7.30.2006

Emprego precário é o que mais cresce

Velocidade das demissões entre os mais escolarizados é superior à das contratações; vagas para trabalhador analfabeto disparam

De cada 10 empregos novos criados no Brasil, 9 pagam só até 2 salários mínimos; tendência é que caia a renda entre os mais escolarizados

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Além de registrar queda no ritmo da criação de vagas formais (com carteira assinada) em 2006, o mercado de trabalho vem revelando uma "precarização" do emprego no Brasil.
A velocidade das demissões de pessoas com maior escolaridade é hoje superior às contratações. Entre os menos escolarizados, ocorre o inverso.
O destaque dos últimos 12 meses (de maio de 2005 a maio de 2006) é justamente a velocidade na criação de empregos para analfabetos e para pessoas que têm até a 4ª série do ensino fundamental completo.
Há dois meses, por exemplo, Rafael de Castro, analfabeto e pedreiro há 30 anos, foi "fichado" em carteira, pela primeira vez, para trabalhar em obra em São Paulo (leia à pág. B3).
Entre os trabalhadores mais educados (a partir do 2º grau incompleto até o superior completo), destaca-se o oposto: o ritmo das demissões é maior que o das contratações.
Hoje, é o Nordeste quem puxa para cima a média nacional de contratação de analfabetos. Aumentou 36,4% a admissão de pessoas sem nenhum estudo na região nos últimos 12 meses.
Já a diminuição no ritmo de contratações de trabalhadores mais escolarizados se dá praticamente em todas as regiões.
Em resumo, a despeito da criação de 4,3 milhões de empregos formais no governo Lula, o Brasil dos últimos 12 meses piorou a qualidade de sua mão-de-obra.
O fato tende a acentuar a forte tendência dos últimos nove anos de encolhimento da proporção de famílias que recebem de 5 a 20 salários mínimos. Em 1997, elas representavam 39% do total. Hoje, são 26,1%.
Na contramão, as famílias com renda até dois salários mínimos subiram de 28,1% para 39,5% no mesmo período.
Do ponto de vista político-eleitoral, a piora na qualidade da mão-de-obra no Brasil -que tem efeitos econômicos positivos incontestáveis para os mais pobres- tende a beneficiar a candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo a última pesquisa Datafolha, do dia 19, Lula tem 51% das intenções de voto entre os eleitores que ganham até dois salários mínimos (R$ 700,00). Entre os que ganham entre 5 e 10 salários (até R$ 3.500,00), a preferência pelo presidente cai para 35%.
O mesmo vale para a escolaridade: Lula tem 50% entre os eleitores com até o ensino fundamental, 41% entre os com o ensino médio e 31% entre os que têm curso superior.
Na obra de construção civil visitada pela Folha, Lula é o candidato de todos os dez trabalhadores entrevistados. Todos apontam melhora na vida e na situação de emprego nos últimos três anos e meio.
O Ministério do Trabalho atribui a "efeitos sazonais", com destaque para o setor agrícola, a contratação de mais analfabetos e de pessoas com menos escolarização, principalmente no Nordeste. Mas admite que o governo tem se saído melhor quando se trata da criação de empregos. Quando o assunto é renda, os resultados não são tão satisfatórios.
De janeiro a junho de 2006, o emprego com carteira assinada registrou saldo de 923.798 novas vagas. Mas o número indicou queda de 4,4% em relação a igual período de 2005.

Nivelando por baixo
Para Sergio Vale, economista da MB Associados, "certamente não se pode reclamar da contratação de pessoas com baixo nível escolar".
"Mas, em vez de aumentarmos a média do emprego e da renda para todos, estamos nivelando por baixo. Todos os países do mundo cresceram com trabalho qualificado e uma classe média relevante. Estamos no caminho oposto."
Segundo cálculos do economista Marcio Pochmann, especialista em trabalho da Unicamp, de cada 10 empregos criados hoje no Brasil, 9 pagam só até dois salários mínimos.

