3.24.2005

Criação de empregos formais perde fôlego

Geração de vagas com carteira assinada teve pior fevereiro desde 99; para ministro, "situação merece olhar atento do governo"

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ritmo de expansão do emprego formal desacelerou em fevereiro, registrando o pior resultado para o mês desde 1999 -ano da desvalorização cambial. No mês passado, houve aumento de 73.285 postos de trabalho com carteira assinada, o que representa quase a metade das vagas geradas em fevereiro de 2004.
Os dados fazem parte do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que é divulgado mensalmente pelo Ministério do Trabalho. O cadastro foi criado em 1992 e traz informações sobre o mercado de trabalho formal.
"Houve crescimento do emprego formal em fevereiro, mas o número não é tão bom quanto os meses anteriores. Ficou um pouco aquém do ritmo que vinha acontecendo desde janeiro de 2004", declarou o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini.
Segundo o ministro, o principal motivo para a redução no ritmo de crescimento foi o forte movimento de demissões no Nordeste. Em fevereiro, o saldo entre contratações e demissões na região foi negativo em 35.871 vagas.
Os desligamentos ocorreram de forma mais intensa em Pernambuco, Alagoas e Paraíba por causa da antecipação do fim do ciclo (colheita) da cana-de-açúcar. "Geralmente, o ciclo se encerra em março, mas neste ano houve a antecipação para fevereiro", afirmou Berzoini. Na avaliação dele, a situação não é generalizada, visto que o Sudeste teve bons resultados -aumento de 71.041 vagas.
Na comparação com os números registrados em fevereiro de 2004, no entanto, todas as regiões tiveram redução no nível de contratação. "A situação merece um olhar atento do governo [...] Não me parece um quadro preocupante", comentou o ministro.
"Não creio que o resultado de fevereiro seja um motivo de alerta. Em qualquer país do mundo, juros altos afetam a economia e a geração de emprego. Mas estamos avisando há bastante tempo que é bom ter um olho na inflação e outro no emprego".
O ministro admite, porém, que a valorização do real ante o dólar já pode estar afetando alguns setores exportadores. No setor de calçados, por exemplo, o saldo do emprego formal em fevereiro foi negativo, com o fechamento de 1.312 vagas. O mesmo ocorreu com o seguimento madeira e mobiliário, com 2.258 postos de trabalho a menos no período.
No setor de produtos alimentícios e bebidas, o saldo negativo foi de 14.682 vagas. Para Berzoini, isso é reflexo da antecipação do fim do ciclo da cana devido à produção de açúcar e álcool.

FOLHA DE SAO APULO