1.01.2005

Emprego cresce até 3,6% em 2005

Empregos informais e com salários baixos devem ser os mais ofertados

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento da economia brasileira esperado para o ano que vem, entre 3,5% e 4,1%, deve ter impacto positivo no emprego. Economistas de seis consultorias, universidades e institutos de pesquisa estimam um aumento na ocupação de 2% a 3,6% em 2005. Esse crescimento leva em conta o emprego formal, com carteira assinada, e o informal, que desconsidera direitos do trabalhador.
A relação PIB/emprego foi pouco considerada pelos especialistas no mercado de trabalho pelo menos até o fim dos anos 90, pois o objetivo maior das empresas era crescer sem empregar e até demitir como forma de cortar custos.
Como as empresas estão mais enxutas, a expansão da economia tem agora efeito mais direto na ocupação. Até o final dos anos 90, a relação PIB/emprego era de 1% para 0,4%, segundo cálculo de Fernando Montero, economista da Corretora Convenção.
Isto é, para cada 1% de crescimento do PIB, o emprego crescia 0,4%, em média. Atualmente, é da ordem de 1% para 0,8%. "O desempenho do emprego já é quase proporcional ao do PIB. As empresas se ajustaram de tal forma que fica muito difícil crescer sem empregar", afirma Montero.
As contratações previstas para o ano que vem, no entanto, não serão muito diferentes das deste ano, segundo estimam os economistas. Os empregos informais e que pagam baixos salários deverão ser os mais ofertados.
O subemprego, aquele que paga para o trabalhador menos do que um salário mínimo/hora (menos de R$ 1,50 por hora), deu um salto no país. Havia 1,6 milhão de subocupados em seis regiões metropolitanas do Brasil em janeiro de 2003. Hoje são 2,8 milhões de subocupados, segundo cálculos de Lauro Ramos, coordenador de estudos do mercado de trabalho do Ipea. Existem 19,4 milhões de pessoas ocupadas nessas seis regiões.
Excluindo os subocupados do total de ocupados, segundo cálculo de Ramos, o que se constata é que o emprego de julho a outubro cresceu 1,4%, em média, na comparação com igual período de 2003. Considerando todo o grupo de ocupados, o crescimento da ocupação em outubro foi de 4,2%.
"Esse crescimento é fantástico, mas inclui o emprego-desespero. O crescimento de 1,4% na ocupação está mais próximo da realidade da situação do mercado de trabalho no país", afirma Ramos.
A recuperação da economia brasileira teve algum impacto, porém, no subemprego, segundo cálculos de Ramos. Excluídos os subocupados, a ocupação cresceu 1,3% de junho a outubro deste ano, em média, na comparação com igual período do ano passado. No primeiro trimestre deste ano, a ocupação caiu 1,5% ao desconsiderar o emprego que paga menos de R$ 1,50 por hora.
"Isso mostra que alguns empregos de má qualidade foram substituídos por empregos de melhor qualidade. Essa pode ser uma tendência para 2005, se a economia brasileira continuar crescendo e se não houve turbulência no mercado internacional", diz Ramos.
Para alguns economistas, porém, mesmo que o PIB cresça 4% no ano que vem, as ocupações consideradas precárias vão se manter. "A deterioração do mercado de trabalho é característica da economia brasileira nos últimos 25 anos. Para inverter essa situação, o país precisa crescer mais do que 4% ao ano", afirma Claudio Dedecca, pesquisador do Instituto de Economia da Unicamp.
Na sua análise, o emprego formal pode ter desempenho até pior do que o do informal em 2005. "O emprego formal cresceu neste ano por causa do bom desempenho das exportações. As indústrias contrataram para elevar produção. Isso não será mais necessário no ano que vem para dar conta de um crescimento da economia da ordem de 4%. A informalidade no emprego continuará a ter, portanto, um papel decisivo na economia no ano que vem."
Os maiores empregadores em 2005, segundo alguns economistas, serão os setores de semi-duráveis (roupas e calçados) e de não-duráveis (alimentos e bebidas), além da indústria da construção civil. "E as vagas criadas nesses setores são as que pagam salários mais baixos", afirma Fábio Romão, economista da LCA.
A elevação dos juros neste final de ano deve ter efeito negativo nas contratações nos primeiros meses de 2005, na análise de Fabio Silveira, economista da MS Consult. "Mas não vai impedir que a ocupação cresça", diz. Ele estima um crescimento da ocupação da ordem de 3,5% para o ano que vem.
Para Julio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a tendência a partir do ano que vem é de o emprego acompanhar a produção. "O emprego pode até crescer mais do que a economia, mas a qualidade desse emprego será pior."
Paulo Francini, diretor do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), diz que a qualidade do emprego não deve mudar em 2005. "O perfil dos salários ofertados deve ser o mesmo do deste ano." Para a Fiesp, o emprego na indústria paulista no ano que vem deve crescer 3% num cenário menos otimista e 5% num cenário mais otimista.

FOLHA DE SÃO PAULO