FOLHA DE SAO PAULO

2.01.2006

Desemprego em SP cai para 16,9% em 2005

É a menor taxa média anual desde 97, e analistas prevêem avanço neste ano; formalidade cresce e renda empaca
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O desemprego caiu para o menor nível em oito anos na Região Metropolitana de São Paulo, informou ontem o Dieese. No ano passado, a taxa média de desemprego ficou em 16,9%, contra os 16% de 1997. Em 2004, a taxa havia ficado em 18,7%. Apesar do bom desempenho do mercado de trabalho, o rendimento médio dos trabalhadores ocupados ficou praticamente estável.
Em todo o ano de 2005 foram criados 260 mil postos de trabalho. Como o crescimento da força de trabalho foi bem menor -97 mil pessoas-, 163 mil trabalhadores deixaram o contingente de desempregados. Com esse desempenho, a taxa de desemprego total ficou em 16,8% no ano, o menor nível desde 1997.
Dezembro
No mês de dezembro, o resultado também foi positivo. A taxa desemprego foi de 15,8% no mês, comparada aos 16,4% de novembro. A taxa mensal do último mês do ano não é igual à taxa de desemprego do ano, já que a última é uma média dos doze meses de 2005. No último mês do ano passado, foram criadas 163 mil ocupações, o que tirou do contingente de desempregados cerca de 41 mil pessoas.
A taxa de desemprego recuou mesmo com um desempenho econômico bem menos dinâmico do que o de 2004, ano em que a economia cresceu 4,9%. Com expansão muito próxima de cinco pontos percentuais, a taxa de desemprego recuou, em 2004, 1,2 ponto percentual, ou 6,3%. No ano passado, quando a economia, nas estimativas de analistas do setor privado, deve ter crescido bem menos, cerca de 2,5%, o desempenho do mercado de trabalho foi relativamente melhor, com a taxa de desemprego caindo 1,8 ponto percentual, ou 9,6%.
Ou seja, em 2005, cada ponto percentual de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, soma dos valores de todos os bens e serviços finais produzidos na economia) gerou um crescimento do emprego maior do que em 2004.
O aumento da correlação entre emprego e PIB sugere, na avaliação do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socio-Econômicos), que 2006 deve ser um ano com cenário positivo no mercado de trabalho, já que as projeções são de que a economia cresça mais do que em 2005, com parte importante dos analistas do setor privado prevendo crescimento de 3,5%, ou um ponto percentual maior do que o do ano passado, caso a estimativa de crescimento em torno de 2,5% esteja correta.
Por setores
No ano passado, o nível de ocupação cresceu 3,2%, com contribuição significativa do setor de serviços, que gerou mais da metade das vagas criadas, ou 138 mil postos de trabalho. O setor industrial contribuiu para a queda do desemprego com a criação de 83 mil vagas, enquanto o comércio gerou 34 mil postos. Todos os demais setores geraram 5 mil vagas.
O perfil da ocupação dos trabalhadores melhorou. O crescimento do trabalho formal foi preponderante, correspondendo a 221 mil postos de trabalho, ou seja, 85% do total de vagas criadas foram postos com carteira de trabalho assinada. Enquanto a ocupação com carteira assinada cresceu 6,8%, a sem carteira cresceu apenas 2,5%.
Renda
Apesar da queda do desemprego, a renda ficou estagnada. O rendimento médio dos assalariados cresceu muito pouco, cerca de 0,6%, enquanto o dos ocupados registrou pequena retração, de 0,4%. Como houve crescimento do emprego, a massa de rendimentos cresceu 2,7% no caso dos ocupados e 5,2% no dos assalariados. Os salários ainda estão longe de recuperar a perda de poder aquisitivo dos anos de pouco crescimento. Se comparados aos níveis de 2000, os rendimentos médios dos assalariados foi, em 2005, 16,7% menor, ao passo que o dos ocupados foi 20,9% menor.
Porto Alegre tem menos informalidade e desigualdade

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
A diversificação da sua indústria, a expansão dos serviços e a concentração do emprego público blindaram Porto Alegre e sua região metropolitana contra duas importantes crises vividas pelo Rio Grande do Sul no ano passado: a estiagem no interior e invasão de produtos chineses no setor calçadista.A capital gaúcha registrou em 2005 as menores taxas de desocupação entre seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho, a região apresentou saldo positivo de 13.089 postos novos de trabalho (1,5%) no ano."A oferta de emprego também por aqui nunca foi uma maravilha", diz a economista Lúcia Garcia, tentando colocar os pés no chão. Ela aponta indicadores como o elevado índice do mercado formal da região (52% de trabalhadores com carteira assinada) como razões para a posição de líder no ranking do emprego.
Garcia coordena a pesquisa domiciliar mensal do emprego aberto na região de Porto Alegre para o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), que no Rio Grande do Sul tem convênio com a FEE (Fundação de Economia e Estatística). Baixa migração na região e distribuição de renda -salário menor menos distante do maior- são outros fatores apontados pela economista. "Um executivo com salário de R$ 20 mil em Porto Alegre é raro", diz.Diferente na metodologia, o índice de dezembro Dieese-FEE apurou 13,7% de desocupados na região (o IBGE indicou 6,7%). A indústria de transformação absorve 19% das pessoas ocupadas. A massa (81%) está inserida nos setores de comércio e serviços, incluindo o público.
O Rio Grande do Sul fechou o ano passado com a indústria de calçados perdendo a corrida para a China por causa do real forte. Só a Azaléia dispensou 800 trabalhadores, ao fechar a fábrica de São Sebastião do Caí. Apesar de a região do Vale dos Sinos ser próxima de Porto Alegre, a pesquisa do IBGE não abrange o pólo produtor de calçados, segundo o supervisor de informações no instituto Ademir Barbosa Koucher.O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), indica investimentos de R$ 2,6 bilhões atraídos pelo Estado como um forte motivo para a região de Porto Alegre não ser afetada pelo baque na agricultura e no setor calçadista.Rigotto cita como exemplos a expansão do pólo petroquímico de Canoas e do pólo automotivo de Gravataí.O prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PPS), planeja investir em três anos R$ 33 milhões para regularizar habitações construídas por cooperativas, em terrenos irregulares.
Salvador lidera em desemprego

COLABORAÇÃO PARA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Êxodo para a capital e baixa qualificação têm levado ao mercado informal milhares de pessoas que não encontram vaga na região metropolitana de Salvador.
Realizado em dezembro, o último levantamento da SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia), órgão do governo estadual, revela que 408 mil pessoas estavam desempregadas nas 11 cidades que compõem o entorno da capital baiana -9.000 pessoas a mais do que na última pesquisa. Já o IBGE aponta que Salvador é campeã brasileira de desemprego no país, com um índice de 14,6%. Na pesquisa do instituto (que adota metodologia diferente da do Dieese), São Paulo registra taxa de 7,8%.
"As pessoas estão desempregadas, mas auferem renda. Se não tivessem nenhuma renda, certamente a região metropolitana de Salvador estava em guerra civil", rebate o secretário estadual do Planejamento, Armando Avena.O secretário cita dados estatísticos para demonstrar que a Bahia tem gerado postos de trabalho, embora em número insuficiente para atender à demanda. "O saldo de empregos no Brasil [contratações menos demissões] caiu 18% no ano passado em relação a 2004. No mesmo período, na Bahia, o saldo cresceu 21%."No entanto, de acordo com o secretário, a PEA (População Economicamente Ativa) cresce mais do que a oferta de emprego. "É uma equação injusta porque, como uma grande metrópole, Salvador atrai milhares de trabalhadores das pequenas cidades, que têm sua sobrevivência dificultada pela seca ou mesmo pela falta de oportunidade de emprego.
"O secretário diz que Salvador oferece muitos "empregos informais". "No verão, por exemplo, as festas, incluindo o Carnaval, são responsáveis pela contratação de mais de 250 mil pessoas, sem carteira assinada, mas com renda."Desempregada "oficialmente" há nove anos, Maria Helena Santos, 46, é um exemplo. Ela já foi empregada doméstica contratada. Hoje trabalha como diarista e recebe cerca de R$ 250 por mês. Além disso, recolhe latas e papelão para vender às empresas de reciclagem. "Não posso esperar que o emprego caia do céu."
A economista Ana Georgina Dias, 33, aponta outro fator para justificar o alto índice de desempregados na região metropolitana de Salvador. "Como os postos de trabalho que surgem são poucos, as pessoas com maior escolaridade acabam absorvendo as vagas."
A economista, que trabalha no Dieese, lembra também que a Bahia possui poucos municípios com mais de 300 mil habitantes. "Na Bahia, como há poucas cidades médias, as pessoas procuram os municípios da região metropolitana de Salvador, que concentram as grandes indústrias. Só que não há vagas para todos."
Esse é o caso de José Carlos Soares, 29, que trocou Cruz das Almas (142 Km da capital) por Salvador. "Na minha cidade, ajudava meu pai na roça. Todo emprego que procuro exige ensino médio. Como parei de estudar na 5ª série, comecei a vender protetor solar, óculos e prendedores de cabelo na praia." Em média, Soares recebe R$ 400 por mês.

1.31.2006

Mais pessoas ganham menos que o mínimo

Trabalhadores ganhando menos que 1 salário chegam a 14,5% da população ocupada; eram 11,9% em 2003

JANAINA LAGE
DA FOLHA ONLINE, NO RIO
O número de trabalhadores que recebem menos de um salário mínimo por mês atingiu em 2005 o maior patamar da nova Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, iniciada em 2002. Na média do ano, 14,5% da população ocupada (ou 2,876 milhões de pessoas) recebia menos que R$ 300. Em 2003, eram 11,9%. Em 2004, eram 13,8%.
Segundo o instituto, a maior parte desses trabalhadores pertence ao mercado de trabalho informal, principalmente comércio, construção civil e autônomos.
O crescimento surpreendeu o IBGE porque 2005 terminou com o desemprego em queda e a renda média em alta. A taxa média de desemprego no ano recuou para 9,8%, o menor patamar da série. A renda cresceu 2%, a primeira expansão desde 1997. De forma geral, houve também aumento da formalidade: o número de trabalhadores com carteira assinada cresceu 5,6% de 2004 para 2005.
Segundo o IBGE, o avanço do sub-rendimento, que representa o total de pessoas que recebem por hora menos do que o salário mínimo dividido pela jornada de trabalho de 40 horas semanais, está diretamente ligado à informalidade. "O aumento do sub-rendimento mostra que a informalidade continua crescendo nas vagas de menor remuneração. Embora exista uma recuperação das camadas mais favorecidas, que têm emprego com carteira, a parcela de baixa renda ainda sofre com a sub-remuneração", disse o gerente da pesquisa, Cimar Azeredo.
Todos os anos o sub-rendimento cresce em maio, quando o salário mínimo costuma ser reajustado. Isso ocorre porque há uma defasagem entre a decisão do governo de elevar o mínimo e a aplicação do reajuste para os trabalhadores informais, segundo o IBGE.
Normalmente, o total de sub-remunerados vai caindo ao longo dos meses, mas, na avaliação do instituto, a análise dos últimos anos mostra que há uma tendência de elevação. Em 2006, o maior aumento dos sub-remunerados deve ocorrer em abril, com a antecipação do reajuste do mínimo de R$ 300 para R$ 350.Segundo Guilherme Maia, da consultoria Tendências, o aumento do mínimo acima da inflação e a rigidez das leis trabalhistas estimulam o crescimento da informalidade pois "aumentam o custo do empregador e diminui a margem de negociação patrão-empregado". O cenário de juros e carga tributária elevados e taxa de câmbio desfavorável ao exportador também estimulam o sub-rendimento, segundo o IBGE.
Segundo o economista Marcelo de Ávila, do Ipea, ligado ao Ministério do Planejamento, cada vez mais a oferta de vagas privilegia pessoas com mais anos de estudo.Em 2005, foram criadas 650 mil vagas para pessoas com 11 anos ou mais de estudo (ao menos o ensino médio), enquanto vagas para quem tinha até um ano de estudo tiveram queda de 28 mil. Já para quatro a sete anos de estudo foram fechadas 95 mil vagas.

