Metade ganha menos de US$ 2 por dia
Segundo dados da OIT, queda do desemprego em 2003 não trouxe redução significativa da pobreza; China puxa emprego
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Aumentar o número de vagas de trabalho não é suficiente para acabar com a pobreza. "O número de trabalhadores vivendo abaixo da linha da pobreza -menos de US$ 2 por dia- é o maior da história", afirma a OIT (Organização Internacional do Trabalho), ligada à ONU.
Quase metade dos 2,8 bilhões de trabalhadores ocupados no mundo, em 2003 -1,39 bilhão (49,7%)-, são considerados pobres, ganhando menos de US$ 2 por dia. Desse total, 550 milhões (19,7%) não conseguem assegurar, com seus empregos, nem a renda necessária para sair da indigência, ou seja, ganham menos US$ 1 por dia.
Os dados foram divulgados ontem no "Relatório Mundial de Emprego 2004/2005". As estatísticas da OIT mostram ainda que, em 2003, havia 185,9 milhões de desempregados. A boa notícia é que nunca houve tantos empregados no mundo.
O dado de desemprego global ficou em 6,2%, contra 6,3% em 2002. Na América Latina e no Caribe, o desemprego ficou em 8%. Era 9% em 2002. Apesar da queda, é bem maior do que os 6,9% de 1993.
Com as políticas públicas e o ritmo de crescimento dos últimos anos, a OIT prevê que os países não conseguirão reduzir pela metade, até 2015, o percentual de trabalhadores que ganhavam menos do que o necessário para atender as necessidades básicas de sobrevivência em 1990, como preconizam as Metas do Milênio da ONU.
"Apenas o leste da Ásia [região que inclui a China] tem uma chance real. Nenhuma das outras regiões terá sucesso, a não ser que as taxas de crescimento do PIB aumentem consideravelmente", diz o relatório.
Entre 1990 e 2003, o percentual de trabalhadores que ganham menos de US$ 2 por dia caiu de 57,2% para 49,7%. Se for mantido o atual ritmo, diz a OIT, o percentual em 2015 será de 40,8%. Para cumprir a meta, o mundo, excluído os países desenvolvidos, precisaria crescer a uma taxa média acima de 10%. Nos países em desenvolvimento, 58,7% dos trabalhadores vivem abaixo da linha da pobreza.
A situação só não é mais grave graças à China. O país mais populoso do mundo evitou, pela segunda vez, que as autoridades mundiais convivessem com resultados mais desastrosos. Em relatório da ONU, o número de pobres no mundo entre 1990 e 1998 só cai devido ao desempenho da economia chinesa.
No documento da OIT, o mundo, excluída as economias industrializadas, terá de crescer em média 4,7% por ano, até 2015, para reduzir pela metade o número de trabalhadores vivendo na miséria absoluta (menos de US$ 1 por dia). Essa meta parece factível, pois, entre 1995-2005, o FMI estima que essas economias vão crescer em média 5% ao ano.
"Mas, ao retirar o leste da Ásia e, sobretudo, a China do cenário, as perspectivas são menos robustas", diz o documento. Ao retirar esse país da conta, as demais economias precisariam crescer 5% ao ano até 2005 para cumprir o objetivo. O problema é que esses países crescerão apenas 3,8% por ano entre 1995 e 2005, segundo o FMI.
América Latina
A América Latina e o Caribe não fogem da regra mundial. Entre 1990 e 2003, caiu de 39,3% para 33,1% o número de empregados que ganham menos de US$ 2 por dia. Nesse ritmo, chegará a 2015 com 28,8% dos seus empregados na pobreza. No caso dos trabalhadores na miséria, a redução foi de 16,1% para 13,5%. Em 2015, deverá estar em apenas 11,5%.
"Há 20 ou 30 anos, a situação era diferente", diz o diretor da OIT no Brasil, Armand Pereira. Segundo ele,o aumento da informalidade levou à criação de empregos de menor qualidade.
A solução para o problema, avalia a OIT, é criar política para aumentar a produtividade dos trabalhadores informais e priorizar os setores da economia nos quais o emprego, em particular dos pobres, está concentrado, como agricultura, serviços e segmentos informais.
Elevar a produtividade, no entanto, não é fácil. O desempenho da produtividade do trabalho na América Latina e no Caribe na última década foi pífio.
Enquanto a produtividade, no mundo, cresceu em média 10,9% ao ano entre 1993 e 2003, na região, a média foi de 1,2%. O resultado só foi pior na África subsaariana (-1,5%) e no Oriente Médio e África do Norte (0,9%).
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Aumentar o número de vagas de trabalho não é suficiente para acabar com a pobreza. "O número de trabalhadores vivendo abaixo da linha da pobreza -menos de US$ 2 por dia- é o maior da história", afirma a OIT (Organização Internacional do Trabalho), ligada à ONU.
Quase metade dos 2,8 bilhões de trabalhadores ocupados no mundo, em 2003 -1,39 bilhão (49,7%)-, são considerados pobres, ganhando menos de US$ 2 por dia. Desse total, 550 milhões (19,7%) não conseguem assegurar, com seus empregos, nem a renda necessária para sair da indigência, ou seja, ganham menos US$ 1 por dia.
Os dados foram divulgados ontem no "Relatório Mundial de Emprego 2004/2005". As estatísticas da OIT mostram ainda que, em 2003, havia 185,9 milhões de desempregados. A boa notícia é que nunca houve tantos empregados no mundo.
O dado de desemprego global ficou em 6,2%, contra 6,3% em 2002. Na América Latina e no Caribe, o desemprego ficou em 8%. Era 9% em 2002. Apesar da queda, é bem maior do que os 6,9% de 1993.
Com as políticas públicas e o ritmo de crescimento dos últimos anos, a OIT prevê que os países não conseguirão reduzir pela metade, até 2015, o percentual de trabalhadores que ganhavam menos do que o necessário para atender as necessidades básicas de sobrevivência em 1990, como preconizam as Metas do Milênio da ONU.
"Apenas o leste da Ásia [região que inclui a China] tem uma chance real. Nenhuma das outras regiões terá sucesso, a não ser que as taxas de crescimento do PIB aumentem consideravelmente", diz o relatório.
Entre 1990 e 2003, o percentual de trabalhadores que ganham menos de US$ 2 por dia caiu de 57,2% para 49,7%. Se for mantido o atual ritmo, diz a OIT, o percentual em 2015 será de 40,8%. Para cumprir a meta, o mundo, excluído os países desenvolvidos, precisaria crescer a uma taxa média acima de 10%. Nos países em desenvolvimento, 58,7% dos trabalhadores vivem abaixo da linha da pobreza.
A situação só não é mais grave graças à China. O país mais populoso do mundo evitou, pela segunda vez, que as autoridades mundiais convivessem com resultados mais desastrosos. Em relatório da ONU, o número de pobres no mundo entre 1990 e 1998 só cai devido ao desempenho da economia chinesa.
No documento da OIT, o mundo, excluída as economias industrializadas, terá de crescer em média 4,7% por ano, até 2015, para reduzir pela metade o número de trabalhadores vivendo na miséria absoluta (menos de US$ 1 por dia). Essa meta parece factível, pois, entre 1995-2005, o FMI estima que essas economias vão crescer em média 5% ao ano.
"Mas, ao retirar o leste da Ásia e, sobretudo, a China do cenário, as perspectivas são menos robustas", diz o documento. Ao retirar esse país da conta, as demais economias precisariam crescer 5% ao ano até 2005 para cumprir o objetivo. O problema é que esses países crescerão apenas 3,8% por ano entre 1995 e 2005, segundo o FMI.
América Latina
A América Latina e o Caribe não fogem da regra mundial. Entre 1990 e 2003, caiu de 39,3% para 33,1% o número de empregados que ganham menos de US$ 2 por dia. Nesse ritmo, chegará a 2015 com 28,8% dos seus empregados na pobreza. No caso dos trabalhadores na miséria, a redução foi de 16,1% para 13,5%. Em 2015, deverá estar em apenas 11,5%.
"Há 20 ou 30 anos, a situação era diferente", diz o diretor da OIT no Brasil, Armand Pereira. Segundo ele,o aumento da informalidade levou à criação de empregos de menor qualidade.
A solução para o problema, avalia a OIT, é criar política para aumentar a produtividade dos trabalhadores informais e priorizar os setores da economia nos quais o emprego, em particular dos pobres, está concentrado, como agricultura, serviços e segmentos informais.
Elevar a produtividade, no entanto, não é fácil. O desempenho da produtividade do trabalho na América Latina e no Caribe na última década foi pífio.
Enquanto a produtividade, no mundo, cresceu em média 10,9% ao ano entre 1993 e 2003, na região, a média foi de 1,2%. O resultado só foi pior na África subsaariana (-1,5%) e no Oriente Médio e África do Norte (0,9%).
FOLHA DE SÃO PAULO
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