1.13.2006

Indústria prevê demissões no início do ano

Sondagem da FGV mostra que 32% das empresas pretendem cortar vagas, e 11%, contratar, no pior resultado desde 1998

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O emprego industrial, que já apresenta queda, deve se retrair ainda mais neste trimestre.
De acordo com a Sondagem da Indústria de Transformação divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas, 32% das empresas entrevistadas pretendem reduzir o número de trabalhadores contra apenas 11% que prevêem aumentá-lo nos primeiros três meses deste ano. É o pior resultado de expectativa do mercado de trabalho da pesquisa, cuja metodologia atual foi adotada em 1998.
"A indústria estava em tendência de desaceleração. Mas agora é possível que já estejamos no fundo do poço. Se houver recuperação, ela vai acontecer devagar. Provavelmente, o primeiro trimestre vai ser fraco", disse Aloisio Campelo, economista da FGV-RJ responsável pela pesquisa.A sondagem aponta ainda que a tendência ruim para os trabalhadores da indústria é generalizada. Houve piora dos prognósticos de emprego nos quatro grandes setores: bens intermediário, bens de capital, bens de consumo e material de construção.Júlio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), também argumenta que dentro do setor de bens de consumo, o segmento calçadista é um dos mais afetados. Nesse caso, o principal culpado pelo recuo dos quadros de funcionários é o câmbio. De acordo com o Sindifranca (representante da indústria calçadista do município paulista de Franca), aconteceram 4.500 demissões no ano passado. A cidade é um dos principais pólos calçadistas do país.Para Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a julgar pelo ânimo dos empresários do setor industrial, a situação deve permanecer em compasso de espera nos próximos meses. "Como se pode mudar de humor se não acontece nada de novo? Não surgiu nenhum fato novo na economia para alterar as perspectivas do empresários." Segundo ele, a sondagem é reflexo do "desânimo" originário da política monetária e da apreciação do real.
Se confirmado esse cenário de estagnação do emprego nos próximos meses, o governo Lula pode perder um dos seus grandes trunfos eleitorais: o crescimento do número de empregos. Pesquisa da Fiesp já apontou fechamento recorde de vagas em dezembro (leia texto ao lado).
No ano passado, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, projetou fechar 2005 com a geração de 1,2 milhão de postos de trabalho. "A grande variável econômica do governo Lula foi o aumento do emprego, mas a perspectiva é de demissões no primeiro semestre. A recuperação deve ficar para o segundo semestre", afirmou o diretor-executivo do Iedi.
O cenário atual também é ruim para outras variáveis. A sondagem revela que para 20% dos industriais, o nível atual de demanda (interna e externa) é considerado fraco. Para somente 9%, ela está forte. Esse é o pior janeiro desde 1999. Quanto à situação atual dos negócios, ela é considerada boa para 16% das empresas e fraca para 22% delas.
Quando os industriais olham para um horizonte um pouco mais distante, porém, as projeções se mostram mais animadas. Isso, avaliam os analistas, parece estar relacionado com a expectativa de redução das taxas de juros pelo Banco Central. "O tempo de defasagem entre um corte de juros e o reflexo na atividade industrial é de três a seis meses", disse Campelo, o economista da FGV.A questão que trata das previsões da situação dos negócios em seis meses revela que para 55% dos entrevistados ela será melhor e para 12%, pior. Esses dados estão próximos da média histórica para esse tipo de resposta.
FSP, 13/001/2006