2.03.2005

Desemprego alemão é recorde no pós-guerra

País tem mais de 5 milhões de desocupados, fato que não ocorria desde 1933; mudança estatística provoca aumento





Funcionários da construtora alemã Walter Bau AG,
que pediu falência, protestam em Frankfurt

DA REDAÇÃO

O número de desempregados passou de 5 milhões em janeiro na Alemanha, fato que não ocorria desde 1933, ano em que Adolf Hitler chegou ao poder no país.
Mudanças na legislação trabalhista que entraram em vigor no começo deste ano fizeram com que o número ganhasse em torno de 200 mil pessoas, em sua maioria desempregados que recebiam pensões e agora tiveram que se registrar como estando à procura de emprego.
O governo alemão citou também fatores sazonais para explicar a alta, entre eles a diminuição no setor de construção por causa do inverno.
A taxa de desemprego em janeiro, porém, foi de 12,1%, menor que a taxa de janeiro de 1998, quando chegou a 12,6%, com 4,8 milhões de pessoas desempregadas. A porcentagem da população sem emprego também é menor que a de 1933, quando cerca de 30% das pessoas não tinham trabalho, já que a população era bem menor.
O número recorde de desempregados é, de qualquer forma, ruim para a imagem do chanceler Gerhard Schröder, que prometeu em 2001 reduzir o número de pessoas sem emprego a 3,5 milhões.
Segundo o ministro da Economia e do Trabalho, Wolfgang Clement, o dado é "preocupante". Ele diz que o número subirá novamente em fevereiro para depois cair de forma mais significativa no segundo semestre.

Reformas
As mudanças na legislação trabalhista fazem parte de uma reforma feita com o objetivo de revitalizar a economia da Alemanha, que cresceu 1,7% no ano passado depois de três anos de estagnação.
A retomada, porém, foi baseada em exportações, já que o consumo interno não dá sinais de recuperação. Em dezembro, as vendas caíram 2,7% ante dezembro do ano anterior.
As reformas trabalhistas de Schröder têm o objetivo de levar mais pessoas a procurar emprego, mas os trabalhadores dizem que não há vagas. Grandes fabricantes alemãs, como a Siemens, cortaram vagas em janeiro.
Críticos do governo dizem que ainda não foi feito o suficiente para estimular a economia e o mercado de trabalho e que mais reformas são necessárias.
A marca dos 5 milhões de desempregados pode atrapalhar a recuperação política do partido do governo duas semanas antes de uma importante eleição no norte do país.

Efeito estatístico
Alguns analistas dizem, porém, que mesmo o impacto político do número será pequeno, porque o país já tem taxas de desemprego muito altas e porque é normal que a taxa cresça muito em janeiro.
O número dessazonalizado mostra acréscimo de 227 mil pessoas ao total de desempregados, que seria de 4,7 milhões de pessoas, mas esse acréscimo é quase totalmente causado pelas reformas trabalhistas.
Excluindo-se esses desempregados, houve aumento de apenas 5.000 pessoas, número considerado positivo por alguns analistas. Além disso, houve criação de 16 mil vagas no mês de janeiro.

FOLHA DE SAO PAULO