1.30.2006

Cresce número de pessoas que recebe menos que 1 mínimo, diz IBGE

O número de trabalhadores que recebem menos de um salário mínimo por mês atingiu em 2005 o maior patamar da nova Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), iniciada em 2002. Na média do ano, 14,5% da população ocupada recebia menos do que R$ 300 por mês, ou o equivalente a 2,876 milhões de pessoas, contra 11,9% em 2003 e 13,8% em 2004.
A maior parte desses trabalhadores, segundo o IBGE, pertence ao mercado informal de trabalho, que muitas vezes ignora direitos básicos dos trabalhadores como o salário mínimo.
"O aumento do sub-rendimento mostra que a informalidade continua crescendo nas vagas de menor remuneração", afirmou o gerente da pesquisa, Cimar Azeredo.
O crescimento surpreendeu o IBGE porque o ano de 2005 terminou com o desemprego em queda e a renda média em alta. A taxa média de desemprego no ano recuou para 9,8%, o menor patamar da série histórica. A renda do trabalhador cresceu 2%, a primeira expansão desde 1997.
Azeredo também afirmou que o comércio, a construção civil e os trabalhadores por conta própria sem carteira concentram a maior parte da população que recebe menos de um salário mínimo por mês.
"Embora exista uma recuperação das camadas mais favorecidas, que têm emprego com carteira, existe uma parcela de baixa renda que ainda sofre com o status de ser sub-remunerado", afirmou.
Todos os anos o sub-rendimento cresce em maio, quando o salário mínimo costuma ser reajustado. Isto ocorre porque há uma defasagem entre a decisão do governo de elevar o salário mínimo e a aplicação do reajuste para os trabalhadores informais, segundo o IBGE.
Normalmente, o total de sub-remunerados vai caindo ao longo dos meses, mas na avaliação do instituto, a análise dos últimos anos mostra que há uma tendência de elevação. Em 2006, o maior aumento de trabalhadores sub-remunerados deve ocorrer em abril, com a antecipação do reajuste do mínimo de R$ 300 para R$ 350.
O IBGE destaca ainda que o cenário econômico contribuiu para o aumento do fenômeno do sub-rendimento. "Fatores que fazem com que o mercado de trabalho não tenha um dinamismo tão eficiente quanto o esperado, como juros elevados, carga tributária e taxa de câmbio contribuem para que menos vagas sejam abertas", disse. A solução, segundo o IBGE, poderá ocorrer com o aumento da formalidade, do número de trabalhadores com carteira assinada.
Segundo o economista Marcelo de Ávila, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, a análise por anos de estudo mostra que cada vez mais a oferta de vagas privilegia pessoas com mais anos de estudo, que tradicionalmente apresentam remuneração superior a dos menos escolarizados. "Os menos escolarizados ainda não conseguiram obter o benefício do emprego de qualidade. Eles apresentam perda do poder de barganha", disse.
Com a menor oferta de vagas para os menos instruídos, uma das hipóteses que justificam o cenário do sub rendimento é a manutenção do trabalhador com menos anos de estudo no emprego informal. "A criação líquida de vagas beneficia a parcela mais escolarizada da população. O trabalhador de menor qualificação costuma encontrar emprego de baixa qualidade e teme não encontrar outra oferta no mercado de trabalho", afirmou Ávila.
Em 2005, foram criadas 650 mil vagas para pessoas com 11 anos ou mais de estudo, ou seja, pessoas que já concluíram ao menos o ensino médio. No mesmo período, a oferta de vagas para quem tem até um ano de estudo apresentou queda de 28 mil. O recuo foi ainda mais acentuado para os que possuem de quatro a sete anos de estudo, ou seja, que concluíram o ensino fundamental: foram fechadas 95 mil vagas.

