12.03.2003

Sorteio de emprego por R$ 30

Promoção que oferecia vaga entre fregueses de mercado é suspensa por juiz

Luiz Orlando Carneiro e Luísa Gockel
Especial para o Jornal do B rasil

BRASÍLIA - O Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul suspendeu na semana passada uma nova estratégia para atrair fregueses, posta em prática por um supermercado de Santo Ângelo: a promoção de sorteios para uma vaga de emprego, condicionada à aquisição de mercadorias no valor de R$ 30. O juiz trabalhista Edson Rodrigues considerou que o Mercado Mattana buscava ''enriquecimento através da oferta de emprego, transformando o valor social do trabalho em mercadoria''.
Os cupons eram depositados em urnas e o sorteado ganharia um emprego de três meses no estabelecimento, com salário de R$ 400. Promoção semelhante ocorrera em uma loja de hortigranjeiros, na também gaúcha Santana do Livramento. Os donos do estabelecimento davam a chance de o ganhador indicar um amigo, caso não quisesse ocupar o cargo. Em Santo Ângelo, havia até a possibilidade de efetivação, ''depois do período de experiência''.
- A decepção da população com a liminar do Ministério Público é muito grande. Acho que foi arbitrária porque não obriguei ninguém a comprar nada nem aumentei o preço das mercadorias - reclama o dono do mercado, Hedson Mattana.
O comerciante defende a idéia como um método justo de contratar funcionários sem discriminar sexo, idade ou experiência. A promoção que movimentou a cidade teve pelo menos mil participantes, segundo Mattana. O desempregado João Alberto Porto foi um dos inscritos e destaca que é uma boa oportunidade para quem tem dificuldade em arrumar emprego por causa da idade.
- Os únicos prejudicados com a idéia foram os mercados concorrentes. Com certeza, foram eles que pressionaram o juiz para que atrapalhasse a promoção - denuncia o desempregado.
A ação ainda será julgada no mérito e os donos do supermercado poderão ser condenados a restituir 50% dos valores gastos em cada cupom pelos esperançosos participantes, se acolhido na totalidade o pedido do Ministério Público do Trabalho.
- Não esperava esta repercussão. Agora não tenho outra escolha senão dar continuidade à promoção, caso meu recurso seja aprovado. Vamos esperar, pois barriga de mulher e cabeça de juiz não têm previsão - conclui Mattana.

Jornal do Brasil, 03/12/2003