10.20.2004

Demissões da GM ampliam tensão na Alemanha

Le Monde

Corte intensifica insatisfação gerada pelas reformas de Schroeder

Adrien de Tricornot
Em Frankfurt

Em Rüsselsheim, a sede histórica da Opel, instaurou-se a amargura desde que o grupo americano General Motors, que é proprietário das marcas Opel, Saab e Vauxhall, anunciou, em 14 de outubro, um severo plano de reestruturação incluindo 12 mil supressões de empregos na Europa, dos quais 10 mil na Alemanha.Os funcionários da fábrica recusam-se em muitos casos a responder às solicitações das câmeras de televisão, embora 4 mil empregos desta unidade estejam a ponto de ser suprimidos, de um total de 20 mil cargos. Foi nesta pequena cidade dos subúrbios de Frankfurt que tiveram início, na segunda-feira (18/10), as negociações entre os representantes dos funcionários e a direção da General Motors Europa. Após dez horas de discussões, estes se despediram, no final da tarde, sem dar quaisquer declarações.
O plano de reduções de custos ao qual o grupo automobilístico americano deu início suscita uma forte emoção na Alemanha. Os assalariados da fábrica de Bochum, no vale da Ruhr, onde 4.000 dos 9.600 empregos estão ameaçados, e onde um fechamento puro e simples da unidade não está descartado no médio prazo, iniciaram já na quinta-feira passada uma greve selvagem que prosseguia nesta segunda-feira. Sem terem qualquer controle sobre este movimento, os sindicalistas da central IG Metall dizem entender os motivos desta reação, mas apelam para a negociação.
"Eu espero que as negociações possam começar o quanto antes, de maneira que as linhas de montagem possam voltar logo a operar normalmente", declarou, por sua vez, o chanceler Gerhard Schröder, nesta segunda-feira. Originário de Bochum, o ministro do trabalho, Wolfgang Clement, que havia criticado duramente o plano de reestruturação da GM, também dirigiu um apelo aos assalariados para que o seu movimento não acabe aumentando as incertezas que pesam sobre esta unidade.
Os grevistas, cujo movimento não seguiu os procedimentos legais, poderiam se tornar alvos de demissões por justa causa, que teriam efeito imediato, segundo informou o jornal "Die Welt" na sua edição de terça-feira.
O diário precisa contudo que o grupo automobilístico se comprometeu em esperar primeiro pelo desenrolar das manifestações previstas para esta terça-feira. Uma jornada de informação e de ação foi organizada pelos sindicatos do setor metalúrgico em todas as unidades da GM implantadas pela Europa afora. Espanha, Portugal, Bélgica, Reino-Unido, Suécia e Polônia são os países que também estão envolvidos nesta operação. Esta jornada de ação deve fazer com que se tenha uma idéia mais precisa das relações de força neste conflito."Modelo Karstadt" Em Bochum, cerca de 10 mil manifestantes eram esperados para dar o seu apoio aos assalariados. Reputados combativos, os assalariados de Bochum receberam o apelido, dentro do grupo General Motors, de "espanhóis", por causa do seu orgulho proverbial e do seu caráter inflexível, segundo informou a imprensa alemã.
Em Rüsselsheim, de 10 mil a 20 mil manifestantes deviam também se reunir, nesta terça-feira, na sede da Opel. Embora a situação do emprego na região esteja menos morosa do que na Ruhr, nem por isso a pequena cidade deixa de se identificar fortemente ao seu gigantesco complexo industrial de tijolos vermelhos. Apesar de seu aspecto antigo, quando vista de fora, a unidade de montagem é qualificada, no texto de apresentação publicado no site da Opel na Internet, de "a usina automobilística mais moderna do mundo". Nela foram investidos 750 milhões de euros (R$ 2.674,40 bilhões) há dois anos apenas. Em novembro, os assalariados da produção já haviam aceitado o regime conhecido pelo nome de "30 +", ou seja, uma redução do tempo de trabalho de 35 para 30 horas semanais, pagas em valores equivalentes a 32,6 horas trabalhadas, sendo esta uma medida que foi adotada com objetivo de preservar o emprego.
O negociador deste acordo, Klaus Franz, que é o presidente do conselho central de empresa da Opel, referiu-se, nos últimos dias, à adoção do "modelo Karstadt" como forma de se evitar as demissões puras e simples.
Nesse grupo de distribuição, o sindicato Ver.di acaba de aceitar 5.500 supressões de cargos, sem nenhuma demissão forçada, mas com a implantação de dispositivos envolvendo o reclassificação dos empregados, a adoção do regime de pré-aposentadoria, ou ainda a transferência para um outro emprego, em troca de um congelamento dos salários por um período de três anos para todos os 100 mil empregados, além da redução de bonificações e de vantagens sociais.
Na Opel, a central sindical IG Metall também ofereceu aumentar a flexibilidade do tempo de trabalho, de modo a preservar o maior número possível de empregos.Um aumento do tempo de trabalho "tampouco está excluído", segundo informou um porta-voz regional do sindicato. Em julho, a IG Metall havia aceitado, no quadro do grupo Siemens, um acordo de forte significado simbólico, que incluiu o retorno às 40 horas semanais --sem compensação salarial e uma redução das bonificações-- para 4 mil assalariados da Renânia, no norte da Vestfália, em troca do abandono de um projeto de deslocamento da empresa na Hungria. No mês seguinte, diversas medidas de redução de custos salariais foram avalizadas nas usinas da Mercedes de Sindelfingen (Baden-Wurttemberg). Aproveitando a deixa, a Volkswagen também vem negociando desde setembro um plano de redução de 30% de seus custos salariais daqui até 2011, na região oeste da Alemanha, alegando que os seus custos de produção são de 20% a 80% superiores àqueles registrados no exterior, e apontando para a ameaça que pesa sobre 30 mil empregos nas suas linhas de montagem na Alemanha.
Frente a esta crise lancinante do emprego e diante das estratégias brutais das empresas, os próprios sindicatos, que haviam se posicionado com violência contra as reformas sociais do governo Schröder, se encontram atualmente numa posição defensiva. No espaço de 18 meses, eles não tiveram outra alternativa, a não ser operar uma reviravolta radical. Na primavera de 2003, a IG Metall ainda dava início a uma greve para obter a implantação da semana de 35 horas no leste do país. Após o fracasso do movimento, Martina Pracht, uma delegada sindical da usina da Opel em Eisenach (Leste), havia manifestado, mostrando muita emoção, a sua decepção por ter de trabalhar três horas a mais do que os seus colegas nas outras unidades de produção da Opel, por um salário inferior. Contudo, Eisenach, hoje, parece estar menos ameaçada do que Bochum ou Rüsselsheim.

Tradução: Jean-Yves de Neufville