9.29.2004

Indústria eleva hora extra e gera pouca vaga

Em agosto, mais da metade dos trabalhadores do setor estendeu a jornada; desemprego em SP é o menor do governo Lula

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em agosto, 50,6% dos trabalhadores assalariados na indústria da região metropolitana de São Paulo fizeram hora extra, ante 40,5% em julho. É o maior percentual desde fevereiro de 2003, mostra a Pesquisa de Emprego e Desemprego, divulgada ontem pela Fundação Seade e pelo Dieese.No mesmo período, a indústria gerou apenas 4.000 vagas, ou seja, um crescimento de 0,3%. O que, segundo especialistas, sugere que, em vez de contratar, as empresas intensificaram as horas extras (jornada acima de 44 horas por semana) para se ajustar ao aquecimento da economia. Em julho, a indústria não gerou vagas."
No momento em que não está muito claro se a recuperação vai se manter, você ajusta a princípio a produção com horas extras. As empresas fazem isso sempre que podem", diz Anselmo Luis dos Santos, economista e pesquisador do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho), da Unicamp.O movimento também ocorreu no comércio, setor que eliminou 22 mil ocupações: o percentual de trabalhadores que fizeram hora extra passou de 55,1% em julho para 60,8% no mês passado. Em serviços, que foi o setor que mais gerou vagas, houve apenas uma variação, de 35,1% para 35,8%.
A taxa de desemprego, segundo a pesquisa Seade/Dieese, recuou de 18,5% para 18,3% no mês passado. É o menor índice de desemprego do governo Lula.A redução no contingente de desempregados, no entanto, foi de apenas 9.000 pessoas no mês passado: apesar dos 68 mil postos de trabalho gerados em agosto, 59 mil pessoas passaram a procurar emprego, ou seja, entraram na PEA (População Economicamente Ativa), que é a soma de todos os que estão no mercado de trabalho, empregados ou não."Existe um certo otimismo que induziu as pessoas a procurar emprego", explica Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese. "Essa quantidade [9.000 a menos] é interior às registradas em meses anteriores", diz.
O número de ocupados cresceu principalmente em serviços (53 mil vagas geradas) e outros setores (33 mil postos de trabalho), categoria no qual se destacaram os serviços domésticos.
O assalariado com carteira de trabalho teve queda de 0,2% em julho sobre junho, e o sem carteira, de 1,3%. O de autônomos subiu 3,2%. A estimativa é que o total de desempregados na Grande São Paulo seja de 1,845 milhão.Após dois meses consecutivos de alta, a renda média do trabalhador recuou em julho na comparação com junho: passou de R$ 1.012 para R$ 1.008.
"A baixa qualidade do emprego que está sendo criado pode ter causado essa queda", diz o diretor adjunto de Produção e Análise de Dados da Fundação Seade, Sinésio Pires Ferreira.
Isso pode ser notado, diz ele, porque, apesar de a renda média por trabalhador ter caído, a massa salarial ficou praticamente estável: ou seja, mais pessoas foram contratadas por salários menores. Segundo Ganz, a expectativa é que neste mês aconteça uma redução mais acentuada no desemprego: "Especialmente a partir do quatro trimestre a taxa deve cair".

FOLHA DE SÃO PAULO
Berzoini diz que hora extra pode ser limitada

DO "AGORA"

O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, disse ontem que pode limitar a utilização de horas extras por empresas se isso atrapalhar a criação de empregos.
Uma pesquisa divulgada anteontem pelo Fundação Seade e pelo Dieese mostrou que a proporção de trabalhadores que fazem hora extra subiu de 40,2% em julho para 43,7% em agosto na região metropolitana de São Paulo.
O mesmo levantamento apontou que 50,6% dos trabalhadores assalariados na indústria da região metropolitana de São Paulo fizeram hora extra, ante 40,5% em julho. Isso significou o maior percentual desde o início do ano passado.No mesmo período, a indústria gerou apenas 4.000 vagas -um crescimento de apenas 0,3% em agosto sobre julho. Isso pode significar que, num primeiro momento de retomada econômica, as empresas podem estar intensificando as horas extras (jornada acima de 44 horas por semana) dos empregados, ao invés de abrir novos postos de trabalho.Em julho, por exemplo, não houve ampliação de quadro de funcionários da indústria paulista.
Dados da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) indicam que a atividade industrial paulista cresceu 10,4% em agosto sobre igual mês do ano passado e 1,8% na comparação com julho.Segundo Berzoini, hoje já existe um limite máximo de extensão da jornada de duas horas por dia ou o que estabelecer o acordo coletivo de determinadas categorias, que pode ser reduzido até a metade. "Se virmos que é uma tendência generalizada de utilizar horas extras ao invés de contratar, vamos propor uma medida legislativa que tenha o sentido de restringir e reduzir a utilização desse recurso", disse Berzoini.
Os empresários ainda não começaram a contratar pela falta de confiança, na opinião do ministro. Para ele, ainda há a idéia de que o crescimento do país não é sustentado.Berzoini firmou ontem um convênio com a Nestlé e com a GRSA no programa Primeiro Emprego (estímulo à contratação de jovens).
As duas empresas se comprometeram a criar 600 vagas de estágio a cada seis meses para resultarem, até 2006, em ao menos 2.000 efetivações.

9.27.2004

Idosos mantêm lugar no mercado de trabalho

Na Grande SP, grupo com mais de 60 anos soma 22% da População Economicamente Ativa; dia nacional é comemorado hoje



