2.27.2005

Desemprego cresce, mas renda segue em alta

Taxa de 10,2% em janeiro ainda é um das menores registradas pelo IBGE; rendimento teve a quinta melhora consecutiva

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O desemprego subiu em janeiro, em razão da maior procura por trabalho, fenômeno típico daquele mês do ano. A taxa passou de 9,6% em dezembro para 10,2% no mês passado. Em janeiro de 2004, era mais alta -11,7%.
Apesar da elevação ante dezembro, a taxa de janeiro ainda é a segunda menor da série histórica da nova pesquisa mensal de emprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), iniciada em outubro de 2001. A mais baixa foi justamente a de dezembro de 2004.
A renda também melhorou, ainda que sua recuperação se dê de modo bem mais lento e menos intenso do que a evolução favorável do emprego, segundo especialistas. O rendimento médio subiu 2,2% tanto em relação a janeiro de 2004 como ante dezembro. É a quinta alta consecutiva na comparação anual.
O IBGE considera normal a alta do desemprego. Isso porque historicamente a taxa sempre cresce em janeiro com a dispensa dos trabalhadores temporários de final de ano, que buscam um novo emprego e passam a pressionar o mercado de trabalho. Além disso, a procura também sobe depois do período de festas de final de ano.
"O ano começou como se esperava. A taxa de desemprego voltou ao nível de dois dígitos. Imaginava-se que isso iria acontecer, analisando o histórico da pesquisa", disse Cimar Azeredo Pereira, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.
Um dado que ilustra a maior procura por trabalho é a expansão de 5% no número de desocupados (pessoas que tentaram um emprego, mas não conseguiram) de dezembro para janeiro -ou 105 mil pessoas na seis principais regiões metropolitanas do país.
Para Pereira, o mercado de trabalho está melhorando desde meados de 2004 e o aumento da taxa não representa uma mudança de tendência. "O comportamento sazonal [de janeiro] foi obedecido", disse.
João Sabóia, diretor do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), concorda. Diz que sempre há elevação da taxa em janeiro e que o dado não indica uma piora do mercado de trabalho.
Ele ressalta, porém, que a recuperação do rendimento ainda está muito aquém da evolução do emprego. A renda, diz, está aumentando num nível muito "tímido" para justificar pressões inflacionárias, um dos argumentos do Banco Central para elevar o juro.
Sabóia afirma que, de fato, ocorreu uma melhora do mercado de trabalho nos últimos meses, com a criação de novas vagas. O problema é que boa parte delas é de empregos precários, com baixa remuneração. Tal situação explica a demora numa reação mais firme da renda.
Na comparação de janeiro de 2004 a janeiro de 2005, foram criadas 770 mil vagas -alta de 4,1%. Desse total, 238 mil eram sem carteira assinada. O número é apenas um pouco menor do que a geração de postos com carteira -289 mil-, contingente de trabalhadores que representa a maior fatia da população ocupada (39,7% do total).
Proporcionalmente, o trabalho sem carteira cresceu mais do que o formal -8,1%, contra 3,9% na comparação com janeiro de 2004. No mesmo período, o total de desempregados caiu em 269 mil (-10,9%).
Já o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) destacou, em relatório, a expansão da renda como "uma indicação positiva", depois do recuo em dezembro (1,8% ante novembro).
Segundo o instituto, a massa de rendimento dos trabalhadores (a renda multiplicada pelo total de pessoas trabalhando) subiu 7,7% em relação a janeiro do ano anterior, o que significa "que o potencial de consumo do mercado interno cresceu", um dos motores do crescimento econômico.
O Iedi também avalia que o aumento do desemprego ocorre "usualmente" em janeiro.
FOLHA DE SAO PAULO