1.29.2005

Setor de serviços ofereceu salários maiores que a indústria na região

DA FOLHA ONLINE

Os salários pagos em 2004 pelo setor de serviços na região metropolitana de São Paulo superaram o rendimento médio da indústria. No ano passado, o salário médio do setor de serviços foi de R$ 1.152, ligeiramente superior aos R$ 1.137 da indústria, segundo pesquisa Seade-Dieese. Foi a primeira vez desde 1985, quando a pesquisa começou a ser feita, que os salários pagos na indústria foram menores que os de serviços.
O economista da Unicamp Claudio Dedecca, especializado em trabalho, disse que o fenômeno já ocorre internacionalmente. "A região de São Paulo é coração das atividades modernas do setor de serviços do país. Em outras grandes cidades, como Nova York, os salários no setor de serviços são altamente elevados."
Essa melhora no rendimento em serviços reflete as transformações ocorridas no setor nos últimos anos. "O setor passou a incorporar atividades especializadas que antes pertenciam à indústria, como serviços de engenharia, financeiras ou de informática", diz o coordenador de pesquisas do Seade, Alexandre Loloian.
Na média, o salário de todos os setores subiu 1,5% em 2004, após seis anos seguidos de queda, passando a corresponder a R$ 1.015. Apesar da alta, trata-se do segundo pior resultado da série, melhor apenas que os salários de 2003. Os salários estavam tão baixos que o rendimento médio de 2004 é 25,4% menor que o de 1999. "A recuperação do salário era esperada, já que a queda de 2003 foi muito forte", diz o diretor de pesquisas do Seade, Sinésio Ferreira.
Para a Fundação Seade-Dieese, as negociações trabalhistas de 2004 influenciaram na recuperação dos salários. "As negociações conseguiram repor a inflação e também obter algum ganho real de salário", afirmou a técnica do Dieese, Patrícia Lino Costa.
Metodologia das pesquisas explica diferentes taxas

As diferenças entre os resultados do ano passado apurado nas pesquisas sobre emprego no país se explicam pelas metodologias adotadas.A PME (Pesquisa Mensal de Emprego) realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mede apenas a taxa de desemprego aberto -ou seja, daqueles que procuraram trabalho nos 30 dias anteriores à entrevista.Já a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) da Fundação Seade-Dieese avalia o desemprego total: aberto, oculto pelo trabalho precário e oculto pelo chamado desalento daquelas pessoas que desistiram de procurar uma ocupação. No caso da pesquisa feita pelo IBGE, o trabalhador considerado "desalentado" sai da PEA e deixa de pertencer à força de trabalho.Por conta desse critério na metodologia, o resultado da taxa de desemprego do ano passado na região metropolitana de São Paulo foi de 18,7% para a Fundação Seade-Dieese e de 12,6% para o IBGE.Considerando apenas os dados do desemprego aberto, os resultados são semelhantes, já que a taxa da PED caiu de 12,8%, em 2003, para 11,6% em 2004.
FOLHA DE SAO PAULO

1.28.2005

Empresa decide demitir fumantes e manda seus empregados emagrecerem

DA REUTERS

O dono de uma companhia em Michigan (EUA) que forçou seus empregados a optarem entre parar de fumar ou deixar o emprego disse que vai pedir aos seus empregados gordos que percam peso.
A proibição do uso de tabaco -em casa ou no trabalho- levou quatro empregados, na última semana, a pedirem demissão na Weyco, companhia de seguros em Okemos. Eles se recusaram a fazer um exame de urina obrigatório requisitado aos 200 empregados pelo fundador e dono, Howard Weyers.
Os próximos na fila das demissões: empregados acima do peso. "Temos de trabalhar os hábitos alimentares e fazer com que as pessoas se exercitem. Mas, se você é obeso, você está protegido judicialmente", afirma Weyers. Ele trouxe uma terapeuta de distúrbios alimentares para conversar com os trabalhadores. Weyers diz que está preocupado com a saúde dos empregados, e não só com as despesas da empresa com o seguro médico dos funcionários.

FOLHA DE SAO PAULO

1.26.2005

Aumento de vagas não eleva rendimento

DA SUCURSAL DO RIO

Os dados da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) relevam que o rendimento médio do trabalhador cresceu 1,9% em dezembro em relação a igual período de 2003, informou ontem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Trata-se do quarto mês consecutivo de expansão da renda na comparação com 2003.
Já em relação ao mês imediatamente anterior, a renda manteve um comportamento errático. Registrou queda de 1,8% ante novembro, depois de ter ficado estável (0,1%) em relação a outubro.
Em termos reais, descontada a inflação, o rendimento médio foi de R$ 895,40 em dezembro. Na média do ano, segundo o IBGE, ficou em R$ 907,84, abaixo de 2003 (R$ 914,74) e 2002 (R$ 1.047).
Especialistas dizem que a economia ainda não entrou num ciclo sustentado de expansão capaz de aquecer o mercado de trabalho e promover uma melhora da renda. Por enquanto, a reação está restrita ao aumento do emprego.
Uma outra explicação para o recuo da renda é que setores com salários baixos como o da construção civil lideraram a geração de vagas, diz o IBGE.
Na comparação com novembro, a renda foi puxada para baixo por causa da construção civil. É que o setor paga baixos salários e gerou muitos postos em dezembro, rebaixando a média. Já em relação a dezembro de 2003, o aumento do rendimento ocorreu na esteira de comércio, serviços prestados às empresas e indústria.
Impulsionada pelo aumento das contratações, a massa real de rendimentos subiu 2,3% em 2004, segundo cálculo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que considerou o percentual "modesto". O indicador é um parâmetro da renda disponível para o consumo.
Para o Iedi, 2004 foi mais um ano desfavorável para a renda. "A despeito do crescimento da economia e da redução do desemprego, não foi possível compensar nem ao menos em parte a grande queda do rendimento real em 2003. Certamente foi o pior resultado econômico do país no ano passado", diz o Iedi em relatório.
Para 2005, porém, especialistas se mostram mais animados. Alex Agostini, da GRC Visão, prevê que a renda deve subir perto de 5%. Claudio Dedecca, da Unicamp, estima que o rendimento aumentará na mesma proporção do PIB -em torno de 4%.
Para Agostini, só a melhora do emprego e a perspectiva de crescimento fazem o rendimento aumentar. É que cresce o poder de barganha do trabalhador, que pode pleitear aumentos maiores. A inflação mais baixa em 2005, diz, também ajudará a renda (PS)


Desemprego cai para 9,6% em dezembro

IBGE comemora recuperação do mercado, mas analista ressalva que renda segue baixa e a informalidade, alta

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

As previsões otimistas do governo se confirmaram, e o desemprego encerrou 2004 no patamar inédito de um dígito: a taxa ficou em 9,6% em dezembro, a menor marca da nova Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), iniciada em outubro de 2001.
Considerando a nova e a velha pesquisa de emprego (cuja coleta acabou em 2002), 2004 foi o sétimo ano consecutivo de queda na renda, com recuo de 0,8% na média anual. O percentual, porém, é menor do que o de 2003, quando a retração fora de 12,9% na média de março e dezembro, período para o qual o IBGE dispõem de dados em razão da mudança na pesquisa.
Na média de 2004, a taxa de desemprego ficou em 11,5% nas seis principais regiões metropolitanas do país, 0,8 ponto percentual abaixo do resultado de 2003 (12,3%). A previsão de especialistas é que o percentual recue um pouco mais em 2005, para a casa de 11%.
De acordo com o IBGE, a taxa de desemprego cedeu em dezembro, como sempre ocorre historicamente, por dois motivos: menos gente procurou trabalho no período das festas de final de ano e mais vagas foram criadas, especialmente postos temporários. Ou seja: a procura por trabalho foi menor.
Para o IBGE, 2004 foi um ano de recuperação do mercado de trabalho, com menor informalidade, geração de novos postos de trabalho (inclusive com carteira assinada, o que praticamente não aconteceu em 2003) e crescimento da renda no último quadrimestre.
"O quadro foi mais favorável neste ano. Há, sem dúvida, uma recuperação do mercado de trabalho", disse Cimar Azeredo Pereira, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.
Já o economista da Unicamp Claudio Dedecca, especializado em trabalho, não fez uma análise tão otimista. Disse que, de fato, as condições em 2004 foram "melhores", mas que ainda é "cedo para falar em recuperação", pois a informalidade continua elevada e a renda segue deprimida.
"O contexto foi mais favorável, mas uma recuperação é um termo muito forte para ser usado. Para se dizer isso, a renda e a formalidade teriam de aumentar de modo consistente", afirmou.
Ao justificar sua análise, Dedecca disse que há "um estoque" muito grande de desempregados que ainda não foram absorvidos. "Uma taxa na faixa de 10% é ainda muito alta."
De acordo com o IBGE, em dezembro 2,070 milhões de pessoas estavam sem emprego nas seis principais regiões metropolitanas -10,8% menos do que os 2,302 milhões no mesmo mês de 2003.
Já Alex Agostini, da GRC Visão, afirmou que o desemprego poderia ter caído ainda mais se o Banco Central não tivesse aumentado os juros desde setembro. Mesmo assim, considerou os dados positivos: "Os números são, sim, motivo de comemoração. Há um ambiente de boas expectativas tanto do lado do empresário quanto do da população. Isso me leva a acreditar que em 2005 o desemprego cairá ainda mais".

Dezembro
Segundo Azeredo, do IBGE, muitas pessoas deixaram o mercado de trabalho nas duas últimas semanas de dezembro por acreditarem que não conseguiriam uma colocação naquela época do ano.
Tal movimento fez crescer o contingente de pessoas abrigadas na População Não-Economicamente Ativa (reúne os chamados inativos, aposentados, pessoas que não procuram emprego nem trabalham e donas-de-casa), que cresceu 2,1% em relação a dezembro de 2003.
A alta das contratações em dezembro (3,2% ante igual mês de 2003) também ajudou a reduzir a taxa, mas o comércio decepcionou, diz Azeredo. É que a ocupação do setor, que tradicionalmente abre muitas vagas temporárias no final do ano, caiu 1,2% na comparação com dezembro de 2003. No mesmo mês daquele ano, o emprego no comércio havia registrado alta de 3,3%.

FOLHA DE SAO PAULO

Produtividade e uso de capacidade crescem

Sondagem da FGV e pesquisa da CNI mostram aquecimento; para 59% das empresas, situação será melhor neste semestre

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria de transformação utilizou 83,6% de sua capacidade de produção no mês de janeiro, a maior proporção para este período do ano desde 1987. De maneira geral, o setor está expandindo suas atividades e a expectativa dos empresários industriais para os próximos meses é positiva.
Os resultados fazem parte da Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas. Eles mostram que, apesar de ter patinado entre os meses de setembro e novembro do ano passado, o setor deve continuar em expansão. A estagnação destes três meses, avalia a FGV, está mais relacionada à acomodação do setor aos novos níveis de produção do que ao "esgotamento do atual ciclo de crescimento".
Os empresários do setor avaliam que a procura por seus produtos continua aquecida. Sinal desse otimismo está justamente na baixa proporção dos que pensam o contrário, ou seja, que a demanda está fraca. Apenas 12% disseram acreditar nisso. Proporção menor em um mês de janeiro só ocorreu em 1974, quando ela era de 8%.
Quando avaliam o futuro próximo, os industriais também esperam por tempos ainda melhores: para 59% das empresas, a situação dos negócios melhorará durante os seis primeiros meses deste ano, enquanto apenas 4% dizem achar que ela piorará.
Mesmo as recentes elevações da taxa básica de juros -a Selic começou subir em setembro do ano passado- não abalaram a confiança do setor no futuro. Segundo a pesquisa da FGV, "a visão majoritária parece ser a de que este processo se trata de um ajuste fino que não comprometerá o curso de médio e longo prazo da economia".
Mas, se por um lado a sondagem só traz boas notícias sobre o setor, por outro ela reaquece o debate sobre a política monetária. Porque se a indústria estiver próxima de atingir sua capacidade máxima de produção ao mesmo tempo em que a procura aumentar, os preços acabam subindo, o que exigiria mais altas dos juros para conter a inflação potencial.
Já a CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgou pesquisa que coloca lenha na fogueira da discussão dos juros, mas em sentido contrário ao da FGV. Segundo a instituição, os indicadores de produtividade, do setor cresceram em 2004, após três anos de estagnação.
Para quem pilota a política de juros, a notícia é positiva, já que trabalhadores mais produtivos conseguem produzir mais em menos tempo e com custos menores, o que barateia os produtos ou mantém seus preços estáveis para enfrentar a concorrência. Ou seja, quanto maior o crescimento da produtividade, menor a pressão para alta nos preços.
Nos 11 primeiro meses de 2004, a produtividade cresceu 5,3%, após ter ficado estagnada por três anos. Segundo a nota da CNI, parte do ganho é explicada pela retomada do consumo interno: as indústrias esperam sinais mais sólidos de retomada para contratar trabalhadores e, no início, aumentam a produção com o mesmo número de trabalhadores, elevando sua produtividade.
Quando medida pelo número de horas trabalhadas, e não de trabalhadores, a produtividade cresce 2,7%, ainda assim um aumento significativo, diz a CNI.

FOLHA DE SAO PAULO

Trabalhadores do ABC celebram expansão do PIB

Novas contratações e salários em alta fortalecem "lulismo" da área
Paulo A. Paranaguá
Em São Bernardo do Campo

No quilômetro 25 da via Anchieta, a usina da Volkswagen é a mais imponente, numa estrada que concentra as principais empresas da indústria de São Paulo. A dez quilômetros dali, mais perto da cidade de São Paulo, encontram-se a Ford e a Mercedes Benz-Daimler-Chrysler.

Serginho deixa o imenso edifício da Volkswagen no início da tarde. Naquele dia, a manchete do "Diário do Grande ABC", o principal jornal regional, foi objeto das mais diversas conversas: "São Bernardo ganhou uma Volkswagen inteira em empregos industriais em 2004", o que corresponde a 16 mil contratações, isto é, o equivalente ao número total de empregados da Volkswagen. "O pessoal não tinha avaliado ao certo a amplidão da retomada da atividade", explica Serginho.

Em 2004, o Estado de São Paulo criou mais de 500 mil novas vagas de emprego, ou seja, o quarto das criações de empregos de todo o Brasil.

"Eu trabalho na Metal Leve já faz cinco anos", conta Adilson. "Enquanto nós éramos 1.300 assalariados, foram feitas 700 contratações no ano passado, com objetivo de enfrentar o crescimento da demanda. Pela primeira vez desde que eu trabalho nesta empresa, nós recebemos um aumento salarial real, e não um mero reajuste visando a compensar a defasagem em relação à inflação. Além disso, os acidentes diminuíram, uma vez que a empresa consentiu investimentos maiores em matéria de segurança".

A sede do sindicato dos metalúrgicos do ABC não fica longe da Volkswagen, do outro lado da via Anchieta. Serginho lembra-se do impacto que teve a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva --ele mesmo um antigo torneiro mecânico-- à presidência da República, dois anos atrás.

"As pessoas tinham a expectativa de que haveria uma solução rápida para todos os problemas", recorda. "Muitos acabaram ficando desiludidos depois do primeiro ano de mandato. Agora, o ambiente no refeitório da usina está mais equilibrado, e o pessoal mais ponderado. Lula permaneceu próximo de nós, e ele voltou para nos visitar na Volkswagen".

"As mulheres são mais sensíveis às questões sociais", estima Rose, uma empregada da firma japonesa Makita. Na opinião desta operária, o descontentamento tomou o lugar da euforia inicial. "A insatisfação persiste", prossegue Rose.

"Muitos metalúrgicos são oriundos da pobre região Nordeste ou de outros Estados. Cada um deles precisa ajudar dois ou três membros de sua família, que estão desempregados".

"É preciso investir também na periferia de São Paulo", garante Adilson. "Em Santo André, na favela Lamartine, eu conheço pessoas que contam apenas com o programa social Bolsa-Família para sobreviver. O dinheiro que eles recebem lhes permite ao menos ter o que comer. É um bom começo, mas estamos longe do ideal".

Pedro, um antigo empregado da Brastemp, deixou esta empresa por causa de uma doença. O sindicato negociou para ele uma boa indenização. "Antes, os preços aumentavam até mesmo duas vezes ao mês", diz. "Os casos piores foram os das tarifas de eletricidade e de telefone, logo depois das privatizações. Então, Lula acabou com essas práticas, num momento em que a situação estava se tornando caótica".

Mais quatro anos para Lula

O jornal conservador "O Estado de S.Paulo", com data de 19 de janeiro, destacou a influência dos sindicatos sobre o governo. Além do presidente Lula, dez ministros e cerca de cinqüenta altos-funcionários seriam oriundos do sindicalismo.

O argumento direitista não perturba nem um pouco Isaias, conhecido pelo apelido de "Grilo", um assalariado da Metal Leve que não esconde o seu orgulho do tempo em que ele "tomava algumas cervejas em companhia de Lula".

"Já que os patrões que foram eleitos deputados defendem mesmo os interesses das suas empresas, por que os trabalhadores deveriam se privar de defender os interesses da sua categoria?", pergunta.

O ano de 2005 iniciou-se com um aumento do salário mínimo, para R$ 300 (US$ 108). "Durante muito tempo, nós sonhamos com o dia em que um salário mínimo alcançaria o patamar simbólico equivalente a US$ 100", lembra Serginho. "Agora que nós ultrapassamos este patamar, nós vamos ter de lutar por um salário mínimo de R$ 600 na região".

