4.30.2004

Equipe econômica venceu de novo, diz CUT

Luiz Marinho critica novo valor do mínimo; para Paulinho (Força), "dinheiro é de pinga", e aposentados apontam "traição"

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As duas principais centrais sindicais do país, a CUT e a Força Sindical, criticaram o valor fixado para o mínimo. Aposentados das principais entidades informaram que se sentiram "traídos" pelo governo com o aumento anunciado para o salário -que passa a valer R$ 260- e ameaçam uma onda de protestos a partir de amanhã.O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Luiz Marinho, disse que "a equipe econômica venceu mais uma vez". Marinho, que comentou o reajuste antes de entrar para uma reunião com o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), disse que o governo deveria pelo menos ter elevado o valor para R$ 270."Se cabiam R$ 270 no Orçamento, eu acho que o presidente Lula perdeu a oportunidade de fazer um reajuste no valor máximo e distribuir renda", disse.O presidente da CUT lembrou que a central reivindicava um mínimo de R$ 300. Segundo o sindicalista, o mínimo não pode ser complementado pelo salário-família . "Tem que ser um indicativo de distribuição de renda."O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, disse estar mais frustrado que no governo anterior. "De Fernando Henrique Cardoso eu não esperava outra coisa. De Lula, eu esperava", afirmou.Feijóo disse que a promessa do candidato Lula era dobrar o valor real do mínimo. "O Orçamento do ano passado havia sido feito pelo FHC. Mas o deste ano, não foi. Então ele [Lula] errou, não cumpriu sua promessa", afirmou. Para dobrar o valor real do mínimo, o governo teria que fazer reajustes de 25% anuais além da inflação.Marinho disse que os trabalhadores vão fazer protestos sobre o valor do mínimo amanhã, Dia do Trabalho. Segundo ele, os sindicalistas vão continuar lutando por uma política permanente de recuperação do salário mínimo. "Para que não se repita a novela "me engana que eu gosto.'"EsmolaSobre o reajuste, o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, disse: "Isso é dinheiro de pinga. É uma esmola".A Força Sindical disse "exigir" salário mínimo de R$ 320 e "respeito" do governo com os trabalhadores. "Nossa expectativa era que o governo cumprisse sua promessa da campanha eleitoral e iniciasse um processo de recuperação do poder de compra do salário mínimo", disse João Batista Inocentini, presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Força Sindical.O sindicato, que representa 296 mil aposentados no país, informa que vai levar a "indignação" com o aumento do mínimo à manifestação do 1º de Maio."Em 2003, o governo já havia concedido reajuste menor que a inflação acumulada. O reajuste foi de 19,71%, e a inflação pelo INPC, de 20,44%. Esperávamos que neste ano houvesse compensação. Estamos indignados. Levaremos os aposentados à rua em protesto contra a falta de respeito."TraiçãoA Cobap (Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas), que reúne cerca de 100 mil aposentados no país, classificou o aumento de R$ 20 ao salário mínimo como uma "traição"."Fomos traídos. O governo não teve responsabilidade nem ética com os aposentados", diz Manoel José da Silva, presidente do Conselho fiscal da Cobap.

FSP, 30/04/2004

4.29.2004

Presente de 1º de Maio: desemprego

PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O 1º de Maio se aproxima. Os trabalhadores têm pouco a comemorar. Um deles chegou à Presidência da República, algo inédito na história do país. Mas a situação social não mudou para melhor. Chegou a piorar em certos sentidos.A política econômica brasileira continua prisioneira dos mesmos preconceitos e esquemas de poder que prevaleceram no governo anterior. A economia cresce lentamente. O mercado de trabalho ainda não saiu da UTI. A taxa de desemprego está aumentando.É uma lástima. Tenho sido, muito a contragosto, um crítico da política econômica e dos seus resultados sociais. Gostaria que o governo acertasse um pouco mais. Primeiro porque se trata do governo do Brasil. O país não agüenta mais a continuação das políticas econômicas medíocres dos últimos dez anos.Segundo porque os beneficiários de um fracasso do presidente Lula estão aí, à vista de todos. O único partido que oferece, por enquanto, uma alternativa nacional é o PSDB, com Fernando Henrique Cardoso ou algum outro político mais ou menos equivalente. Os tucanos já estão assanhadíssimos, mal disfarçam a sua satisfação com os tropeços do governo Lula. Os demais partidos conservadores são, essencialmente, coligações de lideranças regionais e não parecem capazes de oferecer candidaturas viáveis à Presidência da República em 2006. Por outro lado, não existe até agora opção visível à esquerda de Lula.Que situação! Veja, leitor, o quadro paradoxal que começa a se desenhar. Se o governo Lula terminar em fracasso, uma das principais causas terá sido a sua incapacidade de se desvencilhar do modelo macroeconômico seguido no período FHC. E quem colheria os frutos de um eventual fracasso? Possivelmente, os próprios políticos que implantaram esse modelo... A política econômica é o presente de grego de FHC para Lula.O eleitorado brasileiro estava bastante sóbrio em 2002. É a minha impressão, pelo menos. A maioria não acreditava em promessas mirabolantes ou em soluções rápidas. O que se esperava do presidente Lula -e foi o que ele prometeu na campanha- era uma mudança gradual e cautelosa. Mas, frise-se, mudança -e não a simples continuação das teses, atitudes e políticas anteriores.É de espantar, por exemplo, o que está acontecendo com o salário mínimo. Brandindo exatamente os mesmos argumentos das administrações anteriores, o governo irá propor, pelo segundo ano consecutivo, um aumento insignificante do salário mínimo em termos reais.Ora, o presidente é, na origem, um operário, um homem do povo. O seu partido, o partido que ajudou a criar e lidera desde o início, é o "Partido dos Trabalhadores" (isso tudo parece pré-história). O governo tinha a obrigação de ter trabalhado duro para ter agora condições de dar um aumento razoável para o mínimo. Essa decisão ajudaria a distribuir renda e a reativar a demanda de consumo e o mercado interno, que andam muito deprimidos.Foram desanimadores os dados de desemprego e renda real, divulgados nos últimos dias pelo IBGE e por outras instituições. É verdade que essas estatísticas dizem respeito aos principais centros urbanos. É possível que nas cidades menores e nas áreas rurais o quadro não seja tão adverso. É verdade, também, que as pesquisas estão mostrando alguma recuperação do nível de emprego e dos rendimentos reais.No entanto, a recuperação em curso é muito modesta. Os salários reais permanecem deprimidos. Os empregos gerados são insuficientes para atender os que ingressam no mercado de trabalho. Em conseqüência, aumenta o desemprego.Em março, os jovens (com menos de 24 anos) representavam nada menos que 47% dos desocupados nas seis regiões metropolitanas investigadas pelo IBGE. Isso equivale a um total estimado de quase 1,3 milhão de jovens desempregados. É o exército industrial de reserva do narcotráfico e do crime organizado, como observou Hélio Jaguaribe.Existem meios de mudar essa situação? Sim, sem dúvida. Não estamos de forma nenhuma condenados à estagnação e ao desemprego. Mas ilude-se quem imagina ser possível melhorar a vida dos brasileiros sem abandonar o modelo econômico herdado do governo anterior.A herança é mesmo maldita. Continuá-la pode ser fatal para o governo Lula. Para o Brasil, a sua continuação significará provavelmente uma terceira década perdida em termos de desenvolvimento.

Paulo Nogueira Batista Jr., 49, economista e professor da FGV-EAESP, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É autor do livro "A Economia como Ela É..." (Boitempo Editorial, 3ª edição, 2002).E-mail - pnbjr@attglobal.net

FSP, 29/04/2004

4.28.2004

Desemprego sobe e IBGE culpa juros altos

Taxa vai para 12,8% em março; empresários estão "frustrados" com política monetária, diz autor da pesquisa

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Depois de oscilações discretas nos últimos dois meses, a taxa de desemprego subiu com mais força em março, para 12,8%. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), autor da pesquisa, apontou a "frustração" dos empresários com a velocidade da redução dos juros como o motivo do desemprego mais alto."Havia no início do ano a expectativa dos investidores de queda maior dos juros. Com os juros muito elevados, não houve abertura de novas vagas em número suficiente para absorver a demanda", disse Cimar Azeredo Pereira, gerente da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE.O Banco Central promoveu em 2004 duas reduções nos juros básicos da economia (Selic), ambas de apenas 0,25 ponto percentual. A taxa está em 16%.Para Estêvão Kopschitz, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mais do que a parada da queda da Selic no início do ano, o desemprego elevado é reflexo ainda do juro alto praticado ao longo de todo o ano de 2003. Segundo ele, os efeitos da política monetária têm defasagem sobre o mercado de trabalho.Mais pessoas no mercadoA taxa de desemprego é 0,8 ponto percentual mais alta do que a de fevereiro (12%). Em relação a março do ano passado, quando o desemprego havia sido de 12,1%, o aumento foi de 0,7 ponto.De acordo com o IBGE, a expansão da taxa do desemprego aconteceu principalmente por causa do ingresso de mais pessoas no mercado de trabalho em março, sem que novos empregos tenham sido criados num nível suficiente para cobrir toda a procura.Para Pereira, já era previsto um crescimento na taxa em março, quando tradicionalmente sobe a demanda por trabalho. "Já se esperava uma alta, mas não dessa ordem, o que é preocupante."Com mais trabalhadores buscando uma recolocação, a PEA (População Economicamente Ativa) subiu 2,7% na comparação com março do ano passado. O número de desocupados cresceu 8,4% e atingiu 2,725 milhões de trabalhadores. De um ano para o outro, houve uma expansão de 211 mil pessoas na quantidade de desempregados.Já o número de vagas criadas (medida pela ocupação) subiu numa intensidade menor: 1,9% -ou 341 mil pessoas- em relação a março do ano passado.O único indicador positivo, disse Pereira, é a renda, que cresceu pelo terceiro mês na comparação mensal e tem caído cada vez menos em relação ao ano passado. O rendimento médio real registrou alta de 1,4% ante fevereiro e foi para R$ 873,9.Houve retração de 2,4% em relação ao ano passado -menos do que o recuo de 5,7% registrado em fevereiro. No ano passado, as quedas eram bem mais intensas -em julho, a renda chegou a cair 16,4%.Para Pereira, os dados de março revelam que "não há um quadro favorável" do mercado de trabalho. Entre os fatores negativos, cita que "quase a totalidade" da geração de novos empregos tem acontecido por meio da informalidade.Cresceu em 10,1% o número de pessoas ocupadas por conta própria (em sua maioria camelôs e gente que vive de biscates) na comparação anual.
FSP, 28/04/2004

Desemprego em Alta

A taxa de desemprego atingiu 12,8% da população economicamente ativa das seis maiores regiões metropolitanas do Brasil em março, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Após cair em outubro e dezembro de 2003, o desemprego voltou a apresentar tendência de alta nos três primeiros meses de 2004.Esse desempenho do mercado de trabalho parece estar relacionado à interrupção da queda da taxa de juros no início do ano. Após corte de dez pontos percentuais durante o segundo semestre de 2003, o BC manteve a taxa básica em 16,5% ao ano em janeiro e fevereiro de 2004, contrariando as expectativas de empresários. Com a manutenção dos juros, as empresas revisaram suas perspectivas de produção e de investimento, reduzindo a abertura de novas vagas. Enquanto isso, a procura por emprego aumentou. O total dos desempregados alcançou 2,7 milhões de pessoas em março deste ano, 211 mil acima do que fora observado no mesmo mês do ano passado.Por sua vez, a renda do trabalhador apresentou uma desaceleração no processo de queda pelo quinto mês consecutivo, sobretudo devido às menores taxas de inflação. A renda média do trabalhador caiu 2,4% em março de 2004 em relação a março de 2003. Esse resultado mostra uma melhora no cenário desde novembro, quando a queda na renda foi de 13%, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Dada a precarização das relações de trabalho, os empregados sem carteira assinada registraram a maior queda de rendimento (4,3%) em relação a março de 2003. Em termos nominais, a renda média do trabalho foi de R$ 873,90, o equivalente a 3,6 salários mínimos.Enfim, se há uma tênue melhora na renda dos trabalhadores, as perspectivas para o mercado de trabalho permanecem pouco animadoras, dado que os juros continuam muito altos e as projeções de crescimento baixas para mudar o quadro do desemprego. Também recomendam cautela as incertezas do cenário internacional, com as crescentes evidências de que os EUA se aproximam de uma elevação de sua taxa de juros.
Editorial da FOLHA DE SÃO PAULO de 28 de abril de 2004