Dora Santini Tavares, 76, atua como atendente
na Pizza Hut do shopping Paulista;
segundo ela, "não é bom depender de ninguém'
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A idade não pode e não deve ser limite para o trabalho. É que o defende Dora Santini Tavares, 76, funcionária da Pizza Hut do shopping Paulista, em SP, onde trabalha há quase um ano como atendente. No meio dos colegas de trabalho -uma "rapaziada" ao redor de 20 anos-, Dora diz ter conquistado seu espaço no apertado mercado de trabalho com sua simpatia, vontade de viver e determinação. "Não é bom depender de ninguém."Com uma jornada diária de quatro horas, das 12h às 16h, e uma folga por semana, ela diz que o trabalho vale a pena na sua idade. "Fiquei parada durante 15 anos. Eu era uma pessoa deprimida e não me cuidava. Voltei a me sentir como há 20 anos", diz.
Dora faz parte de um grupo do mercado de trabalho que tem participação importante no total da PEA (População Economicamente Ativa) e na contribuição da renda familiar. Em 2003, a participação das pessoas com mais de 60 anos na PEA era de 21,9% na região metropolitana de São Paulo, segundo levantamento do Dieese e da Fundação Seade. Esse percentual tem se mantido nos últimos anos. Isso significa que 357 mil pessoas com mais de 60 anos faziam parte do mercado de trabalho. Dessas, 328 mil estavam ocupadas e 31 mil, desempregadas. "Existem mais idosos trabalhando na região metropolitana de São Paulo do que toda a população de muitas cidades do interior", diz Clemente Ganz Lucio, diretor-técnico do Dieese.
Os ocupados com mais de 60 anos estão mais concentrados no setor de serviços (52,8%) e no comércio (22,3%). Na indústria, a participação é de 11,9%. "Esses números mostram que, para melhorar a renda, o aposentado volta para o mercado de trabalho." Dos ocupados com mais de 60 anos, 43,9% são autônomos; 31,4%, assalariados; 9,8%, empregados domésticos e 9,7%, empregadores.
Renda familiar
"O idoso tem uma participação importante na renda da família, apesar de o rendimento dele ser menor do que o de outras faixas etárias", afirma Ganz Lucio. O rendimento médio mensal dos ocupados com mais de 60 anos na Grande São Paulo era de R$ 979 em 2003. O das pessoas na faixa de 40 a 59 anos, de R$ 1.215 e o do total de ocupados, de R$ 1.189.
No caso de Dora, o salário que recebe "é para comprar roupinhas, perfume e não ter de pedir dinheiro para o marido", que é aposentado. O plano de saúde e a cesta básica são considerados "um alívio" nas contas do mês.
Stanley Wu, 74, empacotador há sete anos do Pão de Açúcar de Pinheiros, diz que trabalha porque gosta e para complementar a renda. "A aposentadoria é pequena. Depois que comecei a trabalhar nunca faltou dinheiro em casa", afirma o chinês, que vive há 46 anos no Brasil.
Wu diz que o trabalho também é "um bom passatempo" na vida de um idoso -hoje (27 de setembro) o país comemora o Dia Nacional do Idoso. "Vivo sozinho, mas minha agenda está lotada." Das 13h às 19h, ele cumpre sua jornada de trabalho; duas vezes por semana, das 9h às 11h, e às vezes, aos sábados, faz ginástica, alongamento e hidromassagem.
Os idosos cumprem uma jornada semanal não muito diferente da da média dos ocupados, segundo o Dieese e a Fundação Seade. No total, os ocupados trabalham em média 44 horas por semana. Na faixa acima de 60 anos, 41 horas. Dieese e Seade também constataram que o assalariado com mais de 60 anos fica mais tempo no emprego (146 meses) do que assalariados de outras faixas etárias (112 meses, na média).
Contratações
A Pizza Hut e o grupo Pão de Açúcar abriram espaço para os trabalhadores idosos. A Pizza Hut tem 16 lojas em São Paulo, das quais nove possuem funcionários da terceira idade -são 12 ao todo. Até o dia 5 de outubro, estão abertas as inscrições para novas contratações. Podem ser feitas pelo site (http://www.pizzahutsp.com.br/). A empresa pretende empregar 25 idosos. O Pão de Açúcar deu início a um projeto de contratação de pessoas com mais de 55 anos em 1997. Hoje são 800.
FOLHA DE SÃO PAULO

9.20.2004

Indústria puxa emprego formal no ano

FABIANA FUTEMA
da Folha Online


A indústria de transformação foi a maior responsável pela geração de postos de trabalho com carteira assinada no ano. O setor gerou sozinho, de janeiro a agosto, 454.555 vagas formais de janeiro a agosto, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho.
Dentro da indústria, o ramo que mais se destacou no ano foi de alimentos, com a criação de 119.298 postos.
As vagas abertas pela indústria representaram 31% do total de postos formais criados no ano. De janeiro a agosto foram gerados 1,466 milhão de empregos formais. Foi o maior volume de vagas com carteia assinada para o período desde 1992, quando o Caged começou a ser feito.
Depois da indústria, o setor de serviços foi o maior gerador de postos formais do ano, com 383.52 vagas. Por ramo, o serviço de administração de imóveis liderou a criação de vagas com carteira do segmento, com 132.616 vagas.O comércio abriu 214.875 empregos com carteira assinada até agosto.
Entenda a pesquisa do Caged, sobre o emprego formal
da Folha Online

O Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do Ministério do Trabalho é uma pesquisa mensal sobre o comportamento do mercado formal de trabalho.Os dados da pesquisa são obtidos a partir de informações enviadas pelas empresas sobre admissões e demissões de funcionários.Como a pesquisa só mede o emprego com carteira assinada, o Caged exclui as informações sobre o desemprego informal, que aparece nas demais pesquisas de desemprego.
IBGE
A PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE é realizada mensalmente nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.A pesquisa do IBGE coleta dados em 38 mil domicílios e aponta o comportamento do desemprego, condição de atividade da população acima de dez anos, rendimento médio, posição na ocupação e vagas formais.
Dieese
Já a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) da Fundação Seade/Dieese é realizada mensalmente em 3.000 domicílios da região metropolitana de São Paulo.A pesquisa aponta o comportamento do desemprego, renda média e tipo de ocupação.
Fiesp
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) também realiza uma pesquisa mensal sobre o emprego industrial no Estado de São Paulo. A pesquisa é feita com base nas informações prestadas por 47 sindicatos patronais da indústria sobre a criação de vagas com carteira assinada nas empresas do setor.

Criação de emprego formal até agosto é a maior desde 92

FABIANA FUTEMA
da Folha Online
O mercado de trabalho criou 1,466 milhão de empregos com carteira assinada de janeiro a agosto deste ano. Foi o maior volume de vagas formais já geradas para o período desde 1992, quando a pesquisa do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) começou a ser feita.
Desse total, 229.757 postos de trabalho foram abertos em agosto, o que elevou em 0,94% o estoque de assalariados com carteira assinada. Esse volume de contratações também foi recorde para o mês de agosto. Nos últimos 12 meses foram geradas 1,433 milhão de vagas formais.
Segundo o Ministério do Trabalho, o desempenho do mercado de trabalho em agosto foi beneficiado pela expansão de todos os grandes setores de atividade econômica.
O maior crescimento foi registrado no setor de serviços, com a abertura de 74.040 vagas no mês passado, seguida pela indústria de transformação, com 72.168 postos de trabalho. O comércio gerou 50.478 empregos com carteira assinada.
Entre os ramos dos setores de atividade, destacaram-se o comércio varejista, com 41.389 postos de trabalho e indústria de alimentos e bebidas, com 24.917 vagas formais.

