crescimento acumulada em quatro trimestres ficasse em zero.Ou seja, a economia brasileira ficou estagnada de abril de 2003 a março de 2004 na comparação com o período entre abril de 2002 e março de 2003.Entre os dados positivos divulgados pelo IBGE, o consumo das famílias cresceu 1,2% na comparação com o primeiro trimestre de 2003. Foi o primeiro bom resultado nessa comparação após cinco trimestres de queda."Estamos crescendo na ponta, mas a memória do passado ainda está nos deixando no entorno do zero", disse Roberto Olinto, gerente de Contas Nacionais do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), órgão responsável pelo cálculo do PIB, que é a medida das riquezas produzidas por um país ou região em um determinado período.Para Olinto, "é preciso cuidado ao olhar as taxas" mesmo o país apresentando três semestres consecutivos de crescimento em relação ao trimestre imediatamente anterior. Ele pondera que o crescimento na comparação com o trimestre anterior ainda sofre influência do fato de a economia vir de um desempenho muito fraco.Longo prazoOlinto mostrou um gráfico com os números da economia acumulados em períodos de quatro trimestres desde o primeiro trimestre de 1993. Nele, é possível constatar que a economia brasileira está quase saindo de um dos cinco períodos de baixo crescimento vividos nos últimos 11 anos.No entanto, essa representação mostra um dado preocupante: os picos de crescimento que se contrapõem aos "vales" são cada vez mais baixos. Ou seja, os ciclos de crescimento são cada vez menos acentuados.Apesar das ressalvas do IBGE, o resultado do PIB no primeiro trimestre foi considerado bom até por quem não acredita na sua continuidade, como o economista Alex Agostini, da consultoria Global Invest. "É um resultado positivo, que vai ser muito comemorado pelo governo até a próxima divulgação", disse.A Global Invest esperava crescimento de 1,8% na ponta e de 3,3% em relação ao primeiro trimestre de 2003. Por isso, já rebaixou sua estimativa de crescimento para este ano, de 3,1% para 2,9%.De acordo com Agostini, a parada na redução dos juros internos, o aumento dos juros nos EUA e a freada no crescimento da China irão prejudicar o desempenho da economia nos próximos meses.Mas, para o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do Ministério do Planejamento, o desempenho do trimestre é compatível com a projeção oficial de 3,5% para o ano."O que esses dados mostram é que a economia está em uma trajetória de crescimento, e achamos que é um crescimento sustentado no curto prazo", disse Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea.Para Levy, a sustentabilidade no médio prazo ainda está sujeita ao avanço da agenda de reformas e da agenda microeconômica. Segundo ele, o resultado mostra que estavam errados os que achavam que o ciclo de recuperação havia parado no começo do ano, após o BC (Banco Central) interromper a trajetória de queda dos juros.Para Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco, o BC sai fortalecido com o resultado do PIB. Na sua avaliação, mesmo que a taxa de juros seja mantida por mais de um mês, isso não vai comprometer o crescimento. "Acho que vai ser um gatilho para melhorar o humor das famílias e das empresas", afirmou.Taxa anualizadaAnualizada, como é feito em países como os Estados Unidos e o Japão, a taxa de crescimento do primeiro trimestre significa que o país cresceu a um ritmo de 6,6% ao ano de janeiro a março.Olinto, do IBGE, disse que a anualização da taxa de crescimento na ponta, como é chamada no jargão econômico a medida do desempenho no curto prazo, "é uma das visões possíveis", mas que enfrenta restrições nas normas internacionalmente aceitas sobre contas nacionais.Segundo ele, órgãos como o FMI (Fundo Monetário Internacional) recomendam que o PIB seja divulgado em todas as formas de comparação possíveis para permitir análises mais aprofundadas. Essas recomendações, de acordo com o técnico do IBGE, dizem também que a anualização do crescimento na ponta leva à "superestimação" do resultado e a variações abruptas da taxa anual de um trimestre para outro.
Consumo das famílias sobe 1,2% sobre 2003
DA SUCURSAL DO RIO
Os números do IBGE mostram que, no primeiro trimestre, a economia cresceu em todos os setores de produção e em todas as formas de consumo, mas revelam que a agropecuária a as exportações, a exemplo do que vem acontecendo nos últimos anos, seguem como os carros-chefes do desempenho econômico.Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, a agropecuária cresceu 6,4%, a indústria, 2,9%, e os serviços, 1,2%.O consumo das famílias cresceu 1,2% -após cinco trimestres de resultados negativos-, o consumo do governo cresceu 1,5%, os investimentos aumentaram 2,2% (primeiro resultado positivo após quatro trimestres negativos) e as exportações subiram 19,3%.Quando a comparação é feita com o trimestre encerrado em dezembro de 2003, já descontados os fatores típicos (sazonais) de cada período, os números também são positivos, com destaque para agropecuária e exportações.Do ponto de vista da produção, a agropecuária cresceu 3,3%, a indústria, 1,7%, e os serviços, 0,4%. Pelo lado da demanda, o consumo das famílias cresceu 0,3%, o do governo, 0,8%, os investimentos, 2,3%, e as exportações, 5,6%.Entre os subsetores da indústria e dos serviços, a indústria de transformação, os transportes e o comércio foram destaques, com crescimentos, respectivamente, de 6%, 7,4% e 5,1% sobre o mesmo trimestre de 2003.Os impostos sobre produtos cresceram 4%, a maior taxa desde o primeiro trimestre de 2001.
ENTENDA
Cálculo envolve toda a cadeia de produção do país
DA REDAÇÃO
O PIB (Produto Interno Bruto) é um dos principais indicadores de uma economia. Ele revela o valor de toda a riqueza gerada no país.O cálculo do PIB, no entanto, não é tão simples de ser feito. Imagine que o IBGE queira calcular a riqueza gerada por um artesão. Ele cobra, por uma escultura de madeira, R$ 30. No entanto não é essa a contribuição dele para o PIB.Para fazer a escultura, ele usou madeira e tinta. Não é o artesão que produz esses bens: ele teve que adquiri-los da indústria. No preço de R$ 30 ele incluiu os custos para adquiri-los.Assim, se a madeira e a tinta custaram R$ 20, a contribuição do artesão para o PIB foi de R$ 10 (não R$ 30). Os R$ 10 foram a riqueza gerada por ele ao transformar um pedaço de madeira e um pouco de tinta na escultura.O IBGE precisa fazer esses cálculos para toda a cadeia produtiva. Depois, ele soma a riqueza gerada pelos setores, chegando à contribuição de cada um para a geração de riqueza e, portanto, para o crescimento econômico.
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