4.25.2004

Exterior não explica perda de empregos nos EUA

GUY DE JONQUIERES
DO "FINANCIAL TIMES"
Dois temores estão alimentando a revolta nos Estados Unidos sobre a terceirização "offshore", que levou o Senado a rejeitar recentemente contratos federais para empresas que executam o trabalho no exterior. Ambos os temores são extremamente exagerados, e as premissas que os sustentam, amplamente falsas.Um temor é que países de baixo custo como a Índia, que fornecem a clientes norte-americanos serviços que vão desde centros de atendimento telefônico até software, são os culpados pela recuperação sem empregos ("jobless recovery"). O outro é que os empregos de colarinho-branco de todo tipo agora estão ameaçados.Não se sabe exatamente quantos empregos do setor de serviços foram para o exterior. Mas até as estimativas mais alarmantes sugerem que, na tecnologia da informação, a indústria estratégica norte-americana por excelência, eles representam no máximo 10% do emprego total. Algumas estimativas do setor situam o índice em menos de 2%.Os números são vagos em parte porque os empregos criados no exterior não equivalem aos empregos perdidos no país. Em uma economia dinâmica, as mudanças tecnológicas e a pressão para reduzir custos causam contínuas perdas de empregos. A internet já está suplantando muitas funções de centros de atendimento, e os computadores estão ficando mais inteligentes para escrever códigos de software. Grande parte do emprego nessas atividades nos Estados Unidos provavelmente nunca voltará da Índia.Como salientou Catherine Mann, do Instituto para Economia Internacional, muitas medições de perda de empregos nos Estados Unidos também são exageradas porque se baseiam nos níveis de emprego de 2001, época do pico do boom das "pontocom". Mas várias categorias de desenvolvimento de software hoje empregam mais pessoas do que em 1999, um ano de crescimento menos febril, mas ainda pujante. Além disso, o superávit norte-americano no setor de serviços continuou crescendo.No entanto as preocupações reais são sobre o futuro, e não a respeito do passado. Existem inúmeras advertências de que a perda de empregos vai se estender além da área manufatureira -grande parte da qual as empresas norte-americanas mandaram para o exterior a partir dos anos 80-, para ocupações qualificadas de todos os tipos em escritórios. Seria uma espécie de "esvaziamento" que os Estados Unidos jamais enfrentaram.AparênciasMuito se falou sobre uma previsão da Forrester Research de que 3,3 milhões de empregos norte-americanos em serviços irão para o exterior até 2015 e sobre uma estimativa da Universidade de Berkeley de que a terceirização "offshore" ameaça 14 milhões de empregos de colarinho-branco.Mas essas perdas são muito menos drásticas do que parecem: entre 7 milhões e 8 milhões de empregos norte-americanos desaparecem rotineiramente a cada três meses. Na década de 90, a destruição passou quase despercebida porque um número ainda maior foi criado para substituí-los.Ah, sim, respondem os apocalípticos, mas as coisas são diferentes hoje porque a nova concorrência se baseia não apenas em baixos custos mas em educação e qualificação. A Índia, dizem eles, com sua abundância de pessoas talentosas e motivadas, logo estará rivalizando com a supremacia norte-americana em inovação tecnológica.É verdade que mais empresas sediadas nos EUA estão mandando ao exterior o trabalho de desenvolvimento de produtos. Mas isso não é novidade. Líderes da indústria de TI (tecnologia da informação), como a International Business Machines e a Microsoft, fazem isso há anos, sem efeitos perversos evidentes para a economia norte-americana ou para sua supremacia tecnológica.O que os pessimistas não vêem é a importância crucial do estímulo do mercado em inovação lucrativa. O "empurrão" tecnológico por si só é um míssil desgovernado, como demonstraram as tentativas fracassadas da Europa de impulsionar suas indústrias de alta tecnologia subsidiando a pesquisa e o desenvolvimento.Nesse placar, as companhias norte-americanas têm duas vantagens estratégicas enormes: o estímulo comercial oferecido pelo mercado interno de maior demanda no mundo e uma capacidade de servi-lo de maneira rentável que é difícil de imitar. Em contraste, a proteção, a super-regulamentação e a concorrência fraca tornaram os serviços de todos os tipos de setores mais atrasados nas economias em desenvolvimento. Enquanto essa deficiência existir, as empresas desses países acharão difícil se desenvolver muito além da subcontratação.A verdade sobre o problema do mercado de trabalho nos Estados Unidos não é que os estrangeiros estejam destruindo o emprego: ironicamente, a histeria sobre a terceirização no exterior coincidiu com uma queda constante do índice de corte de empregos nos últimos nove meses. O problema é que os Estados Unidos não estão criando um número suficiente de novos empregos de qualidade.Não se pode acusar as empresas norte-americanas de contratar novos recrutas no exterior, às custas de empregos domésticos. O verdadeiro motivo é que, desde o fim da última recessão, mais de dois anos atrás, a produtividade norte-americana aumentou muito mais rapidamente que a demanda. Enquanto as empresas puderem operar de modo rentável com a capacidade existente, terão pouco incentivo para investir em expansão ou recrutar novos funcionários.Trabalhadores e políticos ansiosos deveriam parar de procurar conspirações internacionais que tentam minar o padrão de vida americano. A explicação para seu mal-estar está muito mais perto de casa. Nas palavras do slogan da campanha vitoriosa de Bill Clinton para a eleição presidencial de 1992: "É a economia, idiota".

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

4.23.2004

Renda cai pelo segundo mês na Grande SP

DA REPORTAGEM LOCAL

O rendimento médio dos trabalhadores registrou queda pelo segundo mês consecutivo na Grande São Paulo e passou a ser de R$ 953 em fevereiro. A diminuição foi de 3,3% na comparação com janeiro, segundo pesquisa da Fundação Seade e do Dieese.Na comparação com fevereiro do ano passado, os mais atingidos pela queda da renda foram os autônomos (diminuição de 6%).Paula Montagner, gerente da Fundação Seade, ressalta que a massa de rendimentos (soma de todos os salários dos trabalhadores) na Grande São Paulo só foi menor do que a registrada em fevereiro em duas ocasiões: nos mesmos meses de 1993 e de 2003. A redução em fevereiro foi de 4,8% entre os ocupados e de 3,7% entre os assalariados."Não vemos perspectivas de melhora neste mês. O desemprego pode até se estabilizar nesse patamar elevado em que está, mas a renda deve continuar caindo", afirma a gerente.Para a Força Sindical, a situação do desemprego no país "beira o caos". Em nota oficial, o presidente da central, Paulo Pereira da Silva, afirma que isso "é resultado de um governo que se curva para os especuladores e dá as costas aos trabalhadores". Para ele, a situação também é grave para quem está empregado, já que, pelo segundo mês consecutivo, o rendimento médio do trabalhador empregado também caiu."Chega de promessas. Precisamos de ações que resultem em melhorias", afirma. "Estamos tristemente assistindo o "espetáculo do crescimento" se transformar na tragédia do povo brasileiro", disse o sindicalista, pré-candidato à Prefeitura de São Paulo.Para a CUT (Central Única dos Trabalhadores), os dados da pesquisa reforçam a "necessidade de o governo agilizar ações para não aprofundar a crise social" no país. A central defende medidas como a adoção das frentes emergenciais de trabalho, a redução da jornada, a diminuição da taxa de juros e políticas para incrementar a produção, diz Luiz Marinho, presidente da CUT.Hoje, representantes da central vão se reunir com o presidente Lula para discutir a implementação das frentes emergenciais de trabalho e a recuperação do poder de compra do salário mínimo.Para a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), somente os setores exportadores continuarão a obter resultados positivos se não forem adotadas medidas para estimular a produção e os investimentos (como a redução das taxas de juros), afirma Claudio Vaz, diretor da federação. (CR e FF)

FSP, 23/04/2004

Governo destaca criação de vagas formais no trimestre

Emprego com carteira assinada tem o melhor início de ano desde 1992


Jorge Araújo/Folha Imagem
Desempregados fazem cadastro em centro da Força Sindical


JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em uma tentativa de atenuar o impacto da divulgação do índice de desemprego do Dieese, os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Ricardo Berzoini (Trabalho) destacaram ontem que o emprego formal (com registro em carteira) registrou no primeiro trimestre do ano o melhor resultado desde 1992.Segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), levantamento sobre o mercado formal realizado mensalmente pelo Ministério do Trabalho, nos três primeiros meses de 2004 foram criadas 347,4 mil vagas. Desde que a pesquisa foi criada, em 1992, esse é o melhor resultado para o período.Berzoini admitiu, no entanto, que a situação do desemprego é grave no país. "É óbvio que a situação é grave. Foram gerados 347 mil empregos formais, o que não anula os milhões desempregados que estão aí. O cenário do Caged é positivo, mas não é cor-de-rosa", declarou o ministro.Pelas contas de Berzoini, se o resultado do Caged para o primeiro trimestre se repetir ao longo do ano, seriam gerados 1,3 milhão de empregos com carteira assinada em 2004. "O desemprego continua muito elevado, mas isso é resultado da economia em 2003. Para segurar uma ameaça de inflação, foi preciso elevar juros, afetando a atividade econômica e o nível de emprego", disse.Para Palocci, o Brasil ainda não conseguiu enfrentar o problema do desemprego "na dimensão que o país exige". Apesar disso, ele pondera: "Se você olhar os dois primeiros meses e agora o terceiro mês do ano, o Caged mostra um aumento de vagas neste trimestre, mais do que nos últimos 12 anos [na comparação com o mesmo período]".Na avaliação de Berzoini, há uma discrepância entre a pesquisa do Dieese e o Caged. "Existe uma inconsistência entre as duas pesquisas, que usam metodologias diferentes. Temos que apurar por que existe um comportamento tão diferente", declarou o ministro Berzoini, evitando críticas à pesquisa do Dieese.Os dados do Caged ainda mostram que em março o comportamento do mercado formal foi pior que o verificado em fevereiro. Enquanto no segundo mês do ano foram criados 139 mil postos, em março foram registrados 108,2 mil novas vagas.