Cresce oferta de emprego para mais velho

Empresas nas grandes cidades procuram trabalhadores com 11 anos de estudo e com idade igual ou superior a 40

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Trabalhadores que freqüentaram a escola por, no mínimo, 11 anos e com pelo menos 40 anos de idade. Esse é o perfil profissional que o mercado de trabalho das grandes cidades passou a exigir dos candidatos a um emprego desde o segundo semestre de 2003, quando a economia começou a dar sinais de recuperação.
Estudo elaborado pelo Ministério do Trabalho, ao qual a Folha teve acesso, mostra que, entre julho de 2003 e julho deste ano, 98% das vagas oferecidas nas seis maiores regiões metropolitanas do país foram preenchidas por pessoas com 11 anos ou mais de estudo -isto é, com pelo menos o ensino médio completo.
Os dados, com base em informações da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revelam que 64% das pessoas que conseguiram emprego no período tinham 40 anos ou mais.
Para a coordenadora do Observatório do Mercado de Trabalho, Paula Montagner, a demanda por esse perfil de trabalhador não é surpresa. "As pessoas nessa faixa etária são justamente as que estudaram mais, porque viveram o milagre econômico [década de 70]. Elas têm mais escolaridade, estudaram em instituições de ensino de melhor qualidade, além de terem mais experiência", diz.
Na avaliação da coordenadora, esse comportamento do mercado de trabalho é típico dos períodos de retomada do crescimento econômico. Aconteceu em 2000, em menor escala, e se repete agora.Em processos de recuperação da economia, o mercado trabalho é marcado pelo excesso de oferta de mão-de-obra e somente os mais qualificados se sobressaem."Nesse primeiro momento de recuperação da economia, o mercado dá uma peneirada e escolhe quem tem mais experiência e escolaridade", afirma.Nas demais faixas de escolaridade, os dados revelam que houve praticamente estabilidade. Pessoas com até oito anos de estudo perderam postos no período (18.661 vagas). Entre nove e dez anos de escolaridade, o crescimento do emprego foi de apenas 30.630 vagas.
Habilidades
Além da escolaridade, ela relata que o mercado busca pessoas mais velhas porque têm mais experiência e habilidades. "As grandes empresas passaram por um processo de enxugamento muito intenso. Pessoas qualificadas perderam emprego. Agora, esses trabalhadores agregam um valor que médias e pequenas empresas querem aproveitar", diz Montagner.Na faixa entre 10 e 21 anos, a geração de empregos no período julho/2003-julho/2004 foi de 67.324 postos (8,6% do total). Entre 22 e 39 anos, o contingente foi maior: 215.817 postos, o que representa 27%.Na avaliação da coordenadora, embora os dados do IBGE sejam restritos às seis regiões metropolitanas, esse fenômeno deve estar acontecendo de forma generalizada nas grandes cidades. "Eu diria que pelo menos nas 22 regiões metropolitanas", acrescenta.Montagner afirma que as exceções ficam por conta dos empregos gerados no setor agrícola, na indústria extrativista e de transporte. "No Nordeste, a exigência também pode ser um pouco menor do que no restante do país", afirma.
Tempo de espera
Apesar da recuperação do emprego, a coordenadora afirma que ainda é preocupante o tempo que os desempregados passam procurando uma ocupação. De julho de 2003 para julho de 2004 cresceu o número de trabalhadores que deixaram ou perderam o emprego há mais de 12 meses. Em 2003, eles representavam 55,6% do total de desocupados. Em 2004, passaram para 61,3%."A nossa rede de proteção social não está preparada para isso. O desemprego não recebe o seguro-desemprego durante todo esse tempo. Eles contam com uma estratégia familiar para sobreviver."Os dados mostram ainda que o número de desocupados há menos de 12 meses caiu. De 38,5% do total de desempregados para 33,1%. A desocupação há menos de 30 dias ficou praticamente estável: de 5,8% para 5,4%.

(FOLHA DE SÃO PAULO)

Exigência de estudo é maior que a habitual

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A exigência de ensino médio completo como pré-requisito para um emprego surpreendeu o Ministério do Trabalho. Na avaliação da coordenadora do Observatório do Mercado de Trabalho, Paula Montagner, os 11 anos na escola estão num patamar mais elevado do que o da média cobrada pelos empregadores na hora da contratação de pessoal."Nunca observei na história recente do mercado de trabalho brasileiro uma concentração tão clara em pessoas com segundo grau completo", diz Montagner.O estudo do Ministério do Trabalho, com base nos dados da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revela ainda que está havendo uma crescente exclusão do mercado de trabalho de pessoas com menor escolaridade."Embora o contingente de desocupados mostre decréscimo no número daqueles com escolaridade menor que o ensino médio, o seu contingente na condição de ocupados praticamente não se alterou no período em análise, indicando que passam a integrar a população não ocupada", afirma o documento técnico.A coordenadora explica que a demanda por trabalhadores com mais anos de estudos pode ser justificada pelo excesso de mão-de-obra. Como a demanda por trabalho é muito grande, na tentativa de fazer um primeiro filtro entre os candidatos, se impõe esse limite. "Os custos para uma seleção são altos. É preciso fazer um corte para evitar uma procura muito grande."Por esse motivo, para evitar filas quilométricas nas portas das empresas, os departamentos de recursos humanos exigem o ensino médio completo como critério de seleção prévia.Para ela, depois que a demanda por emprego se acomodar em níveis mais baixos, a exigência pode não ser tão grande. "Depois de rebaixada a demanda, enquanto não houver mais tanta gente com esse perfil profissional, os mais jovens, por exemplo, passarão a ser absorvidos pelo mercado, se houver continuidade no crescimento da economia."A análise dos dados da pesquisa ainda permite concluir que a maior parte das pessoas que foram incorporadas à PEA (População Economicamente Ativa) nas regiões pesquisadas tinha escolaridade mais elevada.A conclusão vem dos seguintes fatos: houve queda pequena no número de desempregados com escolaridade igual ou superior ao ensino médio completo. No entanto quase a totalidade das vagas foi preenchida por pessoas com exatamente esse grau de educação. (JS)
(Folha de São Paulo)

Qualificado obtém vaga facilmente

DA REPORTAGEM LOCAL
Mara Melo, 48, secretária bilíngüe, e Álvaro Trilho, 40, do setor de seguros, não imaginavam que dois meses e meio após enfrentarem um processo de demissão estariam novamente empregados. Na Grande São Paulo, o trabalhador levava em julho, em média, 55 semanas para achar uma vaga, segundo a Fundação Seade e o Dieese.Demitida em janeiro, Mara teve o apoio da empresa para conseguir novo emprego. Mas, por indicação de uma colega, ocupa desde março a função de secretária-executiva na sede do grupo Pão de Açúcar."Fiquei preocupada quando comecei a buscar emprego porque tenho mais de 40 anos. De 65 empresas procuradas, seis me chamaram para entrevistas e só uma me ofereceu um emprego. Mas acabei acertando com o Pão de Açúcar, que não se importou com minha idade."Trilho, 40, ficou desempregado por dois meses e meio. No dia 16 de agosto começou a trabalhar como gerente corporativo de seguros da Votorantim Participações. "Trabalho com seguros há 14 anos e por isso não tive tanta dificuldade para encontrar uma vaga. Esse mercado está certamente mais aquecido do que há um ano."Segundo ele, no ano passado, um profissional especializado em seguros levava de quatro a oito meses para encontrar um emprego. "Eu levei dois meses e meio. Foi muito rápido", diz."As empresas estão optando por operários acima dos 40 anos e com mais qualificação, mesmo na linha de produção", afirma o operário Roberto Larrussa, 42, recém-contratado da metalúrgica Aro, em Guarulhos. (FF e CR)
(Folha de Paulo)

