11.29.2004

Desemprego e renda têm queda na Grande SP

Contingente à procura de vagas recua em outubro pelo sexto mês consecutivo, mas postos criados pagam salários menores

CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A recuperação na economia tem tido impacto positivo no emprego na região metropolitana de São Paulo, mas não é suficiente para melhorar a renda do trabalhador.
Pesquisa da Fundação Seade e do Dieese mostra que a taxa de desemprego recuou em outubro pelo sexto mês consecutivo -passou de 17,9% da PEA (População Economicamente Ativa) em setembro para 17,6% no mês passado. É a menor taxa verificada para o mês de outubro nos últimos quatro anos.
O rendimento médio real dos trabalhadores, entretanto, caiu pela terceira vez consecutiva -a redução foi de 1,6% na comparação de agosto com setembro deste ano. Com isso, o rendimento passou de R$ 1.006 para R$ 990.
"A queda do desemprego é expressiva em relação ao ano passado. São 249 mil desempregados a menos na Grande São Paulo. A taxa em outubro 2003 foi de 20,4%. As vagas criadas, porém, são precárias, com baixo padrão de salários", afirma Anselmo Luis dos Santos, economista e pesquisador do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho), da Unicamp.
Enquanto na média a ocupação cresceu 5,2% entre o mês passado e outubro de 2003, o emprego no setor privado sem carteira assinada aumentou 10,6% no mesmo período. "São vagas em micro e pequenas empresas, em que as condições de trabalho são piores, a informalidade é maior, as jornadas, mais longass e os salários, mais baixos", diz Santos.
O desemprego diminuiu em outubro, segundo a pesquisa, porque o número de postos de trabalho criados (65 mil) foi superior ao de pessoas que ingressaram no mercado de trabalho (43 mil).

Indústria
A indústria foi o único setor que eliminou vagas -12 mil. Comércio, serviços e outros serviços (inclui domésticos e construção civil) criaram postos -respectivamente 18 mil, 18 mil e 41 mil.
"A indústria antecipou as contratações para o segundo trimestre. As admissões para o final do ano já foram feitas. Agora, está freando as contratações e dispensando", diz Clemente Ganz Lucio, diretor técnico do Dieese. Na indústria, a eliminação de vagas foi maior nas empresas dos setores metalmecânico, químico e têxtil.
Para o professor da Unicamp, o fechamento de postos na indústria pode ser um sinal de que a economia não está mantendo o ritmo de crescimento do primeiro semestre, o que põe em xeque a recuperação do emprego.
"A contratação se manteve em patamares elevados, de 85 mil a 90 mil vagas abertas mensalmente, em média, no período de abril até agosto. Em setembro, caiu para 25 mil. Em outubro, para 65 mil. É preciso saber se, com a elevação da taxa de juros, a economia vai manter esse ritmo", diz.
Na avaliação do coordenador da pesquisa do Seade, Alexandre Loloian, para que a renda do trabalhador se recupere, é necessária uma redução ainda mais drástica do desemprego. "É preciso que a economia continue crescendo, que o nível de investimentos aumente e que o desemprego diminua. Dessa forma, cria-se uma situação de disputa pela mão-de-obra. Como a oferta é maior do que a demanda, o empregador pode escolher, o que "achata" ainda mais os salários", diz.
A redução dos rendimentos pode ser reflexo do aumento de vagas para trabalhadores com menor qualificação, segundo informam os técnicos. Em outubro, dos 41 mil postos de trabalho abertos no setor outros serviços, 30 mil foram para domésticos.
Para o Dieese, a rotatividade nas empresas também afeta e dificulta a recuperação da renda. "Quem entra no mercado não recebe o mesmo salário de quem é contratado. Basta verificar que massa de rendimentos [soma de todos os salários] não cresce. Apesar de se contratar mais, a massa de rendimentos não aumenta seu volume", diz Ganz Lucio. Entre agosto e setembro, esse indicador teve redução de 1,3%.

FOLHA DE SÃO PAULO