FSP, 23/04/2004

Desemprego volta a bater recorde em SP

Número de desempregados chega a 2 milhões na Grande SP; motivo dos cortes foi a baixa atividade econômica
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O desemprego voltou a crescer na região metropolitana de São Paulo e atingiu em março o nível recorde de 20,6% da PEA (população economicamente ativa). Em fevereiro, a taxa foi de 19,8%.Com o índice registrado no mês passado, o número de desempregados chegou a 2 milhões nas 39 cidades pesquisadas pela Fundação Seade e pelo Dieese -o que equivale a dizer que um em cada cinco trabalhadores da Grande São Paulo está desempregado.A taxa do mês passado é a mais elevada já registrada para um mês de março desde 1985, quando a Fundação Seade e o Dieese iniciaram a pesquisa. O índice se igualou aos meses de abril, maio e setembro de 2003. Essa foi a segunda alta consecutiva do desemprego na região metropolitana.O aumento do desemprego em março ocorreu porque houve o fechamento de 94 mil ocupações -87 mil vagas só na indústria. Como 20 mil pessoas deixaram de procurar emprego no mês passado -saíram da PEA-, o contingente de desempregados cresceu em 74 mil pessoas em março."O número de desempregados só não foi maior porque muitas pessoas deixam de procurar trabalho no primeiro trimestre do ano. Em média, entre 100 mil e 120 mil pessoas, principalmente estudantes e mulheres", diz Paula Montagner, gerente de análise da Fundação Seade. A explicação vai na contramão do que diz o governo -que o desemprego aumenta porque mais pessoas voltam ao mercado de trabalho.O desempenho negativo da taxa de desemprego em março já era esperado, avalia a pesquisadora. "Mas foi surpresa uma eliminação tão intensa de postos de trabalho", diz. Só no setor industrial a queda no nível de ocupação foi de 5,3% -a maior já verificada para um mês de março."Com a renda em queda, não há consumo. Isso reduz a atividade econômica, e o mercado interno não é capaz de sustentar os níveis de produção da indústria. Os segmentos que tiveram desempenho positivo estão sempre ligados à exportação", afirma.Os cortes de vagas foram maiores na indústria de alimentos (queda de 16% na ocupação) -reflexo da queda nos rendimentos- e no segmento gráfico e de papel (-10,1%) -com o fim da produção de material didático. Quem mais perdeu postos na indústria foram os autônomos.Enquanto os dados da Fundação Seade e do Dieese apontam para fechamento de vagas em março nos setores privado e público (foram 23 mil vagas cortadas nesse último), as pesquisas da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram a criação de vagas porque só levam em conta o setor privado do mercado formal de trabalho."Os assalariados com carteira do setor privado, que é o que mede o Caged, representam 40,6% do total de trabalhadores ocupados da região metropolitana de São Paulo", diz a gerente. No caso da Fiesp, são coletadas informações de 47 sindicatos patronais.No setor de serviços foram eliminadas 27 mil vagas, e no comércio, 15 mil. Já nos serviços domésticos e na construção civil foram abertas 35 mil vagas.

FSP, 23/04/2004

Crescimento da China derruba a pobreza mundial

Expansão do país ajuda a melhorar as estimativas sobre miseráveis, diz relatório do Banco Mundial; África piora
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
A pobreza no mundo caiu nos últimos anos, segundo o principal indicador de renda usado pelo Banco Mundial (Bird) para medir melhorias sociais. O resultado foi puxado sobretudo pela China. Na América Latina, a pobreza ficou praticamente estagnada. Na África, cresceu.Em 1990, 1,219 bilhão de pessoas viviam com menos de US$ 1 por dia, o que representava 27,9% da população mundial. Em 2001, eram 1,101 bilhão (21,3%). No mesmo período, o número de chineses com menos de US$ 1 por dia caiu de 377 milhões (o equivalente a 33% do total de habitantes do país) para 212 milhões (16,6%).Se a comparação for feita com base em dados de 1981, a pobreza mundial caiu à metade. Naquele ano, 39,5% da população mundial vivia com menos de US$ 1 diário.Os dados fazem parte do acompanhamento que o Bird faz tendo em vista as chamadas Metas do Milênio -objetivos de melhoria em vários campos da área social.Excluindo os dados da China, também há uma queda da pobreza mundial, mas em menor proporção. Eram 26,1% da população do planeta com menos de US$ 1 em 1990, ante 22,8% em 2001.Segundo o Bird, em termos globais as metas deverão ser alcançadas. A instituição ressaltou, no entanto, que a África ficará para trás. "A África é o ponto central da pobreza. Quando se olha para educação, saúde e ambiente, fica claro que os objetivos não serão alcançados", disse James Wolfensohn, presidente do Bird.Em 1990, 11,3% da população da América Latina e do Caribe vivia com menos de US$ 1 por dia. Em 2001, o percentual caiu para 9,5%. No entanto, em termos absolutos, o número de pobres na região subiu. De 49 milhões de pessoas passou para 50 milhões. Ou seja, a parcela de pobres caiu porque a população aumentou no período.Na África Subsaariana, a população pobre cresceu tanto em termos proporcionais quanto em números absolutos. Em 1990, eram 227 milhões de africanos daquela parte do continente com renda inferior a US$ 1 por dia, ou 44,6% da população. Em 2001, a parcela de pobres medida por esse indicador subiu para 46,5% (314 milhões de pessoas).Outro dado que mede a condição de pobreza na África é a taxa de mortalidade infantil, que ficou praticamente estagnada na região. Em 1990, de cada mil crianças, 178 morriam antes de completar cinco anos. Em 2000, o número caiu para 171.A meta do milênio para a pobreza é chegar ao ano de 2015 com 734 milhões de pessoas vivendo com menos de US$ 1 por dia, ou 12,5% da população mundial. As Metas do Milênio foram definidas em setembro de 2000, endossadas por 189 países.

FSP, 23/04/2004

4.19.2004

Ricardo Antunes: ''Vejo derrotas do PT nas eleições''

Entrevista / Ricardo Antunes
Sônia Araripe e Rodrigo de Almeida

Nome de destaque no bloco que viu o Partido dos Trabalhadores nascer e hoje está desencantado, o cientista político e professor da Universidade de Campinas Ricardo Antunes está desenvolvendo uma nova pesquisa. Com a autoridade de quem viveu a mudança do partido nos seus intestinos, Antunes quer entender melhor o que vem se passando com o PT desde que assumiu o governo. “Não há dúvidas. O PT se desvertebrou”.

Ele está na Itália, a convite da Universidade de Roma, para explicar lá fora sua tese. Antunes entende que era preciso buscar alianças para governar, mas lamenta que Luiz Inácio Lula da Silva tenha procurado apoio justamente na ala política mais conservadora. O professor critica o modelo econômico – “é a financeirização da economia” – e acredita que o enfrentamento recente do governo argentino de Néstor Kirchner em relação ao Fundo Monetário Internacional é um bom exemplo.

Aos 51 anos, o paulista confessa que se sente desiludido com o sonho de ver um partido trabalhista no poder. “Esperávamos um outro governo.” E prevê tempos difíceis, com direito a derrotas, nas próximas eleições municipais para o PT.

Que avaliação o senhor faz do governo Lula?

- Transcorridos um ano e alguns meses do governo Lula, o balanço é muito decepcionante. Nas políticas econômica, social, dos transgênicos, da Previdência, em relação aos juros e ao sistema financeiro, em todas as questões centrais, é a negação da programática defendida pelo PT nos últimos 24 anos.

Qual a raiz dessa decepção? Está na coalizão que o governo construiu no Congresso?

- O elemento explicativo não é uno. São vários. Um: a década de 90 transformou profundamente o país. Basta dizer que 60% da classe trabalhadora economicamente ativa estão informalizados. O setor produtivo estatal foi todo privatizado. A financeirização da economia foi muito intensa, num processo de desindustrialização. Paralelamente foi uma década muito dura para os partidos de esquerda e socialistas. Tudo isso compõe o chão social da mudança. Dois: o PT fez um trânsito forte em sua política, de um partido vinculado às lutas sociais para um partido calibrado segundo o termômetro da institucionalidade. A cada ano, o PT passou a se preocupar com a eleição seguinte: para vereador, para deputado, para governador, para presidente. Tornou-se um partido dentro da ordem, como os demais. Três: para chegar ao poder, depois de três derrotas, o PT fez a avaliação - na minha opinião equivocada - de que deveria ampliar a política de alianças de forma ilimitada. Portanto, a vitória de 2002 perdeu sua coluna e diluiu-se a tal ponto que hoje o PT depende de José Sarney, de ACM, de Jáder Barbalho, o velho esquema de sustentação que existe no Parlamento brasileiro.

Mas para governar não é preciso fazer alianças?

- O PT não está errado em fazer alianças. O problema é que o partido compreendeu que deveria chegar ao poder diluindo seu programa, desvertebrando sua estrutura e se aliando com quem domina este país há 500 anos. Ao fazer isto, passou a defender, a partir de 2002, o oposto do que pregou durante 24 anos. Isto é que é apavorante e o enigma do governo do PT. A sua política no governo é antípoda à sua política na oposição. É legítimo a um partido se aliar quando o ''aliar-se'' é parte da concretização e das possibilidades da sua vitória política para implementação do seu ideário. O PT não fez isso.

Qual o peso da ''herança maldita'' que o PT atribui ao governo FH?

- A chamada herança maldita é verdadeira. A década de 90 foi a desertificação neoliberal. A Carta aos Brasileiros, feita antes das eleições de 2002, e o acordo do governo Fernando Henrique com o FMI atrelavam-se à política econômica do governo seguinte. Tanto que foi condição imposta pelo FMI que os candidatos à Presidência se manifestassem publicamente se concordavam com o acordo assinado naquele fim de mandato. Néstor Kirchner herdou uma herança mais nefasta na Argentina, que levou ao limite o neoliberalismo e foi ao fundo do poço. Mas impôs limites ao FMI. A Argentina era talvez o único país na América Latina com certa herança de conquistas sociais, advindas do peronismo, que o distinguiam do restante da América Latina e que foram solapadas. Ainda assim, o governo Kirchner - eleito sem segundo turno - iniciou uma política de dizer para o FMI: ''Essa política de o país produzir para sucção externa, para pagar juros da dívida interna e externa, está minguando as condições do povo.'' Se Kirchner soube fazer isso em condições mais difíceis, o que se esperava do governo Lula é que ele não fosse um paladino do FMI.
Mas a Argentina está pagando um preço alto. Há saída alternativa?
- Vamos por partes. O governo Lula cometeu outro erro básico deste seu um ano e meio: quando eleito poderia ter negociado com o sistema financeiro internacional, com 53 milhões de votos lhe dando ancoragem. Não fez isso. Lula quis se mostrar como o mais servil dos servis. Quis mostrar um encanto maior do que o governo FH tinha. Hoje, vemos sua base social em processo de erosão. As últimas pesquisas mostram que mais de 50% dizem que Lula está no caminho errado. A figura do presidente também sofre esse processo de erosão. Corremos o risco de ver o governo perder completamente a base social. Como o apoio do funcionalismo público.

O sr. acredita em um plano B?

- Acho que o governo Lula não tem plano B. Ninguém mostra durante um ano e meio, o mais aderente de todos, para depois tirar outra carta do baralho e dizer ''agora sou de oposição''. O PT comprometeu nesse tempo os quatro anos do seu governo. O máximo que pode ocorrer neste momento é um pequeno crescimento, mas para isso não é preciso oposição. Convenhamos, Serra tinha como proposta o crescimento, assim como Ciro.

Muitos analistas apontam a dificuldade atual dos Estados nacionais em gerir seus próprios rumos. Em um país sem recursos, é ainda mais complicado. É possível promover qualquer ruptura?

- Concordo com essa análise. O Estado nacional está solapado pelo sistema global do capital. Mas se a tese de que não há alternativa fosse verdadeira, não faria mais parte das lutas sociais da esquerda a luta pela Presidência da República. Como não penso isso, acho que o Estado nacional teve seu poder muito abalado. Mas olho para Brasil, México, Rússia, China, Argentina, Venezuela, Índia e vejo um conjunto de países que não são de Terceiro Mundo sem importância, mas não são potências. O governo Lula precisa ter esses países como aliados para exercitar um confronto com o sistema financeiro internacional, exercendo, inclusive, um papel de liderança nesse processo. Lula escolheu o outro caminho. Ele tinha adquirido e consolidado um capital político e social muito forte para dizer que desse jeito não dá. Subir ao poder, roubar a agenda do Fernando Henrique e imaginar que isso agradaria a seu eleitorado não dá. Não há Duda Mendonça nem manipulação propagandista de tipo nenhum que dê jeito. Lula escolheu caminhar numa linha tênue, arriscada, de estar bem com o FMI e com a política externa norte-americana e paralelamente ser visto como um líder do Terceiro Mundo. Não vai dar certo.

É por ingenuidade, falta de conhecimento ou simplesmente uma estratégia equivocada?

- É difícil uma resposta conclusiva. O PT chegou agora a outro projeto de poder, de governo. É um projeto descabido, se pensarmos que é uma proposta da esquerda. É compatível com os projetos de centro e direita. O estranho - que fez com que (o sociólogo) Chico de Oliveira falasse na figura do ornitorrinco - é que a esquerda passe a ser portadora disso. Por um lado, o PT tem um projeto novo, uma aliança entre o mundo financeiro com o sindicalismo de negócios. E busca agradar à burocracia sindical, que chegou à mina que são os fundos públicos, com o mundo financeiro que quer a privatização da coisa pública. O PT não se preparou para resistir a esse capitalismo. Além disso, fez todas as concessões e alianças para chegar ao poder. É um poder que não tem mais a força do passado para que se possa utilizar a serviço da reconstituição da dignidade do brasileiro.

A agenda conservadora foi comum a muitos partidos de esquerda ao chegar ao poder. Foi o caso do partido socialista francês, o partido trabalhista inglês. Esse caminho rumo ao conservadorismo é inexorável?

- Inexorável não, tendência sim. É quase como se dissesse que tem uma jaula de ferro forte. Então, das duas uma: ou vou armado com maçarico para abrir essas grades e soltar a potência das lutas sociais ou fico prisioneiro delas. Na década de 90, o PT resistiu ao neoliberalismo, participou das lutas sociais contra a privatização, a financeirização da economia, os acordos do FMI, a Alca, mas foi pouco a pouco tornando-se menos vinculado às causas sociais e cada vez mais um partido político-eleitoral e institucional. Essa forma de partido meramente institucional e eleitoral está desgastada. Ela chega ao poder e age: se é esquerda, faz o que a direita gosta, e se é direita, faz o que a direita quer. Mas vale a pena lembrar que tanto com Mitterrand e Jospin, na França, Aznar na Espanha, para não falar do caso mais grotesco que é o de Blair na Inglaterra, com muita freqüência essa dita esquerda que tem chegado ao poder tem sido mais competente para desmontar e destruir as lutas e os direitos sociais. Porque, ao sair das lutas sociais e migrar para o aparelho de Estado, ela desorganiza parte das lutas sociais.

Teremos eleição este ano e em 2006. O PT tem um projeto de reeleição. Que impacto tudo isso pode ter nas urnas?

- O PT palaciano sob a batuta do Duda Mendonça (publicitário), o PT ''dudiano'', fez uma opção: ''Não me interessam mais os núcleos organizados que mantiveram as atividades do PT nos anos 80 e 90.'' Esses núcleos eram os trabalhadores rurais, os funcionários públicos e o operariado urbano e rural, além da classe média. Era o mundo ampliado da classe trabalhadora, que deu vitalidade, força, pujança e dinamismo para o PT nos anos 80 e 90. A política atual não é mais essa, se converteu num grande negócio. Os bancos, sim, devem estar batendo palmas. Devem estar se perguntando por que não puseram o Lula antes. Por outro lado, é evidente que essa política é de risco. Perder essa base social sem ampliar a outra é um risco muito grande. Antevejo, e é só uma intuição, derrotas muito grandes nas próximas eleições, porque o eleitorado vai procurar a coerência do partido.

Mas a oposição também não está com uma proposta diferente. E tem o fardo dos maus resultados do passado.

- A oposição, PSDB e PFL, perdeu a eleição de 2002. Os dois partidos, que sustentaram o governo FH, ficaram um ano completamente estupefatos com o continuísmo do governo Lula no que diz respeito à economia. Mas o episódio Waldomiro deu a percepção de que há, muito na intimidade do núcleo do poder, uma abertura para a corrupção. Foi o trunfo que as oposições esperavam. Imagina nós ouvirmos a essa altura o Malan, o Mendonça de Barros, o próprio Fernando Henrique dizerem que Lula está descuidando da dimensão social? Em que mundo estamos? Esse quadro cria uma sensação muito estranha, e a oposição percebeu que, na política, o PT também é igual aos demais. O PT criticava a corrupção do PFL, do governo FH, mas no primeiro ano, no núcleo do poder, deu mostras de que nem tudo é brandura, nem tudo é anticorrupção no espaço do PT. Para não falar do problema de Santo André e de vários outros problemas que maculam um pouco a trajetória do PT. Isso fez com que a oposição partisse de uma surpresa inicial para um momento atual de puro escárnio, de pura crucificação. Hoje é o momento de dizer assim: vamos derrotar o PT nas eleições municipais para preparar a sucessão. Isso implode o projeto que o PT tinha da reeleição.

Qual o seu sentimento em relação ao PT? É de decepção? Frustração?

- O PT, quer a gente goste mais ou goste menos, foi a mais ousada tentativa de um projeto de esquerda, de força e vitalidade. No meu entender, perdeu essa força e essa vitalidade, e hoje é um partido que não pode mais ser compreendido como um partido de esquerda, se se imagina um partido de esquerda com cara socialista, com desenho contrário à ordem atual. E nesse sentido o PT é o partido da ordem. Nós tínhamos a expectativa de que o governo Lula resgatasse a dignidade do povo brasileiro, que resgatasse a profunda dívida social que o Estado brasileiro tem com nossas classes trabalhadoras. É triste constatar que, no tempo transcorrido deste governo, a dívida social não teve num ponto sequer esse pagamento. E ainda está se ampliando.

JORNAL DO BRASIL em 19 de abril de 2004

4.16.2004

Fila do desemprego volta a crescer nos EUA

Diretor do Fed não teme inflação

DA REDAÇÃO
O número de pedidos de seguro-desemprego voltou a crescer nos EUA, o que conteve um pouco as especulações sobre um possível aumento nos juros do país.Segundo o Departamento de Trabalho, houve 360 mil novos pedidos, um acréscimo de 30 mil. Mas esse indicador é considerado bastante volátil. Um quadro mais completo será conhecido no final do mês, com a divulgação dos números sobre o desemprego.Anteontem, a divulgação de índices de inflação acima do esperado nos EUA ampliou a perspectiva de que o Federal Reserve (banco central americano) terá de elevar a taxa de juros antes do previsto. Juros maiores afetam investimentos de maior risco, como ações e papéis de emergentes.Os mercados tiveram um dia sem grandes oscilações. O índice Dow Jones encerrou em ligeira alta de 0,19%. Já a Bolsa eletrônica Nasdaq perdeu 1,12%.Os títulos do Tesouro americano seguem indicando juros mais elevados. O retorno dos papéis de dez anos subiu a 4,40%.Na opinião de Ben Bernanke, um dos diretores do conselho do Federal Reserve, o nível ainda elevado de capacidade ociosas e o aumento da produtividade devem ajudar a conter a inflação nos próximos anos."Em minha visão, há ainda uma lacuna na produção, e isso deve continuar criando alguma pressão de baixa na inflação", afirmou Bernanke, após uma palestra em Chicago.

FSP, 16/04/2004

Proporção de miseráveis cresce 51% em SP

Segundo a FGV, em 1991 8% dos paulistanos eram indigentes e, em 2000, 12,1%; no Rio, taxa foi reduzida

MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO

A proporção de miseráveis cresceu 51% nos anos 90 no município de São Paulo, segundo o "Mapa do Fim da Fome 2", divulgado ontem pelo CPS (Centro de Políticas Sociais) da Fundação Getúlio Vargas em parceria com a organização não-governamental Ação pela Cidadania e com o Sesc-RJ.Em 1991, 8% dos paulistanos eram considerados miseráveis na avaliação da FGV. Em 2000, esse percentual aumentou para 12,1%.Em números absolutos, isso significa que, em 1991, 772 mil paulistanos viviam abaixo da linha da pobreza. Em 2000, o número de miseráveis subiu para 1,3 milhão de pessoas, uma variação de 63%.No mesmo período, o município do Rio registrou queda no número de miseráveis. A proporção caiu de 16,36% para 13,32% de 1991 para 2000. Em número absolutos, eram 897 mil em 1991 e passaram a ser 780 mil em 2000.Quem é o miserávelA FGV classifica como miseráveis pessoas com renda mensal per capita inferior a R$ 79- valor necessário, de acordo com preços de São Paulo, para garantir a ingestão mínima de alimentos recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS)."São Paulo foi a cidade que mais sofreu com a crise econômica que atingiu os centros metropolitanos brasileiros. A explosão de miséria pode ser explicada pelo aumento na taxa de desemprego", disse o economista Marcelo Neri, coordenador do CPS da FGV.Com base em dados da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, o pesquisador concluiu que, entre 2000 e 2002, a miséria explodiu nos municípios das regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro (excluindo as duas capitais). Até então, havia uma homogeneização crescente da pobreza nas capitais e em seu entorno.Entre 2000 e 2002, a proporção de miseráveis nas cidades vizinhas do Rio aumentou 18,25%, enquanto na vizinhança de São Paulo essa variação foi de 10,43%. Quando se analisa as capitais dos dois Estados, houve queda de 1,7% na proporção de miseráveis no Rio e um pequeno crescimento de 1,6% na capital paulista."Concluímos que inexistem políticas públicas de transferências de renda nos grandes centros. Grande parte da atenção do governo está voltada para os grotões do país", afirmou Neri.O estudo revela ainda que o Brasil tem 33% da sua população vivendo como miseráveis, o que representa 56 milhões de brasileiros. Segundo o trabalho, se cada brasileiro transferisse R$ 14,04 mensais de sua renda para os miseráveis do país, seria possível erradicar a fome. Cada miserável deveria receber R$ 33,15 por mês, em média, para superar a linha da pobreza. Por mês, seriam necessários R$ 2,4 bilhões para acabar com todos os indigentes do país.Não é possível comparar os resultados desse estudo com os dados do primeiro mapa, divulgado em 2001. Naquele ano, a FGV apontou a existência de 50 milhões de indigentes, ou 29,3% da população. "As bases de cálculo são diferentes", diz Neri.O mapa também fez um ranking da miséria por Estados e municípios brasileiros. São Paulo é o Estado com menor percentual de pessoas recebendo menos de R$ 79 reais por mês (14,3%), seguido de Santa Catarina (15,4%), Distrito Federal (17,1%), Rio Grande do Sul (18,4%) e Rio (19,5%).Os Estados com mais miseráveis são Maranhão (68,4%), Alagoas (63,8%), Piauí (63,3%), Ceará (58,7%) e Bahia (57,9%).
Endereço exclui do mercado de trabalho

DA SUCURSAL DO RIO
Dados do "Mapa do Fim da Fome 2" indicam que os favelados do Rio são estigmatizados no mercado de trabalho.Com base na renda dos habitantes da favela da Rocinha, palco da recente guerra do tráfico no Estado, o estudo descobriu que um não-favelado com as mesmas características de sexo, raça, idade e nível de escolaridade ganha até 90% a mais se morar na Lagoa. Se morar na Barra da Tijuca, o não-favelado recebe 78% a mais e, em Copacabana, 74% a mais."Possivelmente, a origem é fator preponderante nesse caso. Para um favelado é mais difícil se inserir no mercado de trabalho. Muitas vezes, ele é obrigado a omitir sua origem para conseguir um emprego", diz o economista Marcelo Neri, coordenador do CPS.O estudo da FGV é uma radiografia da qualidade de vida e da pobreza no Estado e no município do Rio. No Estado, as cidades mais pobres são São Francisco de Itabapoana (norte fluminense), com 44,7% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza (ganho mensal inferior a R$ 79 per capita), e Japeri (Baixada Fluminense), com 41,7%.AnáliseA novidade é que a pesquisa analisou a pobreza e a qualidade de vida por áreas da capital do Estado, que foi dividida em 32 subdistritos. A análise permitiu a localização física das regiões com condições sociais adversas.Os três subdistritos mais pobres da capital são Complexo do Alemão, com 29,4% de miseráveis, Santa Cruz (27,6%) e Jacarezinho (27,4%). Os três mais ricos são Botafogo, Copacabana e Lagoa -todos com menos de 4% de sua população vivendo abaixo da linha da pobreza.O estudo compara ainda as cinco regiões com mais alta renda (Lagoa, Barra da Tijuca, Botafogo, Copacabana e Tijuca) com as cinco maiores favelas do Rio (Alemão, Jacarezinho, Cidade de Deus, Maré e Rocinha).Em comparação com os trabalhadores das áreas mais ricas, os moradores dessas favelas trabalham mais e ganham menos. A renda média mensal é de R$ 405 ante R$ 2.145 no asfalto. Ao mesmo tempo, a jornada semanal média de trabalho é de 46 horas nas favelas -cinco horas a mais do que a das regiões de alta renda.O estudo mostra que, em média, um trabalhador do Alemão ou da Maré ganha R$ 2 por hora trabalhada, enquanto um ocupado da Lagoa, R$ 11,8.A taxa de desemprego também é maior nas favelas, chegando a 19%, ante 10% nas áreas mais ricas. Outro fator é a relação entre renda e a taxa de escolaridade. Cada ano a mais de estudo rende aos ocupados das área ricas mais dinheiro do que para os pobres.Por ano, os ricos recebem mais R$ 180,5; os pobres, R$ 65,9. Em média, os habitantes dos subdistritos mais ricos têm 11,9 anos completos de estudo contra 6,2 nas comunidades de baixa renda.

