3.21.2005

Produtividade tem a maior alta desde 96

Crescimento no ano passado chegou a 6%, aponta estudo do Iedi; previsão para este ano é um aumento de 3%

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A produtividade da indústria brasileira cresceu 6% no ano passado, o maior índice desde 1996, quando atingiu 6,3%, segundo estudo divulgado ontem pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). O instituto mede a produtividade industrial dividindo a produção física da indústria pelo número de horas de trabalho pagas.
O expressivo crescimento da produção industrial em 2004, de 8,4%, e os investimentos em novos equipamentos e em modernização, iniciados em 2003, permitiram ao país experimentar, pela primeira vez, um aumento genuíno de produtividade com expansão do emprego, segundo Julio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi. Esse processo deve ter continuidade neste ano, quando a produtividade deverá crescer 3%, segundo ele.
"O grande motor que dará sustentação aos novos ganhos de produtividade é a internacionalização das empresas: se elas continuarem exportando, conseguirão manter esse aumento genuíno de produtividade."
O atual incremento da produtividade ocorreu em bases diferentes da dos anos 90, quando a indústria atingiu ganhos recordes. Em 1993, a produtividade industrial cresceu 7,7%, mas o avanço foi obtido a ferro e fogo, numa posição defensiva da indústria. Foram os anos da abertura do mercado e que levaram a um ganho de produtividade defensivo. Para enfrentar a concorrência externa, as empresas fizeram pesados enxugamentos de estrutura e cortaram milhares de empregos.

Sustentabilidade
Outro fator que poderá dar sustentação aos ganhos de produtividade da indústria brasileira é a recuperação do consumo interno de bens não duráveis. "Se 2004 foi o ano dos setores de bens de capital e de bens duráveis, este será o ano dos não duráveis", afirma Almeida.
Nessa categoria estão as indústrias têxteis, de vestuário e calçados, por exemplo, que dependem mais do aumento da renda da população para expandir suas vendas do que do crédito. "Em 2005 a tendência é ocorrer um aumento do rendimento real da população, em decorrência do crescimento do emprego", afirma o diretor-executivo do Iedi.
Se tal prognóstico se confirmar, a indústria têxtil será uma das beneficiadas. Em 2004, a produção do setor cresceu 10,1%, puxada principalmente pelas exportações. A produtividade do setor cresceu 10,9% no ano passado, segundo o Iedi, mas sem expansão do emprego. A Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil) contesta.
Pelos dados da entidade, foram criados 66.800 postos de trabalho no setor têxtil e de confecção no ano passado. Segundo a associação, há um processo de interiorização do emprego no setor, e a pesquisa do Iedi, baseada em dados do IBGE, só registra o emprego nas regiões metropolitanas.
Para a Abit, os ganhos de produtividade são conseqüência de um longo processo de modernização do setor, iniciado há cinco anos, com investimentos anuais de US$ 1 bilhão.
O setor buscou ganhar competitividade frente à invasão de produtos importados, principalmente da China. Com a expansão da produção, no ano passado, o setor colheu os frutos desses investimentos e pretende voltar a investir US$ 1 bilhão neste ano

Transporte está entre líderes de modernização

DA REPORTAGEM LOCAL

Campeões de produtividade, com um incremento de 15,5% no ano passado, os fabricantes de meios de transportes, segundo o estudo do Iedi, estão colhendo o resultado de investimentos feitos em expansão e modernização da produção nos últimos anos.
Segundo a Anfavea, o setor automotivo (montadoras e autopeças) investiu US$ 26,6 bilhões entre 1994 e 2002, mas esses investimentos ficaram adormecidos com a estagnação do mercado interno. No ano passado, o setor produziu 2,2 milhões de unidades, o melhor resultado desde 1994.
O setor de caminhões foi um dos que apresentaram crescimento explosivo: 23%. Uma das montadoras que surfou nessa onda foi a Ford, registrando uma expansão de 47,7% na produção de caminhões.
Segundo Flavio Padovan, diretor operacional de caminhões, a unidade opera com 100% da capacidade desde o ano passado. "No final de 2003 começamos a investir para aumentar de produtividade", diz.
Uma das inovações foi a instalação de um equipamento que vira 360 graus o chassis dos caminhões na linha de produção, facilitando a instalação da suspensão e de parte do motor. "Com isso economizamos 30 minutos por veículo na montagem", diz Padovan.
FOLHA DE SAO PAULO