É a menor taxa média anual desde 97, e analistas prevêem avanço neste ano; formalidade cresce e renda empaca
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O desemprego caiu para o menor nível em oito anos na Região Metropolitana de São Paulo, informou ontem o Dieese. No ano passado, a taxa média de desemprego ficou em 16,9%, contra os 16% de 1997. Em 2004, a taxa havia ficado em 18,7%. Apesar do bom desempenho do mercado de trabalho, o rendimento médio dos trabalhadores ocupados ficou praticamente estável.
Em todo o ano de 2005 foram criados 260 mil postos de trabalho. Como o crescimento da força de trabalho foi bem menor -97 mil pessoas-, 163 mil trabalhadores deixaram o contingente de desempregados. Com esse desempenho, a taxa de desemprego total ficou em 16,8% no ano, o menor nível desde 1997.
Dezembro
No mês de dezembro, o resultado também foi positivo. A taxa desemprego foi de 15,8% no mês, comparada aos 16,4% de novembro. A taxa mensal do último mês do ano não é igual à taxa de desemprego do ano, já que a última é uma média dos doze meses de 2005. No último mês do ano passado, foram criadas 163 mil ocupações, o que tirou do contingente de desempregados cerca de 41 mil pessoas.
A taxa de desemprego recuou mesmo com um desempenho econômico bem menos dinâmico do que o de 2004, ano em que a economia cresceu 4,9%. Com expansão muito próxima de cinco pontos percentuais, a taxa de desemprego recuou, em 2004, 1,2 ponto percentual, ou 6,3%. No ano passado, quando a economia, nas estimativas de analistas do setor privado, deve ter crescido bem menos, cerca de 2,5%, o desempenho do mercado de trabalho foi relativamente melhor, com a taxa de desemprego caindo 1,8 ponto percentual, ou 9,6%.
Ou seja, em 2005, cada ponto percentual de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto, soma dos valores de todos os bens e serviços finais produzidos na economia) gerou um crescimento do emprego maior do que em 2004.
O aumento da correlação entre emprego e PIB sugere, na avaliação do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socio-Econômicos), que 2006 deve ser um ano com cenário positivo no mercado de trabalho, já que as projeções são de que a economia cresça mais do que em 2005, com parte importante dos analistas do setor privado prevendo crescimento de 3,5%, ou um ponto percentual maior do que o do ano passado, caso a estimativa de crescimento em torno de 2,5% esteja correta.
Por setores
No ano passado, o nível de ocupação cresceu 3,2%, com contribuição significativa do setor de serviços, que gerou mais da metade das vagas criadas, ou 138 mil postos de trabalho. O setor industrial contribuiu para a queda do desemprego com a criação de 83 mil vagas, enquanto o comércio gerou 34 mil postos. Todos os demais setores geraram 5 mil vagas.
O perfil da ocupação dos trabalhadores melhorou. O crescimento do trabalho formal foi preponderante, correspondendo a 221 mil postos de trabalho, ou seja, 85% do total de vagas criadas foram postos com carteira de trabalho assinada. Enquanto a ocupação com carteira assinada cresceu 6,8%, a sem carteira cresceu apenas 2,5%.
Renda
Apesar da queda do desemprego, a renda ficou estagnada. O rendimento médio dos assalariados cresceu muito pouco, cerca de 0,6%, enquanto o dos ocupados registrou pequena retração, de 0,4%. Como houve crescimento do emprego, a massa de rendimentos cresceu 2,7% no caso dos ocupados e 5,2% no dos assalariados. Os salários ainda estão longe de recuperar a perda de poder aquisitivo dos anos de pouco crescimento. Se comparados aos níveis de 2000, os rendimentos médios dos assalariados foi, em 2005, 16,7% menor, ao passo que o dos ocupados foi 20,9% menor.
Porto Alegre tem menos informalidade e desigualdade
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
A diversificação da sua indústria, a expansão dos serviços e a concentração do emprego público blindaram Porto Alegre e sua região metropolitana contra duas importantes crises vividas pelo Rio Grande do Sul no ano passado: a estiagem no interior e invasão de produtos chineses no setor calçadista.A capital gaúcha registrou em 2005 as menores taxas de desocupação entre seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho, a região apresentou saldo positivo de 13.089 postos novos de trabalho (1,5%) no ano."A oferta de emprego também por aqui nunca foi uma maravilha", diz a economista Lúcia Garcia, tentando colocar os pés no chão. Ela aponta indicadores como o elevado índice do mercado formal da região (52% de trabalhadores com carteira assinada) como razões para a posição de líder no ranking do emprego.
