3.20.2005

Emprego industrial tem maior alta desde 89

Crescimento de vagas em 2004 foi impulsionado pelos setores exportadores e de bens de capital e duráveis, diz IBGE

MARCELO SAKATE
DA SUCURSAL DO RIO

A indústria brasileira registrou no ano passado o maior crescimento no nível de emprego desde 1989, impulsionada pelos setores que estiveram à frente da retomada da produção no período: bens de capital e duráveis e voltados para a exportação.
A expansão recorde, de 1,9%, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ocorreu apesar da retração nos últimos três meses do ano, seqüência vista pelo instituto como "acomodação para baixo, e não reversão de tendência".
"O balanço do emprego industrial em 2004 foi positivo. A queda na média móvel [que considera os últimos três meses do ano] foi de apenas 0,2% de novembro para dezembro", afirmou Isabela Nunes, economista da Coordenação de Indústria do IBGE.
A renda do trabalhador seguiu o nível de emprego e teve o melhor ano desde 1993, com alta de 9%. Mas também terminou os três últimos meses do ano em queda (0,6% em dezembro).
O aumento no emprego no ano passado foi registrado em 11 das 14 áreas pesquisadas e em 12 dos 18 segmentos, dos quais tiveram maior impacto no índice final máquinas e equipamentos (14,1%) e alimentos e bebidas (3,7%). Nesse setor, de bens não-duráveis, a expansão é explicada pelas vendas ao exterior ligadas à agroindústria, de acordo com a economista.
Outra contribuição ressaltada pelo IBGE foi a de meios de transportes (mais 8% em 2004). O setor foi influenciado principalmente por caminhões e ônibus (bens de capital) e veículos (duráveis).
Mas, a exemplo do que ocorre na produção industrial, em que setores de semi e não-duráveis começam a funcionar como motores da expansão, no nível de emprego a reação já é sentida.
"Alguns ramos com desempenho negativo em 2004 já apresentaram dinamismo maior no final do ano, o que sugere que tenham contribuição um pouco maior neste ano. É o caso de calçados e couro", exemplificou Nunes.

Novo mínimo ajudará
Bráulio Borges, economista da consultoria LCA, afirma que a tendência deve se manter neste ano, impulsionada pela melhora no mercado de trabalho e, a partir de maio, pelo reajuste do salário mínimo para R$ 300.
Para o IBGE, a geração de emprego só não foi maior porque os setores que lideraram a expansão no ano passado não são intensivos em mão-de-obra, o que pode mudar se o mercado interno se mantiver aquecido.
"Se esses setores forem envolvidos, teremos um grande incentivo para a evolução do emprego, mesmo na hipótese de que a indústria geral registre, em 2005, crescimento inferior ao do ano passado", afirmou o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
Em dezembro, o nível de emprego industrial caiu 0,3% em relação ao mês anterior, na comparação livre de influências sazonais (típicas de cada período).
Diferentemente do IBGE, o Iedi diz que "a trajetória recente do emprego preocupa tanto quanto a desaceleração que se verificou no curso da produção industrial nesse mesmo período".
O Iedi acredita, porém, que "a economia seja capaz de contornar os efeitos adversos das atuais políticas de juros e de câmbio".
FOLHA DE SAO PAULO