9.02.2004

Para OIT, emergentes deixam população infeliz

Financial Times
Órgão atribui tensões sociais à ausência de segurança econômica
Frances Williams
Em Genebra
A vasta maioria da população mundial vive em países que oferecem pequena segurança econômica básica, o que constitui terreno fértil para "um mundo cheio de ansiedade e raiva", disse nesta quarta-feira (1/9) a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Dar segurança econômica básica às pessoas promove o bem-estar individual e é benéfico para o crescimento e a estabilidade social, segundo um novo estudo da organização. As populações de países que têm alta classificação na medição feita pelo estudo são mais felizes em média, ele diz.
A segurança econômica também está ligada à democracia política e aos direitos civis, assim como aos gastos do governo em seguridade social. Em um nível individual, a falta de segurança econômica provoca intolerância e tensão, diz o estudo. Guy Standing, chefe do programa de segurança socioeconômica da OIT, que produziu o relatório, disse que as inseguranças econômicas e sociais estão se multiplicando com a globalização e as políticas a ela relacionadas.
O sistema econômico global tornou-se mais volátil e os trabalhadores cada vez mais suportam o peso do risco, por exemplo, através de reformas da aposentadoria e da assistência à saúde.
O relatório da OIT se baseia em pesquisas domiciliares e no local de trabalho com mais de 48 mil trabalhadores e 10 mil empresas em todo o mundo, assim como um banco de dados de segurança social global e estatísticas nacionais.
Mais de 90 países, representando mais de 85% da população mundial, foram classificados em relação a diversas formas de segurança relacionada ao trabalho, incluindo questões como proteção à renda e desigualdade, acidentes de trabalho, sindicalização, aquisição e uso de técnicas, desemprego e trabalho informal.
Sobre essa base, apenas cerca de 8% dos trabalhadores vivem em países que oferecem altos níveis de segurança econômica, predominantemente na Europa ocidental. Cerca de três quartos vivem em países com baixa segurança econômica, incluindo a maioria do mundo em desenvolvimento.
Os países nórdicos estão no topo do ranking, com o Canadá, primeiro país não-europeu, na décima posição. Os Estados Unidos vêm em 25º, refletindo em parte seu baixo índice de ratificação dos padrões de trabalho da OIT e a relativa falta de leis de proteção trabalhista.
O relatório diz que a insegurança de renda --refletindo não apenas a adequação da renda, mas sua estabilidade, previsibilidade e "justiça"-- parece ser o fator mais importante de segurança econômica e felicidade em geral, enquanto a desigualdade de renda afeta negativamente a ambos. Os sistemas de segurança social convencionais são inadequados para um mundo em globalização, caracterizados por novas formas de risco e incerteza, conclui o relatório.Pedindo uma inversão das atuais tendências, ele pede que os governos e órgãos internacionais promovam esquemas de proteção social baseados em direitos universais, em vez de recorrer a medidas seletivas, que deixam de atingir os mais pobres ou de fornecer segurança real. As pesquisas domiciliares revelaram um apoio avassalador a um salário mínimo para todos, diz Standing.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves