Mulheres de sucesso não conseguem se casar
Os homens preferem namorar suas subalternas, jamais suas chefes
Maureen Dowd
Em Washington
Fred R. Conrad/NYT
Maureen Dowd é colunista
Há alguns anos, num jantar de jornalistas da Casa Branca, conheci uma linda atriz. Alguns momentos depois ela despejou: "Não consigo acreditar que tenho 46 anos e não me casei. Os homens só querem casar com suas secretárias ou relações-públicas".
Eu vinha notando uma tendência nessa linha, que os homens famosos e poderosos se casavam com as jovens cujo trabalho era cuidar deles de alguma maneira: suas secretárias, assistentes, babás, cozinheiras, comissárias de bordo, pesquisadoras e checadoras de fatos.
As mulheres da equipe de apoio são as novas sereias porque, como diz um conhecido meu, elas vêem os homens para quem trabalham como "a lua, o sol e as estrelas". Tudo tem a ver com orbitar, servir e reverenciar seu Deus Sol.
Em todos os ótimos filmes de Spencer Tracy/Katharine Hepburn, mais de meio século atrás, o mais excitante era a vivacidade de um romance entre iguais. Hoje em dia os cineastas parecem muito mais interessados na aura reconfortante dos romances entre desiguais.
Em "Espanglês", de James Brooks, Adam Sandler é um cozinheiro de Los Angeles que se apaixona por sua empregada mexicana gostosa. A empregada, que limpa a bagunça de Sandler sem falar inglês, é apresentada como a mulher ideal. A esposa, interpretada por Tea Leoni, é repulsiva: um verdadeiro monstro infiel que acaba de perder o emprego numa firma de design. Imaginem Faye Dunaway em "Rede de Intrigas" se ela tivesse de ficar em casa, ou Glenn Close em "Atração Fatal" sem o charme.
A mesma atração de desiguais animou o sucesso de Richard Curtis do final de 2003, "Simplesmente Amor". O espirituoso e sofisticado primeiro-ministro britânico interpretado por Hugh Grant se apaixona pela gordinha que serve chá e biscoitos em seu escritório. Um empresário casado com a substancial Emma Thompson se apaixona por sua secretária insossa. Um escritor fica caído pela empregada que só fala português.
(Eu me pergunto: a tendência a transformar empregadas que não falam inglês em heroínas está relacionada à tendência de sujeitos que gostam de assistir Kelly Ripa de manhã com o som desligado?)
Escrito por Giovanni Alves às 06h56
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A arte está imitando a vida, transformando mulheres que buscam a igualdade em narcisistas egocêntricas e objetos de rejeição, em vez de afeição.
Como escreveu recentemente John Schwartz aqui no The New York Times, "os homens preferem casar com suas secretárias a suas chefes, e a culpa talvez seja da evolução".
Uma nova pesquisa feita por psicólogos da Universidade de Michigan com estudantes de faculdade sugere que os homens que procuram relacionamentos de longo prazo preferem se casar com mulheres em empregos subordinados do que com supervisoras.
A doutora Stephanie Brown, principal autora do estudo, resumiu a questão para a imprensa: "As mulheres poderosas estão em desvantagem no mercado de casamento porque os homens talvez prefiram se casar com mulheres menos realizadas". Os homens acham que as mulheres em cargos importantes têm maior probabilidade de traí-los.
"A hipótese", disse Brown, "é que há pressões evolucionárias sobre os homens para minimizar o risco de criar filhos que não sejam seus." As mulheres, por outro lado, não demonstraram uma diferença marcante quanto à atração por homens, que poderiam trabalhar acima ou abaixo delas. E os homens não mostraram preferência no que se refere a transas de uma noite.
Um segundo estudo, feito por pesquisadores de quatro universidades britânicas e que foi divulgado na semana passada, sugere que homens inteligentes com cargos exigentes preferem ter mulheres à moda antiga, como suas mães, a ter mulheres iguaisa eles.
O estudo descobriu que o QI alto prejudica as probabilidades de uma mulher se casar, enquanto para os homens é uma vantagem. A perspectiva de casamento para os homens aumenta 35% para cada aumento de 16 pontos no QI; para as mulheres, há uma queda de 40% para cada aumento de 16 pontos.
Então o movimento feminista foi uma espécie de armadilha cruel? Quanto mais as mulheres conquistam, menos são desejáveis? As mulheres querem ter um relacionamento com homens com quem elas possam conversar a sério --infelizmente, muitos deles querem ter relacionamentos com mulheres com as quais não precisem falar.
Perguntei à atriz e escritora Carrie Fisher, que esteve na costa leste para promover seu romance "The Best Awful" (O melhor horrível), e ela confirmou que as mulheres que representam um desafio para os homens enfrentam problemas.
"Eu não namoro há 12 milhões de anos", ela disse secamente. "Desisti de namorar homens poderosos, porque eles queriam sair com mulheres de profissões subalternas. Por isso decidi sair com caras de profissões subalternas. Mas então descobri que os reis querem ser tratados como reis, e os consortes também querem ser tratados como reis."