FSP, 16/04/2004

4.14.2004

Mais de 50% no país têm renda de até 2 salários

DA REPORTAGEM LOCAL

Mais da metade dos trabalhadores brasileiros acumulava em 2002 renda entre meio salário e dois salários mínimos mensais, segundo a Síntese de Indicadores Sociais divulgada ontem pelo IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).De acordo com o censo, dos 78,168 milhões de ocupados naquele ano, 9,5% recebiam até meio salário mínimo. Outros 17,6% ganhavam entre meio e um salário mínimo. E 26,3% dos ocupados, entre um e dois salários mínimos. Ainda segundo o levantamento, 12,3% estavam numa faixa de renda de dois a três salários mínimos mensais e 10% tinham remuneração de entre três e cinco mínimos. Somente 11,4% dos ocupados no país recebiam acima de cinco salários mínimos, diz o IBGE.Quando consideradas as regiões, o Nordeste e o Norte são as que apresentam os piores indicadores de rendimento. No Nordeste, 49,4% dos empregados sem carteira assinada recebiam até meio salário mínimo. Na região Norte, esse percentual era de 30,2% dos ocupados.Segundo o IBGE, Alagoas é o Estado que mais concentra ocupados, sem carteira assinada, com renda mensal de até meio salário mínimo: 58,3% dos trabalhadores.Sintoma óbvio, nas regiões mais ricas, o contingente de ocupados sem carteira assinada que têm renda abaixo de meio salário mínimo diminui. Correspondia a 17,4% dos ocupados no Sudeste e a 17,2% no Sul. Na região Sudeste, 37% dos empregados com carteira assinada recebem mais de dois salários mínimos. No Nordeste, não passam de 17,5% e, no Norte, de 21,8% dos ocupados. (JOSÉ ALAN DIAS)

FSP, 14/04/2004

Indústria de SP tem criação recorde de vagas

Setor abriu 13.381 postos de trabalho no 1º trimestre, melhor desempenho desde 1995; exportações puxam atividade

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL Impulsionada pelas exportações, a indústria paulista de transformação criou 13.381 vagas no primeiro trimestre deste ano, segundo pesquisa divulgada ontem pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).É o melhor desempenho do nível de emprego para um primeiro trimestre desde 1995, ano em que o levantamento da Fiesp passa a disponibilizar os dados para os primeiros três meses do ano. Na ocasião, foram abertos 34.588 postos com carteira assinada.A Fiesp considera, entretanto, que a comparação deve ser feita a partir de 1999. Nesse ano, o nível de emprego ficou em -2,87%, com o fechamento de 46.781 vagas.O diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, Claudio Vaz, explica que a indústria brasileira passou por transformações significativas e entrou em uma nova fase a partir de 1999. As mudanças ocorreram no perfil da indústria, nos métodos de produção e no contingente de trabalhadores."Houve ainda aumento de tecnologia, de exportações, além da mudança no regime cambial em 1999 [ano da desvalorização do real]. O setor industrial antes dessa data era completamente diferente. Só para lembrar, importávamos carvão em 1995", afirma.O desempenho positivo registrado no primeiro trimestre de 2004 -aumento de 0,88% no nível de emprego em relação ao mesmo período de 2003- ocorreu em razão dos setores exportadores. "As exportações estão sustentando o nível de atividade da indústria. O mercado interno ainda é uma incógnita, não deu sinais de aceleração", diz Vaz.Para ele, é importante destacar que o saldo entre contratações e demissões tem se mantido positivo há três meses. Em janeiro, a Fiesp registrou a abertura de 2.123 vagas na indústria. Em fevereiro, 7.442 postos, e, em março, 3.816. "É um crescimento moderado nas contratações, mas ele tem se sustentado."No mês passado, quando o nível de emprego registrou crescimento de 0,25% ante fevereiro, 29 dos 47 setores pesquisados pela Fiesp contrataram, 12 fecharam mais vagas do que abriram e 6 não registraram alteração.Os setores que mais elevaram o nível de emprego foram o de artefatos de papel, papelão e cortiça (aumento de 4,06% ante fevereiro); o de lâmpadas e aparelhos elétricos de iluminação (2,94%); o de calçados de Franca (2,25%); o de parafusos, rebites e similares (1,93%) e o de curtimento de couros e peles (1,90%)."Se considerarmos os que quantitativamente criaram mais vagas, por causa do número de trabalhadores que empregam, aparecem nessa lista o de veículos, máquinas, fiação e tecelagem e calçados", afirma.As maiores quedas foram registradas nos setores de mármores e granitos (-4,73%); bebidas em geral (-3,91%) e doces e conservas alimentícias (-1,72%).Em abril, Vaz acredita que o nível de emprego vá ser positivo, mas com resultado "modesto", por causa do fechamento de vagas temporárias criadas na Páscoa.Força do interiorA criação de vagas na indústria paulista está concentrada principalmente no interior.Entre as cidades que estão na "rota" do emprego no Estado, de acordo com o diretor da Fiesp, estão Limeira, Botucatu e Piracicaba. Nesses municípios, destacam-se atividades ligadas a empresas de autopeças, indústria do mobiliário e ao setor sucroalcooleiro, respectivamente.
FSP, 14/04/2004

Trabalho informal ocupa 34,1% da mão-de-obra, segundo o IBGE

DA SUCURSAL DO RIO
O novo estudo do IBGE mostra que, das pessoas ocupadas em 2002, 34,1% eram trabalhadores por conta própria cujo rendimento médio familiar era inferior a meio salário mínimo (R$ 200, na época). São, em sua maioria, camelôs e pessoas que sobrevivem de biscates, de bicos.Ao pesquisar a situação do mercado de trabalho em 2002, o IBGE confirmou também situações já detectadas por outros levantamentos. Mulheres e negros ganham, em média, menos do que homens brancos.O preço da hora de trabalho de uma mulher chega, em média, a custar 14,3% a menos do que aquela paga a um homem.A "Síntese dos Indicadores Sociais" também mostra que os ganhos a mais na escolaridade da mulher ainda não resultaram em igualdade no mercado de trabalho. Na população que não completou quatro anos de estudo (ou seja, não foi além da quarta série do ensino fundamental), as mulheres ganham 19% a menos do que os homens por hora trabalhada. Nesse grupo populacional, o rendimento médio dos homens é de R$ 2,10 por hora, enquanto as mulheres têm média de R$ 1,70.Entre homens e mulheres que já completaram 12 anos de estudo ou mais (ou seja, que ao menos completaram o ensino médio e ingressaram no ensino superior), o rendimento médio por hora trabalhada dos homens é de R$ 14,50, enquanto as mulheres recebem R$ 9,10 pela mesma hora. Quanto maior a escolaridade, maior a defasagem salarial.Os dados do IBGE confirmam que há um preconceito no mercado de trabalho, mas essa não é a única explicação para a diferença de rendimento. Como o IBGE não compara homens e mulheres da mesma profissão, a carreira escolhida acaba influenciando o rendimento médio. No Brasil, mulheres são, por exemplo, maioria entre os professores, categoria que, mesmo tendo o mesmo número de anos de estudo, recebe, em média, salários mais baixos do que médicos ou advogados.CriançasEm 2002, 263 mil crianças e adolescentes de 10 a 17 anos trabalhavam nas ruas no Brasil. Eles representavam 5,1% do total de 5,2 milhões de brasileiros dessa faixa etária que estavam ocupados. O trabalho infantil ou adolescente é uma realidade para 16,5% das famílias brasileiras com crianças ou adolescentes.O local mais comum que se verifica o trabalho infantil ou juvenil é, nas cidades, em lojas, fábricas e oficinas (35,2% do total) ou, no campo, em fazendas, sítios e granjas (34,5% do segmento).O trabalho nas ruas é mais freqüente nas regiões metropolitanas. A maior porcentagem foi encontrada na região metropolitana de Salvador, onde 22,9% das crianças e adolescentes trabalhavam em vias públicas.Outra característica do mercado de trabalho analisada pelo IBGE foi o perfil da ocupação dos jovens. Os dados mostram que mais da metade (63,1%) dos brasileiros que têm de 20 a 24 anos trabalham, sendo que 47,9% apenas trabalham, enquanto outros 15,2% conciliam trabalho e estudo. A porcentagem dos que somente estudam é de 11,6%.

FSP, 14/04/2004

4.11.2004

Tempo de prevenção às LER/Dort

MARIA JOSÉ O'NEILL e COSMO PALÁSIO DE MORAES JR.

A história da humanidade tem alguns momentos bastante interessantes que, embora jamais tenham sido tratados como fatos históricos, são, na verdade, os que realmente dividem a nossa caminhada e mudam todo o sentido da trajetória humana. Um deles, com certeza, diz respeito ao impreciso momento em que alguns homens entenderam que a eles caberia o uso do raciocínio e aos demais, apenas o uso das mãos. Ao longo dos tempos, chamaram isso de trabalho e, para garantir sua legitimidade, agregaram a ele conceitos filosóficos atribuindo sua origem ao desígnio dos deuses.Durante boa parte da história e mesmo nos dias atuais, esse velho paradigma segue norteando as relações humanas e, embora muitos afirmem que o trabalho liberta, o que se vê, na verdade, na maior parte do mundo são, ainda, as práticas da escravidão, muitas delas baseadas na diferença de cor da pele, de origem e de gênero. Em outros lugares, revestidos com a aparência da modernidade, o trabalho mata, mutila e adoece.Segundo estimativas da OIT (Organização Internacional do Trabalho), mais de 1,5 milhão de pessoas morrem todos os anos em razão de doenças relacionadas ao trabalho. Diretamente, o trabalho mata cerca de 355 mil pessoas anualmente -o Brasil é responsável por cerca de 1% de todas essas mortes. São números assustadores. O trabalho, definido como meio para garantir a vida e o desenvolvimento, mata muito mais do que as guerras, símbolo da irracionalidade e da tirania humanas.E, até aqui, estamos apenas tratando do lado visível da questão. É bom lembrar que existe um universo de dor e sofrimento a ser desvendado e que deve ser encarado com seriedade, pois, embora as LER (Lesões por Esforços Repetitivos) tenham sido detectadas pela primeira vez em 1700, até hoje são tratadas de forma velada e muitas vezes desrespeitosa, causando humilhação aos trabalhadores.
Entender os fatores que propiciam o surgimento das LER não é muito difícil mesmo para os leigos em saúde ocupacional
As LER ou Dort (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), nomenclatura adotada pelo INSS, são siglas que abrigam diversas doenças, tais como tendinite, tenossinovite, bursite e síndrome do túnel do carpo. Todas elas têm em comum a capacidade de causar grande sofrimento às pessoas e a dificuldade de caracterização devido à sua sutileza. Muitas, quando chegam de fato a ser diagnosticadas, já não permitem mais regressão dos quadros, levando o paciente a um nível de incapacitação não só para o trabalho, mas para grande parte das atividades cotidianas e sociais, como escrever, conduzir veículos, pegar filhos no colo etc.Os portadores dessas doenças pagam um preço muito alto pela falta de conhecimento e programas de prevenção, e a sociedade arca com os custos.O problema é um fenômeno mundial. Nos EUA, apenas em 1998, foram notificados 650 mil novos casos, sendo a LER responsável por dois terços do absenteísmo da maior economia do mundo, gerando um custo estimado pela Organização Mundial da Saúde em torno de US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões. No Brasil, onde as LER só foram reconhecidas como doença ocupacional em 1997, os números também assustam. Na pesquisa feita pelo Datafolha, 6% da população laborativa de São Paulo aponta diagnósticos de LER. O quadro torna-se ainda mais preocupante quando se sabe que apenas 2% das empresas emitem a Comunicação de Acidentes do Trabalho relativa às LER. Por trás da omissão, cresce o passivo trabalhista dessas empresas e, conseqüentemente, o assunto, mais cedo ou mais tarde, vai afetar a condição já precária de nossa Previdência Social.Entender os fatores que propiciam o surgimento das LER não é muito difícil mesmo para os leigos em saúde ocupacional: tarefas repetitivas e monótonas, ritmo acelerado de trabalho, excesso de jornadas e ausência de pausas, adoção de posturas inadequadas e fatores biopsicossociais, como pressões da chefia e metas mal ajustadas são comuns na grande maioria das empresas e raramente são associados aos danos causados aos trabalhadores. O interessante é que são, ao mesmo tempo, muitos desses fatores que inibem o desenvolvimento das empresas de forma consistente, prejudicando a produtividade e, por conseqüência, a competitividade.Nestes tempos de crise econômica, vale fazer uma ampla reflexão sobre os objetivos do trabalho, da saúde e da competitividade tanto para os empresários como para a sociedade, trazendo para dentro desse universo elementos que possam contribuir com o desenvolvimento holístico, e não apenas para o atendimento de necessidades de uns poucos.Esperamos que acordemos ainda a tempo de usar o respeito à vida e a sua dignidade como fator positivo para fazermos frente às necessidades de um mundo globalizado. Pode ser esse o caminho para que a forma de ser do povo brasileiro sirva como base para o verdadeiro progresso.

Maria José Pereira da Silva O'Neill, 47, jornalista, é presidente do Instituto Nacional de Prevenção às LER/Dort. Cosmo Palásio de Moraes Júnior, 42, técnico de segurança e trabalho, é coordenador do Grupo Virtual SESMT.

FSP, 11/04/2004

4.09.2004

19 millones de trabajadores urbanos están desocupados en América Latina



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Pese a la finalización del ciclo recesivo de 2002 y al asomo de una modesta recuperación económica en 2003, América Latina continua registrando altos niveles de desocupación, un deterioro en la calidad del empleo, el aumento de la informalidad en los nuevos puestos de trabajo, la caída de los salarios reales y la reducción de la productividad de su fuerza laboral.
Así lo constata el informe de la OIT, Panorama Laboral 2003, que indica además que actualmente 19 millones de trabajadores urbanos están desocupados en América Latina y el Caribe. “La tasa de desempleo urbano promedio-dice el informe- que alcanzó al 11 % en los tres primeros trimestres de 2003, es ligeramente inferior a la cifra observada para el mismo período durante 2002 (11.2%).” Sin embargo aún cuando aumentó en algo el empleo, el informe advierte que el mismo es de peor calidad, que la desocupación femenina tiende a agravarse y que casi uno de cada tres jóvenes está desempleado en América Latina.
“El sombrío balance que arrojan los resultados de 2003 -dice Agustín Muñoz, Director Regional de la OIT- corrobora nuestra preocupación de más largo aliento por el desempeño del modelo de desarrollo aplicado desde comienzos de los años noventa, que se ha caracterizado por dejar de lado los efectos sociales de las políticas.”
Al analizar la evolución del desempleo urbano por países, el informe observa un cuadro heterogéneo donde de nueve países considerados en los tres primeros trimestres de 2003 respecto de igual período en 2002, la desocupación urbana aumenta en Brasil (de 12% a 12.4%), en Ecuador (de 6.3% a 6.7%), en México (de 2.8% a 3.2%), en Uruguay (de 16.5% a 17.4 %) y en Venezuela (de 15.7% a 18.9%) mientras que se reduce en Argentina (-5.9 puntos porcentuales), Chile (-0.4 ), Colombia (-0.5), Costa Rica (-0.1), Panamá (-0.3) y Perú (-0.3).
El desempleo sigue afectando en mayor grado a las mujeres. Incluso en los países en los que se redujo el desempleo esa reducción fue menor en el caso de las mujeres que de los hombres. Así, en Argentina, la reducción de la tasa de desempleo en el primer semestre de 2003 respecto de igual período en 2002, fue más significativa para los hombres (6.1 porcentuales) que para las mujeres (4.7 porcentuales); en Chile, la tasa de desempleo de los hombres experimentó un descenso de 0.8 puntos porcentuales entre enero y setiembre de 2003 mientras que la de las mujeres se mantuvo constante; en Perú y Brasil, las tasas de desempleo masculinas se mantuvieron constantes mientras que las tasas de desempleo femeninas se redujeron en 0.4 y 0.8 puntos porcentuales respectivamente.
El desempleo de los jóvenes se eleva en 6 países en la región (Argentina, Brasil, México, Chile, Uruguay y Venezuela) de un total de 9 países examinados (incluyendo a Colombia, Costa Rica y Perú) hasta llegar a duplicar o estar cerca de doblar la tasa de desocupación total. En algunos países como en Argentina y Chile, la tasa de desocupación juvenil aumenta, aunque el desempleo total se reduce.
Al observar una reducción en – 0.5% de la productividad media de la región en los primeros tres trimestres de 2003 en comparación con similar período del año pasado, el informe de la OIT estima que la caída de este indicador tiende a sugerir que la mayoría de los nuevos ocupados tiene un bajo nivel de productividad, lo que refleja un deterioro de la calidad del empleo que se traduce en mayor informalidad. En tal sentido, el Panorama Laboral de la OIT, que con su actual edición de 2003 cumple 10 años de existencia, constata al analizar el comportamiento de la estructura ocupacional en América Latina y el Caribe durante los dos últimos lustros:
El aumento de la informalización del empleo: de cada diez nuevos empleos generados desde 1990, aproximadamente 7 han sido informales;
La tendencia a la terciarización del empleo: 9.4 de cada 10 nuevos empleos generados desde 1990 corresponden al sector de servicios;
La persistencia de la precarización laboral: sólo 4 de cada 10 nuevos empleos tienen acceso a los servicios de seguridad social y únicamente 2 de cada 10 ocupados en el sector informal cuentan con protección social.
“Más de la mitad de la fuerza de trabajo en América Latina- afirma el Director Regional de la OIT, Agustín Muñoz- enfrenta problemas de desempleo e informalidad. La inequidad distributiva y el hecho de que más de 4 de cada 10 latinoamericanos reciban ingresos insuficientes para satisfacer sus necesidades básicas, ha contribuido a erosionar la cohesión social dificultando la gobernabilidad”.
El informe de la OIT comprueba además una reducción del poder adquisitivo del salario mínimo en la región que se contrajo en -1.6% en promedio como consecuencia de los bajos ajustes salariales y del impacto de la inflación. Así, los salarios mínimos reales experimentaron una fuerte caída en Venezuela (-15.9% y Uruguay (-15%), contracciones en Bolivia (-0.8%), Ecuador (-3.9%), México(-0.3%), y Perú (-1.9%), aumentos en Brasil (1%), Chile (0.9%) y Costa Rica (0.5%), mientras que en Argentina y Colombia se conserva prácticamente constante. En cuanto al promedio de los salarios industriales, la región experimenta una contracción promedio de -4.8%, debido básicamente a las caídas de este indicador en Argentina (-14.1%), Brasil (-5.9%), Ecuador (-5.2%), Uruguay (-14%) y Venezuela (-19.8%).
La OIT llama la atención sobre la influencia del aumento del nivel inflacionario sobre los niveles salariales y constata que en los 3 primeros trimestres de 2003 la inflación promedio en la región alcanzó al 10.2 %, por sobre el 7.7% registrado en similar período en 2002, con una especial incidencia de las tasas observadas en Argentina (18.5%), Brasil (15.9%), Paraguay (16%), Uruguay (23.1%) y Venezuela (33.1%).
Tomando como indicadores un conjunto de factores tales como el comportamiento del empleo, los ingresos y la productividad, el informe de la OIT analiza el desempeño laboral de los países de la región en 2003 (enero-setiembre). Así, Chile, Costa Rica, El Salvador y Perú, registran avances significativos; Honduras y Argentina avances moderados; Bolivia, Colombia y Panamá, estancamiento; Brasil y México, retrocesos moderados y Ecuador, Paraguay, Uruguay y Venezuela, retrocesos.
“En síntesis -resume el Panorama Laboral 2003- si bien hay un cierto progreso laboral respecto del año anterior como consecuencia de la incipiente recuperación económica, éste no es lo suficientemente extendido entre los países como para revertir la significativa caída del empleo registrada en 2002 en la región”.
Con el objeto de reducir lo que el informe llama “los déficit de trabajo decente”, la OIT plantea, entre otras propuestas:
La aplicación de políticas macroeconómicas que tiendan a atenuar los ciclos económicos y a estabilizar el crecimiento para lograr una mejoría de la situación laboral de los países y la reducción de las desigualdades y de la pobreza.Una modernización laboral basada en el aumento de la productividad antes que en la reducción de los costos laborales, lo que implica dar énfasis a la inversión en capacitación y a la innovación tecnológica.La necesidad de una salida productiva a la crisis en el campo de la microempresa, pequeña empresa y economía informal, basada en el desarrollo del mercado interno.Una estrategia integrada de expansión de las capacidades de empleabilidad y la provisión de condiciones mínimas de protección.La puesta en marcha de un diálogo social integrador entre el gobierno, los empleadores y los trabajadores, así como de la modernización y dotación de una mayor capacidad técnica de los ministerios del trabajo, junto con el fortalecimiento de las organizaciones de empleadores y de los sindicatos.
OIT, 09/04/2004

4.06.2004

Reformas custam caro a líderes europeus

População pune Schröder e Chirac eleitoralmente por causa de projeto de mudança do Estado do Bem-Estar Social



















Robert Michael - France Presse
Dezenas de milhares protestam contra reformas, em Berlim

A globalização faz que várias empresas européias deixem o continente atrás de mão-de-obra barata

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

A reforma do Estado do Bem-Estar Social europeu, embora necessária, está se provando bastante impopular. Basta observar a catastrófica derrota do partido do presidente Jacques Chirac (conservador) nas eleições regionais francesas e o recente fracasso do centro-esquerda alemão, do chanceler (premiê) Gerhard Schröder, em pleitos estaduais, ambos motivados pela intenção popular de punir o governo central, não pela força da oposição.O tema é controverso. Por que a reforma é vista, pela maioria dos especialistas, como necessária? Que medidas deveriam ser aplicadas para corrigir as falhas do sistema, considerado o mais completo no que se tange aos serviços oferecidos à população? Eis as perguntas que fazem que os autores da reforma -conservadores franceses, social-democratas alemães ou nacionalistas de direita italianos- sejam alvo da ira popular.De acordo com especialistas consultados pela Folha, a reforma é necessária por duas razões: a globalização e o envelhecimento da população européia. "A globalização faz que várias empresas européias deixem o continente em busca de mão-de-obra barata na Ásia ou na América Latina", explicou Philippe Norel, co-autor de "Economie Internationale"."Ademais, a população européia vive mais tempo por conta dos avanços da medicina e das melhores condições de vida existentes no continente atualmente, o que, aliás, só existe graças ao Estado do Bem-Estar Social. Soma-se a isso o fato de os índices de natalidade serem muito baixos nos países europeus. Assim, um número cada vez mais baixo de pessoas tem de sustentar uma quantidade cada vez maior de idosos e de aposentados. Ora, a conta é simples: o sistema tem de ser reformado porque, caso contrário, irá à bancarrota", acrescentou.O modo como a reforma vem sendo executada na França e na Alemanha é bastante similar, embora os alemães já tenham introduzido mais etapas da mudança de seu Estado do Bem-Estar Social que os franceses. Para defender seu projeto, Schröder disse que era "preciso reformar o sistema para garantir sua sobrevivência". Já Chirac afirmou que a alteração é necessária para "assegurar o financiamento do sistema no futuro".O maior problema para ambos é que a situação econômica dos dois países não é das melhores há algum tempo. No caso alemão, o crescimento econômico é risível desde o início da década de 90, e o desemprego não recua a menos de 10% há meses. A França ainda apresentou um crescimento econômico razoável até 2002, mas o desemprego também é alto -9,6% no geral, 21% entre os menores de 25 anos.Com isso, como salientou Michael Kreile, da Universidade Humboldt (Alemanha), as pessoas ficam ainda mais avessas à idéia de abrir mão de benefícios sociais conquistados ao longo de mais de um século. "O sistema de proteção social alemão é o mais antigo e tradicional do mundo, já que foi criado pelo chanceler Otto von Bismarck na segunda metade do século 19. Ora, não será fácil convencer a população, que vem perdendo seu poder aquisitivo há alguns anos, a abrir mão de seus benefícios", analisou Kreile.Preocupado em "fazer um pouco de socialismo para evitar a ascensão dos socialistas", Bismarck criou um projeto que redefiniu as tarefas do Estado, que, a partir de então, deveria garantir "o bem-estar de toda a população". Isso foi o embrião que inspirou o britânico William Beveridge, cujo plano delineou os grandes princípios do Estado do Bem-Estar Social, tão popular na Europa desde seu lançamento, em 1942.Na Itália, o premiê Silvio Berlusconi ainda não foi punido eleitoralmente -talvez pelo simples fato de que ainda não houve eleição desde que sua reforma do sistema de aposentadoria foi apresentada no Parlamento. Há dez dias, contudo, centenas de milhares de italianos encheram as ruas de diversas cidades do país para protestar contra o projeto do governo.O projeto de Berlusconi ainda não prevê, como na França e na Alemanha, a flexibilização do mercado de trabalho, que permitirá que as empresas despeçam seus funcionários com mais facilidade, a redução da cobertura do sistema público de saúde, que obrigará as pessoas a pagar mais por suas visitas aos médicos, ou a redução dos benefícios destinados aos desempregados.O Pacto de Estabilidade europeu, que zela pelo valor do euro -a moeda comum-, e as medidas econômicas preconizadas pelo Banco Central Europeu estão no centro da controvérsia. Segundo o pacto, os países-membros da zona do euro, a maior parte dos atuais 15 Estados da União Européia, não podem ter um déficit público superior a 3% de seu PIB (total de riquezas). Com isso, de acordo com seus críticos, os governos não podem ter uma política mais agressiva, sendo impedidos de despender mais para não pôr em risco o euro.Para seus defensores, o Pacto de Estabilidade europeu é necessário para que a zona do euro possa manter-se estável e para que os governos não sejam obrigados a aumentar os impostos para cobrir o crescimento da dívida pública.
FSP, 06/04/2004

Operário morre em fábrica da Votorantim

Um acidente num silo da fábrica de cimento da Votorantim em Rio Branco do Sul, região metropolitana de Curitiba (PR), provocou a morte de um operário e ferimentos em outros dois, na manhã de ontem.Amauri Gonçalves de Oliveira, 25, morreu soterrado pelo cimento ao cair de uma altura de cerca de 30 metros. Segundo os bombeiros, nenhum dos três usava equipamentos de segurança adequados.Em nota, a Votorantim disse que os três pertenciam à empresa JS Serviços Técnicos, mas que a fábrica tomou as providências de assistência às famílias. A reportagem não conseguiu contato com a empresa prestadora do serviço.
(DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA)

4.04.2004

Desemprego alavanca roubos no trânsito

Pesquisa mostra que este é o crime que mais sofre impacto dos problemas socioeconômicos na cidade de São Paulo

SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

O roubo no trânsito -a pedestres, motoristas e passageiros- é, na capital paulista, a modalidade criminosa que mais sofre o impacto do crescente desemprego, que já atinge quase 2 milhões de pessoas na região metropolitana.Numa escala de 0 a 100, é possível afirmar que o desemprego explica 85% da variação dos ataques em carros, 80% da oscilação dos casos em ônibus e 74% dos altos e baixos dos assaltos a pedestres.São índices altos. Para ter uma idéia da proximidade dessa relação basta dizer que, se as oscilações percentuais de ambos os fenômenos -desemprego e roubos- fossem sempre proporcionais ao longo dos meses, as taxas seriam 100% -12 pontos a mais.Esse é o conceito de variância -uma forma de aferir em que medida, em um certo período, dois fenômenos se relacionam. E a sintonia entre o aumento do número de desempregados e explosão de casos de roubos no trânsito da capital é a principal constatação de uma pesquisa feita pelo Uniemp (Fórum Permanente Universidade-Empresa), fundação ligada à Unicamp, em parceria com a Secretaria de Estado da Segurança Pública.O governo cedeu aos pesquisadores a totalidade dos boletins de ocorrência registrados na capital entre outubro de 2000 a setembro de 2003. E eles procuraram aferir o potencial de impacto em dezenas de crimes de duas das muitas variáveis tradicionalmente listadas para explicar a criminalidade."Não é nova a constatação da influência dos fatores socioeconômicos sobre a criminalidade. Essa é uma retórica antiga. Mas sempre se falou disso de forma ampla, sem que se apontasse que tipo de crime é afetado pelo desemprego e que tipo de desemprego afeta a criminalidade", explica o economista Leandro Piquet Carneiro, 39, professor do departamento de ciência política da Universidade de São Paulo e um dos cinco autores da pesquisa.Na busca de respostas, os estudiosos chegaram a uma curiosa conclusão: se o desemprego é acompanhado por um aumento maior dos roubos, a queda de renda tem um paralelo mais claro com o aumento de furtos -crimes menos agressivos e nos quais há menor exposição do autor.Na opinião do psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg, autor do livro "Cultura da Agressividade", o contraste tem raiz na própria diferença dos processos de marginalização impostos pelo desemprego e pela redução de renda."Quando o indivíduo é deslocado socialmente de maneira radical [pelo desemprego], ele tende a adotar comportamentos mais radicais em vários sentidos. Se o deslocamento se dá aos poucos [por uma perda crescente de renda], ele igualmente responde pouco a pouco a essa violência social", analisa Goldberg.E seqüestros, aumentam com a recessão? "Não é possível fazer correlações com episódios cujo universo estatístico não é significativo, mas podemos dizer que o maior potencial de impacto de um período de crise se dá sobre os índices dos crimes de oportunidade", afirma o economista norte-americano Clifford Alexandre Young, Ph.D em métodos quantitativos e psicologia social. "Porque é evidente que o afetado pelo desemprego não se associa imediatamente em quadrilha."Sem emprego e sem tudoSe as conclusões podem soar elitistas, os estudiosos apressam-se em explicar que o desemprego e a queda de renda são tomados, na pesquisa, como variáveis sintetizadoras de um contexto amplo. É como se fossem a gota d'água de uma processo no qual misturam-se, perigosamente, os elementos do desgastado tecido social."Estamos medindo também mecanismos indiretos de exclusão. Porque ficar sem emprego aqui, onde quase não há mecanismo de proteção social e o mercado de trabalho só encolhe, é bem diferente de ficar desempregado na Europa. Lá certamente o impacto do desemprego sobre a criminalidade é menor", diz Young.A falta de esperança de uma vida melhor seria a tônica por trás desse processo, como já anunciava o norte-americano Elliot Currie há 20 anos. Dizia ele: "As perspectivas pessimistas de encontrar um emprego decente nos mercados esfacelados das grandes cidades produzem um terreno fértil para a reprodução do crime".Esse seria o motivo pelo qual, mostram os números, o desemprego entre jovens de 15 a 17 anos e pessoas de mais de 40 anos -pais desses jovens- seria o que mais alimentaria o crime."Aqui temos um estado de mal-estar social. O sujeito não tem nenhuma chance de ter suas necessidades supridas fora do mercado de trabalho, e a sociedade só o reconhece pelo emprego que tem. O efeito psicológico disso é arrasador", afirma Nancy Cardia, especialista em psicologia social e coordenadora do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP.

Chefe da polícia diz que já é impossível reduzir crimes de oportunidade e aponta "urbanização" como a única saída
Para secretário, repressão está no limite

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma clara demonstração de coragem ou a tábua da salvação. Ainda não dá para saber exatamente o que as conclusões do estudo feito pelo Uniemp em parceria com a Secretaria da Segurança Pública vão representar para o governo tucano. Por um lado, a administração pode entrar para a história como a que ousou buscar as causas da violência e enfrentá-las. Por outro, talvez fique marcada como aquela que se agarrou a teses sociológicas para explicar a invencível criminalidade.O secretário da Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho, 42, diz que prefere o risco à falta de ousadia. Pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, ele afirma claramente que a repressão aos crimes de oportunidade chegou ao limite e propõe ações integradas entre os governos municipais para estancar o avanço dos índices. Leia os principais trechos da entrevista:

Saulo de Castro Abreu Filho - Qual a importância desta pesquisa? Se eu pudesse pedir a você uma relevância, seria que cada um entendesse que tem de fazer o seu papel. Eu gostaria que o cara fechasse a Folha e pensasse: "Realmente não há polícia que chegue". Um dia eu falei que a polícia chegou ao limite da repressão. P..., levei um pau! Aí eu mandei fazer este estudo. Porque uma coisa que me deixa muito irritado são essas políticas públicas nas quais as pessoas trabalham como avestruz: fingem que o problema não existe para, quem sabe, ele desaparecer. Mas ele só piora. Se 85% dos crimes estão associados ao desemprego, esquece polícia.

Folha - Por que a cidade é insegura?
Abreu Filho - Porque é uma cidade muito ilegal, com um ambiente permissivo. É uma cidade desregrada. Há a sensação de que aqui tudo pode, tudo vale. A coisa da tolerância zero qual é? Não é dar pau no bandido, é não deixar começar. Não deixar esculachar.

Folha - Então a solução não existe, porque São Paulo não vai nascer e crescer de novo.
Abreu Filho - Existe! Tem de regrar. Qual o plano diretor daqui?

Folha - Mas existe em quanto tempo? O cidadão tem pressa.
Abreu Filho - Ah, mas nós estamos trabalhando com uma geração. A angústia traz a simplicidade da resposta. Aí vem o viés: "Tem de pôr polícia na rua". E os governantes vão caindo nessa armadilha. O Jânio [Quadros] criou uma guarda municipal, e ela só foi aumentando. E o Benedito Mariano [secretário municipal de Segurança Urbana] disse que vai aumentar para 7.000 homens. Caiu na armadilha, na tentação da resposta imediata! Vamos encher de polícia e dar tiro em pobre?

