3.18.2005

Perueiros em greve depredam ônibus e tumultuam o centro

Manifestantes entraram em confronto com policiais no viaduto do Chá, perto da prefeitura

CARLOS IAVELBERG
VICTOR RAMOS
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os perueiros de São Paulo fizeram ontem uma greve geral que não só deixou mais de 2 milhões de passageiros sem condução como resultou em ações violentas na capital paulista inteira e em novos confrontos com a PM em frente à sede da prefeitura.
Os 6.500 motoristas de lotação, responsáveis por 40% das viagens do transporte municipal, paralisaram os serviços em protesto por reajuste da remuneração. Alguns líderes divergiam, mas a maioria decidiu retornar ao trabalho hoje e colocar cartazes nos veículos com a inscrição "estado de greve".
A categoria voltou a se concentrar no viaduto do Chá, diante do gabinete do prefeito José Serra (PSDB). Durante cinco horas, a área se transformou em praça de guerra -repetindo cenas de confrontos entre perueiros e PM ocorridas no mês passado. Em todas as regiões, 53 ônibus foram atingidos -39 depredados, dez incendiados, três tiveram pneus esvaziados e um foi furtado.
Os 600 manifestantes que se deslocaram até a área central a partir das 8h levaram ao bloqueio do trânsito do viaduto do Chá e da rua Líbero Badaró por várias vezes -agravando os congestionamentos. A Polícia Militar usou bombas de efeito moral, sprays de pimenta e balas de borracha -e chegou a prender alguns.
Ao menos oito ônibus foram depredados somente no centro, a maior parte ainda com os passageiros dentro -sendo atingidos por estilhaços de vidro. As pessoas se jogavam no chão dos coletivos para se proteger. Uma delas chegou a usar um guarda-chuva para tapar a janela sem vidro.
Num dos veículos, nem a chegada da PM foi suficiente para acalmar os usuários. Mesmo com os manifestantes já afastados, a abertura da porta do ônibus fazia os passageiros saírem correndo, em fuga, muitos deles chorando.
O comércio da região permaneceu fechado nos momentos de conflitos, entre 11h e 16h. Na periferia, coletivos foram incendiados por homens encapuzados.
À noite, os líderes dos perueiros prometiam voltar ao trabalho hoje, depois de determinação do TRT (Tribunal Regional do Trabalho), que anunciou ainda uma tentativa de conciliação amanhã.
Os protestos fazem dos perueiros um dos maiores motivos de desgaste do governo tucano. Os motoristas de lotação já tinham feito uma greve de dois dias em janeiro -algo inédito desde que passaram por licitação e receberam os termos de permissão de serviço, em julho de 2003.

Pedras e correria
Às 9h30, os manifestantes eram 300 e ocupavam a calçada em frente à prefeitura. Às 11h, quando chegavam a 600, segundo a PM, começaram a invadir as pistas do viaduto do Chá. Depois, cinco ônibus elétricos foram apedrejados e tiveram vidros quebrados.
Pela primeira vez no dia, a polícia avançou sobre a manifestação, disparando balas de borracha e bombas de efeito moral. Os manifestantes responderam atirando pedras contra os policiais. Houve correria e as lojas fecharam. Após duas horas de trégua, houve novos confrontos. A situação só ficou calma perto das 17h, quando lideranças dos perueiros pediram que todos voltassem às garagens.
Os perueiros reivindicam reajuste da remuneração e alegam que os repasses da prefeitura aos operadores chegaram até mesmo a cair após a elevação da tarifa cobrada dos usuários, de R$ 1,70 para R$ 2,00, no começo deste mês.
Até então, havia uma regra transitória pela qual eles recebiam tudo aquilo que arrecadavam -em valores que passavam de R$ 70 milhões num mês-, mas não ganhavam pelas baldeações gratuitas do bilhete único nem pela condução de idosos, por exemplo.
A partir de 5 de janeiro, a prefeitura passou a adotar as regras dos contratos firmados em julho de 2003, pela qual eles devem ganhar entre R$ 0,63 e R$ 0,93 por passageiro, incluindo as gratuidades. Esse montante, porém, ficaria neste mês próximo de R$ 55 milhões, segundo os operadores.
A gestão Serra admite que esses valores precisam ser revistos, mas alega que a definição só se dará com a conclusão de estudos de reformulação das linhas do transporte. Enquanto isso, aceita negociar algo próximo de R$ 70 milhões -considerado insuficiente pelos perueiros, que dizem precisar de, no mínimo, R$ 98 milhões.
FOLHA DE SAO PAULO