Na Volkswagen, o piso é de R$ 2.000, informa o trabalhador.

Rose acha que "Lula merece um segundo mandato de quatro anos". Apesar das suas reservas, ela continua acreditando nele. Muito além do apoio ao seu governo, "o 'lulismo' continua sendo muito forte", acrescenta.

Tradução: Jean-Yves de Neufville
LE MONDE

1.24.2005

Dois sindicalistas estão entre acusados de tortura

FEBEM

Dirigentes do sindicato dos empregados respondem a processo em liberdade

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois dirigentes do sindicato que representa os empregados da Febem estão na lista de 201 funcionários e ex-funcionários da instituição na capital e na região metropolitana que respondem a processo em liberdade ou estão com prisão preventiva decretada por acusação de tortura.
O Sitraemfa (Sindicato os Trabalhadores em Entidades de Assistência ao Menor e à Família do Estado de São Paulo) é acusado por entidades do menor e de direitos humanos de defender torturadores. Desde 2000, 15 denúncias por tortura foram apresentadas pelo Ministério Público e aceitas pela Justiça da capital e da Grande São Paulo.
Na última sexta-feira, 27 funcionários tiveram a prisão preventiva (até o julgamento) decretada. A denúncia da Promotoria, que deve atingir um número maior de agentes e monitores, será apresentada entre hoje e amanhã.
Os nomes dos dirigentes do Sitraemfa aparecem nas denúncias anteriores. Edson Brito Silva, atual diretor de comunicação do sindicato, responde processo em liberdade por um incidente ocorrido em setembro de 1999, no extinto complexo Imigrantes.
Ele e mais 19 funcionários foram acusados de torturar 77 internos. O processo tramita desde 2002 na 13ª Vara Criminal de São Paulo. Está na fase de interrogatório. Cumpre ainda o estágio inicial por causa do grande número de vítimas e de réus.
Antônio de Souza Neves, também da diretoria do Sitraemfa, é outro que está na lista dos denunciados. Ele foi acusado por duas vezes pelo Ministério Público. Em uma delas, Neves e mais 22 funcionários foram denunciados por supostamente torturar 28 internos no cadeião de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, onde os adolescentes foram colocados improvisadamente em 2000.
Em novembro passado, os 23 funcionários foram absolvidos por falta de provas. Dois internos que reconheceram Neves como autor de agressões no distrito policial não confirmaram a identificação na Justiça. Segundo relato da Promotoria no processo, talvez por medo de represálias.
Em outro processo, no entanto, Neves e outros oito funcionários da Febem foram acusados de torturar 29 internos da UI - 13 (complexo Tatuapé). O grupo acompanha em liberdade o processo que tramita na 24ª Vara Criminal de São Paulo desde 2002.
"Esse fato [dos dois dirigentes sindicais processados] é vergonhoso e mostra por que o sindicato acoberta torturadores e prioriza a defesa deles", afirmou Ariel de Castro Alves, coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos.
Segundo Alves, entidades do menor e de direitos humanos querem que a CUT (Central Única dos Trabalhadores) abra um processo de ética contra o Sitraemfa e o desfilie da central sindical. Eles também defendem que o sindicato seja investigado pelo Ministério Público por suposta incitação de rebeliões.
Em 2003, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado do Ministério Público) denunciou oito funcionários das unidades 30 e 31 de Franco da Rocha -já desativadas-, na Grande São Paulo, por supostamente incitarem uma série de rebeliões no complexo. "Queremos que essa investigação continue", afirmou Alves.
O presidente da CUT, Luiz Marinho, disse que a central desconhece se algum dirigente do Sitraemfa esteja sendo processado por tortura. "Se isso ocorreu, o sindicato tem, no mínimo, que afastar a pessoa. Mas isso faz parte do foro do Sitraemfa."
O presidente da CUT disse que o Sitraemfa cometeu equívocos, como convocar uma greve após a prisão de funcionários da unidade 41, na Vila Maria, por suspeita de tortura. O ato foi suspenso, segundo Marinho, a pedido da CUT porque parecia uma defesa prévia dos supostos torturadores.

Sindicato diz que acusados são inocentes e teme "linchamento"

DA REPORTAGEM LOCAL

Para o Sitraemfa, os dois dirigentes processados por tortura são inocentes e qualquer represália contra eles seria um julgamento precipitado. "Linchamento antecipado é muito perigoso. Isso seria a barbárie", afirmou o ex-presidente e hoje diretor do sindicato Antonio Gilberto da Silva.
Questionado sobre as denúncias de tortura envolvendo membros do sindicato, Silva disse inicialmente que se falava do caso, mas ninguém apontava os nomes. Ao ser informado pela reportagem dos processos envolvendo os dirigentes, ele disse que os fatos ocorreram antes de os dois processados assumirem as funções na entidade. Os dois fazem parte da diretoria do Sitraemfa desde dezembro de 2001.
"Eles não têm coragem de matar uma mosca", afirmou Silva. Segundo ele, os processos contra os dois dirigentes "caminham para a absolvição". "Os dois receberam várias cartas de elogios devido ao bom trabalho junto aos internos. Isso ninguém fala", disse.
O dirigente Antônio de Souza Neves também salientou que o fato pelo qual ainda é acusado ocorreu antes de assumir o cargo no sindicato. Ele disse que é inocente das duas acusações.
No primeiro processo, de um suposto espancamento no cadeião de Pinheiros, Neves afirmou que os internos apresentaram lesões anteriores à chegada naquela unidade. Nesse caso, ele já foi absolvido pela Justiça.
No outro processo, que ainda tramita na Justiça, de suposta sessão de tortura na unidade 13 (complexo Tatuapé) da Febem, Neves afirmou que houve um confronto entre adolescentes e funcionários. "Houve necessidade de contenção. As entidades que denunciaram isso só ouviram um lado", disse o dirigente.
O diretor de comunicação, Edson Brito Silva, não foi encontrado pela reportagem. A chamada de seu telefone celular estava desviada para a sede do sindicato. A entidade disse que não tinha outro contato de Brito.
Ele nega que o sindicato compactue com torturadores, como afirmam entidades do menor e de direitos humanos. Uma mostra disso, segundo ele, ocorreu em 2001, quando o sindicato teria denunciado um suposto espancamento de internos na unidade da Febem de São Vicente (litoral paulista) praticado por policiais militares e outros funcionários deslocados para o local.
Para Silva, o incidente ocorrido na unidade 41 foi planejado pela Febem para desmoralizar a categoria. "Se existe tortura, é porque o Estado não cumpre a lei. Em vez de colocar 40 em uma unidade, coloca 200. E são poucos funcionários para cuidar dos internos."

FOLHA DE SAO PAULO

Só 39,5% dos trabalhadores têm carteira

DA SUCURSAL DO RIO

Ainda não há uma melhora clara nem mesmo uma inversão de tendência, mas a informalidade ao menos parou de crescer em 2004, segundo o IBGE.
Do total de pessoas empregadas em dezembro, 39,5% tinham carteira de trabalho assinada. É um pouco mais do que os 39,1% de dezembro de 2003. A marca, porém, está longe de voltar ao nível de dezembro de 2002 -41,4%.
Em dezembro, o contingente de trabalhadores com carteira subiu 4,2% ante igual mês de 2003.
Já o percentual de trabalhadores sem carteira, por sua vez, também registrou um ligeiro aumento em relação ao total. Passou de 16,2% em dezembro de 2003 para 16,5% no mesmo mês de 2004. Em 2002, no entanto, o índice era bem menor: 14,5%. Em dezembro, as contratações sem carteira aumentaram 5,5%.
Segundo Cimar Azeredo Pereira, do IBGE, os dados mostram que o emprego formal voltou a subir em 2004, graças a recuperação do nível de atividade econômica. Mas o aumento, afirma, ainda não foi suficiente para reduzir a informalidade aos patamares de antes da crise de 2003.
Um dado ressaltado pelo IBGE foi a queda da participação relativa dos empregados por conta própria. Tal contingente, que reúne especialmente camelôs e biscates, representava 20,5% do total em dezembro de 2003. Caiu para 19,8% em igual mês de 2004. Em 2002, o índice era de 19,5%.
Para o economista Claudio Dedecca, da Unicamp, os resultados de dezembro não podem ser interpretados como um recuo da informalidade. A informalidade se agravou "por vários anos sucessivos" e há uma grande massa de trabalhadores sem garantias legais que ainda precisam ser incorporados, diz ele. Isso só ocorrerá, afirma, com a expansão do rendimento e crescimento econômico. "É preciso uma expansão do PIB de ao menos 5,5% a 6% ao ano para que ocorra uma mudança estrutural. Como isso não vai acontecer em 2005, o problema da informalidade persistirá", avalia.
Segundo o IBGE, o número de mulheres desempregadas cresceu proporcionalmente e elas continuam sendo a maioria entre os desocupados -56,9% do total em dezembro de 2004. O percentual era menor em igual mês de 2003 (54,4%) e em 2002 (51,8%).
Os dados revelam ainda que 43,8% dos desempregados possuía ao menos o ensino médio completo em dezembro de 2004.


