2.25.2005

Desemprego e rendimento recuam em SP

Com menos pessoas à procura de vaga, desocupação tem queda na região metropolitana, diz Dieese, mas renda também encolhe

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de trabalho começou 2005 com recuperação do emprego na região metropolitana de São Paulo, mas a retomada da economia ainda é insuficiente para recuperar a renda do trabalhador. Em janeiro, ao contrário do que se esperava, o desemprego recuou e atingiu 16,7% da PEA (População Economicamente Ativa). Em dezembro, a taxa foi de 17,1%.
Foi o menor índice de desemprego registrado desde janeiro de 2001 e a nona redução consecutiva da taxa, segundo pesquisa realizada pela Fundação Seade e pelo Dieese em 39 municípios da Grande São Paulo.
Já a renda do trabalhador caiu 4,4% na comparação de dezembro de 2004 e igual mês de 2003 -passou de R$ 1.060 para R$ 1.013. O resultado foi o pior para o mês desde que a pesquisa foi iniciada, em 1985.
Técnicos das duas entidades consideram a diminuição do desemprego "atípica" para o mês de janeiro e explicam que a redução está relacionada ao fato de menos gente procurar emprego no período de férias e à criação de vagas em setores que tradicionalmente fecham postos nessa época do ano, como indústria e comércio.
"As pessoas saem do mercado de trabalho em janeiro e só voltam a procurar emprego a partir de março. O resultado é menos pressão na taxa de desemprego. A novidade deste ano é que houve criação de 31 mil vagas na indústria e 24 mil no comércio, o que é atípico para janeiro. Sem isso, certamente o desemprego teria sido maior", afirma Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese.
Enquanto 114 mil pessoas deixaram de buscar emprego na Grande São Paulo no mês passado, 55 mil vagas foram eliminadas -principalmente nos setores de serviços e emprego doméstico. Com isso, o número de desempregados caiu em 59 mil e atingiu 1,659 milhão de pessoas. Em janeiro de 2004, esse número foi de 1,868 milhão.
Para Alexandre Loloian, coordenador da pesquisa na Fundação Seade, a abertura de vagas na indústria e no comércio é sinal de recuperação no mercado interno, e não somente reflexo do bom desempenho das exportações. Na indústria, o aumento da ocupação foi de 2% no mês passado, o melhor resultado para o mês de janeiro nos últimos 20 anos.
"São ocupações abertas em setores da indústria voltados ao consumo, como alimentação, vestuário e têxtil. O comércio também está em alta. Certamente isso tem ocorrido por conta do aumento do crédito, sustentado pelo empréstimo em consignação [descontado na folha de pagamento das empresas]. A renda média continua baixa", afirmou.
Nos últimos 12 meses, a ocupação cresceu 4,6%, com a criação de 365 mil vagas. Desse total, 72 mil foram na indústria, 109 mil no comércio, 161 mil em serviços e 23 mil na construção civil e nos serviços domésticos.
Claudio Vaz, presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), ressalta, entretanto, que as vagas apontadas pela pesquisa no setor industrial foram em sua maior parte de trabalhadores autônomos e assalariados sem carteira assinada.
"Os empregos com carteira assinada tiveram estabilidade na indústria em dezembro e janeiro. Só a partir de março será definido o ritmo de contratações no setor. Por enquanto, o que se observa são vagas abertas para a produção, que pagam salários menores", afirma Vaz.

Rendimento em baixa
A maior queda na renda dos trabalhadores ocorreu na indústria -foi de 6,7% entre dezembro de 2004 e dezembro de 2003. O rendimento médio real dos assalariados (com e sem carteira) passou nesse período de R$ 1.204 para R$ 1.124. Já no comércio, a redução foi de 0,5% (de R$ 766 para R$ 763), e no setor de serviços, de 0,9% (de R$ 1.037 para R$ 1.028).
Entre os assalariados sem registro, a queda nos salários também foi maior. O rendimento médio real passou de R$ 692 em dezembro de 2003 para R$ R$ 655 em dezembro de 2004.
"Se a economia continuar crescendo e o desemprego diminuindo, a renda pode melhorar. Mas não é possível prever quando essa recuperação vai ocorrer. Isso depende da qualidade das vagas criadas e do rumo que a economia vai tomar", diz Lúcio, do Dieese.
Para Loloian, do Seade, juros em alta e dólar em baixa podem inibir a abertura de vagas. "A massa de rendimentos [soma de todos os salários] só está crescendo porque mais postos estão sendo criados. O Banco Central não pode alegar que o salário tem crescido e que o trabalhador vai, por conta disso, às compras."
FOLHA DE SAO PAULO