11.09.2004

Metrópoles concentram alta do emprego informal

Estudo do Ipea de 92 a 2002 revela aumento da informalidade nas cidades

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Principal fator de deterioração do mercado de trabalho nos anos 1990, a informalidade cresceu especialmente nas grandes metrópoles e atingiu 52,6% do total trabalhadores em 2002, segundo estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), com dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
Dez anos antes, em 1992, o percentual de trabalhadores informais era menor: 51,9%. Em 1997, a cifra era praticamente a mesma registrada em 2002 -52,7%.
Em número absolutos, 36,3 milhões de brasileiros estavam, em 2002, empregados sem carteira assinada ou trabalhando por conta própria, os chamados biscates, categorias incluídas pelo Ipea no contingente de informais.
De acordo com o Ipea, os grandes centros urbanos foram os responsáveis pela "explosão" da informalidade que varreu o país na década passada e ainda continua a se expandir.
Prova disso é que nas seis mais importantes regiões metropolitanas do país -São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador- houve aumento da informalidade, enquanto no resto do país o caminho foi o inverso.
Nas seis regiões, a informalidade subiu de 38,3% em 1992 para 45% em 2002, considerando os dados da Pnad, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo a PME (Pesquisa Mensal de Emprego) -também do IBGE, mas pesquisada mensalmente nas seis áreas metropolitanas citadas-, saltou de 41% para 50% no período.Já no resto do Brasil, a informalidade caiu de 58,5% em 1992 para 56,4% dez anos depois, embora ainda esteja num nível mais elevado do que as grandes metrópoles.
Responsável pelo estudo, Lauro Ramos, economista do Ipea, disse que os motivos da trajetória distinta de metrópoles e interior são a migração da indústria dos grandes centros às cidades menores e a expansão do agronegócio exportador. De saída especialmente da Grande São Paulo, a indústria partiu para o interior do Estado, Paraná, Mato Grosso do Sul e com menos intensidade para Minas Gerais e Bahia.
Outro fator que explica os comportamentos diferentes, diz Ramos, é o fato do emprego formal ter crescido mais no interior -30,2% de 1992 a 2002, contra 8,7% nas seis principais regiões metropolitanas do país. Na média, a expansão do emprego formal no Brasil ficou em 22,7%."Não quer dizer que o problema da informalidade não exista. Longe de mim dizer isso. Mas menos mal que ele não tenha ocorrido fora das metrópoles", afirma Ramos.
Ainda menos formalizado do que a indústria, o setor de serviços registrou queda no número de trabalhadores informais -de 53,5% em 1992 para 52,4% em 2002. Já na indústria, setor mais formal da economia, aumentou o total de empregados na informalidade, de 33% para 36,3%.
O Ipea também estudou a evolução do grau de informalidade por regiões. O maior nível de informalidade está no Nordeste, onde 67,8% dos trabalhadores ou eram conta própria ou não tinham carteira assinada. Esse percentual era mais alto em 1992 -68,6%.Já no Sudeste, ainda na liderança da formalidade, 45,2% das pessoas estavam no setor informal da economia. Houve crescimento, porém, em relação a 1992, quando o percentual era de 42,7%.
Publicado na FOLHA DE SÃO PAULO