9.18.2004

Ford prevê lucro maior e quer reestruturar Jaguar

Equipe na Fórmula Um será desativada e várias fabricas fechadas
Danny Hakim*
Em Detroit
A Ford Motor Company aumentou nesta sexta-feira (17/09) as suas expectativas de lucro para o terceiro trimestre e anunciou o início de um plano de reestruturação para a sua problemática divisão Jaguar.
Como parte do plano, a Ford demitirá 1.115 funcionários na Inglaterra, grande parte deles empregados da fábrica Browns Lane, em Coventry, construída há 53 anos, e que será fechada. A companhia anunciou ainda que a Jaguar venderá a sua unidade de Fórmula Um e se dedicará aos seus negócios centrais."
As medidas que estamos tomando hoje, embora difíceis, são totalmente necessárias para colocar a Jaguar de volta nos trilhos", diz Jim Padilla, chefe de operações da Jaguar.
Em relação à companhia como um todo, a Ford informou que os cortes de despesas e o fortalecimento da sua divisão de empréstimo continuarão a possibilitar melhores resultados, ainda que o valor de suas ações nas bolsas de valores esteja despencando nos mercados domésticos.
Atualmente a Ford espera operar com rendimentos de 10 a 15 centavos por ação no terceiro trimestre, o que significaria um aumento total de US$ 176 milhões em relação a uma previsão anterior baseada em um preço de cinco centavos por ação.
As expectativas mais elevadas de rendimentos operacionais serão contrabalançadas por uma despesa de US$ 375 milhões com reestruturação que a companhia investirá na Jaguar neste ano, a maior parte dessa quantia relativa ao terceiro trimestre.
No ano que vem, a Ford reservará outros US$ 75 milhões para o projeto de reestruturação da Jaguar. Funcionários graduados da companhia disseram que o fechamento da unidade de montagem e a venda prevista da unidade de corrida seriam apenas o primeiro passo rumo à revitalização da marca Jaguar."
Isso é um começo. É uma iniciativa que coloca a estrutura dos negócios na direção certa, e que coaduna a capacidade com as nossas expectativas de venda, mas que não consiste em uma resposta completa", disse, em uma conferência na sexta-feira, Don Leclair, diretor financeiro da Ford.
As ações da Ford aumentaram quase 2%, ou 27 centavos, chegando a US$ 14,22 na Bolsa de Valores de Nova York. As vendas da Jaguar caíram quase 12% neste ano nos Estados Unidos, o maior mercado para a marca, apesar do fato de a Ford estar aumentando as suas ofertas de incentivos. Em agosto, a Jaguar gastava uma média de US$ 4.937 por veículo em incentivos nos Estados Unidos, comparados a US$ 4.371 há um ano, segundo a Edmunds.com.
A companhia tem ainda promovido as vendas do seu sedã X-Type, o Jaguar mais barato e menos volumoso, ao vender o veículo para frotas de veículos de aluguel. Isso foi um fator determinante para reduzir o seu projetado valor de revenda; em um recente estudo, a Kelley Blue Book previu que o X-Type estará entre os dez automóveis que devem ter o menor valor de revenda nos próximos cinco anos.
Vários problemas têm afligido a marca, segundo Mark Fields, vice-presidente-executivo da Ford, que está comandando o Grupo Automotivo Premier da companhia, que inclui a Jaguar, assim como a Volvo, a Land Rover e a Aston Martin.
Fields diz que a Jaguar não possui um número suficiente de automóveis a diesel para atender à demanda na Europa e a procura por carros de luxo nos Estados Unidos se deslocou para os veículos utilitários esportivos, que a Jaguar não oferece. Os gastos com incentivos para a marca também prejudicaram as margens de lucro e o enfraquecimento do dólar reduziu significativamente as receitas das montadoras européias."
Dada a natureza dessas questões, uma rápida reviravolta nos resultados dos negócios da Jaguar é improvável", afirma.
Os sindicatos britânicos anunciaram nesta sexta-feira que a Ford estaria quebrando promessas feitas seis anos atrás no sentido de manter a produção em Browns Lane e advertiu que greves são possíveis. "Não quero ser alarmista, mas haverá uma grande onda de raiva", adverte Derec Sipson, diretor da Amicus, o sindicato que representa os trabalhadores da Jaguar na fábrica.
"Nós nos preocupamos com a possibilidade de isso ser mais do que um simples fechamento de fábrica. A medida poderia ser parte de uma possível retirada das manufaturas do Reino Unido", acrescenta.
A Ford disse que a produção do seu sedã XJ e dos automóveis esportivos XK seria consolidada na sua fábrica vizinha em Castle Bromwich.Coventry, na região central do país, já abrigou mais de cem produtores de carros e motocicletas, incluindo a Triumph e a Daimler. A Jaguar foi uma das poucas fabricantes de veículos que restaram. "Esse é um dia triste", diz John Gazey, prefeito de Coventry, que, como vários outros prefeitos anteriores de Coventry, dirige um Jaguar.
A reação do governo Britânico foi o silêncio. "O anúncio feito pela Ford foi um desapontamento óbvio, especialmente se considerarmos os esforços para melhorar a qualidade e a produtividade em Browns Lane", disse Patrícia Hewitt, secretária de Estado de Indústria e Comércio. "No entanto, devido ao mau desempenho financeiro das companhias, decisões difíceis precisam ser tomadas".
Os esforços da Jaguar reforçaram a dúvida de Wall Street quanto à possibilidade de o Grupo Automotivo Premier ter condições de ser o principal contribuinte para as receitas, conforme esperavam os diretores da Ford. Como parte do plano de reformulação da companhia anunciado no início de 2002, funcionários da Ford disseram que o Premier, assim como a marca doméstica de luxo da companhia, a Lincoln, responderiam por um terço dos rendimentos da Ford em meados desta década.
Porém, por ora, os negócios do Premier estão indo na direção errada. Na primeira metade deste ano, o grupo perdeu US$ 342 milhões, em contraste com um lucro de US$ 78 milhões obtido no mesmo período do ano passado."
A Jaguar tem um longo caminho a percorrer até recuperar a saúde", disse John Casesa, analista da Merrill Lynch, em uma declaração na sexta-feira. "O anúncio de hoje gera dúvidas sobre o objetivo da Ford de obter um terço dos seus rendimentos do Grupo Automotivo Premier em meados desta década, ainda que a companhia esteja sendo fiel à sua meta", acrescentou."
Ainda nos sentimos confortáveis com o alvo", diz Fields. "Estou observando esses quatro negócios diferentes, e cada um deles está em diferentes patamares de saúde", afirma. Embora o modelo empresarial da Jaguar seja "não sustentável", ele diz que as outras três marcas estão em situação melhor e poderiam ajudar a contrabalançar os prejuízos enquanto a Jaguar se recupera.
Quanto à equipe de Fórmula Um da Jaguar, adquirida em 2000, ele afirma: "O fato é que no momento não temos condições de mantê-la".
*Colaborou Heather Timmons, de Londres.
THE NEW YORK TIMES