Folha - Então, se polícia na rua é imediatismo, qual a solução?
Abreu Filho - Precisava de polícia. E colocamos. São 23 mil PMs.

Folha - É suficiente?
Abreu Filho - É, mas vamos ter mais uns 2.000.
Folha - Mas se a solução está fora da polícia...
Abreu Filho - A gente está chamando todo mundo -governo federal e principalmente prefeituras- para trabalhar junto. Não tem jeito. Tem que chamar o subprefeito, acionar os Consegs [Conselhos Comunitários de Segurança], atacar no varejo. Mas você pega a ata de reunião dos Consegs e vem assim: rua esburacada, falta de iluminação, ponto distante. Mas eu não ponho ponto! Isso sem falar nas questões estruturais. OK, o dia que o país se desenvolver.... Mas eu vou ser assaltado até o país se desenvolver?

Folha - É essa a pergunta.
Abreu Filho - Pois é. Da parte da polícia, qual é o limite? A prisão. E nós vamos continuar prendendo.

Folha - Ao menos os jovens de hoje vão ver solução?
Abreu Filho - Acho que sim. Mas a primeira coisa é parar de acreditar que a polícia vai dar jeito nisso. A polícia vai fazer o quê? Vai lidar com a sensação de impunidade.

Folha - O desemprego e a desorganização urbana são os maiores problemas do país?
Abreu Filho - São. Se você pegar a década de 90, quando esse quadro foi mais grave, quando desabou.

Folha - Mas a década de 90 foi dominada pelo governo do seu partido. Ele fracassou?
Abreu Filho - Eu acho que foi feito o possível e não se criou uma esperança de algo que se sabia que não se iria cumprir. É o que eu estou fazendo aqui, agora. Eu poderia fazer uma coisa demagógica: "Fique tranqüila, ponho 10 mil policiais e o bandido vai fugir para Minas". Não vai. Não vamos resolver com polícia o problema de dois terços de exclusão social. Tem de ter saúde, educação...

Folha - Mas o seu partido está no governo do Estado há dez anos. Não resolveu por quê?
Abreu Filho - Não resolveu porque as intervenções no município nunca foram bem coordenadas entre Estado e prefeitura.

Folha - A repressão foi ao limite?
Abreu Filho - Acho que alguns [crimes] nós vamos conseguir reduzir ainda mais, os mais organizados, com quadrilha. Outros, esses contra o patrimônio, dificilmente. Posso até dizer que é impossível reduzir esses índices.

Folha - Cite, então, duas ações que poderiam ajudar.
Abreu Filho - Urbanizar favelas e cortiços. Esse ambiente introjeta o conceito de vale-tudo. Vale montar barraca e vender CD falso. Se não der dinheiro, vale meter o revólver na sua cara. A primeira coisa é intolerância. Intolerância com desmanches, por exemplo. Tem pai de família morrendo porque o fulano quer um farol mais barato. Não vai ter. Manda trancar tudo. Que se dane. Não dá para ficar no paliativo: toma chazinho, florais, acupuntura. Tudo muito simpático, mas tem hora que não tem jeito: tem de tocar um antibiótico goela abaixo.

Folha - É para fazer isso que o sr. quer ser prefeito?
Abreu Filho - Quero que qualquer prefeito faça. Fazer algo que ninguém tenha tido peito. Política de segurança tem de ser como política social, não como essa mania de comprar carro, arma, montar guarda. Poxa, o Mariano é sociólogo e agora o grande bastião dele é guardinha andar armado! Não é razoável que alguém pense assim. (SÍLVIA CORRÊA)

FSP, 04/04/2004

4.03.2004

Emprego nos EUA tem maior alta em 4 anos

Em março, foram criadas 308 mil vagas, o maior número desde 2000; cresce expectativa de que o Fed eleve os juros
DA REDAÇÃO
A economia norte-americana criou 308 mil vagas em março, o maior crescimento em quase quatro anos. O saldo superou as estimativas mais otimistas dos analistas, para quem o dado pode ser um indício de que a recuperação econômica finalmente começa a atingir o mercado de trabalho. A Casa Branca classificou-o como uma "poderosa confirmação" de que a economia se fortalece.A expansão não era tão vigorosa desde abril de 2000, época da bolha no mercado de ações, inflada pela expansão da internet. Na ocasião, também haviam sido criados 308 mil empregos. Na média, analistas previam um saldo de 120 mil postos de trabalho.Mas a taxa de desemprego em março subiu um décimo, para 5,7%, devido à entrada de 179 mil pessoas no mercado de trabalho.O saldo positivo elevou a expectativa de que o Federal Reserve (o banco central dos EUA) poderá elevar a taxa de juros, em 1% ao ano desde junho de 2003, antes do fim do ano, como era estimado por analistas. A não-criação de empregos é mencionada pelo Fed como um dos principais fatores que impedem a elevação dos juros, no menor nível em 46 anos.Juros mais altos nos EUA significam chances de ganhos mais elevados no país, o que deve afetar negativamente o fluxo de capitais para mercados emergentes, que oferecem retorno e risco maiores. Não por acaso, o risco-país do Brasil, por exemplo, subiu 3,9%.Mas um eventual aumento foi condicionado à repetição da criação de vagas nos próximos meses. "Sem dúvida, [o Fed] argumentará que ainda poderá ser paciente e que o dado de um mês não estabelece uma tendência. Mas a complacência do mercado em relação à paciência do Fed será testada com esse resultado", disse Daragh Maher, estrategista do ING Financial Markets.O Departamento de Trabalho ainda revisou os números do primeiro bimestre: em vez dos 118 mil postos originalmente anunciados, foram criadas 205 mil vagas. A média mensal de 171 mil empregos no primeiro trimestre é a mais elevada desde 2000."O número realinha as condições do emprego com todos os outros dados econômicos", disse Mickey Levy, economista-chefe do Banc of America Securities.O consumo e a produção industrial já demonstram vigor desde 2003, quando o país cresceu 3,1%, o ritmo mais elevado desde 2000.Peso eleitoral"A economia está crescendo, e as pessoas, encontrando trabalho. Criamos 759 mil empregos desde agosto. A economia é forte e está se fortalecendo. Vocês podem entender por que estou otimista ao citar esses números porque lembro o que passamos", afirmou o presidente dos EUA, George W. Bush. O secretário do Tesouro, John Snow, afirmou enxergar nos indicadores de março "o efeito positivo" da política do governo.O mercado de trabalho é um dos pontos fracos do governo Bush. Desde que ele assumiu, em 2001, cerca de 1,9 milhão de empregos foram perdidos, dado que tem sido explorado pelo candidato democrata, John Kerry, na campanha para as eleições presidenciais, em novembro."Após três anos de fraca atividade econômica, o relatório é notícia bem-vinda para os que encontraram emprego. [Mas] nos custou três anos, US$ 3 trilhões em novas dívidas e US$ 500 bilhões em déficits anuais para alcançarmos", disse o deputado democrata Rahm Emmanuel.A atual fase de retomada do crescimento sem geração de emprego ("jobless recovery") supera a ocorrida após a recessão de 1990-91, as únicas fases de expansão sem criação de vagas pós-Segunda Guerra Mundial. Na época, foram necessários 14 meses para o número de empregos voltar ao nível em que estava quando a recessão acabou. Agora, são 28 meses.
Indústria pára de fechar vagas após 43 meses

DA REDAÇÃO A criação de 308 mil empregos em março ocorreu com a expansão nos principais setores da economia norte-americana. O único a não crescer foi a indústria, que, porém, deixou de fechar vagas depois de 43 meses -o saldo foi zero.A construção civil, com 71 mil postos de trabalho, foi quem mais influenciou o saldo positivo. O setor havia fechado 21 mil empregos em fevereiro, resultado atribuído ao inverno rigoroso nos EUA.O setor de saúde e assistência social contribuiu com 36 mil vagas, e o varejo, com 47 mil. O resultado deste último, porém, foi atribuído ao fim de uma greve em supermercados na Califórnia.Economistas avaliam que o país precisa criar cerca de 150 mil postos de trabalho por mês para manter a taxa de desemprego sob controle. Em janeiro, foram criadas 159 mil vagas, e, em fevereiro, 46 mil."As empresas compreenderam que devem contratar para seguir em curso em uma economia que cresce rapidamente", disse o economista Joel Naroff. A alta da produtividade é uma das explicações para a expansão sem gerar empregos.Os dados influenciaram os mercados. O índice Dow Jones, o principal da Bolsa de Nova York, subiu 0,94%, e o Nasdaq, que reúne as ações das empresas de alta tecnologia, 2,09%.Nem todo o relatório, porém, mostrou dados positivos.Não houve variação no indicador de horas extras. A média semanal de horas trabalhadas caiu de 33,8 para 33,7 no mês passado. Na atividade manufatureira, essa média caiu de 41 para 40,9 horas semanais.Segundo analistas, esses dados indicam que os empregadores não vêem muita necessidade de contratações para suprir a demanda vigente.O número de empregados que não trabalham em período integral cresceu de 4,4 milhões em fevereiro para 4,7 milhões.Segundo o relatório, um trabalhador fica desempregado em média mais de 20 semanas, o maior período em 20 anos.
FSP, 03/04/2004

Desempregados se unem em ato público e fazem protesto no RS

Movimento reúne 550 pessoas em duas cidades
LÉO GERCHMANNDA
AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Um grupo integrado por 550 desempregados realizou ato público nas duas maiores cidades gaúchas depois de Porto Alegre (Caxias do Sul e Pelotas) ontem e, na segunda-feira, pretendem chegar à capital do Rio Grande do Sul para protestar em frente ao Palácio Piratini (sede do governo).O movimento não é um ato isolado. Trata-se de ações promovidas pelo MTD (Movimento dos Trabalhadores Desempregados), que surgiu há quatro anos no Rio Grande do Sul, já conta com 1.500 militantes e começa a ter ramificações em outros Estados, como Santa Catarina, Rio e Bahia.Ontem, o grupo, formado por 350 de Caxias do Sul e 200 de Pelotas, estavam em frente ao Sine (Sistema Nacional de Emprego) nas duas cidades, para uma ""vigília", conforme definiu o coordenador Mauro Cruz, que usa os protestos para mostrar o crescimento do movimento e prevê sua ampliação no país. ""O desemprego é um flagelo."Na última quarta, os 350 que fazem vigília em Caxias do Sul haviam invadido o prédio da agência central do Banrisul (Banco do Estado do Rio Grande do Sul) em Caxias do Sul. Depois, dirigiram-se aos prédios do Sine.O MTD exige pagamento de recursos prometidos a 576 pessoas que atuam nas frentes de trabalho criadas pelo governo do Estado, atrasados desde fevereiro -são R$ 280 mensais por pessoa, a título de salário. Pede, ainda, a criação de 1.800 vagas e a doação de 1.800 cestas básicas.""Um convênio já foi assinado, em dezembro, para essas 576 pessoas integrarem a frente de trabalho. Precisamos mais. O governador [Germano Rigotto, do PMDB] se prontificou a criar 2.510 frentes de trabalho para grupos de produção, que incluem reciclagem, confecção e outras atividades, com a utilização de no mínimo cinco pessoas e qualificação profissional", diz Cruz.O governo depositou ontem em uma conta R$ 94 mil para o pagamento dos benefícios. O secretário substituto do Trabalho, Rafael Zancanaro, justificou o atraso pela demora do MTD em prestar contas da primeira parcela paga. O prazo teria vencido no dia 20 de fevereiro.

FSP, de 03/04/2004