1.19.2005

Swiss vai cortar 1.000 postos e reduzir frota

A Swiss International anunciou ontem um corte de mil postos de trabalho para reduzir custos. O pacote de medidas adotado inclui a redução da frota em 13 aeronaves.
A aérea anunciou ainda que pretende reduzir suas operações nos aeroportos de Genebra e da Basiléia, concentrando-se no "hub" (aeroporto que irradia vôos, constituindo um nó aéreo) de Zurique. As três cidades ficam na Suíça.
Segundo a empresa, as medidas devem poupar 300 milhões de francos suíços (R$ 685,7 milhões) por ano a partir de 2007. A Swiss, como é mais conhecida, vem sofrendo problemas financeiros desde sua criação, em 2002, quando sucedeu a falida Swissair. A empresa já tinha planos de redução de 1,6 bilhão de francos suíços (R$ 3,65 bilhões) por ano. (DA FOLHA ONLINE)

FOLHA DE SAO PAULO

1.18.2005

Pobreza causa um tsunami a cada 5 dias, diz ONU

Organização pede ação global contra mortes decorrentes da miséria

Nick Cumming-Bruce
Em Bancoc, Tailândia


Doenças evitáveis relacionadas à pobreza matam, a cada cinco dias, tantas pessoas quanto o desastre da tsunami na Ásia. A cada ano, o total de mortes equivale a 68 tsunamis, de acordo com um relatório da ONU divulgado na segunda-feira (17/01) para o lançamento de uma estratégia global de combate à pobreza, sua prioridade em 2005.

A estratégia, estabelecida pelo Projeto Milênio da ONU, um grupo consultor independente chefiado pelo economista Jeffrey Sachs, diz que as Metas de Desenvolvimento para o Milênio, adotadas pelos países membros da ONU em 2000 com o objetivo de cortar pela metade a pobreza do mundo na próxima década, são "extremamente atingíveis" com uma assistência equivalente a 0,5% da renda dos países ricos. Entretanto, sem ação urgente em 2005, muitos países que poderiam alcançar as metas "estarão fadados ao fracasso", disse o relatório.

Tal fracasso poderia aumentar ao risco de conflitos, adverte o relatório. Alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio não é só uma questão de direitos humanos e justiça, mas também "vital à estabilidade e segurança nacional e internacional", diz o texto. Ele pede que os objetivos de Desenvolvimento do Milênio sejam "prioritários nos esforços internacionais para por um fim à violência, conflito, instabilidade e terrorismo".

Enquanto isso, as agências internacionais ainda estão avaliando o tamanho do golpe que o desastre da tsunami de 26 de dezembro desferiu sobre os esforços de redução de pobreza na região. A devastação infligida pelas ondas levou milhões de pessoas à pobreza mais profunda, destruiu empregos e modos de vida, rompeu sistemas de educação em algumas áreas e causou danos ambientais que levarão anos para serem recuperados, observaram funcionários da ONU.

Eles expressaram preocupação que as enormes somas que os governos prometeram para a assistência das vítimas da tsunami asiática sejam retiradas dos fundos existentes para ajuda e afetem os programas de redução de pobreza em outros países em desenvolvimento.

Entretanto, a ONU vem fazendo esforços para conseguir a simpatia e o apoio internacional às vítimas da tsunami no longo prazo, contra agentes igualmente mortíferos, como a fome e a doença. Meio milhão de mulheres morrem no parto a cada ano, o equivalente a uma tsunami asiática a cada quatro meses, segundo a ONU. Dois a três milhões de pessoas morrem anualmente de malária, equivalente a ao menos 12 tsunamis por ano. Três milhões de pessoas morrem a cada ano do vírus da Aids, o que equivale a uma tsunami a cada três semanas.

O relatório, chamado "Investindo no Desenvolvimento", é o primeiro exercício de cálculo detalhado de custos desse tipo. Ele diz que os remédios eficazes requerem um grande aumento nos fundos arrecadados internamente pelos próprios países em desenvolvimento.

Além disso, há também a necessidade de um aumento na assistência oficial ao desenvolvimento, que deveria passar de US$ 135 bilhões (em torno de R$ 405 bilhões) em 2006, o equivalente a 0,44% do produto interno bruto dos países doadores, para US$ 195 bilhões (cerca de R$ 585 bilhões) em 2015, ou seja, 0,54% de seu produto interno bruto.

Outra fonte possível de fundos seria a poupança gerada pela redução do consumo excessivo no mundo desenvolvido, diz Lee Yee-Cheong, co-autor do relatório e coordenador de uma força tarefa de ciências, tecnologia e inovação. A Europa gasta mais com sorvete do que o custo estimado para fornecer água e esgoto no mundo todo, observa.

O relatório do Projeto Milênio, entretanto, enfatiza a necessidade de melhorar a qualidade da forma como a assistência é distribuída e utilizada. Segundo o documento, que se apresenta como um "plano prático para alcançar Objetivos de Desenvolvimento do Milênio", a qualidade da ajuda oficial "frequentemente é muito baixa" e inconsistente com políticas de câmbio. Isso fomenta a noção de que a ajuda não funciona, ameaçando o apoio público para a assistência ao desenvolvimento, observa.

Agências multilaterais não coordenam sua ajuda e não estimulam os países em desenvolvimento a levarem a sério as Metas de Desenvolvimento do Milênio. As estratégias de ajuda precisam se concentrar mais em torno dos objetivos, diz.

Similarmente, o relatório identifica a falta de governo em países em desenvolvimento, marcados pela corrupção e políticas enganadas, como a principal razão por estarem fracassando em atingir os objetivos de redução da pobreza.

O relatório sugere que vários países poderiam receber o status de "trem expresso" e assim obterem grande aumento na assistência ao desenvolvimento. Para isso, teriam que se qualificar para o alívio da dívida, sob a iniciativa chamada Países Pobres Altamente Endividados, ou responderem aos critérios de governo aplicados por organizações como a Corporação Desafio do Milênio dos EUA, o Mecanismo de Análise de Pares da África ou as análises conjuntas do Banco Mundial e FMI.

Enquanto isso, países desenvolvidos ou em desenvolvimento deveriam lançar, em 2005, um conjunto de medidas que o relatório chama de "Ações de Vitória Rápida", que podem salvar ou melhorar milhões de vidas; tais ações vão desde refeições escolares, políticas de controle de malária até a distribuição de mosquiteiros e remédios contra o vírus da Aids.

"Estamos em uma posição de acabar com a pobreza extrema em nossa geração", disse Sachs na divulgação do relatório. "Não apenas cortar a pobreza ao meio. Se quisermos eliminar a extrema pobreza, podemos fazer isso até 2025."
HERALD TRIBUNE

1.15.2005

Mulheres de sucesso não conseguem se casar

Os homens preferem namorar suas subalternas, jamais suas chefes

Maureen Dowd
Em Washington

Fred R. Conrad/NYT

Maureen Dowd é colunista

Há alguns anos, num jantar de jornalistas da Casa Branca, conheci uma linda atriz. Alguns momentos depois ela despejou: "Não consigo acreditar que tenho 46 anos e não me casei. Os homens só querem casar com suas secretárias ou relações-públicas".

Eu vinha notando uma tendência nessa linha, que os homens famosos e poderosos se casavam com as jovens cujo trabalho era cuidar deles de alguma maneira: suas secretárias, assistentes, babás, cozinheiras, comissárias de bordo, pesquisadoras e checadoras de fatos.

As mulheres da equipe de apoio são as novas sereias porque, como diz um conhecido meu, elas vêem os homens para quem trabalham como "a lua, o sol e as estrelas". Tudo tem a ver com orbitar, servir e reverenciar seu Deus Sol.

Em todos os ótimos filmes de Spencer Tracy/Katharine Hepburn, mais de meio século atrás, o mais excitante era a vivacidade de um romance entre iguais. Hoje em dia os cineastas parecem muito mais interessados na aura reconfortante dos romances entre desiguais.

Em "Espanglês", de James Brooks, Adam Sandler é um cozinheiro de Los Angeles que se apaixona por sua empregada mexicana gostosa. A empregada, que limpa a bagunça de Sandler sem falar inglês, é apresentada como a mulher ideal. A esposa, interpretada por Tea Leoni, é repulsiva: um verdadeiro monstro infiel que acaba de perder o emprego numa firma de design. Imaginem Faye Dunaway em "Rede de Intrigas" se ela tivesse de ficar em casa, ou Glenn Close em "Atração Fatal" sem o charme.

