Diploma não garante emprego, revela estudo
Um em cada quatro brasileiros formados no ensino superior entre 1992 e 2002 não está empregado
Alexandre Campbell/Folha Imagem
Gustavo Pinho, 23, formou-se em publicidade, mas trabalha para uma
companhia aérea no Aeroporto Internacional do Rio
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Um em cada quatro brasileiros que se formaram no ensino superior de 1992 a 2002 não está empregado. No país onde ter diploma de nível superior já foi garantia de emprego fácil, um estudo da Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade do município de São Paulo mostra que passar pelo estreito funil do vestibular já não é mais a maior dificuldade do jovem.
Dados do MEC (Ministério da Educação) mostram que, na década de 90, esse funil foi alargado com a expansão do ensino superior, principalmente privado, no país. No entanto, o crescimento da economia no período não foi suficiente para gerar emprego para os milhares de recém-formados que chegaram ao mercado.Para chegar a essa conclusão, o secretário municipal do Trabalho de São Paulo, Marcio Pochmann, pesquisou, a partir da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE, a situação dos 3,3 milhões de brasileiros que se formaram no ensino superior de 1992 a 2002.
Desse total, 2,5 milhões estão empregados (74%), mas 123 mil (4%) estavam procurando emprego em 2002, e 738 mil (22%) estavam fora do mercado de trabalho (não haviam procurado emprego no período da pesquisa, mas não estavam ocupados).
Outra tabulação feita no estudo mostra que uma parcela significativa dos brasileiros com diploma trabalha em atividades abaixo de sua qualificação (8% dos ocupados com nível superior).São pessoas que, apesar do diploma, acabaram empregadas como açougueiros e empregadores na indústria alimentícia (19,1%); droguistas, floristas, galinheiros, lenheiros, peixeiros e sorveteiros (17,8%); ou atendentes (12,6%).
Fora da área
É o caso de Gustavo Pinho, 23, que se formou neste ano em publicidade e não conseguiu emprego em sua área. A solução foi aproveitar uma vaga de agente de vendas no balcão de uma companhia aérea no aeroporto internacional do Rio. "Se uma vaga interna para o setor de marketing for aberta e eu estiver dentro da empresa, talvez tenha uma vantagem maior na disputa pelo fato de as pessoas me conhecerem", diz.
Para o autor do estudo, situações como a enfrentada por Pinho revelam um paradoxo brasileiro. "Somos um país de baixa escolaridade média, mas estamos formando uma mão-de-obra qualificada que não consegue entrar no mercado de trabalho", afirma.
Para o secretário, a explicação é o baixo crescimento da economia e dos setores que tradicionalmente absorvem essa mão-de-obra. "O país tem crescido em parte graças ao setor agrícola e de extração mineral. É importante que esse crescimento continue, mas ele demanda poucos empregos."
Para o sociólogo Simon Schwartzmann, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade e ex-presidente do IBGE, a situação pode ser explicada também "pelo rápido crescimento do ensino superior, que tem uma lógica que não é a mesma do mercado de trabalho".
Para o economista e ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, a expansão do ensino não foi em vão: "Mesmo que não estejam empregados na área para qual se formaram, vão acabar executando o trabalho de uma forma melhor se tiverem um diploma de nível superior. É preciso entender a educação como um valor em si".
FOLHA DE SÃO PAULO
Alexandre Campbell/Folha Imagem
Gustavo Pinho, 23, formou-se em publicidade, mas trabalha para uma
companhia aérea no Aeroporto Internacional do Rio
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Um em cada quatro brasileiros que se formaram no ensino superior de 1992 a 2002 não está empregado. No país onde ter diploma de nível superior já foi garantia de emprego fácil, um estudo da Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade do município de São Paulo mostra que passar pelo estreito funil do vestibular já não é mais a maior dificuldade do jovem.
Dados do MEC (Ministério da Educação) mostram que, na década de 90, esse funil foi alargado com a expansão do ensino superior, principalmente privado, no país. No entanto, o crescimento da economia no período não foi suficiente para gerar emprego para os milhares de recém-formados que chegaram ao mercado.Para chegar a essa conclusão, o secretário municipal do Trabalho de São Paulo, Marcio Pochmann, pesquisou, a partir da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE, a situação dos 3,3 milhões de brasileiros que se formaram no ensino superior de 1992 a 2002.
Desse total, 2,5 milhões estão empregados (74%), mas 123 mil (4%) estavam procurando emprego em 2002, e 738 mil (22%) estavam fora do mercado de trabalho (não haviam procurado emprego no período da pesquisa, mas não estavam ocupados).
Outra tabulação feita no estudo mostra que uma parcela significativa dos brasileiros com diploma trabalha em atividades abaixo de sua qualificação (8% dos ocupados com nível superior).São pessoas que, apesar do diploma, acabaram empregadas como açougueiros e empregadores na indústria alimentícia (19,1%); droguistas, floristas, galinheiros, lenheiros, peixeiros e sorveteiros (17,8%); ou atendentes (12,6%).
Fora da área
É o caso de Gustavo Pinho, 23, que se formou neste ano em publicidade e não conseguiu emprego em sua área. A solução foi aproveitar uma vaga de agente de vendas no balcão de uma companhia aérea no aeroporto internacional do Rio. "Se uma vaga interna para o setor de marketing for aberta e eu estiver dentro da empresa, talvez tenha uma vantagem maior na disputa pelo fato de as pessoas me conhecerem", diz.
Para o autor do estudo, situações como a enfrentada por Pinho revelam um paradoxo brasileiro. "Somos um país de baixa escolaridade média, mas estamos formando uma mão-de-obra qualificada que não consegue entrar no mercado de trabalho", afirma.
Para o secretário, a explicação é o baixo crescimento da economia e dos setores que tradicionalmente absorvem essa mão-de-obra. "O país tem crescido em parte graças ao setor agrícola e de extração mineral. É importante que esse crescimento continue, mas ele demanda poucos empregos."
Para o sociólogo Simon Schwartzmann, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade e ex-presidente do IBGE, a situação pode ser explicada também "pelo rápido crescimento do ensino superior, que tem uma lógica que não é a mesma do mercado de trabalho".
Para o economista e ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, a expansão do ensino não foi em vão: "Mesmo que não estejam empregados na área para qual se formaram, vão acabar executando o trabalho de uma forma melhor se tiverem um diploma de nível superior. É preciso entender a educação como um valor em si".
FOLHA DE SÃO PAULO
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