8.11.2004

Desemprego entre jovens atinge 88 milhões, diz OIT

da BBC, em Londres

O desemprego de jovens entre 15 e 24 anos teve um forte aumento nos últimos dez anos e atingiu 88 milhões de pessoas em 2003, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Do total de desempregados do mundo, os jovens já são 47%, mesmo sendo apenas 25% da população trabalhadora no mundo. A situação é considerada pior nos países em desenvolvimento. A chance de um jovem ser desempregado é 3,8 vezes maior do que a de um adulto a partir de 25 anos. Já nos países desenvolvidos, as chances de que um jovem esteja desempregado é 2,3 vezes maior do que a de profissionais mais velhos.
Talento
"Nós estamos jogando fora uma importante parte da energia e talento da geração com melhor nível de educação que o mundo já teve", disse o diretor-geral da OIT, Juan Somavia, no documento divulgado nesta quarta-feira. De acordo com o relatório Tendências Globais de Emprego para a Juventude 2004, o crescimento da população mundial entre os jovens foi de 10,5% entre 1993 e 2003. Mas a oferta de empregos para essa faixa de trabalhadores cresceu apenas 0,2%. Para a OIT, o mundo "lucraria muito mais" se mais jovens estivessem no mercado de trabalho. O estudo mostra que, se o número de jovens desempregados caísse pela metade (de 14,4% para 7,2%), a economia mundial poderia incorporar um valor extra de até US$ 3,5 trilhões. Isso representa hoje 7% do total do PIB (Produto Interno Bruto) de todo o mundo. A região do mundo que seria mais beneficiada, segundo o relatório, seria a África Subsaariana, com um aumento do PIB entre 12 e 19%.
Quadro-negro
Do Correio Brasiliense
A situação profissional dos jovens brasileiros não é animadora: há cada vez mais desempregados no país. Dos 7,7 milhões de desempregados no Brasil, cerca de 3,5 milhões têm entre 15 e 24 anos. A taxa de desemprego nessa faixa etária (18%) representa quase o dobro da média do país (9,4%), de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 2001. E o quadro se repete no cenário mundial. O estudo Tendências Globais de Emprego para a Juventude, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado em agosto, mostrou que o fenômeno acontece nos quatro cantos do globo. Na última década, a juventude - que representa 25% da população economicamente ativa - foi afetada sensivelmente pelo desemprego. Hoje, existem 88 milhões de pessoas jovens sem trabalho: 46% dos desempregados no mundo. Enquanto a população jovem cresceu 10,5% no período (atingindo mais de 1,1 bilhão de pessoas), as oportunidades de trabalho para ela só aumentaram 0,2%, totalizando 526 milhões de postos. Segundo a OIT, os que mais sofrem com essa realidade são habitantes dos países em desenvolvimento.
Para o secretário municipal de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade de São Paulo, Márcio Pochmann, nunca houve uma crise tão acentuada. "A economia precisa crescer para comportar os 2,2 milhões de trabalhadores que ingressam por ano no mercado de trabalho", afirma. Canudo não basta O diploma de curso superior já não garante emprego. O número de ocupados com ensino superior, entre 1992 e 2001, segundo a PNAD, cresceu 62%. Contudo, houve um crescimento de 121% no número de desempregados e de 77% no de inativos com essa escolaridade. A oferta de vagas não acompanhou o crescimento da demanda. Não existem postos de trabalho para todos os formandos (são 466.260 por ano). O déficit de vagas chega a 820 mil. A disputa por cada vaga é acirrada. Na Rhodia, 27 mil candidatos se inscreveram para pleitear 70 vagas de estágio. Edmar Pedrosa, gerente de planejamento e desenvolvimento de recursos humanos da empresa garante que são selecionados os melhores. Aquela velha idéia de que só eram contratados os egressos de instituições renomadas já caiu por terra. Nenhuma empresa está preocupada com o nome da universidade de origem do candidato a uma vaga de trabalho. Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa de Mercado (Ibrapem) mostrou que esse quesito não tem importância para os empregadores. Foram entrevistadas 16 empresas de Brasília e São Paulo. O que conta é a exigência da vaga: cursos e experiência profissional. O perfil cultural e emocional também foi apontado como fator decisivo.
Um aspecto que chama a atenção na pesquisa: uma empresa da capital afirmou que prefere contratar profissionais de fora. "A reclamação é que os estudantes de Brasília se preocupam mais em obter um diploma do que com a qualidade da graduação", afirma a representante do instituto, Solange Capozzi. Por isso, uma dica importante aos estudantes. "O aluno deve se dedicar aos estudos, independentemente da faculdade. Se ele se empenhar e aproveitar todas as oportunidades oferecidas, será um profissional diferenciado", aconselha Solange.
Escolaridade e trabalho
Total de jovens de 15 a 24 anos - 33,2 milhões
Só estudam - 24,7%
Estudam e trabalham - 18,7%
Estudam e procuram trabalho - 5,2%
Só trabalham - 32%
Só procuram trabalho - 5,9%
Não estudam, não trabalham nem procuram trabalho - 13,5%
Fonte: PNAD, 2001
O mapa do desemprego juvenil
88 milhões é o número de jovens com idade entre 15 e 24 anos desempregados no mundo
3,5 milhões é o número de jovens com idade entre 15 e 24 anos desempregados no Brasil
18% dos desempregados brasileiros são jovens 121% representa a expansão de desempregados com nível superior entre 1992 e 2001