3.07.2004

Desemprego só cai em 2005, dizem analistas

Para o Ministério do Trabalho e analistas, crescimento será retomado sem que haja recomposição proporcional de vagas

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A esperada queda do desemprego deverá ficar, mais uma vez, para o próximo ano. Na avaliação de especialistas ouvidos pela Folha, o Brasil passará pela mesma situação que os EUA já experimentaram no passado recente. O ritmo do crescimento econômico será retomado, mas sem que haja recomposição proporcional dos postos de trabalho -o chamado "jobless recovery".O secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, Paul Singer, admite que os setores formais não proporcionarão aumento do nível de emprego em 2004. "Na queda da conjuntura, os empresários esperam antes de demitir. Na recuperação, esperam até começar a admitir."Os economistas Edward Amadeo, Delfim Netto e Ricardo Carneiro apontam três fatores para o desemprego não cair em 2004.Primeiro: vários setores da indústria ainda trabalham com alto grau de capacidade ociosa instalada. Assim, poderiam atender a um aumento de demanda, em um primeiro momento, sem precisar contratar novos funcionários.A segunda razão seria o efeito que a retomada do crescimento costuma ter sobre os desempregados desmotivados. O aumento da oferta de trabalho em alguns setores, como serviços, seria o suficiente para animar os desiludidos a voltar a procurar emprego, o que pressionaria a taxa."O chefe de família vai sempre procurar emprego. Mas os mais novos e os mais velhos, que têm maior dificuldade de ingressar ou de se recolocar no mercado de trabalho, vão se sentir mais animados a buscar emprego novamente", disse Amadeo.Como as estatísticas oficiais de desemprego não consideram desempregados os que deixam de procurar trabalho durante determinado tempo, o retorno de muitos dos desocupados para as filas das agências de emprego contribuiria para a manutenção da alta taxa de desemprego, mesmo que houvesse alguma melhora na oferta de postos de trabalho.Por último, o governo não conseguiria pôr em prática neste ano as medidas anunciadas para gerar emprego, como o aumento dos investimentos em infra-estrutura e saneamento básico. As novas regras para estimular a construção civil, setor que mais emprega no país, também não teriam tempo suficiente de maturação para este ano. "O governo deveria parar de anunciar medidas e executar os projetos", disse Delfim.Peças importadasPara Ricardo Carneiro, além do alto grau de capacidade ociosa, o nível de emprego na indústria não aumentará em 2004 também por outro motivo. Segundo ele, as linhas de produtos manufaturados (eletroeletrônicos e automóveis) feitos (ou montados) no país contam com elevado nível de peças e componentes importados. "Antes de gerar empregos aqui, a indústria vai exportá-los."Carneiro critica o otimismo do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, de projetar em termos anuais a taxa de crescimento verificada no último trimestre de 2003 sobre os três meses antecedentes. Segundo Meirelles, a expansão de 1,5% no último trimestre corresponderia a uma taxa anualizada superior a 6%."Fiquei pasmo ao ouvi-lo falar aquilo", disse. Carneiro acha que o crescimento ocorreu basicamente nos setores de bens de consumo duráveis. Mas isso se deu sobretudo devido às promoções que a indústria automobilística realizou para reduzir o alto nível dos estoques, embalada pela redução do IPI (Imposto sobre Produto Industrializado). Neste mês, a alíquota voltou ao normal. "O crescimento nas vendas de carros não vai se manter."Para Delfim Netto, "a recuperação do emprego neste ano será muito difícil". Ele disse que só ocorreria se houvesse um crescimento muito robusto, o que não é esperado nem pelo governo, que estima expansão do PIB de 3,5%.Na avaliação de Amadeo, o setor de serviços, como comunicações, transportes e logística, é que deve responder por algum aumento da oferta de empregos. "Se a produção aumenta, as mercadorias precisam ser transportadas. Mas tudo [maior oferta de empregos] vai depender de quão confiantes estarão os empresários na recuperação da economia", disse.Amadeo também não acredita que a solução virá das obras de saneamento, que dependem da liberação de dinheiro público.