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
THE NEW YORK TIMES
Maureen Dowd
Em Washington
Fred R. Conrad/NYT
Maureen Dowd é colunista
Há alguns anos, num jantar de jornalistas da Casa Branca, conheci uma linda atriz. Alguns momentos depois ela despejou: "Não consigo acreditar que tenho 46 anos e não me casei. Os homens só querem casar com suas secretárias ou relações-públicas".
Eu vinha notando uma tendência nessa linha, que os homens famosos e poderosos se casavam com as jovens cujo trabalho era cuidar deles de alguma maneira: suas secretárias, assistentes, babás, cozinheiras, comissárias de bordo, pesquisadoras e checadoras de fatos.
As mulheres da equipe de apoio são as novas sereias porque, como diz um conhecido meu, elas vêem os homens para quem trabalham como "a lua, o sol e as estrelas". Tudo tem a ver com orbitar, servir e reverenciar seu Deus Sol.
Em todos os ótimos filmes de Spencer Tracy/Katharine Hepburn, mais de meio século atrás, o mais excitante era a vivacidade de um romance entre iguais. Hoje em dia os cineastas parecem muito mais interessados na aura reconfortante dos romances entre desiguais.
Em "Espanglês", de James Brooks, Adam Sandler é um cozinheiro de Los Angeles que se apaixona por sua empregada mexicana gostosa. A empregada, que limpa a bagunça de Sandler sem falar inglês, é apresentada como a mulher ideal. A esposa, interpretada por Tea Leoni, é repulsiva: um verdadeiro monstro infiel que acaba de perder o emprego numa firma de design. Imaginem Faye Dunaway em "Rede de Intrigas" se ela tivesse de ficar em casa, ou Glenn Close em "Atração Fatal" sem o charme.
A mesma atração de desiguais animou o sucesso de Richard Curtis do final de 2003, "Simplesmente Amor". O espirituoso e sofisticado primeiro-ministro britânico interpretado por Hugh Grant se apaixona pela gordinha que serve chá e biscoitos em seu escritório. Um empresário casado com a substancial Emma Thompson se apaixona por sua secretária insossa. Um escritor fica caído pela empregada que só fala português.
(Eu me pergunto: a tendência a transformar empregadas que não falam inglês em heroínas está relacionada à tendência de sujeitos que gostam de assistir Kelly Ripa de manhã com o som desligado?)
Escrito por Giovanni Alves às 06h56
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A arte está imitando a vida, transformando mulheres que buscam a igualdade em narcisistas egocêntricas e objetos de rejeição, em vez de afeição.
Como escreveu recentemente John Schwartz aqui no The New York Times, "os homens preferem casar com suas secretárias a suas chefes, e a culpa talvez seja da evolução".
Uma nova pesquisa feita por psicólogos da Universidade de Michigan com estudantes de faculdade sugere que os homens que procuram relacionamentos de longo prazo preferem se casar com mulheres em empregos subordinados do que com supervisoras.
A doutora Stephanie Brown, principal autora do estudo, resumiu a questão para a imprensa: "As mulheres poderosas estão em desvantagem no mercado de casamento porque os homens talvez prefiram se casar com mulheres menos realizadas". Os homens acham que as mulheres em cargos importantes têm maior probabilidade de traí-los.
"A hipótese", disse Brown, "é que há pressões evolucionárias sobre os homens para minimizar o risco de criar filhos que não sejam seus." As mulheres, por outro lado, não demonstraram uma diferença marcante quanto à atração por homens, que poderiam trabalhar acima ou abaixo delas. E os homens não mostraram preferência no que se refere a transas de uma noite.
Um segundo estudo, feito por pesquisadores de quatro universidades britânicas e que foi divulgado na semana passada, sugere que homens inteligentes com cargos exigentes preferem ter mulheres à moda antiga, como suas mães, a ter mulheres iguaisa eles.
O estudo descobriu que o QI alto prejudica as probabilidades de uma mulher se casar, enquanto para os homens é uma vantagem. A perspectiva de casamento para os homens aumenta 35% para cada aumento de 16 pontos no QI; para as mulheres, há uma queda de 40% para cada aumento de 16 pontos.
Então o movimento feminista foi uma espécie de armadilha cruel? Quanto mais as mulheres conquistam, menos são desejáveis? As mulheres querem ter um relacionamento com homens com quem elas possam conversar a sério --infelizmente, muitos deles querem ter relacionamentos com mulheres com as quais não precisem falar.
Perguntei à atriz e escritora Carrie Fisher, que esteve na costa leste para promover seu romance "The Best Awful" (O melhor horrível), e ela confirmou que as mulheres que representam um desafio para os homens enfrentam problemas.
"Eu não namoro há 12 milhões de anos", ela disse secamente. "Desisti de namorar homens poderosos, porque eles queriam sair com mulheres de profissões subalternas. Por isso decidi sair com caras de profissões subalternas. Mas então descobri que os reis querem ser tratados como reis, e os consortes também querem ser tratados como reis."
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
THE NEW YORK TIMES
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