9.17.2004

Mais homens sofrem assédio sexual no trabalho

Segundo pesquisa, maioria dos casos é de abordagem homossexual

Stephanie Armour

Os homens estão cada vez mais alegando ser vítimas de assédio sexual, uma questão que está ganhando mais atenção após a renúncia do governador de Nova Jersey, James McGreevey, em meio a alegações de assédio sexual de um ex-assessor.As queixas de assédio sexual impetradas por homens junto à Comissão de Oportunidades Iguais de Emprego (Eeoc) cresceu de 9% de todas as queixas no ano fiscal de 1992 para 15% em 2003. Muitas destas queixas envolvem assédio de homem contra homem; homem assediado por mulher é mais raro, segundo os especialistas.
"Há mais pessoas se queixando disto porque há mais atenção ao assunto", disse Caroline Wheeler, advogada assistente geral da Eeoc. "Geralmente são os homens que não são gays que importunam alguém. Eles importunam os homens que parecem efeminados ou não agressivos o bastante."Nos últimos anos, grandes empregadores têm enfrentado processos alegando assédio de mesmo sexo por homens, com alguns acordos chegando a US$ 1 milhão.
Entre os casos na Eeoc:
No ano passado, a empresa Babies R Us concordou em pagar US$ 205 mil em um acordo de um processo impetrado por um funcionário de Nova Jersey, que disse que foi ridicularizado e transformado em alvo de comentários pejorativos por outros homens.
Burt Chevrolet and LGC Management, uma rede de concessionárias de veículos do Colorado, pagou US$ 500 mil em 2000 para resolver em um acordo uma queixa de 10 ex-vendedores, que disseram que foram assediados pelos gerentes. Os vendedores disseram que seus genitais eram agarrados, que foram vítimas de piadas sexuais rudes e que um gerente expôs sua genitália.
A questão tem atraído mais atenção desde que a Suprema Corte decidiu em 1998 que abuso de mesmo sexo por homens pode violar a lei federal de direitos civis que proíbe discriminação sexual. Antes disso, os tribunais estavam divididos sobre a posição legal de tais queixas.Desde tal decisão, as autoridades federais disseram que impetraram mais processos de abuso de mesmo sexo e têm visto mais queixas --mais de 2 mil por ano, em comparação a menos de 1 mil por ano entre os anos fiscais de 1990 a 1992.
O aumento é atribuído à decisão da Suprema Corte, uma maior conscientização por parte dos homens de seus direitos no local de trabalho e a possibilidade do abuso de mesmo sexo ser mais predominante."A sociedade machista em que vivemos colocou um estigma sobre abuso sexual de homens", disse Alan Kopit, um editor legal do site lawyers.com. "Não precisa ser de um homem contra uma mulher." 17% dos homens disseram já ter sofrido algum tipo de abuso sexual, contra 35% das mulheres, em um estudo de agosto da lawyers.com e da revista "Glamour".
Tradução: George El Khouri Andolfato