A mesma atração de desiguais animou o sucesso de Richard Curtis do final de 2003, "Simplesmente Amor". O espirituoso e sofisticado primeiro-ministro britânico interpretado por Hugh Grant se apaixona pela gordinha que serve chá e biscoitos em seu escritório. Um empresário casado com a substancial Emma Thompson se apaixona por sua secretária insossa. Um escritor fica caído pela empregada que só fala português.

(Eu me pergunto: a tendência a transformar empregadas que não falam inglês em heroínas está relacionada à tendência de sujeitos que gostam de assistir Kelly Ripa de manhã com o som desligado?)

Escrito por Giovanni Alves às 06h56
[ (0) Comente ] [ envie esta mensagem ]






A arte está imitando a vida, transformando mulheres que buscam a igualdade em narcisistas egocêntricas e objetos de rejeição, em vez de afeição.

Como escreveu recentemente John Schwartz aqui no The New York Times, "os homens preferem casar com suas secretárias a suas chefes, e a culpa talvez seja da evolução".

Uma nova pesquisa feita por psicólogos da Universidade de Michigan com estudantes de faculdade sugere que os homens que procuram relacionamentos de longo prazo preferem se casar com mulheres em empregos subordinados do que com supervisoras.

A doutora Stephanie Brown, principal autora do estudo, resumiu a questão para a imprensa: "As mulheres poderosas estão em desvantagem no mercado de casamento porque os homens talvez prefiram se casar com mulheres menos realizadas". Os homens acham que as mulheres em cargos importantes têm maior probabilidade de traí-los.

"A hipótese", disse Brown, "é que há pressões evolucionárias sobre os homens para minimizar o risco de criar filhos que não sejam seus." As mulheres, por outro lado, não demonstraram uma diferença marcante quanto à atração por homens, que poderiam trabalhar acima ou abaixo delas. E os homens não mostraram preferência no que se refere a transas de uma noite.

Um segundo estudo, feito por pesquisadores de quatro universidades britânicas e que foi divulgado na semana passada, sugere que homens inteligentes com cargos exigentes preferem ter mulheres à moda antiga, como suas mães, a ter mulheres iguaisa eles.

O estudo descobriu que o QI alto prejudica as probabilidades de uma mulher se casar, enquanto para os homens é uma vantagem. A perspectiva de casamento para os homens aumenta 35% para cada aumento de 16 pontos no QI; para as mulheres, há uma queda de 40% para cada aumento de 16 pontos.

Então o movimento feminista foi uma espécie de armadilha cruel? Quanto mais as mulheres conquistam, menos são desejáveis? As mulheres querem ter um relacionamento com homens com quem elas possam conversar a sério --infelizmente, muitos deles querem ter relacionamentos com mulheres com as quais não precisem falar.

Perguntei à atriz e escritora Carrie Fisher, que esteve na costa leste para promover seu romance "The Best Awful" (O melhor horrível), e ela confirmou que as mulheres que representam um desafio para os homens enfrentam problemas.

"Eu não namoro há 12 milhões de anos", ela disse secamente. "Desisti de namorar homens poderosos, porque eles queriam sair com mulheres de profissões subalternas. Por isso decidi sair com caras de profissões subalternas. Mas então descobri que os reis querem ser tratados como reis, e os consortes também querem ser tratados como reis."

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

THE NEW YORK TIMES

1.14.2005

Volkswagen corta salário de empregado político

373 exercem cargo público na Alemanha e não trabalham na firma

Bertrand Benoit
Em Berlim

Volkswagen, a indústria alemã fabricante de automóveis, se rendeu à pressão pública nesta quinta-feira (13/01) ao declarar que deverá abolir sua política controvertida de continuar pagando salários aos seus empregados que deixam o emprego para entrarem na política em tempo integral.

A empresa, controlada pelo Estado alemão, revelou ter 373 representantes eleitos em sua folha de pagamento, incluindo quatro parlamentares e dois membros do Bundestag, a câmara inferior do parlamento federal, todos os seis políticos pertencentes ao Partido Social Democrata (SPD), do chanceler Schröder.

O anúncio surpreendente --que não era esperado antes do final do mês-- foi feito enquanto Bernd Pischetsrieder, atual presidente da empresa, buscava rebater as acusações de que a VW estaria financiando uma rede lobista no interior das câmaras parlamentares alemãs.

A Volkswagen é o mais recente grupo industrial que reage a uma série de escândalos que abalaram a confiança dos alemães em seus representantes políticos. Inicialmente hesitante, o SPD, líder da coalizão governamental, já prometeu uma revisão das regras que fiscalizam as atividades extra-curriculares dos parlamentares.

Numa declaração oficial, a VW afirmou que seu comitê executivo votaria na próxima terça (18), a revogação de uma medida interna válida desde 1990, segundo a qual os empregados que se tornam representantes eleitos recebem salários integrais da fábrica, independentemente de sua carga de trabalho.

"Essa medida dava aos parlamentares uma flexibilidade máxima para programarem seu trabalho", segundo a Volkswagen. "Essa flexibilidade . . . foi concebida para preservar a independência deles no exercício de seus mandatos".

No entanto, os críticos da medida alegavam que esses pagamentos não só comprometiam a independência dos representantes, mas também feriam regras parlamentares da região da Baixa Saxônia. Essas regras estabelecem que os políticos não deveriam receber qualquer pagamento, a não ser o devido pelo seu trabalho parlamentar.

"Parlamentares que voluntariamente negociam sua independência são tão culpados como as empresas que os remuneram", disse ao Financial Times Anke Martiny, ex-integrante do Bundestag e atualmente uma integrante do conselho da Transparência Internacional, organização internacional anticorrupção baseada em Berlim.

Uma fonte próxima à VW disse que os empregados da automobilística em busca de um mandato político agora teriam duas opções: ter seu pagamento suspenso ou receber parte de seus salários mediante a execução completa de uma determinada tarefa.

Tradução: Marcelo Godoy

FINANCIAL TIMES

1.09.2005

Com 1/3 da renda do país, setor informal resiste à retomada

Trabalho melhora; contrabando, pirataria e sonegação persistem


CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A retomada da economia brasileira não alterou a informalidade estruturada no país, que hoje atinge de 35% a 40% da renda nacional, como estimam o Banco Mundial e o governo federal.
Emprego, arrecadação de impostos e contribuição à Previdência subiram em 2004 -sinal de que a informalidade perdeu força no mercado de trabalho.
Mas o contrabando, a pirataria e a sonegação fiscal, que também compõem a economia informal, não param de crescer, segundo empresários e especialistas. Eles consideram que essa é uma tendência mundial até para enfrentar a forte concorrência com a China.
"Quando a economia cresce, melhora o mercado de trabalho formal, como vimos no ano passado, com o aumento da contratação com carteira assinada. Mas a informalidade é uma tendência mundial que faz parte da lógica de produção. Além do mais, a concorrência com a China não é nada fácil", diz Gilberto Dupas, coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da USP.
Pesquisa do Banco Mundial com 133 países mostra o Brasil no 9º lugar do ranking da informalidade -a economia não-declarada no país representa 39,8% da renda nacional bruta. Está acima da média dos países -32,5%.
O fenômeno se manifesta de várias formas em diferentes setores, segundo estudo da McKinsey & Company: contratação irregular de trabalhadores, compra e venda de produtos sem nota, falsificação de mercadorias, violação de direitos autorais, adulteração de produtos e sonegação fiscal.
A indústria têxtil brasileira é uma das mais atingidas pela informalidade. O setor fatura cerca de US$ 13 bilhões por ano. Outros US$ 5,2 bilhões são movimentados anualmente na economia paralela, segundo a Abravest, associação que reúne as confecções.
As fábricas de roupas chegaram a faturar US$ 20 bilhões nos anos 80. "A informalidade tomou conta do setor", afirma Roberto Chadad, presidente da associação.
Empresários do Brás, zona leste de São Paulo, onde estão cerca de 6.000 confecções, admitiram à Folha que não pagam integralmente os impostos nem contratam com registro. Se obedecem a lei, fecham as portas, afirmam.
Na indústria de brinquedos, a perda com contrabando e pirataria chega a R$ 100 milhões por ano, o que equivale a 10% do faturamento do setor. Na de instrumentos musicais, o percentual é de 18% da receita anual.
Cerca de 58% das vendas de óculos estão nas mãos dos contrabandistas. Isso equivale à perda de R$ 350 milhões por ano -metade do faturamento do setor.
De cada dez eletrônicos portáteis, como rádio-relógios e gravadores, quatro são vendidos sem nota, informa um fabricante do setor. No mercado de CDs, as cópias piratas equivalem a 50% das vendas -em 1997 não ultrapassava 5%, segundo fabricantes.
No setor farmacêutico, o índice de informalidade atinge cerca de 30% das vendas -em 1997 não passava de 10%. No de combustíveis, a 10%, de acordo com o estudo feito pela Mckinsey.
A BSA (Business Software Alliance) e a Abes (Associação Brasileira das Empresas de Software) informam que o índice de pirataria de software no país é de 61%. Isso leva à perda de R$ 519 milhões por ano - o índice médio de pirataria no mundo é de 36% e gera prejuízo ao setor de US$ 29 bilhões por ano.
O "mercado cinza" de computadores deu um salto nos últimos cinco anos no país. Em 1999, os PCs piratas representavam cerca de 59% das vendas no país. Em 2003, 70%. As estimativas para o fim de 2004 se aproximavam de 74%, segundo a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).
Dos 150 bilhões de cigarros comercializados por ano no país, 35 bilhões entram no país de forma ilegal, vindo do Paraguai, do Uruguai e da China. Esse contrabando resulta em evasão fiscal de R$ 1,4 bilhão. No setor de cervejas e refrigerantes, a evasão, que ocorre em toda a cadeia produtiva, é quase do mesmo tamanho: R$ 1,3 bilhão, segundo a Mckinsey.
Nos cálculos da Organização Mundial das Aduanas, a pirataria representa 9% do comércio mundial e movimenta R$ 1,25 trilhão por ano. No Brasil, R$ 56 bilhões por ano. A arrecadação perde cerca de R$ 84 bilhões anuais e 2 milhões de empregos são ceifados, conforme a CPI da Pirataria.
Para empresários e especialistas, a informalidade é reflexo da elevada carga tributária -chega a 40% para alguns produtos-, da alta burocracia, da complexidade de leis, da lentidão da Justiça e da fiscalização pouco eficiente.
"Chegamos a um ponto em que a informalidade faz parte da cultura do brasileiro. O crime compensa, já que o lucro é grande", diz Emerson Kapaz, presidente-executivo do Instituto Etco, organização não-governamental para defesa da ética nas empresas.
O consumidor acaba apoiando o mercado informal até porque está sempre preocupado com o bolso. "Essa já é a minha terceira bolsa Louis Vuitton. Não me importo em comprar o "falsifiquê" [produto falsificado]", afirma Jô Belluco, 37, gerente de eventos.
Para empresários e economistas, mesmo que a economia cresça 10% ao ano, o impacto sobre o mercado informal é improvável.

