1.24.2002

Empresa brasileira é branca e masculina, aponta pesquisa


ADRIANA MATTOS
da Folha de S.Paulo
Mulheres e negros estão sub-representados dentro das empresas brasileiras. Os negros e pardos, por exemplo -que respondem por 46% da população do país-, ocupam uma quantidade irrelevante (6%) das vagas na direção das companhias atualmente.No caso das mulheres, a situação se repete. A parcela de pessoas do sexo feminino empregadas com escolaridade acima de 15 anos é de cerca de 50%. Mas elas ocupam apenas 6% das vagas de executivos com altos salários. Ou seja: a empresa brasileira não reflete a cara do país que existe além dos portões das fábricas.As conclusões fazem parte de um cruzamento de dados obtidos pelo Instituto Ethos -que acaba de divulgar um pesquisa sobre empresas no país- com informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo o IBGE, foram considerados negros os entrevistados que se autoclassificaram como pardos ou negros. E, como brancos, os de raça amarela ou branca.As informações foram coletadas na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), de 99. Já o Instituto Ethos levantou os dados com base em questionários enviados para as 500 maiores empresas do país, em faturamento. O estudo foi divulgado ontem.Segundo os técnicos, alguns números confirmam teorias que, antes, eram debatidas sem comprovação técnica. A probabilidade, por exemplo, de um branco ocupar um cargo de chefia é 12% maior que a de um negro com semelhante grau de qualificação, segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).E se o negro ainda pertencer ao sexo feminino e tiver menos de 40 anos, a probabilidade de sentar na cadeira da direção cai ainda mais. Dados do Instituto Ethos mostram que só 6% dos executivos têm entre 25 e 35 anos. A maior parte deles (44%) tem de 46 a 55 anos.Para ocupar um cargo de liderança, os executivos tiveram de, no mínimo, completar o grau superior -51% dos entrevistados- e 40% fizeram mestrado ou curso de especialização. Algo a que uma parcela das mulheres de menor poder aquisitivo e dos negros tem menos acesso.O Ipea confirma isso: de cada cem negros que nascem, quatro chegam às universidades. No caso dos brancos, 16 entre cada cem conseguem uma vaga nas faculdades. Resultado: com menos anos de escolaridade, o índice de desemprego dos negros (21,6%) acaba sendo maior do que o dos brancos (15,3%), segundo dados de 2001.