1.08.2005

Emprego nos EUA fica abaixo do esperado

Abertura de vagas em dezembro frustra previsões e reduz apreensão com aumento dos juros americanos

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

O número de empregos nos Estados Unidos cresceu em dezembro abaixo das previsões do mercado e não foi suficiente para reduzir o índice de desemprego. A taxa permaneceu em 5,4%, em mais um indício de que a recuperação econômica do país está mais lenta do que o esperado.
Segundo relatório divulgado ontem pelo Departamento do Trabalho, foram criados 157 mil empregos em dezembro, contra 137 mil no mês anterior.
Analistas esperavam um aumento de 175 mil -alimentado pela contratação de temporários pelas lojas na época de Natal, mas o setor varejista surpreendeu ao ser o único a reduzir os postos de trabalho no mês.
Em contrapartida, o número de empregos criados em outubro e novembro foi corrigido para cima e deu algum alento ao mercado. As revisões mostram 137 mil novos postos em novembro e 312 mil no mês anterior, contra dados anteriores indicando 112 mil e 303 mil vagas abertas.
Dados citados pela imprensa local mostram que o número de empregos criados nos EUA desde o fim da última recessão, em novembro de 2001, é o mais baixo para um período de recuperação desde o final da Segunda Guerra, em 1945. Mas se trata do melhor desempenho desde que George W. Bush assumiu a presidência, em 2001.
Ainda assim, os 2,2 milhões de empregos criados no ano estão abaixo da projeção de 2,6 milhões de novos postos feita pela Casa Branca no início de 2004.

Inflação e juros
Além disso, o Departamento do Trabalho anunciou que o valor médio da hora de trabalho teve uma alta de apenas US$ 0,02 no mês, para US$ 15,86. Com isso, no ano, a alta média dos salários ficou em 2,7%, abaixo da inflação acumulada de 3,5% nos 12 meses encerrados em novembro (último dado disponível).
Analistas acreditam que uma performance aquém do esperado do mercado de trabalho possa servir como um freio natural para o aumento de preços e poderia levar o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) a pausar, ao menos temporariamente, a série de aumentos dos juros básicos o país. No último semestre, o movimento do Fed tirou a "fed funds rate" de seu nível mais baixo em quatro décadas e a levou para 2,25% ao ano, pela primeira vez superando as taxas pagas na zona do euro.
Mas a expectativa é pequena e foi reduzida ainda mais pela possibilidade de uma revisão elevar os números, ainda que modestamente. Em suas últimas atas o comitê de política monetária do banco central tem constantemente citado fatores que podem criar pressões inflacionárias.
Ante o quadro, a reação do mercado esvaziou-se rapidamente. Por causa da expectativa inicial sobre os juros, os preços de títulos do Tesouro chegaram a subir após anúncio do índice, e em Wall Street as ações caíram. Mas o movimento foi logo neutralizado, e o mercado acionário fechou o dia em ligeira baixa.


Resultado dá alívio a emergentes
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O resultado da criação de vagas de trabalho abaixo do esperado em dezembro nos EUA deu certo alívio aos mercados emergentes. O risco-país brasileiro e o dólar recuaram e a Bolsa subiu.
O dado divulgado ontem mostrou que a economia americana não está tão aquecida quanto temiam alguns analistas. Com isso, não deve haver necessidade de os EUA apertarem sua política monetária, ou seja, aumentarem os juros de forma mais intensa.
A notícia permitiu que recursos fossem redirecionados a títulos de emergentes, como o Brasil. Os C-Bonds e o Global 40 -principais papéis do Brasil- subiram 0,18% e 0,26%, respectivamente.
Perto do fechamento do mercado financeiro ontem, o risco-país brasileiro caía 1,18%, a 417 pontos.
Os comentários do secretário do Tesouro norte-americano, John Snow, de que a política do país continua sendo de fortalecimento do dólar, também tiveram influência no mercado financeiro.
Pela primeira vez na semana o dólar fechou em baixa diante do real. Mesmo com o BC comprando sua já rotineira cota de dólares no mercado, a moeda americana recuou 0,37%, para os R$ 2,713. Na semana, o dólar subiu 2,22%.
Para a LCA Consultores, a expansão mais moderada do emprego reduziu os riscos de elevações mais agressivas dos juros nos EUA. "Uma mudança para um ritmo mais agressivo de aperto monetário só será levada a cabo se a inflação ao consumidor americano emitir sinais de indesejável aceleração", afirma a consultoria em relatório.
Se os juros pagos pelo Tesouro dos EUA sobem de forma mais contundente, quem sofre são os títulos de países emergentes. O que costuma acontecer nesses casos é os grandes investidores internacionais venderem papéis de países como o Brasil e comprarem títulos norte-americanos, que são mais seguros.
A Bolsa de Valores de São Paulo também entrou no clima de recuperação. O Ibovespa (principal índice do mercado local) subiu 1,56% e minimizou um pouco as perdas registradas neste início de ano. No fim do pregão de quinta-feira, a Bovespa acumulava perdas de 7% na semana.
Algumas das ações de maior liquidez atraíram compradores e fecharam ontem com altas expressivas. A ação PNA da CRT Celular liderou as altas, com ganho de 8,07%. Logo atrás, veio a Caemi PN, com alta de 7,17%.


FOLHA DE SAO PAULO