FOLHA DE SAO PAULO

Emprego formal cresce mais do que o PIB

Geração de vagas com carteira assinada tem ritmo maior que expansão do país há pelo menos sete anos, aponta estudo

RAFAEL CARIELLO
DA SUCURSAL DO RIO

A economia brasileira tem gerado empregos formais em ritmo maior do que o crescimento do PIB há pelo menos sete anos, segundo dados da Rais (Relação Anual das Informações Sociais). É o que revela o estudo "Evolução do Emprego Formal no Brasil", do economista Rogério Costanzi, associado ao Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O fenômeno coincide, segundo Lauro Ramos, coordenador de Estudos de Mercado de Trabalho do Ipea, com a paralisação do ritmo de crescimento do trabalho informal. "A tendência de informalização nas regiões metropolitanas parou de acontecer. A gente observa claramente nas regiões metropolitanas -não é que a informalidade caia, mas ela deixa de crescer a partir de 99", ele diz.
A Rais é elaborada pelo Ministério do Trabalho e reúne o total de empregos com carteira assinada informados ao governo pelos empregadores. Em 2003, ano em que a economia ficou praticamente estagnada, o total de empregos formais no país cresceu 3%, de acordo com a relação divulgada no final do mês passado.
No ano anterior, 2002, quando o PIB (Produto Interno Bruto) havia crescido 1,93%, o estoque de emprego formal aumentou 5,5%. Em 2001, cresceu 3,66%, contra 1,31% do PIB; em 2000, 4,94% contra 4,36%. Em 98 (1,61%) e 99 (2,05%), a variação do volume de empregos não foi tão grande, mas ainda assim esteve acima dos crescimentos da economia.
A tendência, que segundo economistas ouvidos pela Folha deve se confirmar também em 2004, é inversa ao que ocorria na década de 90, quando a variação do nível de emprego acompanhava o PIB em ritmo menor ou divergia, diminuindo seu ritmo mesmo quando a economia crescia mais do que no ano anterior.
O economista Claudio Dedecca, pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, da Unicamp, afirma que a mudança de padrão coincide com o fim dos ajustes na indústria pós-abertura econômica -que gerou "destruição razoável da base produtiva que gerava emprego formal"- e com a mudança do regime cambial em 1999.
Para ele, os efeitos desse crescimento à primeira vista surpreendente não têm impacto maior na diminuição do desemprego e melhoria da qualidade do emprego no Brasil por causa dos efeitos do período anterior e do crescimento da PEA (População Economicamente Ativa).
"Como você vem de um período muito longo de desempenho econômico limitado e de recorrência de um movimento em que o crescimento do emprego formal foi sistematicamente menor do que o crescimento do PIB, você deteriorou o mercado de trabalho", ele diz.
Em termos absolutos, afirma o economista, cada ponto percentual de incremento da PEA necessitaria de 3 pontos percentuais de aumento do estoque de empregos formais para ser absorvida.
"Para essa taxa de crescimento atual, no melhor dos casos, você gera um aumento de emprego formal que é semelhante ao crescimento da População Economicamente Ativa. E aí é insuficiente. Para alterar isso, precisa ter um aumento de emprego formal espetacular. E para isso precisa de um aumento do PIB muito maior do que o atual", declara.
Lauro Ramos concorda com Dedecca sobre o estopim da mudança. "Coincide com a mudança cambial. Todo o movimento de enxugamento da estrutura produtiva que caracterizou a década de 90 sofreu um grande alívio."
E acrescenta o crescimento do agronegócio, a interiorização das indústrias e a fiscalização do Ministério do Trabalho, no caso do comércio e dos serviços, como responsáveis pelo crescimento do emprego formal.
"A informalidade no interior cai porque esse agronegócio é principalmente voltado para a exportação. E quando você exporta, você se torna visível e fiscalizável -tanto internamente quanto pelos importadores", ele diz.

Formalização reduz pobreza, diz Ipea

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se todos os trabalhadores informais migrassem para o mercado formal, o Brasil veria seus índices de pobreza e desigualdade caírem. Nem seria necessária a formalização. Caso os salários do setor informal alcançassem o do setor formal, o impacto seria o mesmo que o da formalização de todos os trabalhadores.
A avaliação é de Ricardo Paes de Barros, pesquisador do Ipea. Ele estima que uma formalização total ou a equalização dos salários dos setores formais e informais faria a proporção de pobres cair quase 3 pontos percentuais, de cerca de 34% para cerca de 31%. A desigualdade também seria reduzida, segundo ele.
Na avaliação do economista, seria um equívoco, no entanto, tentar combater todo tipo de informalidade. Em muitos casos, migrar para o setor informal é uma opção e, dependendo de como o informal atua, não seria racional tentar formalizá-lo. É para esses casos, diz Paes de Barros, que faz sentido uma atuação governamental para tornar os trabalhadores informais tão produtivos quanto os formais.
O governo conseguiria atingir esse objetivo com ações focalizadas, concedendo crédito, assistência e condições de treinamento. Dados de pesquisa apresentada por ele mostram que 95% das empresas do setor informal não recorreram a operações de crédito nos três meses anteriores à pesquisa. Outros 97% não receberam nenhum tipo de assistência nos últimos cinco anos.
Com assistência e ajuda de programas governamentais, diz Paes de Barros, a produtividade do setor informal pode alcançar a do formal e, por conta disso, os salários também. A assistência teria custo, claro. Ele avalia que ela poderia ser financiada sem pressionar o orçamento público. "O governo poderia, por exemplo, não aumentar o salário mínimo e usar o dinheiro para isso", diz.
A manutenção de algum grau de informalidade também tem impactos sobre as contas públicas, já que os trabalhadores informais, em muitos casos, não pagam contribuição à Previdência e, cedo ou tarde, terão direito a algum benefício.

