7.03.2004

Economia dos EUA gera menos empregos do que o previsto

Houve forte queda no ritmo da expansão econômica, o que afeta a campanha de BushEduardo PorterEm Nova YorkO ritmo de crescimento na criação de empregos caiu fortemente em junho, informou o governo na sexta-feira (02/07). O resultado mostrou um recuo em relação a um período recente de forte queda no desemprego e lançou dúvidas quanto ao vigor da expansão econômica dos EUA.
O Departamento de Trabalho divulgou que foram criadas apenas 112.000 vagas em junho, menos da metade do aumento médio dos primeiros cinco meses do ano.
O aumento, que inclui ajustes estipulados para descontar as variações sazonais normais, ficou abaixo dos 150.000 empregos necessários para acompanhar o crescimento natural da força de trabalho. Também ficou bem abaixo da previsão de 250.000 dos economistas de Wall Street, que neste ano têm errado consistentemente as previsões de trabalho.
O índice de desemprego, que essencialmente não mudou o ano todo, continuou igual em maio, a 5,6%. "Está bem claro que a economia caiu em junho", disse Sung Won Sohn, economista do Wells Fargo & Co., em Minneapolis.
A fragilidade renovada nos índices de trabalho foi um golpe inesperado à campanha de reeleição do presidente Bush, que vem contando com a melhoria no mercado de trabalho para defender suas políticas econômicas. Além disso, o relatório ofereceu munição para o candidato Democrata, o senador John Kerry de Massachusetts, cujas críticas à política econômica de Bush tinham sido minadas pelo rápido ritmo de contratação do início do ano.
Vários economistas, entretanto, sugeriram que os números tímidos de junho foram um lapso, observando que as folhas de pagamento podem ser muito voláteis de mês a mês e previram que voltariam a crescer em julho.
"Vai precisar mais do que um mês fraco para nos convencer de que a economia está em dificuldades", disse Henry Willmore, economista da Barclays Capital.
Na Casa Branca, onde discursou para um grupo de pequenos empresários, Bush procurou explicar os novos dados em uma ótica otimista. "Os empregos aumentaram em 112.000 em junho, o que significa que tivemos um total de 1,5 milhão de novos empregos desde agosto", disse o presidente. "Para mim, isso é crescimento sustentado."
N. Gregory Mankiw, principal assessor econômico da Casa Branca, fez pouco do relatório, considerando-o uma aberração. Ele observou que outros indicadores econômicos - inclusive a confiança do consumidor e a pesquisa mensal de gerentes de compra- ainda apontam para uma recuperação econômica robusta.
"Não devemos exagerar o peso de nenhuma estatística mensal" específica, disse Mankiw. A queda na contratação ocorreu enquanto o índice de aprovação de Bush em questões econômicas parecia estar melhorando. Em uma pesquisa de opinião do Gallup no final de junho, 47% dos entrevistados disseram que aprovavam a forma que Bush vem lidando com a economia, contra 41% no início do mês.
O comitê de campanha de Kerry aproveitou os dados e emitiu um relatório ressaltando a fragilidade do mercado de trabalho desde que Bush assumiu a presidência, inclusive uma perda líquida de 1,8 milhão de empregos no setor privado.
"Vimos três meses de contratação decente nos últimos três anos e meio. Mas ainda estamos longe de recuperar os milhões de empregos perdidos com o presidente Bush", disse Jason Furman, diretor de política econômica da campanha de Kerry.
Apesar de muitos economistas acreditarem que a economia manterá um ritmo forte, uma variedade de sinais recentes sugere que a recuperação pode estar perdendo o gás.
Na semana passada, o governo cortou sua estimativa original de crescimento econômico no primeiro trimestre de 4,2% para 3,9%. Outras indicadores de debilidade no comércio varejista, na compra de automóveis e de bens duráveis também apontaram para uma retração no forte desempenho da economia dos últimos meses.
Os preços de ações caíram com o informe sobre o fraco desempenho do emprego. Os preços de bônus aumentaram fortemente, já que os dados tranqüilizaram temores que o crescimento econômico acelerado fosse alimentar a inflação. Isso ajudou a validar a estratégia do Federal Reserve, de aumentar as taxas de juros gradualmente. O dólar caiu diante das principais moedas estrangeiras com as expectativas de que as taxas de juros nos EUA permanecerão baixas por um longo período de tempo."
Faz o Fed parecer certo em sua abordagem", disse James W. Paulsen, estrategista de investimento da Wells Capital Management, em Minneapolis.Ian Shepherdson, diretor de economia americana do High Frequency Economics em Valhalla, Nova York, argumentou que os dados de empregos estavam fora de sincronia com outras evidências econômicas.
Shepherdson sugeriu que o novo método do Departamento de Estado para calcular o ajuste sazonal pode ser responsável pelo número inesperadamente baixo. Outros economistas mencionaram que os dados podem ter sido distorcidos porque muitos trabalhadores tiraram um dia de folga no funeral do ex-presidente Ronald Reagan, que ocorreu durante a semana em que foi feita a pesquisa de empregos. Isso poderia ter reduzido artificialmente o número registrado de horas trabalhadas."
A explicação menos provável é que a economia está virando", disse Shepherdson. "A economia dos EUA não implode espontaneamente.
"Mesmo assim, até que surjam novas evidências, o informe de emprego de junho deixou uma ampla impressão de fraqueza. Os salários de trabalhadores do setor privado, em cargos sem responsabilidade de supervisão -80% do emprego total- mal aumentaram, para US$ 15,65 (cerca de R$ 47) por hora. Isso representa meros 2% de aumento do ano passado, insuficiente para manter o poder de compra dos trabalhadores contra a inflação atual de cerca de 3%.
A média de horas de trabalho por semana caiu para 33,6 em junho, de 33,8 horas em maio. Como conseqüência, os vencimentos semanais dos trabalhadores privados sem responsabilidade de supervisão de fato caíram no mês, para US$ 525,84 (em torno de R$ 1.580), de US$ 528,29 (aproximadamente R$ 1.585) no mês anterior.
Talvez a mais ampla mortalha por cima da recuperação econômica sejam as horas totais semanais trabalhadas no setor privado. Como envolve todas as horas trabalhadas por todos os trabalhadores fornece uma boa medida do estado geral da economia e caiu de 100,2 em maio, para 99,6 em junho.
Alguns pontos que antes brilhavam, escureceram. A construção, que acrescentou 250.000 vagas nos 11 meses anteriores, estagnou. O crescimento em empregos de hotéis e restaurantes diminuiu. O florescimento breve de empregos na manufatura foi estancado, com o número de empregos na manufatura caindo em 11.000, depois de ter aumentado em 24.000 em maio.
Mesmo que a queda na criação de empregos aponte para uma desaceleração do crescimento econômico, os números recentes não marcam um fim da recuperação. "Isso não significa que a expansão acabou. Mas essa expansão nunca foi de céu totalmente azul. Isso reforça a sensação de insegurança em relação à expansão", disse Jared Bernstein, do Instituto de Política Econômica, instituto de pesquisa econômica que tende para a esquerda.
De fato, muitos economistas agora estarão esperando ansiosamente pelo próximo resultado de vagas. "Isso me deixa preocupado com a solidez da recuperação, que até agora parecia clara. Se tivermos um segundo mês fraco, isso vai começar a afetar minha opinião", disse Alan Blinder, economista de Princeton que é ex-vice-diretor do Federal Reserve e hoje é assessor da campanha de Kerry para assuntos econômicos.
Tradução: Deborah Weinberg
The New York Times, 03/07/2004