3.07.2004

Economia vive "síndrome" da hora extra

Governo admite que desemprego pode não cair em 2004; 39,8% dos ocupados trabalham mais de 44 horas semanais
DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As pessoas que preservaram seus empregos durante o crescimento pífio da economia brasileira nos últimos 15 anos estão trabalhando muito mais.Em 2002, cerca de 31 milhões de brasileiros -ou 39,8% da população ocupada- trabalhavam mais do que 44 horas semanais.Em 1988, quando entrou em vigor a jornada legal de 44 horas, esse número era de apenas 16,1 milhões de trabalhadores (27,4% dos ocupados).Os cálculos são da Secretaria do Trabalho da Prefeitura de São Paulo, com base em dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)."Uma dose não exagerada de hora extra não é ruim, é sinal de aquecimento econômico", afirma Fabio Silveira, diretor da MS Consult. "Mas, quando a hora extra é crônica e crescente, como estamos observando, é sintoma de disfunção da economia."Na avaliação de especialistas ouvidos pela Folha, o uso de horas extras alastrou-se de tal maneira que a prática tende a inibir contratações mesmo se a economia recuperar-se em 2004.Segundo eles, o mercado de trabalho brasileiro passará por uma situação similar à dos EUA, onde a expansão econômica ocorre sem a recomposição proporcional dos postos de trabalho.O secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, Paul Singer, reconhece que não haverá aumento do nível de emprego nos setores formais da economia em 2004."Na queda da conjuntura, os empresários esperam antes de demitir. Na recuperação, esperam até começar a admitir", disse ele.Os economistas Edward Amadeo, Delfim Netto e Ricardo Carneiro prevêem que o desemprego não deva cair em 2004.Segundo Delfim, o desemprego só cairia se o PIB (Produto Interno Bruto) crescesse a um ritmo muito maior do que os 3,5% previstos oficialmente.O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, admite que o desemprego estatístico pode não cair em 2004, já que uma eventual retomada poderia estimular desocupados a buscar empregos, pressionando a taxa. "Mas este é um ano eleitoral, em que o conjunto de Estados e municípios tem um volume de investimento maior."