2.27.2004

Desemprego aumenta, mas renda melhora

Taxa vai a 11,7% em janeiro porque temporários voltaram a procurar vagas; inflação menor corrói menos o salário


Antônio Gaudério/Folha Imagem
Desempregados na praça Floriano Peixoto (SP), a "praça do emprego", à espera de algum bico

PEDRO SOARES

DA SUCURSAL DO RIO

Passado o período de contratações temporárias de final de ano, o desemprego voltou a subir: ficou em 11,7% em janeiro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A taxa é 0,5 ponto percentual maior do que a registrada em igual mês de 2003 (11,2%). Em dezembro de 2003, havia sido de 10,9%.Em janeiro, havia, segundo o IBGE, mais 149 mil pessoas desocupadas do que em igual mês de 2003. O total de desempregados nas seis principais regiões metropolitanas do país (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife) alcançou 2,4 milhões de pessoas.Segundo o IBGE, a razão do aumento do desemprego de um mês para o outro é que os empregados contratados no final do ano saíram de seus postos temporários. Passaram, com isso, a procurar um novo emprego e a pressionar o mercado de trabalho.Renda cai menosEm janeiro, o rendimento do trabalhador permaneceu em queda, embora já numa trajetória de desaceleração. Depois de chegar ao fundo do poço em julho (-16,4%), a intensidade da queda foi se reduzindo gradualmente, atingindo retração de 6,2% em janeiro na comparação com o mesmo mês de 2003.Tal movimento, diz o IBGE, é reflexo do recuo da inflação, que, mais baixa, abocanha parcela menor do rendimento. Em relação a dezembro, a renda cresceu 1,9%.Sobre o aumento do rendimento de dezembro para janeiro, o gerente da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE, Cimar Azeredo Pereira, afirmou que isso ocorreu porque os empregados temporários, em geral informais, ganham menos. "Quando eles saem do mercado, cresce o rendimento médio."Mais carteiras assinadasOutro sinal de que o mercado de trabalho está melhorando é a expansão do rendimento dos trabalhadores com carteira assinada, que teve seu primeiro sinal positivo desde março de 2003. Em janeiro houve expansão de 0,4% em relação a janeiro do ano passado.Na avaliação de Pereira, a passagem das festas de final de ano levou o número de pessoas ocupadas em janeiro a cair 2,1% em relação a dezembro. Na comparação com janeiro de 2003, houve crescimento de 1,4%. Sob efeito do fim do período de contratações temporárias, caiu em 390 mil o total de pessoas ocupadas de dezembro de 2003 para janeiro.Ao comparar o desemprego do mês passado com o registrado em janeiro de 2003, Pereira afirmou que o mercado de trabalho sofreu muito no ano passado com o aperto da política monetária e que a recuperação esboçada a partir de novembro ainda não foi suficiente para absorver todo o contingente de desempregados.Para Lauro Ramos, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão do Ministério do Planejamento), o crescimento da ocupação tanto em janeiro como em 2003 "foi um pequeno milagre", a julgar pelo desempenho negativo do PIB no ano passado. Não existem, porém, motivos para comemoração, afirma ele."Como diz o pessoal do IBGE, foi mesmo um pequeno milagre, mas, mesmo assim, o desemprego está num patamar muito elevado. O mercado de trabalho não está conseguindo dar conta de sua tarefa básica, que é gerar empregos para absorver o crescimento vegetativo, ou seja, os novos trabalhadores que estão ingressando na vida profissional", diz Ramos.

Salários têm recuperação de 3% em 2003 com inflação menor e reajustes; desocupação é recorde para janeiro