1.29.2006

Mototáxi torna-se alternativa ao tráfico para jovens na Rocinha

Pesquisadora mapeou atividade no Rio
SERGIO COSTA
DA SUCURSAL DO RIO
Eles se equilibram sobre duas rodas entre a "droga da economia", que produz desemprego, e a "economia da droga", que atrai para o tráfico muitos jovens de comunidades carentes. Os mototáxis inventaram um mercado e viraram objeto de estudo.
Essa "invenção de mercado" chamou a atenção da cientista social Natasha Fonseca, 27, formada em Ciências Sociais pela Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). A experiência na Rocinha, favela na zona sul do Rio de Janeiro onde trabalham pelo menos 350 mototáxis, foi transformada em dissertação de mestrado na Ence (Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE).
Os dados do desemprego juvenil (entre 15 e 24 anos) no Brasil ajudam a entender esse novo mercado. Entre 1990 e 2001, o índice de desocupação nesta faixa pulou de 5,3% para 15,1% e tem se mantido sem variações significativas desde então. No Rio de Janeiro, 40,3% dos que não têm ocupação são jovens.As alternativas de emprego na cidade não são muito atraentes: vendedores de lojas ou mercados, ajudantes de obras, carregadores, escriturários, auxiliares administrativos, garçons, copeiros ou contínuos -as principais ocupações de jovens de acordo com os levantamentos feitos pela PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) do IBGE.
"Emprego de otário"
Estas atividades são consideradas por muitos dos entrevistados para o estudo como "empregos de otário". Uma definição mais do que direta para 10 horas ou mais de serviço em troca de uma remuneração média de R$ 373. Os ganhos do mototáxi variam entre R$ 400 e R$ 1.100 ou mais. A outra opção tem sido o tráfico.
"São jovens pobres que enfrentam as maiores dificuldades de acesso e permanência no mercado formal do trabalho. Eles são mais vulneráveis à atração exercida pela criminalidade, como forma de superar sua invisibilidade social e ter acesso, ainda que fugaz, aos circuitos de consumo, prestígio social e poder", analisa Fonseca.
"Para os jovens pobres, o mototáxi articula a inserção econômica, reconhecida como socialmente útil, à afirmação dos sentidos de virilidade, liberdade e autonomia, que tendem a ser fortemente valorizados por esses jovens", explica a cientista social.
Ou, na tradução livre de um de seus entrevistados: "Ser mototáxi é ganhar ou perder a vida. É viver na tensão entre a polícia e o bandido, entre o sol e a chuva, entre o hoje e o amanhã", define o "piloto" identificado apenas como A.
Os mototáxis da Rocinha trabalham em média 12 horas por dia, de seis a sete dias por semana. Eles realizam entre 30 a 40 viagens por dia, a maior parte delas dentro da própria comunidade. Mas ninguém reclama.
O trabalho ali muitas vezes se confunde com o lazer por ser feito ao ar livre, pela diversidade de pessoas e lugares, além do tempo que ficam conversando e brincando entre si enquanto esperam passageiros.
A concorrência é com as lotações feitas por kombis. Uma corrida de moto dentro da favela sai por R$ 1, enquanto a lotação tem o custo R$ 1,80. O preço da passagem de ônibus no Rio foi reajustado para R$ 1,90 a partir deste mês.Nas viagens para fora, o preço sobe. Ir da Rocinha ao Leblon (bairro que fica na zona sul do Rio de Janeiro) na garupa de uma moto custa R$ 6. De kombi, sai por R$ 4,50. A vantagem competitiva neste caso é o serviço imediato e personalizado. O passageiro não precisa esperar no ponto e é deixado na porta de onde precisa ir. Isso se a polícia não parar a moto, já que as viagens representam um tipo de atividade informal, que não é legalizada.
Profissão é 100% masculina, diz estudo

DA SUCURSAL DO RIO
Uma constatação do estudo sobre mototáxis: 100% dos entrevistados são homens. Na organização das cooperativas da Rocinha, as mulheres entram nas funções administrativas ou de fiscalização. "Mototáxi é uma atividade masculina", comenta Natasha Fonseca, autora do estudo.
"Reproduz-se assim, na estruturação do serviço, a associação das atividades de risco ao homem que se faz normalmente na rua".
Também são expressivos os dados sobre educação: 93,8% abandonaram os estudos -metade deles afirma que foi para trabalhar. A outra metade, além de não gostar de estudar, atribui o abandono ao desejo de ficar mais tempo na rua com os amigos e até ir "aos bailes funk".
A maioria dos entrevistados (56,3%) tem até 24 anos. Só 1,6% já passou dos 40. No universo pesquisado, 28,1% vivem com companheira e só 9,4% são casados. A quase totalidade dos mototáxis (97%) moram na favela.
O perfil da maioria é parecido: entrou no mercado de trabalho aos 16 anos e, em 90% dos casos, houve decepção na primeira experiência profissional em relação à expectativa que tinha antes de se tornar auxiliar de cozinha, balconista, entregador -ocupações consideradas por eles como "subalternas e desgastantes".
Em busca de autonomia, liberdade e aventura, encontraram o mototáxi. Fonseca explica que nenhum dos "pilotos" que entrevistou mencionou jornada excessiva de trabalho. "Isso pode ser explicado pelo fato de trabalharem para si, de disporem seus horários e do tempo de trabalho se confundir, até certo ponto, com o horário de não-trabalho."
A pesquisa foi feita entre agosto e novembro de 2004, com 64 entrevistados e virou tese de mestrado da Ence em dezembro de 2005.
Informalidade
O mototáxi é uma atividade informal -surgiu como clandestina, mas está em processo de regulamentação. Os pioneiros surgiram em meados de 97, em Lins, noroeste do Estado de São Paulo. Era serviço restrito, só para conhecidos, que se espalhou e acabou legalizado na cidade em 99.A novidade logo se difundiu pelo país, na carona do desemprego jovem e do baixo custo das motos.Na Rocinha, favela com mais de 55 mil moradores, segundo o Censo 2000, ocorre uma das maiores concentrações de mototáxis: são 350, organizados em 11 cooperativas. (SC)

SP ganha mais de 200 mil pobres em um ano

Número dos que têm renda familiar per capita abaixo de R$ 251 passa dos 7,5 milhões na região metropolitana

