11.27.2004

Renda do trabalhador recua 1,2%

Queda reflete contratações na construção civil, que paga salários menores

DA SUCURSAL DO RIO

A melhora do mercado de trabalho, sinalizada pelo recuo do desemprego, ainda não chegou ao bolso do trabalhador. É que a renda não definiu uma trajetória firme de expansão e voltou a cair em outubro -1,2% na comparação com setembro. Em relação a outubro de 2003, porém, o rendimento cresceu 2,6%, no segundo mês consecutivo de elevação.
De acordo com Lauro Ramos, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o comportamento "errático" do rendimento é "natural" num momento de retomada do mercado de trabalho. Primeiro, diz, cresce o emprego informal, depois a contratação formal. Só por fim é que a renda se recupera, afirma.
Para o IBGE, a queda em relação a setembro está relacionada à forte alta das contratações na construção civil (6,6% ante setembro), que paga salários menores.
O rendimento médio do segmento é de R$ 657,20, enquanto a média geral é de R$ 900,20. No setor privado, os maiores salários estão na indústria -R$ 900,10.
Ramos afirmou, porém, que o rendimento dá sinais de recuperação e que o "próximo passo" da melhora do mercado de trabalho é o indicador definir uma trajetória ininterrupta de crescimento.
Fábio Romão, da LCA, também afirma que o rendimento iniciará, em breve, uma fase duradoura de expansão. Segundo ele, o maior consumo de bens não-duráveis (alimentos, bebidas, roupas e outros), apontado pelas recentes pesquisas de comércio, indica uma reação do rendimento.

Futuro
Embora o rendimento ainda "ande de lado", Ramos disse acreditar que o mercado de trabalho melhorará mais até o final do ano. A taxa de desemprego, prevê, fechará 2004 abaixo de dois dígitos -ou seja, menor do que 10%, patamar nunca atingido na nova Pesquisa Mensal de Emprego, iniciada no final de 2001.
Apesar da queda do número de desempregados -17,9% em relação a outubro de 2003, ou 495 mil pessoas-, Cimar Azeredo Pereira, gerente do IBGE, ressalva que a taxa de desemprego (total de desempregados em relação às pessoas que estão no mercado) segue elevada, na casa de dois dígitos.
Lembrou também que ainda existem 2,271 milhões desempregados nas seis maiores regiões metropolitanas do país, onde a pesquisa é realizada. Apesar disso, Pereira também crê que a taxa de desemprego mantenha o ritmo de queda nos próximos meses, favorecida pelas contratações de final de ano. Como de praxe, ele não arriscou uma projeção.
Romão também não descarta recuo para menos de 10% na taxa: "Essa possibilidade está fortalecida com o resultado de outubro".
Indagado se a alta dos juros poderia frear a melhora do emprego, Ramos respondeu: "Isso pode disciplinar o crescimento, modular, interferir no ritmo, mas a economia continuará crescendo e gerando empregos".
De acordo com Ramos, os dados de outubro são "bastante positivos sob uma série de ângulos". Além da queda do desemprego, destaca o arrefecimento da informalidade. Prova disso é que as contratações com carteira somaram 96 mil em outubro na comparação com setembro, mais do que as sem-carteira e de empregados por conta própria.
Já Pereira afirmou que ainda não dá para falar "em uma formalização do mercado de trabalho", pois na comparação anual as contratações informais ainda superam as informais.
(PEDRO SOARES)

FOLHA DE SÃO PAULO