3.18.2004

Reajustes salariais de 2003 foram os piores dos últimos 7 anos

FABIANA FUTEMA
Da Folha Online
Os reajustes salariais negociados em 2003 entre sindicatos de trabalhadores e empresas foram os piores dos últimos sete anos. De cada dez acordos fechados no ano passado, quase seis não repuseram as perdas causadas pela inflação nos salários.Foi o pior resultado obtido desde 1996, quando a pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos) sobre negociações salariais começou a ser feita. O segundo pior desempenho ocorreu em 1999, quando 50,3% das negociações salariais ficaram abaixo do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).No ano passado, 57,7% dos acordos salariais tiveram reajustes menores que a inflação. Só 22,7% conseguiram repor a inflação. Outros 19,6% tiveram reajustes superiores ao INPC."A pior distribuição dos reajustes em 2003 é reflexo da adversidade conjuntural do ano passado, que dificultou as negociações de reposição da inflação", disse o supervisor-técnico do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira.Entre os fatores que dificultaram as campanhas sindicais pela reposição salarial em 2003 estiveram os altos índices de desemprego, a inflação e o baixo crescimento econômico."O desemprego é um sinal de que a economia vai mal e os sindicatos perdem força para negociar melhores salários", afirmou o coordenador de relações sindicais do Dieese, Ademir Figueiredo.ParcelamentoAs empresas aumentaram o índice de parcelamento dos salários em 2003. Números do Dieese mostram que dos 556 acordos analisados, 157 (28,2%) foram parcelados. Em 2002, só 5,6% (28) dos 499 acordos salariais analisados pelo Dieese foram parcelados.De acordo com a pesquisa, 76,4% dos reajustes parcelados foram pagos em até duas vezes. Outros 19,1% em três vezes. Só 4,5% dos reajustes parcelados foram divididos em quatro vezes ou mais.Abonos salariaisApesar da inflação ter superado os reajustes salariais de 2003, o Dieese informou que os sindicatos recorreram a outras formas de remuneração para tentar repor as perdas dos salários.Exemplo disso são os abonos salariais, que estiveram presentes em 11,7% dos 556 acordos analisados pelo Dieese. "Existem vários casos em que os trabalhadores não conseguiram repor a inflação no salário, mas receberam uma remuneração variável que acabou zerando a perda", disse Prado de Oliveira.

FOLHA ON-LINE, de 18 de março de 2004.