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO


A proporção de pobres na região metropolitana de São Paulo passou de 41% para 41,6%, segundo estudo da economista Sônia Rocha, do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A variação parece pequena, mas mostra que migraram para a pobreza 214 mil pessoas. Na capital paulista e no seu entorno, havia 7,292 milhões de pobres em 2003, segundo o critério utilizado pela pesquisadora para definir pobreza. O contingente subiu, em apenas um ano, para 7,506 milhões de pessoas. Na Grande São Paulo vivem aproximadamente 18,2 milhões de pessoas.
Rocha traçou uma linha de pobreza que, para São Paulo, correspondia a um rendimento familiar per capita de R$ 250,79. Esse valor é diferente para cada região do país, sendo mais baixo onde o custo de vida é menor, como no Nordeste e em áreas rurais.
Dos pobres instalados nas dez grandes metrópoles do país, 35,8% estavam em São Paulo em 2004 -esse percentual era de 34,5% em 2003.
Para Rocha, a fraca geração de postos de trabalho (menos do que no resto do país), a evolução desfavorável do rendimento na região e o aumento do custo de vida em São Paulo proporcionalmente maior do que em outras áreas levaram a maior cidade do país a não reduzir o número de pobres.
No país como um todo, a proporção de pobres caiu de 35,6% em 2003 para 33,2%, principalmente por causa do crescimento do emprego, da valorização do salário mínimo e da expansão das bolsas pagas pelo governo, como as do programa Bolsa-Família.
Emprego sem fôlego
Para Rocha, o emprego em São Paulo evolui menos do que em outras regiões. "A criação de postos de trabalho em São Paulo apresentou expansão de 1,9%, bem aquém da média de 3,3%", diz a economista, ao justificar o desempenho pior da região.Para ela, São Paulo só não gerou mais pobres porque a população cresceu menos: "O arrefecimento do crescimento demográfico contribuiu para que o agravamento da pobreza não fosse ainda mais acentuado. Na verdade, São Paulo tornou-se menos atrativa aos migrantes, apesar das tradicionais redes de solidariedade que acolhem os recém-chegados e da percepção positiva deles quanto às vantagens oferecidas por São Paulo", disse a economista.
Outro ponto citado por ela foi o rendimento, que ficou estável em 2004 no Brasil, mas caiu no conjunto das metrópoles, especialmente em São Paulo e no Rio. A renda na capital paulista caiu 5,3% em 2004 ante o ano anterior.
Um dos fatores que mais contribuíram, segundo Rocha, foi a inflação dos mais pobres, que subiu relativamente mais em São Paulo do que em outras capitais. "Houve um aumento relativamente forte do custo de vida dos pobres em São Paulo", disse Rocha.
Para ilustrar, ela compara a cidade com Salvador. De 2003 para 2004, a linha de pobreza de São Paulo apresentou aumento relativamente forte (5,29%), passando de R$ 238,20 para R$ 250,79. Em Salvador, a linha de pobreza, que se situa em um nível bem mais baixo, também subiu, mas em num ritmo menor (3,75%).
A pesquisadora argumenta, por fim, que as bolsas e transferências do governo para a população mais pobre tiveram menos impacto em São Paulo do que no resto do país, já que seus valores são únicos para todas as regiões e o custo de vida paulista é maior.Até o aumento real do salário mínimo, que teve forte impacto na redução da pobreza em 2004 no restante do país, não teve o mesmo efeito, diz ela. Isso porque, em 2004, o mínimo era de R$ 260 em setembro de 2004, apenas 3,7% superior à linha de pobreza em São Paulo. Em Salvador, o salário mínimo era 43,5% maior do que o rendimento das famílias per capita. O mesmo, diz Rocha, vale para outras transferências, como o Bolsa-Família.
Regiões da BA e do PA apontam maior queda na proporção de pobres, mostra estudo; pior índice está no Recife
Salvador e Belém têm melhores resultados

DA SUCURSAL DO RIO
Das grandes metrópoles do país, Salvador e Belém tiveram a maior redução da pobreza de 2003 para 2004. A proporção de pobres em Belém baixou de 45,4% para 40,3% da população. Em Salvador, foi de 56,6% para 51,7% -a região metropolitana se manteve, porém, com a segunda maior proporção de pobres.Sonia Rocha, economista do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), diz que em Salvador a geração de postos de trabalho foi proporcionalmente maior do que nas grandes metrópoles (Rio e São Paulo), o que contribuiu para a queda mais acentuada da pobreza.
Ela relata ainda que o rendimento também evoluiu mais positivamente e o custo de vida dos mais pobres subiu menos do que em outras metrópoles.
Na região metropolitana de Salvador, é considerado pobre quem tem rendimento domiciliar per capita menor do que R$ 181,19, segundo o conceito de Rocha, que utiliza linhas diferenciadas de pobreza. Pelos dados do levantamento, Salvador tinha 1,63 milhão de pobres em 2004.
Curitiba e Recife também apresentaram redução significativa de um ano para o outro. Na primeira, a proporção de pobres caiu de 26,2% para 22,4%.
Na cidade nordestina, o percentual passou de 63,3% para 59,9%. Apesar do recuo, a capital pernambucana se mantém como a região com, proporcionalmente, o maior contingente de pobres do país -59,9% do total.
Já na Grande Rio e em Brasília e seu entorno a pobreza baixou em intensidade modesta. No Rio, passou de 34,5% para 33,6%. Dos moradores de Brasília, de 42,7% eram pobres em 2003. Em 2004, a cifra caiu para 42,4%.
No Rio, além do fato de os benefícios sociais terem menor impacto, porque o custo de vida é maior do que em outras áreas do país, o "desempenho adverso" do rendimento contribuiu para uma redução não tão expressiva da pobreza, disse Rocha. Havia, em 2004, 3,558 milhões de pobres no Rio.
Apesar dos resultados favoráveis de redução da pobreza e da indigência no Nordeste apresentados pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2004, a pobreza persiste na região, segundo o estudo.
A proporção de pobres caiu de 51,9% da população em 2003 para 48,5% no ano seguinte. Já os indigentes passaram de 18,7% para 14,9% (de 9,1 milhões de pessoas para 7,3 milhões em 2004).
Enquanto os resultados mostram que nas regiões metropolitanas a redução da miséria caminha a passos lentos, no campo, ainda que a pobreza persista, a prosperidade tem chegado mais rápido.Dados da Pnad mostram que o percentual de pobres em relação ao total da população baixou de 44,3%, em 1992, para 38,7%, em 2004, nas metrópoles. Em 2003, primeiro ano do governo Lula, o percentual era de 39,8%.
Campo e cidade
Nas áreas rurais (historicamente mais pobres), a pobreza caiu de 52,7%, em 1992, para 35,4%, em 2004. Em 2003, o percentual de pobres na área rural em relação ao total da população era de 39,5% -embora fosse levemente inferior ao verificado nas metrópoles, a diferença de 0,3 ponto percentual não permitia verificar mudança de tendência. A diferença, todavia, se aprofundou em 2004.
(PEDRO SOARES)