9.16.2004

Volkswagen e sindicato tentam evitar demissões

Trabalhadores da Alemanha reagem à redução dos custos sociais
Mark Landler
Em Frankfurt, Alemanha
Representantes da Volkswagen e de seu sindicato trabalhista se sentaram à mesa nesta quarta-feira (15/09), iniciando uma rodada de negociações que será acompanhada atentamente como um teste de quanto os trabalhadores alemães conseguirão preservar sua posição privilegiada no setor automotivo global.
As primeiras horas de negociação em Hanover, uma cidade no norte da Alemanha, não apontaram progresso, segundo um negociador do sindicato, com ambos os lados não se afastando das posições definidas várias semanas atrás.
O sindicato, o IG Metall, apresentou sua exigência de um aumento salarial de 4%, assim como garantias de segurança de emprego para os 103 mil trabalhadores da linha de montagem cobertos por um contrato que expirará em breve. A Volkswagen reiterou sua insistência em um congelamento salarial de dois anos e outros cortes.
Por trás das negociações está o fantasma de que a Alemanha, com sua cara ec altamente qualificada força de trabalho, perderá empregos no setor de manufatura para países de menor custo como Hungria, Polônia e Eslováquia, onde a Volkswagen já conta com grandes fábricas.
"Eles estão diante de uma discrepância real entre salários na Alemanha e salários na Polônia e na República Tcheca", disse Michael Fichter, um especialista em trabalho da Universidade Livre de Berlim. "As questões que serão levantadas aqui são as que todos na indústria estão enfrentando.
"A Volkswagen, com sede em Wolfsburg, não ameaçou explicitamente transferir empregos para fora do país. Mas seu diretor financeiro chefe, Hans Dieter Poetsch, alertou recentemente que se os dois lados não chegarem a um acordo, isto colocará em risco 30 mil empregos na Alemanha, onde a Volkswagen emprega 176 mil pessoas, nem todas cobertas por este contrato.
O IG Metall rebateu com ameaças de protestos e greves de alerta. O sindicato, que representa os metalúrgicos, tem perdido terreno em confrontos com outras montadoras nos últimos dois anos. Mas com 97% dos trabalhadores da Volkswagen em suas fileiras, o sindicato tem grande poder lá.
"A força de trabalho da Volkswagen é extremamente leal ao IG Metall", disse Hartmut Meine, o negociador chefe do sindicato, em uma recente entrevista. "Os empregados da Volkswagen participarão em peso de qualquer ação de protesto."
A Volkswagen estabeleceu uma meta de redução dos custos trabalhistas em 30% até 2011, e está se preparando para uma batalha longa e amarga, incluindo a possibilidade de enfrentar suas primeiras greves em grande escala.
"Nós não estamos falando em greve a esta altura", disse o porta-voz chefe da Volkswagen, Dirk Grosse-Leege. "Mas você pode certamente presumir que uma empresa deste tamanho e experiência seria tola em não estar preparada."
A urgência da Volkswagen é movida em parte pela deterioração de sua condição financeira. Em julho, a empresa foi forçada a reduzir seu lucro operacional projetado para 2004 para 1,9 bilhão de euros (US$ 2,28 bilhões), antes de grandes deduções, em comparação à projeção anterior de 2,5 bilhões de euros (US$ 3 bilhões).
As vendas caíram em grandes mercados da Volkswagen: China, Europa e Estados Unidos. A erosão em casa é particularmente preocupante. As vendas na Europa Ocidental caíram 8,2% em agosto, reduzindo sua participação de mercado em 1,5 ponto percentual, para 19,4%.A Volkswagen está confiante de que poderá chegar a um bom acordo com o IG Metall, em parte devido aos acordos acertados recentemente entre o sindicato e duas outras gigantes corporativas, a Siemens e DaimlerChrysler. Ambas usaram a ameaça de demissões para obter concessões em salários e horas de trabalho."
A Volkswagen pressionará até onde puder chegar, para ver se consegue obter mais flexibilidade", disse Fichter. "Ela está tentando sair de uma crise."Apesar de toda a conversa sobre demissões, considerações políticas e práticas tornariam extremamente difícil para a Volkswagen demitir milhares de funcionários na Alemanha, de forma que as negociações provavelmente visam mais romper acordos rígidos de trabalho.
O maior acionista da empresa é o governo da Baixa Saxônia, que consideraria demissões em massa politicamente indefensáveis. Além disso, a fábrica da Volkswagen em Wolfsburg gerou uma rede de fornecedores e empresas de logística, que só poderiam ser deslocadas a um custo muito alto e ao longo de vários anos."
As chances de a Volkswagen dizer, 'Nós transferiremos estes empregos para a China ou o Leste Europeu', são mínimas", disse Graeme Maxton, um analista da Autopolis, uma firma de consultoria do setor automotivo em Londres. "Você não pode mover a matriz sem afetar toda a rede."
Ainda assim, a Volkswagen tem poder para decidir onde produzir carros. A empresa escolherá em breve uma fábrica para montar um novo veículo utilitário esportivo que é menor do que seu popular Touareg. Dois dos três locais potenciais se encontram fora da Alemanha; o terceiro é Wolfsburg.
O negociador chefe da Volkswagen, Peter Hartz, disse que montar o carro custaria 1.400 euros, ou cerca de US$ 1.700, a mais por veículo em Wolfsburg do que nas outras duas fábricas, que a Volkswagen se recusou a identificar. A menos que Wolfsburg reduza esta diferença, ele disse, o projeto irá para outro lugar.
A Volkswagen já monta o Touareg em Bratislava, a capital da Eslováquia. Ela produz a versão conversível de sua marca premium, Audi, na Hungria. Grosse-Leege disse que a empresa planeja produzir um novo Audi em Bratislava, e um novo Volkswagen conversível em Portugal.
O modelo para os contratos de trabalho da Volkswagen é um novo acordo que negociou para montar sua minivan européia, a Touran. A montadora recrutou 5 mil desempregados --cabeleireiros, padeiros e trabalhadores do gênero-- e os treinou para que trabalhassem na linha de montagem em Wolfsburg.
A Volkswagen paga aos trabalhadores um salário fixo que é uma fração do salário habitual. Ela então paga um valor variável vinculado ao número de veículos produzido. O total médio do salário, disse Grosse-Leege, é 10% a 20% mais baixo do que os dos demais trabalhadores em Wolfsburg.
Meine, o negociador chefe do sindicato, disse que reluta em expandir tal acordo por toda a Volkswagen porque ele reduziria o padrão de vida dos trabalhadores. A Volkswagen e o IG Metall concordaram em se reunir novamente em 5 de outubro. Mas, disse Meine, os dois lados continuam muito distantes.
Tradução: George El Khouri Andolfato
THE NEW YORK TIMES

Emprego industrial sobe pelo terceiro mês; salários ficam estáveis

JANAINA LAGE
da Folha Online, no Rio
As contratações na indústria brasileira superaram as demissões pelo terceiro mês consecutivo. Em julho, o nível de emprego cresceu 0,2% na comparação com junho, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apesar da trajetória de recuperação, o ritmo de crescimento das contratações está diminuindo.
Em junho, na comparação com o mês anterior, a indústria havia apontado crescimento de 0,5% no total de vagas. Em maio, na mesma base de comparação, o crescimento foi de 1,1%.Na comparação com julho do ano passado, houve aumento de 2,3% no nível de emprego industrial. Das 14 áreas pesquisadas, 12 apresentaram aumento no total de empregos em junho, com destaque para Minas Gerais (4,5%), região Sul (3,4%) e São Paulo (1,5%). Segundo dados divulgados pelo IBGE no início deste mês, a produção industrial cresceu 0,5% em julho na comparação com junho. Em relação a igual mês de 2003, a expansão atingiu 9,6%. O resultado já indicava uma redução no ritmo de expansão na indústria. Em junho, o crescimento foi de 0,5% na comparação com maio, mas em relação a junho do ano passado, a expansão foi de 13%.
A recuperação da indústria vem sendo estimulada não apenas pelo aumento das exportações --como até o começo deste ano--, mas também pela melhora da demanda no mercado interno, o que incentiva a geração de empregos no setor.
Em julho, no entanto, os setores de bens de capital e de bens semiduráveis e não-duráveis apresentaram quedas, de 1,1% e de 1%, respectivamente. O primeiro representa a compra de máquinas e equipamentos, típicas de períodos de expansão dos investimentos na indústria. O segundo inclui itens importantes na cesta de produtos consumidos pelos brasileiros, como vestuário e remédios.Com o resultado de julho, a indústria brasileira acumula no ano crescimento de 0,5% no nível de emprego.
Salários
A folha de pagamento dos trabalhadores da indústria, na série livre de influências sazonais, ficou estável em julho na comparação com o mês anterior. Em junho, a expansão foi de 0,7%. De abril para maio, a variação havia sido negativa em 1,1%.Em relação a junho de 2003, porém, houve aumento de 8,3% na folha de pagamentos.
De janeiro a julho, a folha de pagamento acumula alta de 9%. Em 12 meses, o avanço é de 4,1%.A folha média, que representa o total de rendimentos por empregado, cresceu 5,8% sobre julho de 2003. No ano, registra aumento de 8,5% e, em 12 meses, de 4,5%.
UOL ON-LINE

