1.26.2005

Produtividade e uso de capacidade crescem

Sondagem da FGV e pesquisa da CNI mostram aquecimento; para 59% das empresas, situação será melhor neste semestre

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria de transformação utilizou 83,6% de sua capacidade de produção no mês de janeiro, a maior proporção para este período do ano desde 1987. De maneira geral, o setor está expandindo suas atividades e a expectativa dos empresários industriais para os próximos meses é positiva.
Os resultados fazem parte da Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas. Eles mostram que, apesar de ter patinado entre os meses de setembro e novembro do ano passado, o setor deve continuar em expansão. A estagnação destes três meses, avalia a FGV, está mais relacionada à acomodação do setor aos novos níveis de produção do que ao "esgotamento do atual ciclo de crescimento".
Os empresários do setor avaliam que a procura por seus produtos continua aquecida. Sinal desse otimismo está justamente na baixa proporção dos que pensam o contrário, ou seja, que a demanda está fraca. Apenas 12% disseram acreditar nisso. Proporção menor em um mês de janeiro só ocorreu em 1974, quando ela era de 8%.
Quando avaliam o futuro próximo, os industriais também esperam por tempos ainda melhores: para 59% das empresas, a situação dos negócios melhorará durante os seis primeiros meses deste ano, enquanto apenas 4% dizem achar que ela piorará.
Mesmo as recentes elevações da taxa básica de juros -a Selic começou subir em setembro do ano passado- não abalaram a confiança do setor no futuro. Segundo a pesquisa da FGV, "a visão majoritária parece ser a de que este processo se trata de um ajuste fino que não comprometerá o curso de médio e longo prazo da economia".
Mas, se por um lado a sondagem só traz boas notícias sobre o setor, por outro ela reaquece o debate sobre a política monetária. Porque se a indústria estiver próxima de atingir sua capacidade máxima de produção ao mesmo tempo em que a procura aumentar, os preços acabam subindo, o que exigiria mais altas dos juros para conter a inflação potencial.
Já a CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgou pesquisa que coloca lenha na fogueira da discussão dos juros, mas em sentido contrário ao da FGV. Segundo a instituição, os indicadores de produtividade, do setor cresceram em 2004, após três anos de estagnação.
Para quem pilota a política de juros, a notícia é positiva, já que trabalhadores mais produtivos conseguem produzir mais em menos tempo e com custos menores, o que barateia os produtos ou mantém seus preços estáveis para enfrentar a concorrência. Ou seja, quanto maior o crescimento da produtividade, menor a pressão para alta nos preços.
Nos 11 primeiro meses de 2004, a produtividade cresceu 5,3%, após ter ficado estagnada por três anos. Segundo a nota da CNI, parte do ganho é explicada pela retomada do consumo interno: as indústrias esperam sinais mais sólidos de retomada para contratar trabalhadores e, no início, aumentam a produção com o mesmo número de trabalhadores, elevando sua produtividade.
Quando medida pelo número de horas trabalhadas, e não de trabalhadores, a produtividade cresce 2,7%, ainda assim um aumento significativo, diz a CNI.

FOLHA DE SAO PAULO