1.27.2006

Desemprego cai, renda e formalidade crescem

Dezembro registra 8,3% e 2005, média de 9,8%; renda sobe 2% no ano e vagas formais atingem 40% do total

JANAINA LAGE
DA FOLHA ONLINE, NO RIO
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O ano de 2005 terminou com o desemprego em queda e a renda média em alta. A taxa de desemprego das seis principais regiões metropolitanas do país superou os prognósticos mais otimistas e chegou a 8,3% em dezembro, o menor patamar da série da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), iniciada em março de 2002. O resultado contribuiu para que a média de desemprego em 2005 -9,8%- registrasse a menor marca da série histórica -em 2004 foi de 11,5%.
A renda do trabalhador fechou em alta de 2% em relação a 2004, atingindo a média de R$ 972,61. Foi a primeira vez em que a renda cresceu desde 1997, segundo cálculos da consultoria Tendências.
Após seis meses de estabilidade, a queda do desemprego está relacionada à menor procura por trabalho, e não a uma alta significativa nas vagas de novembro para dezembro. Em relação a dezembro de 2004, porém, houve um aumento de 474 mil novos postos de trabalho -ou alta de 2,4%.
Outro fator que contribuiu para a queda da taxa em dezembro foi o aumento na contratação de trabalhadores temporários, principalmente em São Paulo, no setor de comércio. Com isso, São Paulo registrou uma taxa de desemprego de 7,8%. É a primeira vez que a região metropolitana tem taxa abaixo da média das seis regiões.
Para o IBGE, 2005 mostrou uma recuperação significativa do mercado de trabalho, com aumento do emprego formal e da renda.
A redução na procura por trabalho superou as expectativas. Só em dezembro, 291 mil pessoas pararam de procurar emprego, queda de 13,6% em relação a novembro. O contingente em busca de trabalho caiu para 1,8 milhão. É a primeira vez que o número de desocupados fica abaixo de 2 milhões nas regiões pesquisadas.
Lula comemora
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou "muito contente" e "animado" com os números do IBGE, segundo um assessor direto. "Tinha confiança em que esses números iam aparecer", disse Lula a interlocutores.
O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, também considerou o índice "uma ótima notícia" na semana. A idéia do Planalto agora é tentar aproveitar ao máximo a boa repercussão desses números."
É uma queda surpreendente do desemprego, não esperava uma redução tão grande na procura por trabalho. Ela sempre acontece em dezembro, mas não nessa proporção", disse Marcelo de Ávila, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério do Planejamento.
Para ele, menos pessoas procuraram vaga porque a renda familiar cresceu, o que possibilitou que jovens e mulheres saíssem do mercado de trabalho.
Já Fábio Romão, da LCA Consultores, estima que a abertura de vagas esteve muito concentrada no setor de serviços. "O resultado global de 2005 é bem-vindo, mas está apoiado no setor de serviços e esconde um desempenho preocupante do emprego industrial", afirma Romão. Em dezembro, o emprego industrial recuou 0,9%, com a redução de 31 mil vagas.
Tendência ou soluço
O IBGE diz que não é possível prever se a melhora do fim do ano no emprego representa uma tendência, mas historicamente a taxa sobe em janeiro por conta da dispensa de trabalhadores temporários. "Ainda não é possível verificar se o desempenho de dezembro foi apenas um soluço ou se estamos diante de um novo movimento", afirmou Azeredo.
Segundo Guilherme Maia, da consultoria Tendências, o desempenho do mercado de trabalho em 2005 foi afetado pela desaceleração na economia no terceiro trimestre, em razão do aperto monetário, da crise política e da perda de confiança de consumidores e empresários. Esse movimento gerou o adiamento da contratação de temporários para o fim do ano por conta da acumulação de estoques no terceiro trimestre.
Carteira assinada
A pesquisa do IBGE registrou ainda aumento da formalidade no ano passado. De 2004 para 2005, houve um crescimento médio de 5,6% no número de trabalhadores com carteira assinada. Somente em dezembro, o aumento foi de 2% na comparação com o mês anterior. A proporção de trabalhadores formais na população ocupada atingiu o nível recorde de 40,3% na média de 2005. Em 2004, eles representavam 39,3% da população ocupada.
Colaborou a Sucursal de Brasília.
FSP

