4.28.2004

Desemprego sobe e IBGE culpa juros altos

Taxa vai para 12,8% em março; empresários estão "frustrados" com política monetária, diz autor da pesquisa

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Depois de oscilações discretas nos últimos dois meses, a taxa de desemprego subiu com mais força em março, para 12,8%. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), autor da pesquisa, apontou a "frustração" dos empresários com a velocidade da redução dos juros como o motivo do desemprego mais alto."Havia no início do ano a expectativa dos investidores de queda maior dos juros. Com os juros muito elevados, não houve abertura de novas vagas em número suficiente para absorver a demanda", disse Cimar Azeredo Pereira, gerente da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE.O Banco Central promoveu em 2004 duas reduções nos juros básicos da economia (Selic), ambas de apenas 0,25 ponto percentual. A taxa está em 16%.Para Estêvão Kopschitz, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mais do que a parada da queda da Selic no início do ano, o desemprego elevado é reflexo ainda do juro alto praticado ao longo de todo o ano de 2003. Segundo ele, os efeitos da política monetária têm defasagem sobre o mercado de trabalho.Mais pessoas no mercadoA taxa de desemprego é 0,8 ponto percentual mais alta do que a de fevereiro (12%). Em relação a março do ano passado, quando o desemprego havia sido de 12,1%, o aumento foi de 0,7 ponto.De acordo com o IBGE, a expansão da taxa do desemprego aconteceu principalmente por causa do ingresso de mais pessoas no mercado de trabalho em março, sem que novos empregos tenham sido criados num nível suficiente para cobrir toda a procura.Para Pereira, já era previsto um crescimento na taxa em março, quando tradicionalmente sobe a demanda por trabalho. "Já se esperava uma alta, mas não dessa ordem, o que é preocupante."Com mais trabalhadores buscando uma recolocação, a PEA (População Economicamente Ativa) subiu 2,7% na comparação com março do ano passado. O número de desocupados cresceu 8,4% e atingiu 2,725 milhões de trabalhadores. De um ano para o outro, houve uma expansão de 211 mil pessoas na quantidade de desempregados.Já o número de vagas criadas (medida pela ocupação) subiu numa intensidade menor: 1,9% -ou 341 mil pessoas- em relação a março do ano passado.O único indicador positivo, disse Pereira, é a renda, que cresceu pelo terceiro mês na comparação mensal e tem caído cada vez menos em relação ao ano passado. O rendimento médio real registrou alta de 1,4% ante fevereiro e foi para R$ 873,9.Houve retração de 2,4% em relação ao ano passado -menos do que o recuo de 5,7% registrado em fevereiro. No ano passado, as quedas eram bem mais intensas -em julho, a renda chegou a cair 16,4%.Para Pereira, os dados de março revelam que "não há um quadro favorável" do mercado de trabalho. Entre os fatores negativos, cita que "quase a totalidade" da geração de novos empregos tem acontecido por meio da informalidade.Cresceu em 10,1% o número de pessoas ocupadas por conta própria (em sua maioria camelôs e gente que vive de biscates) na comparação anual.
FSP, 28/04/2004