Benefícios sociais
Para José Márcio Camargo, economista da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), grande parte da informalidade pode ser explicada pela tentativa de universalização de uma série de benefícios sociais.
De uma forma muito simplificada, o argumento de Camargo é o seguinte: um jovem hoje que tem na família um avô aposentado sabe que ele poderá também se aposentar sem ter contribuído para a Previdência.
O mesmo jovem, que tem algum suporte familiar, acaba exigindo um salário maior para entrar no mercado de trabalho. Os efeitos são dois: ele acaba optando por estar fora do mercado e, uma vez no setor informal, sabendo que poderá contar com uma rede de assistência social universal, prefere não pagar contribuições para a Previdência.
Paes de Barros concorda em parte com Camargo, mas lembra que parte dos informais simplesmente não tem essa opção, principalmente porque faltam todos os tipos de oportunidades para esse grupo. De qualquer forma, eles concordam que, para resolver o problema, a legislação social e trabalhista precisa ser reformada.
O contraponto fica a cargo de Cláudio Deddeca, economista da Unicamp. Ele não nega a necessidade de reformas, mas avalia que o aumento da informalidade está mais ligado à estagnação econômica dos últimos 25 anos. "Não há reforma que faça com que o mercado de trabalho tenha desempenho maravilhoso se a economia não cresce", afirma.

FOLHA DE SAO PAULO

1.08.2005

Desemprego na União Européia segue em 8,9%

DA REDAÇÃO

O desemprego na zona do euro manteve-se em 8,9% pelo oitavo mês seguido em novembro. A taxa segue como a pior desde dezembro de 1999, segundo a agência de estatísticas Eurostat. Na União Européia, da qual fazem parte 25 países, a taxa de desemprego também se manteve em 8,9%.
Grandes empresas na Europa estão demitindo funcionários, fato que contribui para a manutenção da taxa de desemprego. A General Motors está cortando 11,5 mil empregos em cinco países europeus.
O dado é mais um indicador da fragilidade da recuperação econômica na região. No terceiro trimestre do ano passado, a União Européia cresceu apenas 0,3%, e, no ano de 2004, o crescimento deve ser de 2%.
A alta do euro também prejudica a criação de empregos. A moeda ganhou 7% ante o dólar nos últimos quatro meses, diminuindo margens de lucros e tirando competitividade das exportações européias.
Entre os países da zona do euro, a menor taxa de desemprego foi registrada na Irlanda: 4,3%. O maior índice é o da Espanha, com 10,5%.

FOLHA DE SÃO PAULO

Emprego nos EUA fica abaixo do esperado

Abertura de vagas em dezembro frustra previsões e reduz apreensão com aumento dos juros americanos

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

O número de empregos nos Estados Unidos cresceu em dezembro abaixo das previsões do mercado e não foi suficiente para reduzir o índice de desemprego. A taxa permaneceu em 5,4%, em mais um indício de que a recuperação econômica do país está mais lenta do que o esperado.
Segundo relatório divulgado ontem pelo Departamento do Trabalho, foram criados 157 mil empregos em dezembro, contra 137 mil no mês anterior.
Analistas esperavam um aumento de 175 mil -alimentado pela contratação de temporários pelas lojas na época de Natal, mas o setor varejista surpreendeu ao ser o único a reduzir os postos de trabalho no mês.
Em contrapartida, o número de empregos criados em outubro e novembro foi corrigido para cima e deu algum alento ao mercado. As revisões mostram 137 mil novos postos em novembro e 312 mil no mês anterior, contra dados anteriores indicando 112 mil e 303 mil vagas abertas.
Dados citados pela imprensa local mostram que o número de empregos criados nos EUA desde o fim da última recessão, em novembro de 2001, é o mais baixo para um período de recuperação desde o final da Segunda Guerra, em 1945. Mas se trata do melhor desempenho desde que George W. Bush assumiu a presidência, em 2001.
Ainda assim, os 2,2 milhões de empregos criados no ano estão abaixo da projeção de 2,6 milhões de novos postos feita pela Casa Branca no início de 2004.

Inflação e juros
Além disso, o Departamento do Trabalho anunciou que o valor médio da hora de trabalho teve uma alta de apenas US$ 0,02 no mês, para US$ 15,86. Com isso, no ano, a alta média dos salários ficou em 2,7%, abaixo da inflação acumulada de 3,5% nos 12 meses encerrados em novembro (último dado disponível).
Analistas acreditam que uma performance aquém do esperado do mercado de trabalho possa servir como um freio natural para o aumento de preços e poderia levar o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) a pausar, ao menos temporariamente, a série de aumentos dos juros básicos o país. No último semestre, o movimento do Fed tirou a "fed funds rate" de seu nível mais baixo em quatro décadas e a levou para 2,25% ao ano, pela primeira vez superando as taxas pagas na zona do euro.
Mas a expectativa é pequena e foi reduzida ainda mais pela possibilidade de uma revisão elevar os números, ainda que modestamente. Em suas últimas atas o comitê de política monetária do banco central tem constantemente citado fatores que podem criar pressões inflacionárias.
Ante o quadro, a reação do mercado esvaziou-se rapidamente. Por causa da expectativa inicial sobre os juros, os preços de títulos do Tesouro chegaram a subir após anúncio do índice, e em Wall Street as ações caíram. Mas o movimento foi logo neutralizado, e o mercado acionário fechou o dia em ligeira baixa.


Resultado dá alívio a emergentes
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O resultado da criação de vagas de trabalho abaixo do esperado em dezembro nos EUA deu certo alívio aos mercados emergentes. O risco-país brasileiro e o dólar recuaram e a Bolsa subiu.
O dado divulgado ontem mostrou que a economia americana não está tão aquecida quanto temiam alguns analistas. Com isso, não deve haver necessidade de os EUA apertarem sua política monetária, ou seja, aumentarem os juros de forma mais intensa.
A notícia permitiu que recursos fossem redirecionados a títulos de emergentes, como o Brasil. Os C-Bonds e o Global 40 -principais papéis do Brasil- subiram 0,18% e 0,26%, respectivamente.
Perto do fechamento do mercado financeiro ontem, o risco-país brasileiro caía 1,18%, a 417 pontos.
Os comentários do secretário do Tesouro norte-americano, John Snow, de que a política do país continua sendo de fortalecimento do dólar, também tiveram influência no mercado financeiro.
Pela primeira vez na semana o dólar fechou em baixa diante do real. Mesmo com o BC comprando sua já rotineira cota de dólares no mercado, a moeda americana recuou 0,37%, para os R$ 2,713. Na semana, o dólar subiu 2,22%.
Para a LCA Consultores, a expansão mais moderada do emprego reduziu os riscos de elevações mais agressivas dos juros nos EUA. "Uma mudança para um ritmo mais agressivo de aperto monetário só será levada a cabo se a inflação ao consumidor americano emitir sinais de indesejável aceleração", afirma a consultoria em relatório.
Se os juros pagos pelo Tesouro dos EUA sobem de forma mais contundente, quem sofre são os títulos de países emergentes. O que costuma acontecer nesses casos é os grandes investidores internacionais venderem papéis de países como o Brasil e comprarem títulos norte-americanos, que são mais seguros.
A Bolsa de Valores de São Paulo também entrou no clima de recuperação. O Ibovespa (principal índice do mercado local) subiu 1,56% e minimizou um pouco as perdas registradas neste início de ano. No fim do pregão de quinta-feira, a Bovespa acumulava perdas de 7% na semana.
Algumas das ações de maior liquidez atraíram compradores e fecharam ontem com altas expressivas. A ação PNA da CRT Celular liderou as altas, com ganho de 8,07%. Logo atrás, veio a Caemi PN, com alta de 7,17%.


FOLHA DE SAO PAULO

1.02.2005

Efeito da guerra fiscal na geração de empregos no país divide opiniões

Resultado vai além das vagas formais, dizem especialistas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Especialistas ouvidos pela Folha divergem sobre os resultados do estudo sobre a migração de empresas/empregos e da guerra fiscal no país. Mas eles são unânimes em afirmar que se trata de uma pesquisa inovadora feita pelo Ministério do Trabalho.
O economista e professor da PUC-RJ José Márcio Camargo avalia que a guerra fiscal tem, sim, efeitos positivos na geração de emprego. "Há um ganho em relação ao que teria acontecido se não tivesse ocorrido a migração. O emprego é gerado dentro de um determinado espaço de tempo."
O professor reconhece que esse período pode ser sucedido por uma fase em que as empresas são obrigadas a demitir, quando os benefícios fiscais são extintos, por exemplo. O mesmo vale, segundo ele, para empresas que foram forçadas a voltar para casa e a reduzir o volume de empregados.
Já o ex-assessor especial do Ministério do Trabalho e consultor do Senado Federal Leonardo Rolim acredita que a guerra fiscal não é a melhor saída para o emprego. "Sai caro para o país e não é duradouro. É preciso criar outras condições para as empresas se estabelecerem e gerarem empregos de longo prazo", afirma.
Apesar disso, ele destaca que os dados do estudo devem ser vistos com cautela. "É preciso levar em conta o efeito das terceirizações. Às vezes, os dados mostram que o emprego direto reduziu com a migração. Mas as empresas podem ter terceirizado várias atividades, e isso pode criar novos postos de trabalho ao longo da cadeia produtiva", diz o especialista.
Rolim acrescenta ainda que geralmente, ao transferirem suas plantas, as empresas tendem a reduzir o número de funcionários. "Geralmente, o novo parque é mais moderno, com mais tecnologia e menos intensivo em mão-de-obra", afirma.
Para a autora, a coordenadora do Observatório do Mercado de Trabalho, Paula Montagner, o estudo da migração gera polêmica apenas entre não-especialistas em mercado de trabalho.
"Conversei com várias pessoas, e elas disseram que intuitivamente já tinham essa idéia. O estudo é relativamente polêmico para quem não é da área, pois há uma vocalização forte da mídia na direção de que guerra fiscal gera emprego", declara Montagner.
Na avaliação dela, a importância do estudo é mostrar que o país precisa de uma política de desenvolvimento regional para fazer frente às disputas tributárias.

Migração também tem efeito menor na Europa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O estudo sobre a experiência brasileira "Migração de Empresas versus Geração de Emprego" confirma o que pesquisadores já haviam descoberto na Europa.
Pesquisa do "Observatoire Européen du Changement" (Observatório Europeu de Mudanças, voltado para condições de vida e trabalho) sugere que é marginal a importância da migração das empresas para a criação de empregos entre os países europeus.
"Isso mostra que a relocalização não é algo simples. Trata-se de um processo sofisticado. A Europa do Leste está sendo pressionada a flexibilizar o trabalho como se as empresas fossem migrar de país por esse motivo", diz Paula Montagner, do Observatório do Mercado de Trabalho.
Embora avaliem ser marginal o efeito da migração na geração de emprego, os estudiosos europeus reconhecem que é "inegável" a importância "local" da migração, "tanto maior quanto menor for o município que recebe a empresa e quanto mais articuladora de cadeias de fornecedores e de compradores for a empresa que migrou para a localidade".
Montagner avalia que o estudo joga por terra não só o mito da geração de emprego por trás da guerra fiscal. "Cai também o mito de que São Paulo só exporta empresas." Os dados revelam que entre as empresas que saíram e as que chegaram ao Estado há um relativo equilíbrio.
Segundo a pesquisa, as empresas que saíram de São Paulo e foram para outros Estados apresentaram melhores resultados em termos de geração de emprego. Já as que se mudaram para São Paulo foram obrigadas a demitir.
A análise de Montagner é que, em geral, as que saem do Estado já enfrentaram um processo de redução de pessoal e implementação de novas tecnologias. Os que chegaram ainda não tinham passado por essa fase.
As empresas de pequeno porte (até 99 empregados) tiveram discreta alta no nível de emprego com a migração. Saíram de 42.602 empregos para 50.064. Já as de grande porte (com cem ou mais funcionários) tiveram decréscimo de 142.901 para 86.909 postos.

Governo prometia 50 mil, afirma deputado

Fábrica na Bahia diz ter criado 7.000 postos

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

A instalação de uma unidade da Ford em Camaçari, na Bahia, no fim de 2001, gerou 7.000 empregos, mas a transferência é alvo de críticas. "O problema é que essas empresas ganham muitos incentivos fiscais do Estado e dão pouco retorno. No início, a propaganda do governo falava que a Ford ia gerar 50 mil empregos, o que não aconteceu", diz o deputado estadual Álvaro Gomes (PC do B).
Para o governo da Bahia, porém, a mudança trouxe benefícios. "O mais importante é que, para cada emprego direto, outros cinco são gerados", diz Albérico Mascarenhas, secretário estadual da Fazenda.
Há menos de um mês, a Firestone anunciou que também irá construir uma unidade de pneus em Camaçari, gerando mais 700 empregos diretos.
"O índice de desemprego na região metropolitana de Salvador é um dos maiores do Brasil. O que nós queremos é trabalhar. Outros Estados também dão incentivos fiscais ou oferecem qualquer coisa para atrair empresas", disse José Cláudio de Melo, 19, que pretende tentar uma vaga na Firestone.

Folha de São Paulo

1.01.2005

Emprego cresce até 3,6% em 2005

Empregos informais e com salários baixos devem ser os mais ofertados

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento da economia brasileira esperado para o ano que vem, entre 3,5% e 4,1%, deve ter impacto positivo no emprego. Economistas de seis consultorias, universidades e institutos de pesquisa estimam um aumento na ocupação de 2% a 3,6% em 2005. Esse crescimento leva em conta o emprego formal, com carteira assinada, e o informal, que desconsidera direitos do trabalhador.
A relação PIB/emprego foi pouco considerada pelos especialistas no mercado de trabalho pelo menos até o fim dos anos 90, pois o objetivo maior das empresas era crescer sem empregar e até demitir como forma de cortar custos.
Como as empresas estão mais enxutas, a expansão da economia tem agora efeito mais direto na ocupação. Até o final dos anos 90, a relação PIB/emprego era de 1% para 0,4%, segundo cálculo de Fernando Montero, economista da Corretora Convenção.
Isto é, para cada 1% de crescimento do PIB, o emprego crescia 0,4%, em média. Atualmente, é da ordem de 1% para 0,8%. "O desempenho do emprego já é quase proporcional ao do PIB. As empresas se ajustaram de tal forma que fica muito difícil crescer sem empregar", afirma Montero.
As contratações previstas para o ano que vem, no entanto, não serão muito diferentes das deste ano, segundo estimam os economistas. Os empregos informais e que pagam baixos salários deverão ser os mais ofertados.
O subemprego, aquele que paga para o trabalhador menos do que um salário mínimo/hora (menos de R$ 1,50 por hora), deu um salto no país. Havia 1,6 milhão de subocupados em seis regiões metropolitanas do Brasil em janeiro de 2003. Hoje são 2,8 milhões de subocupados, segundo cálculos de Lauro Ramos, coordenador de estudos do mercado de trabalho do Ipea. Existem 19,4 milhões de pessoas ocupadas nessas seis regiões.
Excluindo os subocupados do total de ocupados, segundo cálculo de Ramos, o que se constata é que o emprego de julho a outubro cresceu 1,4%, em média, na comparação com igual período de 2003. Considerando todo o grupo de ocupados, o crescimento da ocupação em outubro foi de 4,2%.
"Esse crescimento é fantástico, mas inclui o emprego-desespero. O crescimento de 1,4% na ocupação está mais próximo da realidade da situação do mercado de trabalho no país", afirma Ramos.
A recuperação da economia brasileira teve algum impacto, porém, no subemprego, segundo cálculos de Ramos. Excluídos os subocupados, a ocupação cresceu 1,3% de junho a outubro deste ano, em média, na comparação com igual período do ano passado. No primeiro trimestre deste ano, a ocupação caiu 1,5% ao desconsiderar o emprego que paga menos de R$ 1,50 por hora.
"Isso mostra que alguns empregos de má qualidade foram substituídos por empregos de melhor qualidade. Essa pode ser uma tendência para 2005, se a economia brasileira continuar crescendo e se não houve turbulência no mercado internacional", diz Ramos.
Para alguns economistas, porém, mesmo que o PIB cresça 4% no ano que vem, as ocupações consideradas precárias vão se manter. "A deterioração do mercado de trabalho é característica da economia brasileira nos últimos 25 anos. Para inverter essa situação, o país precisa crescer mais do que 4% ao ano", afirma Claudio Dedecca, pesquisador do Instituto de Economia da Unicamp.
Na sua análise, o emprego formal pode ter desempenho até pior do que o do informal em 2005. "O emprego formal cresceu neste ano por causa do bom desempenho das exportações. As indústrias contrataram para elevar produção. Isso não será mais necessário no ano que vem para dar conta de um crescimento da economia da ordem de 4%. A informalidade no emprego continuará a ter, portanto, um papel decisivo na economia no ano que vem."
Os maiores empregadores em 2005, segundo alguns economistas, serão os setores de semi-duráveis (roupas e calçados) e de não-duráveis (alimentos e bebidas), além da indústria da construção civil. "E as vagas criadas nesses setores são as que pagam salários mais baixos", afirma Fábio Romão, economista da LCA.
A elevação dos juros neste final de ano deve ter efeito negativo nas contratações nos primeiros meses de 2005, na análise de Fabio Silveira, economista da MS Consult. "Mas não vai impedir que a ocupação cresça", diz. Ele estima um crescimento da ocupação da ordem de 3,5% para o ano que vem.
Para Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a tendência a partir do ano que vem é de o emprego acompanhar a produção. "O emprego pode até crescer mais do que a economia, mas a qualidade desse emprego será pior."
Paulo Francini, diretor do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), diz que a qualidade do emprego não deve mudar em 2005. "O perfil dos salários ofertados deve ser o mesmo do deste ano." Para a Fiesp, o emprego na indústria paulista no ano que vem deve crescer 3% num cenário menos otimista e 5% num cenário mais otimista.

FOLHA DE SÃO PAULO