1.26.2006

Jovem enfrenta maior dificuldade para conseguir emprego, diz IBGE

JANAINA LAGE
da Folha Online, no Rio

Análise do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do mercado de trabalho nos três anos do governo Lula mostra que o jovem enfrentou nesse período maiores dificuldades para conseguir um emprego.
A população entre 10 e 24 anos diminuiu sua participação entre os ocupados de 19,5% do total em 2003 para 18,2% em 2005.
O espaço deixado pelos jovens foi ocupado pela população com 50 anos ou mais, que elevou sua participação de 16,8% para 18% na mesma comparação.
O IBGE destaca que no segundo semestre de 2005 a população ocupada com mais de 50 anos de idade superou o contingente médio mensal de jovens ocupados.
Além de buscar trabalhadores mais experientes, o mercado de trabalho também exigiu mais escolaridades. Os trabalhadores com 11 anos ou mais de estudo aumentaram sua participação na população ocupada de 46,7% em 2003 para 50,3% em 2005.
Segundo o IBGE, entre os diversos níveis de escolaridade esse foi o único segmento que ampliou a participação no mercado de trabalho nos últimos anos.
O instituto de pesquisas destaca, no entanto, que uma boa formação não é sinônimo de emprego garantido. Entre os desocupados, a participação das pessoas com 11 anos ou mais de estudo passou de 39,9% do total em 2003 para 46,1% em 2005.
Por setores, dois cresceram acima da média do mercado: intermediação financeira e atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados para empresas (de 13,4% dos empregos em 2003 para 13,9% em 2005) e serviços domésticos (de 7,6% para 8,2%).

FSP

Desemprego é o menor em quase 4 anos e renda sobe, diz IBGE

JANAINA LAGE da Folha Online, no Rio
A taxa de desemprego de seis regiões metropolitanas do país recuou de 9,6% para para 8,3% em dezembro, o menor marca já verificada na nova Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), iniciada em março de 2002. Além disso, a renda do trabalhador subiu 2% no ano passado.
Já o contingente de pessoas desocupadas nas seis regiões metropolitanas foi estimado em 1,8 milhão, uma queda de 13,6% em relação ao mês anterior. Trata-se da primeira vez que esse número cai abaixo de 2 milhões.
No entanto, a população ocupada não se alterou em relação a novembro e somou 20,2 milhões de pessoas. O dado mostra que a queda do desemprego deve-se mais à saída de pessoas do mercado de trabalho do que à criação de novas vagas.
Depois de um 2004 promissor, com redução significativa da taxa de desemprego, o mercado de trabalho patinou ao longo de 2005, mas se recuperou no final do ano. A taxa média de desemprego no ano passado foi de 9,8%, contra 11,5% em 2004.
Segundo Marcelo de Ávila, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, existiam dúvidas quanto ao ritmo de queda da taxa em dezembro. Historicamente, ele aponta que a redução era da ordem de 1 ponto percentual.
Antes de ser influenciada pelo "efeito fim de ano" a taxa de desemprego permaneceu estatisticamente estável por seis meses seguidos, de junho a novembro. Fatores como a taxa de juros elevada, carga tributária e crise política minaram o ânimo do empresariado. O mercado de trabalho sofreu ainda com a desaceleração da economia no terceiro trimestre, quando o PIB (Produto Interno Bruto) recuou 1,2%.
Entre as seis regiões pesquisadas, três apresentaram queda na taxa de desocupação: Belo Horizonte (de 8,2% para 7%), Rio de Janeiro (de 7,7% para 6,8%) e São Paulo (9,7% para 7,8%). Em Porto Alegre, Recife e Salvador houve estabilidade.
Renda
A renda do trabalhador acompanhou o movimento de recuperação do mercado de trabalho em dezembro e subiu de R$ 978,07 em novembro para R$ 995,40 em dezembro, uma alta de 1,8%. Em relação a dezembro de 2004 houve alta de 5,8%.O rendimento médio de 2005 teve alta de 2% em relação ao ano anterior. Segundo o IBGE, o rendimento mais baixo da série foi registrado em 2004.
FSP

1.25.2006

Desemprego global fica em 6,3% em 2005

COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Depois de dois anos consecutivos de redução, a taxa de desemprego no mundo se manteve em 6,3%, o que representa 191, 8 milhões de desempregados. A informação é da OIT (Organização Internacional do Trabalho).
De acordo com informe da OIT, o número de desempregados aumentou devido ao fato de o crescimento econômico mundial não acompanhar o aumento da demanda por trabalho.Ainda segundo a OIT, o crescimento econômico mundial também não foi capaz de melhorar as condições de vida dos mais pobres. Apenas 14,5 milhões dos mais de 500 milhões que ganham menos de US$ 1 por dia saíram da linha da miséria extrema.
Com 1,3 milhão de desempregados a mais, a América Latina e o Caribe foram as regiões que registraram maior aumento do desemprego. Hoje, 7,7% da população está sem emprego na região.Na Europa Central e Oriental, com exceção da União Européia, a taxa é de 9,7%, enquanto na UE e países desenvolvidos o desemprego ficou em 6,7% em 2005.No leste asiático, a taxa permanece em 3,8%, a mais baixa do mundo, enquanto o Oriente Médio e o norte da África ficam no topo da classificação, com desemprego de 13,2%.