Emprego industrial sobe pelo terceiro mês; salários ficam estáveis

JANAINA LAGE
da Folha Online, no Rio
As contratações na indústria brasileira superaram as demissões pelo terceiro mês consecutivo. Em julho, o nível de emprego cresceu 0,2% na comparação com junho, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Apesar da trajetória de recuperação, o ritmo de crescimento das contratações está diminuindo. Em junho, na comparação com o mês anterior, a indústria havia apontado crescimento de 0,5% no total de vagas. Em maio, na mesma base de comparação, o crescimento foi de 1,1%.
Na comparação com julho do ano passado, houve aumento de 2,3% no nível de emprego industrial. Das 14 áreas pesquisadas, 12 apresentaram aumento no total de empregos em junho, com destaque para Minas Gerais (4,5%), região Sul (3,4%) e São Paulo (1,5%).
Segundo dados divulgados pelo IBGE no início deste mês, a produção industrial cresceu 0,5% em julho na comparação com junho. Em relação a igual mês de 2003, a expansão atingiu 9,6%. O resultado já indicava uma redução no ritmo de expansão na indústria. Em junho, o crescimento foi de 0,5% na comparação com maio, mas em relação a junho do ano passado, a expansão foi de 13%.A recuperação da indústria vem sendo estimulada não apenas pelo aumento das exportações --como até o começo deste ano--, mas também pela melhora da demanda no mercado interno, o que incentiva a geração de empregos no setor.
Em julho, no entanto, os setores de bens de capital e de bens semiduráveis e não-duráveis apresentaram quedas, de 1,1% e de 1%, respectivamente. O primeiro representa a compra de máquinas e equipamentos, típicas de períodos de expansão dos investimentos na indústria. O segundo inclui itens importantes na cesta de produtos consumidos pelos brasileiros, como vestuário e remédios.
Com o resultado de julho, a indústria brasileira acumula no ano crescimento de 0,5% no nível de emprego.
Salários
A folha de pagamento dos trabalhadores da indústria, na série livre de influências sazonais, ficou estável em julho na comparação com o mês anterior. Em junho, a expansão foi de 0,7%. De abril para maio, a variação havia sido negativa em 1,1%.Em relação a junho de 2003, porém, houve aumento de 8,3% na folha de pagamentos.De janeiro a julho, a folha de pagamento acumula alta de 9%. Em 12 meses, o avanço é de 4,1%.A folha média, que representa o total de rendimentos por empregado, cresceu 5,8% sobre julho de 2003. No ano, registra aumento de 8,5% e, em 12 meses, de 4,5%.

9.13.2004

"Latino-americanização" é risco para UE, diz economista

Entrevista: ERIK REINERT

Pressão da mão-de-obra barata do Leste pode provar tensão social no bloco europeu, prevê norueguês

CLAUDIA ANTUNES
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A ampliação da União Européia, com o ingresso em maio passado de dez países do Leste Europeu e da antiga União Soviética, coloca o bloco diante do risco de um processo de "latino-americanização", conseqüência da pressão para a redução de salários na parte ocidental em razão da maior oferta de mão-de-obra.
Esse risco, um estopim para o aumento da tensão política e social, ocorre graças à "desindustrialização" da Europa do Leste, onde mesmo indústrias de ponta que poderiam tornar-se competitivas não resistiram à transição para o capitalismo.
Tal conclusão é do economista norueguês Erik Reinert, 55, professor da Universidade de Tecnologia de Tallinn, na Estônia, e membro da fundação The Other Canon (O Outro Cânone), da Noruega, que está no Rio para participar da Conferência Brasil e União Européia, promovida pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que começa hoje e vai até sexta-feira.
No estudo que apresentará na conferência, Reinert faz uma "taxinomia" dos tipos de integração econômica. As melhores, diz, são as "simétricas", onde os países entram em condições iguais ou semelhantes de produtividade, industrialização e renda. É o caso do Mercosul, por exemplo.
"Acordos simétricos são sempre bons. Mas os assimétricos são sempre muito difíceis. Por isso hoje o papel de países como China, Brasil e África do Sul é muito importante. Eu digo aos peruanos que é melhor ser colônia do Brasil do que dos EUA", afirmou Reinert, em entrevista à Folha.
Na União Européia ampliada, segundo Reinert, há uma assimetria entre os países do Ocidente e os do Leste. "Foram 14 anos para desindustrializar a Europa Oriental e depois, num golpe, ela foi integrada. Daqui a 30 anos, vamos ver que isso foi um erro. Primeiro, primitivizar toda uma região e, depois, se integrar com ela, com diferença de produtividade, diferença de salários, diferença de estrutura econômica."

Folha - No que consiste o seu trabalho sobre os modelos de integração econômica?
Erik Reinert: Para entendê-lo, tem de se compreender o capitalismo como um modo de produção e não como mercado livre. Para Adam Smith [economista inglês, tido como o pai do liberalismo], o homem é um cachorro que aprendeu a trocar. Já Abraham Lincoln [presidente dos EUA, que viveu de 1809 a 1865] e Karl Marx [1818-1883] têm em comum o fato de afirmarem que o ser humano é um animal capaz de inovar, de criar. Daí vem toda a teoria da inovação. Na teoria neoclássica, não há o papel do Estado moderno, dos empresários e do industrialismo, só o capital, o trabalho e os mercados. Todo o motor de desenvolvimento que está atrás não existe. A partir disso, tentamos ver o porquê de processos de desenvolvimento tão desiguais.

Folha - Que tipos de integração o senhor identificou?
Reinert - Existem várias teorias de integração. O colonialismo é um tipo de integração pelo qual não deveria haver industrialização na periferia. Até agora, a Europa estava integrada de um modo que nós chamamos de listiano, de Friedrich List [economista alemão, 1789-1846], teórico que fundamentou todo o desenvolvimento industrial da Europa continental e depois da China, do Japão e até mesmo do Brasil.List dizia que primeiro os países têm de se industrializar para depois, quando têm uma vantagem comparativa, se integrarem. E depois, quando todos chegam a esse nível, há o comércio mundial. Ele era um grande protecionista, mas, ao mesmo tempo, defendia o livre mercado. Isso se chama comércio livre em áreas simétricas. Até agora, foi assim a integração da União Européia. Desde a Segunda Guerra, o processo caminhou lentamente. Havia a idéia do protecionismo para permitir a criação de indústrias-chave em todos os países. Com a ampliação, surgirão novos problemas, que chamo de "latino-americanização" da Europa.
Folha - O que é isso?
Reinert - List disse que toda a América Latina deveria se integrar. O problema é que ela passou de um mercado pequeno muito protegido ao mercado mundial, sem a etapa intermediária de integração regional, o que destruiu a indústria local. Quando se integra um país relativamente avançado a um relativamente atrasado, a primeira indústria que morre é a mais avançada do país atrasado.

Folha - É o que aconteceu na Europa?
Reinert - É o que está acontecendo em parte da "nova Europa" desde a queda do Muro de Berlim, em 1989, quando veio, de repente, o comércio livre. Toda a indústria da Europa Oriental morre e há uma primitivização, da economia. Muita gente volta para o campo e os salários baixam. Muitas das indústrias que morreram eram as mais avançadas. O império soviético era muito especializado e essa divisão de trabalho acabou de um dia para o outro, com a abertura.