Renda volta a subir em SP após seis anos

CLAUDIA ROLLI

DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de seis anos em queda, o rendimento médio dos ocupados melhorou em 2003 na região metropolitana de São Paulo. Em dezembro do ano passado, correspondia a R$ 984 -3% a mais do que o valor pago em igual mês de 2002, quando era R$ 956.O resultado foi apontado pela pesquisa de emprego e desemprego, realizada pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos)."O controle da inflação, aliado à conquista de reajustes salariais melhores no segundo semestre de 2003, permitiu essa "pequena" recuperação", diz Paula Montagner, gerente de análises e estudos da Seade. "Mas [o resultado] está bem abaixo dos valores pagos em 2001 [em dezembro, a média foi equivalente a R$ 1.048]."A recuperação nos salários foi melhor em 2003 na indústria: houve ganho de 7,1% nos rendimentos de dezembro de 2003 na comparação com igual mês de 2002 -os salários passaram de R$ 1.044 para R$ 1.118."Os trabalhadores do setor industrial com data-base no último trimestre do ano conseguiram repor integralmente as perdas da inflação em seus acordos salariais, ao contrário daqueles que negociarem seus reajustes nos primeiros seis meses do ano", diz Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese.Apesar dos resultados positivos verificados em dezembro, os técnicos ressaltam que a renda está em queda desde 1996 e que os ganhos obtidos no ano passado estão longe de recuperar o poder de compra do trabalhador da Grande São Paulo. No período, a renda média dos ocupados caiu 33%, informam as instituições."A renda não vai melhorar de um ano para o outro. Mesmo que haja crescimento econômico e criação de postos de trabalho, não significa que haverá necessariamente aumento de salário", diz a gerente da Fundação Seade. Isso porque, explica, com o desemprego elevado, as empresas podem optar por fazer contratações com salários mais baixos.Desemprego deve aumentarA taxa de desemprego na região metropolitana ficou estável em janeiro na comparação com dezembro de 2003. Mas a taxa de desocupação de 19,1% da PEA (população economicamente ativa) foi a maior registrada para o mês de janeiro desde 1985, quando a pesquisa começou a ser feita."É um mau sinal começar um ano com taxa recorde. A situação tende a se agravar nos próximos meses, quando tradicionalmente há fechamento de postos de trabalho", diz Paula Montagner.As centrais sindicais reivindicam a redução da jornada de trabalho, como alternativa para a criação de vagas e diminuição do desemprego. Para o Dieese, a medida não garante necessariamente a criação de novas vagas. "Com a redução da jornada, a geração de emprego pode ficar aquém do que se espera. Além disso, nem sempre o impacto é imediato", diz o diretor do Dieese.

FSP, 27/02/2004

1 Comments:

Blogger Giovanni Alves disse...

Uma das dinâmicas marcantes do capitalismo mundial – incluso Brasil – é o chamado crescimento sem emprego (o jobless growth). É claro que o crescimento da economia brasileira no período de 1990-2000 foi bastante medíocre. Mas o que se observa é que em virtude do crescimento da produtividade do trabalho, o crescimento da economia capitalista não se traduz mais, como outrora, em crescimento de postos de trabalho. É uma tendência estrutural do desenvolvimento capitalista que tende a contribuir, entre outras determinações, para o crescimento do desemprego massivo. É claro, uma dimensão da precarização do trabalho que atinge outras instâncias da vida social. Por exemplo, os rendimentos do trabalho, que tem caído de forma significativa nos últimos anos. Por exemplo, o DIEESE/SEADE constatou: “...pelo sexto ano consecutivo, a renda do trabalhador encolheu na região metropolitana de São Paulo. O salário médio pago no ano passado foi de R$ 928, uma queda de 6,4% em relação a 2002 (R$ 991). Na comparação com 1998, ou seja, seis anos atrás, houve uma queda de R$ 30,64% no salário médio, que correspondia a R$ 1.338,00.” Por outro lado, a reportagem que destacamos acima, onde se lê que “renda volta a subir em SP após anos em queda”, deve ser compreendida no interior de uma tendência histórica de queda da renda do trabalho (se cresce um pouco, de 2002 para 2003 – cerca de 3%, comparando com 1998, sua queda ainda é significativa – em torno de 28%). Deste modo, consideramos que a queda da renda do trabalho é outra características marcante da dinâmica do capitalismo mundial, aprofundando a tendência subconsumista do sistema do capital e instaurando um circulo vicioso que aprofunda a precariedade do mundo do trabalho. A depressão sistemática da renda do trabalho debilita, ainda mais, a dinâmica do crescimento capitalista, deteriorada pelas políticas neoliberais e pela financeirização da riqueza capitalista.

12:32 PM  

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