1.07.2004

Trabalho precário atinge 100 milhões na América Latina

Maurício Hashizume

Brasília - Chega a 100 milhões o número de latino-americanos que trabalham em condições precárias. Desses, a grande maioria é de jovens e mulheres. O dado foi citado pelo diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Juan Somavia, no lançamento do Panorama Laboral 2003, nesta quarta-feira (7). Por teleconferência, a apresentação do documento feita por Somavia foi simultaneamente transmitida de Santiago, no Chile, para a capital federal e outras seis capitais de países da América Latina e do Caribe.
Em sua intervenção, Somavia destacou alguns pontos que reforçam a necessidade de um olhar mais atento à questão da queda do que ele denominou como “déficit de trabalho decente”: a taxa de desemprego em toda a América Latina cresceu de 7,2%, em 1980, para 10,7%, em 2003; o poder aquisitivo dos salários mínimos se reduziu em 25% de 1980 para 2003 (e em 9 países se reduziu em 50%); os trabalhadores informais aumentaram de 32,7% para 46,5% de 1980 até 2002 e os empregados no setor formal diminuíram de 67,4% a 53,5% no mesmo período; desde 1990, 7 de cada 10 novos postos de trabalho criados foram no mercado informal; a cobertura da seguridade social se reduziu de 63,3% em 1980 a 51,7% em 2003.
De acordo com as palavras do diretor da OIT, “o atual modelo de globalização desvaloriza o valor do trabalho com as seqüelas pessoais, familiares e sociais que ele traz consigo”. “Típica desse passado, a fragmentação da realidade em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) se ocupa dos aspectos financeiros, o Banco Mundial (Bird) trata dos temas de desenvolvimento, a OMC (Organização Mundial do Comércio) se preocupa apenas com o comércio e a OIT se restringe ao trabalho, não pode continuar”, defendeu Somavia.
O Panorama Laboral 2003 apontou que apesar da finalização do ciclo recessivo desde 2002, a América Latina continuou registrando altos níveis de desemprego em 2003. Para 2004, no entanto, em virtude da perspectiva de crescimento médio de 3,5% do PIB dos países latino-americanos, a OIT prevê uma queda de um ponto percentual, passando dos 11% registrados no ano passado, para 10%, neste ano.
FSP, 07/01/2004