Folha - Quais as conseqüências disso agora?
Reinert - Foram 14 anos para desindustrializar a Europa Oriental e depois, num golpe, ela foi integrada. Daqui a 30 anos, vamos ver que isso foi um erro. Primeiro, primitivizar toda uma região e, depois, se integrar com ela, com diferença de produtividade, diferença de salários, diferença de estrutura econômica. Em alguns casos, como Hungria, República Tcheca, Eslovênia, a coisa está indo bem. Mas, quanto mais para a periferia, pior é.

Folha - Mas o argumento é que a indústria do Leste não era competitiva e não tinha como ser preservada.
Reinert - Uma indústria pouco eficiente não se mata. Uma indústria pouco eficiente se melhora. É claro que havia coisas impossíveis de recuperar, mas não se poderia acabar com tudo, como o maquinário que se produzia na República Tcheca e na Alemanha Oriental, por exemplo.

Folha - Quais são as conseqüências da ampliação da UE no longo prazo?
Reinert - Primeiro, o custo. O custo total para integrar toda a Europa Oriental é de 1,25 trilhão de euros. É uma cifra exorbitante. O projeto europeu é muito idealista, mas demasiado caro.

Folha - Há risco de tensão social?
Reinert - Existem duas possibilidades: a Europa Ocidental não deixa a população do Leste entrar, impedindo-a de trabalhar no Ocidente, ou baixa os salários. Já neste verão há uma pressão enorme, principalmente na Alemanha, para baixar os salários. Há uma pressão das empresas para que as pessoas passem a trabalhar 40 horas ganhando o mesmo que ganham pelas atuais 35 horas. Se não aceitarem, dizem, vão buscar trabalhadores na Hungria, na Polônia. O custo é a queda salarial em toda Europa e o desemprego no Leste.Em todo o mundo os salários estão caindo. O quadro se parece muito com os anos 30. A seqüência é uma explosão da produtividade e crise financeira. É possível que o segundo período de globalização possa acabar com todo mundo sendo protecionista.

Folha - Quais são os outros tipos de integração que o senhor identificou?
Reinert - Há a integração simétrica periférica, como o Mercosul, o Pacto Andino e o projeto da Alca [Área de Livre Comércio da América do Sul], que não deu certo. É uma estratégia boa, em que os dois lados ganham. No Pacto Andino o problema é que, por serem economias pequenas, não existem muitas coisas para trocar entre eles. Existe ainda a integração assimétrica colonial, um tipo que está renascendo, por exemplo, na África, que está sendo dividida entre EUA e Europa.

Folha - As integrações assimétricas podem ser boas?
Reinert -Há um caso, um tipo de integração que se chama vôo de ganso, na qual o primeiro ganso conduz os demais. O Japão, por exemplo, começa a fabricar um produto de ponta. Depois, esse produto passa a ser feito na Coréia, depois em Taiwan, depois na Malásia e na Tailândia. Isso tem funcionado, porque abre espaço para todos se desenvolverem.

Folha - Qual a perspectiva das negociações entre Mercosul e União Européia?
Reinert - Eu acho que vai ser difícil [fechar um acordo]. Há uma competição muito grande entre os EUA e a Europa para fazer acordos com a periferia. O Brasil está numa situação muito mais avançada do que os outros países da América Latina, mas tem de ter cuidado para não primitivizar suas exportações.

Folha - E a Alca?
Reinert - Fazer acordos da periferia com o centro é sempre a pior opção. Por isso, o papel de China, Brasil e África do Sul é muito importante. Eu digo aos peruanos que é melhor ser colônia do Brasil do que dos EUA.
FSP

9.02.2004

Para OIT, emergentes deixam população infeliz

Financial Times
Órgão atribui tensões sociais à ausência de segurança econômica
Frances Williams
Em Genebra
A vasta maioria da população mundial vive em países que oferecem pequena segurança econômica básica, o que constitui terreno fértil para "um mundo cheio de ansiedade e raiva", disse nesta quarta-feira (1/9) a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Dar segurança econômica básica às pessoas promove o bem-estar individual e é benéfico para o crescimento e a estabilidade social, segundo um novo estudo da organização. As populações de países que têm alta classificação na medição feita pelo estudo são mais felizes em média, ele diz.
A segurança econômica também está ligada à democracia política e aos direitos civis, assim como aos gastos do governo em seguridade social. Em um nível individual, a falta de segurança econômica provoca intolerância e tensão, diz o estudo. Guy Standing, chefe do programa de segurança socioeconômica da OIT, que produziu o relatório, disse que as inseguranças econômicas e sociais estão se multiplicando com a globalização e as políticas a ela relacionadas.
O sistema econômico global tornou-se mais volátil e os trabalhadores cada vez mais suportam o peso do risco, por exemplo, através de reformas da aposentadoria e da assistência à saúde.
O relatório da OIT se baseia em pesquisas domiciliares e no local de trabalho com mais de 48 mil trabalhadores e 10 mil empresas em todo o mundo, assim como um banco de dados de segurança social global e estatísticas nacionais.
Mais de 90 países, representando mais de 85% da população mundial, foram classificados em relação a diversas formas de segurança relacionada ao trabalho, incluindo questões como proteção à renda e desigualdade, acidentes de trabalho, sindicalização, aquisição e uso de técnicas, desemprego e trabalho informal.
Sobre essa base, apenas cerca de 8% dos trabalhadores vivem em países que oferecem altos níveis de segurança econômica, predominantemente na Europa ocidental. Cerca de três quartos vivem em países com baixa segurança econômica, incluindo a maioria do mundo em desenvolvimento.
Os países nórdicos estão no topo do ranking, com o Canadá, primeiro país não-europeu, na décima posição. Os Estados Unidos vêm em 25º, refletindo em parte seu baixo índice de ratificação dos padrões de trabalho da OIT e a relativa falta de leis de proteção trabalhista.
O relatório diz que a insegurança de renda --refletindo não apenas a adequação da renda, mas sua estabilidade, previsibilidade e "justiça"-- parece ser o fator mais importante de segurança econômica e felicidade em geral, enquanto a desigualdade de renda afeta negativamente a ambos. Os sistemas de segurança social convencionais são inadequados para um mundo em globalização, caracterizados por novas formas de risco e incerteza, conclui o relatório.Pedindo uma inversão das atuais tendências, ele pede que os governos e órgãos internacionais promovam esquemas de proteção social baseados em direitos universais, em vez de recorrer a medidas seletivas, que deixam de atingir os mais pobres ou de fornecer segurança real. As pesquisas domiciliares revelaram um apoio avassalador a um salário mínimo para todos, diz Standing.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves