9.27.2004

Idosos mantêm lugar no mercado de trabalho

Na Grande SP, grupo com mais de 60 anos soma 22% da População Economicamente Ativa; dia nacional é comemorado hoje



Dora Santini Tavares, 76, atua como atendente
na Pizza Hut do shopping Paulista;
segundo ela, "não é bom depender de ninguém'
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A idade não pode e não deve ser limite para o trabalho. É que o defende Dora Santini Tavares, 76, funcionária da Pizza Hut do shopping Paulista, em SP, onde trabalha há quase um ano como atendente. No meio dos colegas de trabalho -uma "rapaziada" ao redor de 20 anos-, Dora diz ter conquistado seu espaço no apertado mercado de trabalho com sua simpatia, vontade de viver e determinação. "Não é bom depender de ninguém."Com uma jornada diária de quatro horas, das 12h às 16h, e uma folga por semana, ela diz que o trabalho vale a pena na sua idade. "Fiquei parada durante 15 anos. Eu era uma pessoa deprimida e não me cuidava. Voltei a me sentir como há 20 anos", diz.
Dora faz parte de um grupo do mercado de trabalho que tem participação importante no total da PEA (População Economicamente Ativa) e na contribuição da renda familiar. Em 2003, a participação das pessoas com mais de 60 anos na PEA era de 21,9% na região metropolitana de São Paulo, segundo levantamento do Dieese e da Fundação Seade. Esse percentual tem se mantido nos últimos anos. Isso significa que 357 mil pessoas com mais de 60 anos faziam parte do mercado de trabalho. Dessas, 328 mil estavam ocupadas e 31 mil, desempregadas. "Existem mais idosos trabalhando na região metropolitana de São Paulo do que toda a população de muitas cidades do interior", diz Clemente Ganz Lucio, diretor-técnico do Dieese.
Os ocupados com mais de 60 anos estão mais concentrados no setor de serviços (52,8%) e no comércio (22,3%). Na indústria, a participação é de 11,9%. "Esses números mostram que, para melhorar a renda, o aposentado volta para o mercado de trabalho." Dos ocupados com mais de 60 anos, 43,9% são autônomos; 31,4%, assalariados; 9,8%, empregados domésticos e 9,7%, empregadores.
Renda familiar
"O idoso tem uma participação importante na renda da família, apesar de o rendimento dele ser menor do que o de outras faixas etárias", afirma Ganz Lucio. O rendimento médio mensal dos ocupados com mais de 60 anos na Grande São Paulo era de R$ 979 em 2003. O das pessoas na faixa de 40 a 59 anos, de R$ 1.215 e o do total de ocupados, de R$ 1.189.
No caso de Dora, o salário que recebe "é para comprar roupinhas, perfume e não ter de pedir dinheiro para o marido", que é aposentado. O plano de saúde e a cesta básica são considerados "um alívio" nas contas do mês.
Stanley Wu, 74, empacotador há sete anos do Pão de Açúcar de Pinheiros, diz que trabalha porque gosta e para complementar a renda. "A aposentadoria é pequena. Depois que comecei a trabalhar nunca faltou dinheiro em casa", afirma o chinês, que vive há 46 anos no Brasil.
Wu diz que o trabalho também é "um bom passatempo" na vida de um idoso -hoje (27 de setembro) o país comemora o Dia Nacional do Idoso. "Vivo sozinho, mas minha agenda está lotada." Das 13h às 19h, ele cumpre sua jornada de trabalho; duas vezes por semana, das 9h às 11h, e às vezes, aos sábados, faz ginástica, alongamento e hidromassagem.
Os idosos cumprem uma jornada semanal não muito diferente da da média dos ocupados, segundo o Dieese e a Fundação Seade. No total, os ocupados trabalham em média 44 horas por semana. Na faixa acima de 60 anos, 41 horas. Dieese e Seade também constataram que o assalariado com mais de 60 anos fica mais tempo no emprego (146 meses) do que assalariados de outras faixas etárias (112 meses, na média).
Contratações
A Pizza Hut e o grupo Pão de Açúcar abriram espaço para os trabalhadores idosos. A Pizza Hut tem 16 lojas em São Paulo, das quais nove possuem funcionários da terceira idade -são 12 ao todo. Até o dia 5 de outubro, estão abertas as inscrições para novas contratações. Podem ser feitas pelo site (http://www.pizzahutsp.com.br/). A empresa pretende empregar 25 idosos. O Pão de Açúcar deu início a um projeto de contratação de pessoas com mais de 55 anos em 1997. Hoje são 800.
FOLHA DE SÃO PAULO