Garcia coordena a pesquisa domiciliar mensal do emprego aberto na região de Porto Alegre para o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos), que no Rio Grande do Sul tem convênio com a FEE (Fundação de Economia e Estatística). Baixa migração na região e distribuição de renda -salário menor menos distante do maior- são outros fatores apontados pela economista. "Um executivo com salário de R$ 20 mil em Porto Alegre é raro", diz.Diferente na metodologia, o índice de dezembro Dieese-FEE apurou 13,7% de desocupados na região (o IBGE indicou 6,7%). A indústria de transformação absorve 19% das pessoas ocupadas. A massa (81%) está inserida nos setores de comércio e serviços, incluindo o público.
O Rio Grande do Sul fechou o ano passado com a indústria de calçados perdendo a corrida para a China por causa do real forte. Só a Azaléia dispensou 800 trabalhadores, ao fechar a fábrica de São Sebastião do Caí. Apesar de a região do Vale dos Sinos ser próxima de Porto Alegre, a pesquisa do IBGE não abrange o pólo produtor de calçados, segundo o supervisor de informações no instituto Ademir Barbosa Koucher.O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), indica investimentos de R$ 2,6 bilhões atraídos pelo Estado como um forte motivo para a região de Porto Alegre não ser afetada pelo baque na agricultura e no setor calçadista.Rigotto cita como exemplos a expansão do pólo petroquímico de Canoas e do pólo automotivo de Gravataí.O prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PPS), planeja investir em três anos R$ 33 milhões para regularizar habitações construídas por cooperativas, em terrenos irregulares.
Salvador lidera em desemprego
COLABORAÇÃO PARA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
Êxodo para a capital e baixa qualificação têm levado ao mercado informal milhares de pessoas que não encontram vaga na região metropolitana de Salvador.
Realizado em dezembro, o último levantamento da SEI (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia), órgão do governo estadual, revela que 408 mil pessoas estavam desempregadas nas 11 cidades que compõem o entorno da capital baiana -9.000 pessoas a mais do que na última pesquisa. Já o IBGE aponta que Salvador é campeã brasileira de desemprego no país, com um índice de 14,6%. Na pesquisa do instituto (que adota metodologia diferente da do Dieese), São Paulo registra taxa de 7,8%.
"As pessoas estão desempregadas, mas auferem renda. Se não tivessem nenhuma renda, certamente a região metropolitana de Salvador estava em guerra civil", rebate o secretário estadual do Planejamento, Armando Avena.O secretário cita dados estatísticos para demonstrar que a Bahia tem gerado postos de trabalho, embora em número insuficiente para atender à demanda. "O saldo de empregos no Brasil [contratações menos demissões] caiu 18% no ano passado em relação a 2004. No mesmo período, na Bahia, o saldo cresceu 21%."No entanto, de acordo com o secretário, a PEA (População Economicamente Ativa) cresce mais do que a oferta de emprego. "É uma equação injusta porque, como uma grande metrópole, Salvador atrai milhares de trabalhadores das pequenas cidades, que têm sua sobrevivência dificultada pela seca ou mesmo pela falta de oportunidade de emprego.
"O secretário diz que Salvador oferece muitos "empregos informais". "No verão, por exemplo, as festas, incluindo o Carnaval, são responsáveis pela contratação de mais de 250 mil pessoas, sem carteira assinada, mas com renda."Desempregada "oficialmente" há nove anos, Maria Helena Santos, 46, é um exemplo. Ela já foi empregada doméstica contratada. Hoje trabalha como diarista e recebe cerca de R$ 250 por mês. Além disso, recolhe latas e papelão para vender às empresas de reciclagem. "Não posso esperar que o emprego caia do céu."
A economista Ana Georgina Dias, 33, aponta outro fator para justificar o alto índice de desempregados na região metropolitana de Salvador. "Como os postos de trabalho que surgem são poucos, as pessoas com maior escolaridade acabam absorvendo as vagas."
A economista, que trabalha no Dieese, lembra também que a Bahia possui poucos municípios com mais de 300 mil habitantes. "Na Bahia, como há poucas cidades médias, as pessoas procuram os municípios da região metropolitana de Salvador, que concentram as grandes indústrias. Só que não há vagas para todos."
Esse é o caso de José Carlos Soares, 29, que trocou Cruz das Almas (142 Km da capital) por Salvador. "Na minha cidade, ajudava meu pai na roça. Todo emprego que procuro exige ensino médio. Como parei de estudar na 5ª série, comecei a vender protetor solar, óculos e prendedores de cabelo na praia." Em média, Soares recebe R$ 400 por mês.