1.29.2006

SP ganha mais de 200 mil pobres em um ano

Número dos que têm renda familiar per capita abaixo de R$ 251 passa dos 7,5 milhões na região metropolitana

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO


A proporção de pobres na região metropolitana de São Paulo passou de 41% para 41,6%, segundo estudo da economista Sônia Rocha, do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A variação parece pequena, mas mostra que migraram para a pobreza 214 mil pessoas. Na capital paulista e no seu entorno, havia 7,292 milhões de pobres em 2003, segundo o critério utilizado pela pesquisadora para definir pobreza. O contingente subiu, em apenas um ano, para 7,506 milhões de pessoas. Na Grande São Paulo vivem aproximadamente 18,2 milhões de pessoas.
Rocha traçou uma linha de pobreza que, para São Paulo, correspondia a um rendimento familiar per capita de R$ 250,79. Esse valor é diferente para cada região do país, sendo mais baixo onde o custo de vida é menor, como no Nordeste e em áreas rurais.
Dos pobres instalados nas dez grandes metrópoles do país, 35,8% estavam em São Paulo em 2004 -esse percentual era de 34,5% em 2003.
Para Rocha, a fraca geração de postos de trabalho (menos do que no resto do país), a evolução desfavorável do rendimento na região e o aumento do custo de vida em São Paulo proporcionalmente maior do que em outras áreas levaram a maior cidade do país a não reduzir o número de pobres.
No país como um todo, a proporção de pobres caiu de 35,6% em 2003 para 33,2%, principalmente por causa do crescimento do emprego, da valorização do salário mínimo e da expansão das bolsas pagas pelo governo, como as do programa Bolsa-Família.
Emprego sem fôlego
Para Rocha, o emprego em São Paulo evolui menos do que em outras regiões. "A criação de postos de trabalho em São Paulo apresentou expansão de 1,9%, bem aquém da média de 3,3%", diz a economista, ao justificar o desempenho pior da região.Para ela, São Paulo só não gerou mais pobres porque a população cresceu menos: "O arrefecimento do crescimento demográfico contribuiu para que o agravamento da pobreza não fosse ainda mais acentuado. Na verdade, São Paulo tornou-se menos atrativa aos migrantes, apesar das tradicionais redes de solidariedade que acolhem os recém-chegados e da percepção positiva deles quanto às vantagens oferecidas por São Paulo", disse a economista.
Outro ponto citado por ela foi o rendimento, que ficou estável em 2004 no Brasil, mas caiu no conjunto das metrópoles, especialmente em São Paulo e no Rio. A renda na capital paulista caiu 5,3% em 2004 ante o ano anterior.
Um dos fatores que mais contribuíram, segundo Rocha, foi a inflação dos mais pobres, que subiu relativamente mais em São Paulo do que em outras capitais. "Houve um aumento relativamente forte do custo de vida dos pobres em São Paulo", disse Rocha.
Para ilustrar, ela compara a cidade com Salvador. De 2003 para 2004, a linha de pobreza de São Paulo apresentou aumento relativamente forte (5,29%), passando de R$ 238,20 para R$ 250,79. Em Salvador, a linha de pobreza, que se situa em um nível bem mais baixo, também subiu, mas em num ritmo menor (3,75%).
A pesquisadora argumenta, por fim, que as bolsas e transferências do governo para a população mais pobre tiveram menos impacto em São Paulo do que no resto do país, já que seus valores são únicos para todas as regiões e o custo de vida paulista é maior.Até o aumento real do salário mínimo, que teve forte impacto na redução da pobreza em 2004 no restante do país, não teve o mesmo efeito, diz ela. Isso porque, em 2004, o mínimo era de R$ 260 em setembro de 2004, apenas 3,7% superior à linha de pobreza em São Paulo. Em Salvador, o salário mínimo era 43,5% maior do que o rendimento das famílias per capita. O mesmo, diz Rocha, vale para outras transferências, como o Bolsa-Família.
Regiões da BA e do PA apontam maior queda na proporção de pobres, mostra estudo; pior índice está no Recife
Salvador e Belém têm melhores resultados

DA SUCURSAL DO RIO
Das grandes metrópoles do país, Salvador e Belém tiveram a maior redução da pobreza de 2003 para 2004. A proporção de pobres em Belém baixou de 45,4% para 40,3% da população. Em Salvador, foi de 56,6% para 51,7% -a região metropolitana se manteve, porém, com a segunda maior proporção de pobres.Sonia Rocha, economista do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), diz que em Salvador a geração de postos de trabalho foi proporcionalmente maior do que nas grandes metrópoles (Rio e São Paulo), o que contribuiu para a queda mais acentuada da pobreza.
Ela relata ainda que o rendimento também evoluiu mais positivamente e o custo de vida dos mais pobres subiu menos do que em outras metrópoles.
Na região metropolitana de Salvador, é considerado pobre quem tem rendimento domiciliar per capita menor do que R$ 181,19, segundo o conceito de Rocha, que utiliza linhas diferenciadas de pobreza. Pelos dados do levantamento, Salvador tinha 1,63 milhão de pobres em 2004.
Curitiba e Recife também apresentaram redução significativa de um ano para o outro. Na primeira, a proporção de pobres caiu de 26,2% para 22,4%.
Na cidade nordestina, o percentual passou de 63,3% para 59,9%. Apesar do recuo, a capital pernambucana se mantém como a região com, proporcionalmente, o maior contingente de pobres do país -59,9% do total.
Já na Grande Rio e em Brasília e seu entorno a pobreza baixou em intensidade modesta. No Rio, passou de 34,5% para 33,6%. Dos moradores de Brasília, de 42,7% eram pobres em 2003. Em 2004, a cifra caiu para 42,4%.
No Rio, além do fato de os benefícios sociais terem menor impacto, porque o custo de vida é maior do que em outras áreas do país, o "desempenho adverso" do rendimento contribuiu para uma redução não tão expressiva da pobreza, disse Rocha. Havia, em 2004, 3,558 milhões de pobres no Rio.
Apesar dos resultados favoráveis de redução da pobreza e da indigência no Nordeste apresentados pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2004, a pobreza persiste na região, segundo o estudo.
A proporção de pobres caiu de 51,9% da população em 2003 para 48,5% no ano seguinte. Já os indigentes passaram de 18,7% para 14,9% (de 9,1 milhões de pessoas para 7,3 milhões em 2004).
Enquanto os resultados mostram que nas regiões metropolitanas a redução da miséria caminha a passos lentos, no campo, ainda que a pobreza persista, a prosperidade tem chegado mais rápido.Dados da Pnad mostram que o percentual de pobres em relação ao total da população baixou de 44,3%, em 1992, para 38,7%, em 2004, nas metrópoles. Em 2003, primeiro ano do governo Lula, o percentual era de 39,8%.
Campo e cidade
Nas áreas rurais (historicamente mais pobres), a pobreza caiu de 52,7%, em 1992, para 35,4%, em 2004. Em 2003, o percentual de pobres na área rural em relação ao total da população era de 39,5% -embora fosse levemente inferior ao verificado nas metrópoles, a diferença de 0,3 ponto percentual não permitia verificar mudança de tendência. A diferença, todavia, se aprofundou em 2004.
(PEDRO SOARES)