"Sobram" 4,3 milhões de mulheres no Brasil
De 1992 a 2003, subiu 57% a diferença entre sexos, influenciada por crimes e acidentes, que afetam mais o homem
ANTÔNIO GOIS
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Um dos hits de maior sucesso até hoje em discotecas (a música "It's Raining Man", gravada nos anos 80) fala do dia em que, "pela primeira vez na história, começará a chover homem". No Brasil, para um contingente cada vez maior de mulheres, essa não seria uma má idéia. Dados da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, divulgada ontem no Rio de Janeiro, mostram que, de 1992 a 2003, aumentou em 57% o número de mulheres a mais na população.
Em 1992, o IBGE detectava "sobra" de 2,7 milhões de mulheres na população brasileira, que era de 145 milhões. Onze anos depois, quando a população atingia 174 milhões, esse "excedente" feminino aumentou para 4,3 milhões.
Para cada grupo de 100 mulheres, havia 95,2 homens em 2003. Nas regiões metropolitanas, a relação mais elástica era no Rio: 86,5 homens a cada 100 mulheres. Curitiba tinha a mais "equilibrada", 97,1. Em São Paulo, cada 100 mulheres "disputavam" 91,5 homens. Só no Amapá a população masculina supera a feminina -6.687 homens a mais em 2003.
Essa diferença é explicada por um fenômeno que ganhou o nome de sobremortalidade masculina. Desde o nascimento, os homens estão expostos a mais riscos que as mulheres. A violência tem contribuído para elevar a diferença, já que ela atinge principalmente jovens do sexo masculino.
No grupo de 20 a 24 anos, as mortes por causa externa (homicídio, acidente e outras) subiram 52,1% de 1980 a 2003 -de 121 a cada 100 mil homens para 184 a cada 100 mil. A mortalidade feminina por causa violenta ficou praticamente inalterada nessa faixa.
É por isso que a reclamação comum feita por várias mulheres -de que está cada vez mais difícil encontrar um companheiro- encontra respaldo nas estatísticas do IBGE. O pior, se a análise é feita do ponto de vista feminino, é que esse excesso de mulheres não está restrito à população mais velha, faixa etária em que o homem morre mais cedo.
Na faixa etária de 20 a 50 anos, onde se concentram os casamentos, também faltam homens no mercado: mais precisamente 2,5 milhões. Eles são maioria apenas na população até 20 anos, quando, a partir dessa idade, muitos morrem prematuramente de causas externas, como acidentes de trânsito e homicídios.
Exigências
A "escassez de homem no mercado matrimonial" é um fenômeno estudado. A antropóloga Mirian Goldemberg, professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e autora do livro "De Perto Ninguém É Normal", brinca que a infidelidade masculina deveria ser vista como um gesto democrático na faixa a partir dos 50 anos, a julgar pelo excesso de mulheres solteiras.
"Poucas mulheres parecem ter consciência de que o mercado matrimonial é extremamente desfavorável a elas. São elas que mais pedem separação, que mais exigem da relação e que mais fantasiam o parceiro perfeito. As que têm maior consciência da realidade do mercado afetivo sexual aceitam melhor as faltas e imperfeições de seus possíveis parceiros", afirma a antropóloga.
"Basta sair à noite para ver que tem muito mais mulher que homem. Já namorei dois caras de São Paulo e tenho amigas que fizeram o mesmo. Eu brinco com elas que estamos tendo que pegar a ponte aérea para namorar", diz a produtora de teatro Bruna Machado, 21, solteira há um ano e moradora do Rio de Janeiro.
Christian Abreu, 28, administrador, utiliza um termo do mercado financeiro para definir essa relação entre oferta e demanda do ponto de vista masculino: "O mercado está comprador. Se você vai a um shopping ou a um barzinho, dá para perceber que tem muita mulher solteira". Abreu ficou dois anos solteiro, mas voltou a namorar.
A dificuldade em arranjar parceiro também criou serviços para ajudar esse público. Mas a gerente de marketing do site Par Perfeito, Viviane Mendes, conta que a relação entre homens e mulheres é mais favorável na internet que na vida real: "Os homens são a maioria dos usuários de internet no país. É por isso que no site há 48% de mulheres e 52% de homens".
"Está difícil encontrar namorado"
DA REPORTAGEM LOCAL
Jovens, bonitas, descontraídas e solteiras. Não é preciso saber o resultado da pesquisa do IBGE para as mulheres terem certeza de que está faltando homem no mercado. Ou melhor, na opinião de mulheres ouvidas pela Folha, falta "homem que queira namorar".
Solteira há seis meses, a advogada Jéssica Gago, 24, diz que perdeu as esperanças de encontrar um namorado. "A gente encontra homens para beijar, mas um que queira coisa séria está difícil."
Para a fonoaudióloga Renata Abrão, 24, a culpa da falta de homens é das próprias mulheres. "Ninguém quer nada com nada. Todo mundo é muito fácil. Com o excesso de mulheres, fica ainda mais difícil encontrar alguém."
Reunidas em um bar na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo), um grupo de nove mulheres discutia a questão da falta de homem. "Eles só querem coisa séria quando pensam em casar. Antes disso é só farra", diz a designer Letícia Barabba, 23, que terminou um namoro de dois anos e meio.
A jornalista Bárbara Veríssimo, 22, procura um homem que seja companheiro. "Encontrar alguém para diversão é fácil. Difícil é encontrar alguém que queira assumir um relacionamento."
A única opinião contrária é da jornalista Débora Fantinato, 23. Ela, que tem namorado, disse que tem vários amigos solteiros procurando uma mulher para namorar. "Eles precisam apenas se encontrar", diz. É ver para crer.
