2.10.2005

Wall Street aplaude demissão de Fiorina da HP

Ações da empresa caíram 55% durante sua gestão

Floyd Norris
The New York Times

Wall Street ficou extasiada quando ela foi contratada, e ainda mais satisfeita quando foi demitida.
Durante os mais de cinco anos nos quais Carly Fiorina administrou a Hewlett-Packard (HP), as ações apresentaram em geral um movimento de queda, um fato que ajuda a explicar a perda de afeição pela diretora-executiva que talvez tenha se transformado na mais proeminente gerente empresarial do país. Um investidor que comprou ações no dia em que ela foi contratada perdeu 55% do seu investimento até o dia em que o conselho diretor da HP decidiu demiti-la.

Mas nem toda a culpa pelo declínio das ações podem ser atribuídas a Fiorina. Ela foi contratada no verão de 1999, apenas alguns meses antes da explosão da bolha de tecnologia em Wall Street. Os acionistas da HP tiveram mais sorte do que aqueles que investiram em ações de outras empresas de tecnologia, incluindo a Lucent Technologies, a companhia que Fiorina trocou pela HP.

Fiorina ser lembrada principalmente pela sua decisão de comprar a Compaq Computer, uma medida que ela implementou a despeito de considerável oposição interna e externa, conseguindo obter a aprovação dos acionistas somente após um arranjo de última hora com a diretoria do Deutsche Bank. O banco acabou pagando uma multa de US$ 750 mil devido a uma ação movida pela Securities and Exchange Comission (comissão de títulos e câmbio norte-americana), que determinou que a empresa deveria ter dito aos seus clientes que funcionários de alto escalão do Deutsche Bank estavam trabalhando para a HP e pressionando os gerentes financeiros.

Atualmente a fusão entre as duas empresas é tida como uma decisão infeliz, embora, é claro, não haja forma de determinar qual teria sido o desempenho da HP caso a operação não fosse concretizada. O que é claro é que o setor de computadores pessoais se tornou de certa forma similar ao das empresas de transporte aéreo. A cada ano, cada vez mais pessoas compram computadores pessoais, assim como um número cada vez maior de pessoas viaja de avião. Mas essas indústrias têm se mostrado incapazes de traduzir o crescimento das vendas em lucros confiáveis. Isso reflete o fato de que muitos consumidores acreditam que há pouca ou nenhuma vantagem em qualquer marca em particular que atua em ambos os setores, e tendem a pechinchar acima de tudo. Fiorina não foi capaz de resolver esse problema. E ninguém mais tampouco o resolveu.

Ela foi criticada por perder uma fatia do mercado para a Dell, que é vista como uma líder de preços baixos. Os acionistas da Dell se saíram melhor que os da HP, mas quem quer que tenha adquirido ações da Dell no dia em que Fiorina foi contratada acumulou um prejuízo de 20% no período em que ela dirigiu a concorrente. A IBM, a pioneira no setor, concordou em vender as suas operações com microcomputadores para uma companhia chinesa. Os seus investidores perderam cerca de 27% nesse período. Todos os cálculos levam em conta os pagamentos de dividendos, no caso de estes terem ocorrido.

A Apple Computer, a única fabricante de computadores pessoais que tem uma tecnologia distinta, prosperou no ano passado, embora isso se deva mais a seu aparelho de música iPod do que aos seus computadores. As suas ações quase que triplicaram desde o verão de 1999.

No dia em que a contratação de Fiorina foi anunciada, em 19 de julho de 1999, as ações da HP subiram 2%. Acreditava-se que o seu antecessor, Lewis Platt, fora afastado para dar lugar a um líder mais dinâmico. Na quarta-feira (09/02), as ações da HP subiram 7% depois que a companhia anunciou que ela estava saindo. Patricia Dunn, a nova diretora da companhia, disse que a comissão diretora concluiu que necessitava de alguém que fosse bom na "execução imediata" das estratégias da empresa.

Ela insistiu em dizer que a comissão "está firmemente comprometida com a estratégia em vigor", o que se acredita significar que a HP não quer vender ou reduzir o seu setor de impressoras, que é altamente lucrativo, mas maçante, conforme foi sugerido por certas pessoas em Wall Street.

A outra grande medida estratégica de Fiorina na HP foi se livrar da Agilent Technologies, uma companhia que oferece uma grande variedade de produtos tecnológicos e de serviços de consultoria para corporações. A oferta pública inicial no final de 1999 gerou US$ 2,1 bilhões, e o restante das ações da Agilent foi distribuído aos acionistas da HP no verão de 2000. O cálculo de uma queda de 55% no valor de um investimento na HP durante a gestão de Fiorina assume que o investidor continuou com as ações da Agilent. Mas quem vendeu essas ações e investiu o dinheiro na HP teve um resultado bem melhor.

Na verdade, a venda da empresa foi positiva para os acionistas, já que a Agilent foi esvaziada durante a bolha de tecnologia, quando os preços ficaram inflacionados. Mas ao acatar a visão predominante em Wall Street na época, a HP investiu o dinheiro na reaquisição de ações, ainda que as suas próprias ações estivessem em um patamar bem alto.

Ao todo, desde a contratação de Fiorina até o final de outubro passado, a HP readquiriu 443 milhões de ações por US$ 13,2 bilhões, sendo que a maior reaquisição se deu quando o preço das ações estava relativamente alto. O preço médio no período, de quase US$ 30 por ação, pode ser comparado favoravelmente com o preço de fechamento da quarta-feira de US$ 21,53.

Esse é um dinheiro que os acionistas que permaneceram com a companhia poderiam desejar que não tivesse sido canalizado para aqueles que a deixaram.

Tradução: Danilo Fonseca
THE NEW YORK TIMES