(FERNANDA BASSETTE)
ANTÔNIO GOIS
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Um dos hits de maior sucesso até hoje em discotecas (a música "It's Raining Man", gravada nos anos 80) fala do dia em que, "pela primeira vez na história, começará a chover homem". No Brasil, para um contingente cada vez maior de mulheres, essa não seria uma má idéia. Dados da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, divulgada ontem no Rio de Janeiro, mostram que, de 1992 a 2003, aumentou em 57% o número de mulheres a mais na população.
Em 1992, o IBGE detectava "sobra" de 2,7 milhões de mulheres na população brasileira, que era de 145 milhões. Onze anos depois, quando a população atingia 174 milhões, esse "excedente" feminino aumentou para 4,3 milhões.
Para cada grupo de 100 mulheres, havia 95,2 homens em 2003. Nas regiões metropolitanas, a relação mais elástica era no Rio: 86,5 homens a cada 100 mulheres. Curitiba tinha a mais "equilibrada", 97,1. Em São Paulo, cada 100 mulheres "disputavam" 91,5 homens. Só no Amapá a população masculina supera a feminina -6.687 homens a mais em 2003.
Essa diferença é explicada por um fenômeno que ganhou o nome de sobremortalidade masculina. Desde o nascimento, os homens estão expostos a mais riscos que as mulheres. A violência tem contribuído para elevar a diferença, já que ela atinge principalmente jovens do sexo masculino.
No grupo de 20 a 24 anos, as mortes por causa externa (homicídio, acidente e outras) subiram 52,1% de 1980 a 2003 -de 121 a cada 100 mil homens para 184 a cada 100 mil. A mortalidade feminina por causa violenta ficou praticamente inalterada nessa faixa.
É por isso que a reclamação comum feita por várias mulheres -de que está cada vez mais difícil encontrar um companheiro- encontra respaldo nas estatísticas do IBGE. O pior, se a análise é feita do ponto de vista feminino, é que esse excesso de mulheres não está restrito à população mais velha, faixa etária em que o homem morre mais cedo.
Na faixa etária de 20 a 50 anos, onde se concentram os casamentos, também faltam homens no mercado: mais precisamente 2,5 milhões. Eles são maioria apenas na população até 20 anos, quando, a partir dessa idade, muitos morrem prematuramente de causas externas, como acidentes de trânsito e homicídios.
Exigências
A "escassez de homem no mercado matrimonial" é um fenômeno estudado. A antropóloga Mirian Goldemberg, professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e autora do livro "De Perto Ninguém É Normal", brinca que a infidelidade masculina deveria ser vista como um gesto democrático na faixa a partir dos 50 anos, a julgar pelo excesso de mulheres solteiras.
"Poucas mulheres parecem ter consciência de que o mercado matrimonial é extremamente desfavorável a elas. São elas que mais pedem separação, que mais exigem da relação e que mais fantasiam o parceiro perfeito. As que têm maior consciência da realidade do mercado afetivo sexual aceitam melhor as faltas e imperfeições de seus possíveis parceiros", afirma a antropóloga.
"Basta sair à noite para ver que tem muito mais mulher que homem. Já namorei dois caras de São Paulo e tenho amigas que fizeram o mesmo. Eu brinco com elas que estamos tendo que pegar a ponte aérea para namorar", diz a produtora de teatro Bruna Machado, 21, solteira há um ano e moradora do Rio de Janeiro.
Christian Abreu, 28, administrador, utiliza um termo do mercado financeiro para definir essa relação entre oferta e demanda do ponto de vista masculino: "O mercado está comprador. Se você vai a um shopping ou a um barzinho, dá para perceber que tem muita mulher solteira". Abreu ficou dois anos solteiro, mas voltou a namorar.
A dificuldade em arranjar parceiro também criou serviços para ajudar esse público. Mas a gerente de marketing do site Par Perfeito, Viviane Mendes, conta que a relação entre homens e mulheres é mais favorável na internet que na vida real: "Os homens são a maioria dos usuários de internet no país. É por isso que no site há 48% de mulheres e 52% de homens".
"Está difícil encontrar namorado"
DA REPORTAGEM LOCAL
Jovens, bonitas, descontraídas e solteiras. Não é preciso saber o resultado da pesquisa do IBGE para as mulheres terem certeza de que está faltando homem no mercado. Ou melhor, na opinião de mulheres ouvidas pela Folha, falta "homem que queira namorar".
Solteira há seis meses, a advogada Jéssica Gago, 24, diz que perdeu as esperanças de encontrar um namorado. "A gente encontra homens para beijar, mas um que queira coisa séria está difícil."
Para a fonoaudióloga Renata Abrão, 24, a culpa da falta de homens é das próprias mulheres. "Ninguém quer nada com nada. Todo mundo é muito fácil. Com o excesso de mulheres, fica ainda mais difícil encontrar alguém."
Reunidas em um bar na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo), um grupo de nove mulheres discutia a questão da falta de homem. "Eles só querem coisa séria quando pensam em casar. Antes disso é só farra", diz a designer Letícia Barabba, 23, que terminou um namoro de dois anos e meio.
A jornalista Bárbara Veríssimo, 22, procura um homem que seja companheiro. "Encontrar alguém para diversão é fácil. Difícil é encontrar alguém que queira assumir um relacionamento."
A única opinião contrária é da jornalista Débora Fantinato, 23. Ela, que tem namorado, disse que tem vários amigos solteiros procurando uma mulher para namorar. "Eles precisam apenas se encontrar", diz. É ver para crer.
(FERNANDA BASSETTE)
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